Imagem retirada daqui. |
Há agora uma classe de pessoas, ou melhor, de opinadores, para quem não encontro melhor designação que a de tambores.
Não no sentido de quem leva no odre, como se fosse bombo de festa, e que berra por esse facto, mas como instrumento feito para fazer barulho, rufar continuamente até todos ouvirmos, queiramos ou não, até todos deixarem de ouvir, de tão saturados, até toda a gente ficar doida de tanto ouvir e desouvir.
Sempre o mesmo, e quer queira quer não.
É certo que os tambores só servem para fazer barulho, mas, integrados numa orquestra, entrando na altura certa e manejados com mão equilibrada, têm função e utilidade. É numa banda de rock, fazendo parte da bateria a diversos tons, intensidades e ritmos, quando o artista tem mestria são até capazes de fazer entrar em transes hipnóticos e apopléticos estádios inteiros a transbordar de furiosos participantes.
Lembro-me que rufando, rua fora, (bons tempos) apareciam para anunciar que, nessa noite, haveria espetáculo de saltimbancos - “comédia” - como nós dizíamos, no Terreiro de Santo António, animando a miudagem, que fazia uma inteira e entusiasmada arruada com eles. Mas, mesmo aí, havia diferenças de ritmo, paragens, tonitroâncias ou maciezas consoante os altos ou baixos da vila e o sentido do vento.
Mas, agora, com música de uma nota só, dias a fio, semanas sem descanso dizendo o mesmo, batendo com a maçaneta de sempre no mesmo sítio (a mesma coluna da jornal, o mesmo programa de rádio, o mesmo comentário na televisão) devo dizer que já não posso mais.
E penso que a maioria das pessoas também já não aguenta.
Com a ideia de que a democracia deve dar voz a todos – entenda-se, aos 5 partidos políticos do costume – muitos órgãos de comunicação social, em vez de pensadores independentes, de especialistas, de cidadãos sérios guardam os seus espaços privilegiados para, em dias certos, ali estarem eles, cada militar com a sua arma, cada militante com a sua marreta, batendo sempre no mesmo, rufando sem cessar da mesma maneira, ruidando monotonamente no vazio até desfazer o eixo de tanto guinchar.
Considero, porém, que é uma falsa maneira de dar voz a todos e de ajudar a encontrar boas soluções para o País.
Porque, o que vemos?
Para todos os problemas, o mesmo estoiro, para diferentes perspetivas, o pumba do costume. Ou seja, à complexidade das situações respondem com o irritante ruído, para a variedade dos casos, uma ideia indigente repetida até à exaustão. Para os problemas novos, dão-nos slogans, vêm-nos com verdades fáceis, ideias feitas. Onde o bom senso mandaria prudência, eles mandam-nos atirar de cabeça, para as dúvidas, eles só têm certezas, onde é preciso pensar, eles gritam e barulham.
Não sabem nem foram habituados a mais.
Resultado: já não os ouvimos, deixámos de os ler, não contamos com eles para nada; embora continuem a poluir. De vez em quando, ao fim de algum tempo, levados pela esperança, tentamos ouvir, começamos a ler, talvez que... desta vez…
Mas não, nada de novo, os tambores não enganam, foram feitos para zabumbar e pronto. Em vez de falar, atroam, em lugar de pensar, maçanetam.
Dia após dia, semana após semana.
João Boavida
2 comentários:
Já toquei tambor em setembro rememorando a independência do Brasil...É Dom Pedro I no riacho do Ipiranga.
Inclusive repique e prato.
Realmente o pior que pode acontecer no que respeita a vida social, é chegar a conclusão... de que já nada nos surpreende.
Mas, mesmo assim, já não é mau, pelo menos, é melhor do que nos surpreender pela negativa.
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