quinta-feira, 8 de agosto de 2013

LIVROS PARA LER EM FRENTE AO MAR


Minha crónica no Público de ontem:

 Escrevo em frente ao mar. Se a amostra de paisagem que vejo é representativa, o país está na praia, a tomar banhos de sol. Para mim, o Verão é a melhor estação para ler. Tenho, finalmente, esse bem precioso que é o tempo para pôr a leitura em dia. Deixo aqui o rol dos livros mais recentes que trouxe para férias. Escolhi-os porque já os li e quero relê-los, ou porque os comecei a ler e quero acabar a leitura ou porque os títulos me despertaram a curiosidade e quero embrenhar-me neles. Não, não trouxe o último Dan Brown, porque não penso que o cérebro funcione pior no estio. A maior parte não é ficção, mas sim ensaio. As obras vão por ordem alfabética do apelido do autor.

- Luís Alcácer, O Diabo no Mundo Quântico, Gradiva. O último título (n.º 202) da colecção “Ciência Aberta” não trata do Inferno mas sim dos mistérios da teoria física mais estranha: a mecânica quântica. O autor, químico do Instituto Superior Técnico, exorciza os demónios da obscuridade e do esoterismo associados aquela teoria na ocasião em que passam cem anos do modelo atómico de Bohr, que entre nós entrou pela porta daquele Instituto.

- Nuno Camarneiro, Debaixo de Algum Céu, Leya. Já passaram alguns meses depois de ter saído este romance, justamente premiado com o maior prémio literário em língua portuguesa, de um engenheiro físico formado na Universidade de Coimbra e que trabalha em Aveiro (pela segunda vez seguida, o prémio foi entregue a engenheiros). Já li com gosto e quero reler esta história dos habitantes de um prédio à beira-mar plantado, inspirada no Purgatório de Dante. Os pecados também estão por andares, tal como na ilha de Dante.

- Peter Hawkins, Inferno e Paraíso, Saída de Emergência. Por falar em Dante, eis uma bela introdução a Dante e à Divina Comédia, da autoria de um professor norte-americano de Religião na Universidade de Boston. Trata-se de boa divulgação literária, que nos elucida por que razões o escritor florentino continua actual. Fiquei a saber, por exemplo, que os conselheiros da fraude têm lugar no Inferno e que os governantes negligentes ficam no Ante-Purgatório. Há mil e um pormenores curiosos a descobrir em Dante e na sua Comédia: por exemplo, o Pedro Hispano celebrado no Paraíso como "aquele que brilha em doze livros" poderá ser o Papa João XXI, o único pontífice português

. - António Machiavelo, José Carlos Santos e João Nuno Tavares (orgs.), 43 Miniaturas Matemáticas, Gradiva. O último volume da Colecção “O Prazer da Matemática” é um conjunto de textos breves sobre tópicos matemáticos da autoria de matemáticos da Universidade do Porto. É um prazer lê-los neste Ano da Matemática do Planeta Terra, que é esférica como Dante já sabia.

 - Ruchir Sharma, Os Milagres Económicos do Futuro, Clube de Autor. O subtítulo “Porque crescem umas economias e outras não” esclarece ao que vem esta obra de um investidor e publicista de origem indiana. Para ele os países emergentes – os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) – não são o que prometiam. E os Estados Unidos ainda irão manter a liderança económica mundial. Atenção, porém, a países-surpresa… -

- Carlota Simões e Francisco Contente Domingues (orgs.), Portugueses na Austrália, As primeiras viagens, Imprensa da Universidade de Coimbra. Dante estava redondamente enganado ao supor que o hemisfério sul era só mar. Esta edição cuidada, que se soma a tantas outras da editora muito antiga de uma Universidade que é hoje Património Mundial da Humanidade, contém contribuições sobre a descoberta da Austrália. Parece certo que os portugueses encontraram a Austrália no século XVI, mas não lhe acharam especial interesse.

 - Gonçalo M. Tavares, Animalescos, Relógio d’Água. Aquele que para mim, como para muitos leitores, é o mais original dos escritores portugueses da actualidade continua a surpreender-nos não só pelo tremendo ritmo da sua produção como pela alta qualidade da mesma. Nesta obra a sua pena imaginativa anda à volta dos animais.

 - Simon Winchester, Atlântico, D. Quixote. Da autoria de um geólogo britânico com a paixão da escrita, o livro conta a história, não humana e humana, do oceano europeu. O subtítulo enfatiza a gesta humana: “Grandes batalhas marítimas, descobrimentos heróicos, tempestades titânicas, e um oceano de histórias”. Não faltam referências a Portugal, incluindo as citações trágico-marítimas de Vieira (“Para nascer, pouca terra; para morrer, toda a terra. Para nascer, Portugal; para morrer, o mundo.”) e de Pessoa (“Quem quer passar além do cabo Bojador/ Tem que passar além da dor”).

À beira do Atlântico, vou começar por este último, que é o maior. Boas leituras!

2 comentários:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Ser diretor da Gradiva é florescer saber.

augusto kuettner de magalhaes disse...

Sempre bons conselhos de leitura.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...