Novo texto recebido de Ângelo Alves:
«Sou um homem que, logo desde a juventude, sempre esteve possuído da convicção profunda de que o caminho mais fácil, é, na vida, o melhor»
H. Melville in Barttleby
Em Cantanhede não existe o hábito de ler. Só assim se compreende que, num texto onde escrevi que antes da 25 de Abril a maioria da população era fascista e após a maioria passou a ser democrática, com algum humor hrabaliano, me acusassem de lhes chamar fascistas. Estava, como é óbvio, a referir-me a Portugal. Mas resolvi introduzir no texto a rua 25 de Abril de Cantanhede porque, na minha viagem da minha casa na Póvoa até à Biblioteca em Cantanhede, seguia por essa rua por altura do 25 de Abril. Nem sei que nome tinha a rua nessa época, decerto que não era o de hoje. Não culpem o costureiro pela fatiota, ele fê-la para essa maioria mascarada do país. Se escrevesse que a praça do Santo Sepulcro em Milão (berço do fascismo, surgindo berço e cova de braço dado) está situada em Cantanhede, creio que ninguém me acreditaria.
Por outro lado, a escolha de um partido ou ideologia não é uma simples transmissão afectiva de pai para filho. É o resultado da soma dos valores que estão em jogo, do carácter do líder e da leitura do que ele faz. Na Madeira, enfim, em Portugal, pouco ou nada mudou. Votam sempre no mesmo partido, por estes motivos: para os filhos é o partido dos pais e gostam do trabalho efectuado (nenúfares, feiras, cunhas e dívidas). Por estes motivos o cidadão Alberto João Jardim permanece líder na Madeira. O PPD, fundado – por ironia do destino! - em 1974, nunca lutou pela democracia. Sentiu o fim e enfiou a máscara. Sá Carneiro alguma vez enfrentou a ditadura? Não.
Para quem não sabe o que foi o fascismo transcrevo algumas passagens do diário de Mussolini (o professor de Salazar): «O Fascismo é partidário da liberdade.» «Fascismo é contrário à democracia». «Crê, agora e sempre, na santidade e no heroísmo.» «Nega que o número, pelo simples facto de ser número, pode dirigir a sociedade humana,» «Afirma a desigualdade irremediável, fecunda e benéfica dos homens.» «Nenhuma acção escapa ao juízo moral.» «Fora da história o homem não existe.» «Vontade de poder e de império.» «Não crê possível a “felicidade na terra”.» «Anti-individualista, a concepção fascista é do Estado». Foi este conjunto de contradições que guiou o espírito e o pensamento paupérrimos de Salazar ao Paraíso. Se o homem fascista é espiritual, será que existe o Estado moral depois de falecer? Um Estado moral aceita a desigualdade, a conquista e o imperialismo? Que liberdade existe neste Estado? Salazar é santo ou herói? O homem espiritual é o que explora o pobre? A desigualdade não é fruto do individualismo? A exploração escapa ao juízo moral? Não serão os ricos o expoente máximo do individualismo? Por que meios explora o rico o pobre, se o mundo não é materialista? Pela moral? Quem assassina é herói ou santo? Homem activo é o que frui a vida ao ver os outros trabalhar?
Com esta incoerente ideologia vivemos quatro décadas de fascismo seguidos de neo-liberalismo (PS, PSD, CDS). As únicas diferenças entre ambos são: o (falso) anti-capitalismo do fascismo e o facto de a razão estar no povo para o neo-liberalismo. A crise hodierna é o fruto da mentalidade fascista. A notícia deixou-me estupefacto: O senhor doutor Relvas concluiu a sua licenciatura, em apenas meio ano, com 160 créditos caídos do céu, um corridinho. Só em Portugal! Nem Einstein seria capaz de tal feito... O caminho é fácil para estes senhores, mas eles avaliam-se no fim, nunca a meio. Sófocles escrevera, há muito, no Rei Édipo, que o momento certo para avaliar a obra do homem é no fim da sua vida. Por agora, senhor Relvas repita cem vezes Barttleby:-I would prefer not to (Preferia não o fazer) - e repita cem vezes o papagaio de Raymond Queneau em “Zazie dans le metro”: Eles falam, falam, mas não fazem nada.
Tenho, caro leitor, procurado denunciado situações impensáveis no meu país, infelizmente sem qualquer resultado, mormente tenho dito que há pessoas a laborar em bibliotecas públicas sem quaisquer requisitos mínimos, sem nenhuns conhecimentos básicos, sem nunca terem sequer aberto um livro para o lerem, e continuarei a fazê-lo. O senhor Relvas diz que prefere “fazer” em vez de “falar”, mas para “fazer” terá que estar preparado, pois, caso contrário, terá de ficar relaxado durante dezenas de anos, sentadinho numa cadeira, como acontece por este país fora. Amanhã continuarei a lutar com a máxima do escritor de Cantanhede Carlos De Oliveira: “A minha voz de morte é a voz da luta”. Sem voz não há justiça. Não quero solidariedade, mas sim justiça. De acordo com as palavras do Presidente da República “a verdade é fonte de confiança”. Nesse sentido, exige-se um esclarecimento sobre o corridinho de Relvas.
Ângelo Alves
1 comentário:
Quanto tempo é que o senhor não doutor Relvas vai continuar ministro?
Por enquanto, ainda é.
Mas sem quaisquer condições.
A meu ver.
Enviar um comentário