segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Bons conselhos de quem sabe

Governo incentiva jovens desempregados a emigrar

O jovem desempregado em vez de ficar na "zona de conforto" deve emigrar, disse o secretário de Estado da Juventude e do Desporto.
(...)

Económico com Lusa
31/10/11 11:12

Noticia completa aqui.

Acho estas declarações interessantes por vários motivos, um deles a candura. Realmente para muitos jovens e não jovens, desempregados e mal-empregados, a emigração (de preferência para fora da Europa) é uma boa opção de carreira. É bom para quem vai, é bom para o país que os recebe, se é bom para Portugal é outra história: um país com uma população envelhecida, com uma das mais baixas taxas de fecundidade do mundo, exportar a sua força de trabalho, ainda por cima a mais qualificada de sempre?

Mais à frente na notícia pode-se ler:

Caso a opção seja por, no futuro, voltar a Portugal, esse emigrante "regressará depois de conhecer as boas práticas" do outro país e poderá "replicar o que viu" no sentido de "dinamizar, inovar e empreender".

Gosto muito da replicação de boas práticas que as gerações de emigrantes regressados trouxeram, especialmente ao nível da construção civil na Beira Baixa. Piadas à parte (e isto é uma piada, mesmo que não se ache graça) é uma visão messiânica (eles hão-de vir salvar-nos) com uma lógica de optimismo de auto-ajuda (os nossos jovens qualificados irem contribuir para o desenvolvimento das economias de outros países é muito bom).

Emigrar para países com políticos menos mediocres será sem dúvida um bom conselho, estamos de acordo.

9 comentários:

Diana Barbosa disse...

Pois...e depois de conhecer as boas práticas, bons salários, bom estado social e melhores condições de carreira dos outros países....melhor, por lá ficam!

Esta é daquelas notícias que mais parecem tiradas do Inimigo Público...

Anónimo disse...

Temo que este seja a única ideia deste governo e que ninguém tenha ainda dito ao Sec de Estado da Juventude que o que ele gostava mesmo, mas mesmo , mesmo de ser era Ministro da 3ª Idade.

Ivone Melo

Bruno Avelar Rosa disse...

Tenho 29 anos e emigrei durante 4 anos para Barcelona com o objetivo de fazer um doutoramento em Pedagogia do Desporto. Durante o tempo em que estive fora, além da minha atividade académica, desempenhei durante 3 anos funções profissionais de interesse e impato como técnico superior no âmbito da função pública espanhola (mais concretamente no Instituto Municipal de Desporto de Barcelona). Estas funções, além de relevantes (creio que o Ajuntament de Barcelona está hoje onde, por exemplo, a CM Lisboa gostaria de estar em 2050, sentindo-se no seu quotidiano todo o contributo conferido pela organização das Olímpiadas de 1992 para a cultura desportiva e político-desportiva local), foram durante esse tempo condignamente remuneradas.

Regressei a Portugal há 2 anos. Por opção. E, dada a realidade atual, não me posso queixar da maneira como me tenho desenrascado. Entre as funções de assistente no Ensino Superior (a 60% do índice 100 em contratos de 4 meses), estágios na função pública (mais concretamente durante 1 ano no Instituto do Desporto de Portugal, I.P., sem direito a subsídio de desemprego no seu final, o que me fez estar 4 meses a comer sopas) e lecionação de AEC (percebendo na pele o que é isso dos falsos recibos verdes em plena Escola Pública) tenho conseguido chegar ao fim do mês (umas vezes mais inteiro que outras, já que tenho feito todas as minhas míseras contas com base no meu próprio bolso).

Contudo, ainda que feliz por estar de volta a casa, a qualidade de trabalho, as oportunidades, o querer-fazer-algo-comum-a-todos, a organização, a visão e sobretudo o aspeto económico que deixei para trás deixam-me muita saudade.

Como tal, só posso sentir-me indignado perante as afirmações do Sr. Secretário de Estado. Mas não só, muitas têm sido as vozes a estimular a emigração dos mais jovens nos diversos locais da blogesfera e da informação portuguesa. Todavia, e curiosamente, quem aconselha normalmente não o faz por experiência própria já que nunca emigrou e como tal, muito menos regressou para perceber que afinal não traz nada de novo para cá, porque simplesmente não há interesse em aproveitar seja o que for.

É triste, mas fui melhor tratado e foram-me dadas mais oportunidades lá fora, do que, já formado no exterior mas ainda jovem, me deram (dão?) quando regressei a casa.

É que eu já emigrei, vi como se faz, já voltei e continuo a não me sentir aproveitado. E não, não gostava de emigrar outra vez. É que se tal acontecer, desta vez, em vez de sentir o cheiro da aventura vou sentir o peso da revolta. E tenho pena. Porque acreditei que traria mais-valia para o desenvolvimento do nosso país. Romântico fado...

Um abraço a todos e parabéns pelo blog
Bruno Avelar Rosa

joão boaventura disse...

Considero o aviso sensato, considerando a visão profética de Eça, em 1872:

“Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal.”

Eça de Queirós
In “As Farpas”, 1872

Simplesmente faltou dizer que emigrar sim, mas obviamente nunca para a Grécia.

Anónimo disse...

Caro Bruno:

Não foste aproveitado pela Federação Nacional de Karaté - Portugal?

Como formador, não te paga?

Cláudia S. Tomazi disse...

Quando estudamos administração aprendemos que existe na matéria de económia:

“Em económia, a fronteira de possibilidades de produção (FPP), também designada por curva de possibilidade de produção (CPP), ilustra graficamente a escassez dos fatores de produção cria um limite para a capacidade produtiva de uma empresa, país ou sociedade”.
“Devido a limitação de recursos, a produção total, de um país por exemplo, tem um limite máximo ou uma produção potencial, que é representada por um ponto sobre a curva”...

Ora, é natural o estado diante da possibilidade de reordenar a excedente mão de obra quer especializada ou por especializar, dispondo esta sociedade de garantias pela qualidade que fundamenta sua cultura em ocupar as melhores vagas em outros países, diga-se qualquer especialista portugues tem portas abertas no mundo. Contrapartida vossas universidades recebem gente de fora, gente que vai pagar, hospedagem, professores, alimentação. Pois bem, em tempos de recessão o rodízio quer do ensino, quer do turismo, quer de investimentos, quer de oportunidades e estas são mercados que suavizam impactos, pela frente de trabalho. Um pouquinho hoje, um pouquinho amanhã... Com tolerância e esperança posto que real seja o empenho pelo melhor de vossa nação no sentido de desacelerar o que se lamenta. Trata-se do contexto europeu e não somente portugues; esta por minimizar será uma crise da pessoalidade onde cada um há que doar e justificar ao país. No caso da mobilidade do jovem para enfrentar melhores dias em outras paragens, cujo sacrifício é cada qual, ser um projeto de futuro. Hoje, é pelo planejamento e haverá pelo menos a chance de restabelecer o que fora um dia, os propósitos. O lastro das acções são valores e todo valor é um depósito de resitência.

Anónimo disse...

Não há nada que possamos trazer para ser cá aproveitado, o pessoal já sabe tudo. O come e cala é o mesmo e verificando os factos, ou o país é burro ou simplesmente não deseja fazer nem melhor, nem mais. Um tachinho é sempre preferível !!!
Medíocre hoje como outrora, não há nada a esperar disto.

joão boaventura disse...

Cara Cláudia S. Tomazi

É verdade o que diz porque me permite, sob um outro ângulo de visão recordar esta verdade do nosso Padre Vieira, nos seus Sermões, VII, a pp 69:

"Por isso deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas para a sepultura.
Para nascer, pouca terra; para morrer toda a terra; para nascer Portugal; para morrer o Mundo."

Anónimo disse...

Esse senhor secretário de estado´só pode ser parvo.
Uma coisa dessas não se diz.
Devia demitir-se. Se não, devia ser demitido.
Já não há pachorra.
E como disse o atual: não se admitem falhas.

Maria P.

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