domingo, 6 de fevereiro de 2011

Coimbra: licença para falhar (I)

Eu gosto dos momentos de crise. São mais ou menos como o inverno; momentos tristes mas necessários. São uma oportunidade para refletir sobre o nosso trajeto de vida, e planear os ajustamentos, as mudanças e as rupturas necessárias para que haja de novo esperança. A seguir a um inverno há sempre uma primavera. É importante que sejamos capazes de transmitir uma mensagem de esperança às pessoas. Portugal tem vários problemas estruturais, que resumo nas seguintes ideias-chave (atitude, valores, participação, cultura empreendedora e de risco, ética e responsabilização, crescimento e acrescentar valor):

Atitude: os países, antes de espaços geográficos, económicos ou políticos, são essencialmente as suas pessoas. Isso significa que o futuro depende em grande parte da forma como essas pessoas encaram a sua vida, se relacionam com os outros e desenvolvem a sua atividade. Atrair e fixar pessoas tem de ser por isso o nosso primeiro objectivo. E devemos estar particularmente interessados naquelas pessoas que procuram oportunidades, que as sabem identificar e têm o arrojo para definir objectivos e persegui-los com determinação. Na verdade somos todos muito bem comportados, uns “penteadinhos”, como gosto de dizer, que passamos do bibe ao fatinho numa vida toda certinha. Precisamos de mais gente “mal comportada”, isto é, gente criativa, com vertigem do risco, que vive como pensa sem pensar como viverá.

Valores: deixamos cair grande parte dos valores que já nos fizeram um país grande. O valor do trabalho, da necessidade de esforço para obter resultados, do rigor, do profissionalismo, da honestidade, da palavra dada, da honorabilidade, do direito de reserva, da liberdade, do reconhecimento que é devido ao mérito e ao esforço dos outros como pedras basilares de uma sociedade saudável, justa e fonte de progresso. É preciso, de novo, colocar estes valores na essência da nossa construção social, para que de novo se tornem valores característicos da nossa sociedade, para que de novo se tornem valores culturais. Vai demorar tempo, eu sei, não é uma tarefa que possamos fazer no curto prazo, mas é necessário começar.

(voltaremos a este assunto na próxima semana)

J. Norberto Pires
Editorial do comCentro
Diário As Beiras
4 de Fevereiro de 2011

5 comentários:

Francisco Domingues disse...

Norberto Pires,
Sem perdermos de vista que o que importa é este país aqui e agora, com novas atitudes, valores tradicionais, etc., para sairmos da crise, pressionados que estamos pelos nossos erros e pela perversa globalização, importa ir mais além: propor à escala global novos modelos económico-financeiros que tornem sustentável a Vida na Terra e viável a vida em sociedades. Muito há a dizer sobre isto. Para não me alongar, aqui, remeto para o meu blog "Ideias-Novas" onde escrevo às segundas-feiras. A sustentabilidade é a palavra-chave para a construção de um futuro risonho para todos os seres humanos - e não só para alguns! - a nível social e ambiental.
Francisco Domingues

Anónimo disse...

Sr. Engenheiro, pode especificar a que época se refere quando considera "Portugal um país grande"?

João de Castro Nunes disse...

O que efectivamente nos faz falta
é construir de novo Portugal,
se acaso pretendemos afinal
uma vez mais voltarmos à ribalta!

JCN

Anónimo disse...

Há que esquecer esta degradação
a que o país chegou recentemente
e de maneira séria e competente
a fundo... repensarmos a nação!

JCN

Anónimo disse...

A globalização não é perversa, tem aspectos positivos e negativos como tudo.
É perversa quando compramos maçãs da Nova Zelândia quando as temos aqui ao pé. É perversa quando pessoas perdem o emprego porque compramos produtos mais baratos produzidos em países em que os trabalhadores são explorados.
Não é certamente perversa com o contributo que dá para a paz mundial.
São escolhas que fazemos todos os dias, nossas, não dos outros.
É outro problema que temos na nossa atitude, culpar terceiros por tudo o que nos acontece.

P.Santos

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...