quarta-feira, 3 de novembro de 2010

BALAS DE PAPEL SOBRE OS POLÍTICOS


O nosso leitor João Boaventura, sempre atento às pérolas da imprensa antiga que se encontram na Net, mandou-nos este excerto do nº 3 do periódico "Balas... de Papel", da autoria de Gualdino Gomes e Carlos Sertório, de Janeiro de 1892, que descreve o modo como eram vistos os políticos no tempo da monarquia constitucional. O subtítulo da publicação satírica é uma citação de Camilo Castelo Branco: "…palavras contra a péssima ordem das coisas sublunares". A grafia foi actualizada.
"Íamos na plataforma de um americano do Rossio pela Pampulha, no dia 16 de Janeiro do corrente ano, quando ouvimos um delicioso diálogo travado na rampa de Santos entre um deputado engenheiro – e engenhoso -, muito dado aos apartes na câmara dos seus congéneres, e um conselheiro de barba rala e negro como um tição, diálogo que valia muitas libras e uma rica lata de marmelo.

O conselheiro de barba rala, ingenuamente, dizia:

- Mas por que não fazem um ministro de gente séria ?

- O que chama vossa excelência gente séria? – perguntava o outro, como um selvagem perguntaria a Pedro Álvares Cabral o que era um casamento eclesiástico.

- Digo – volvia o conselheiro de barba rala -, por que se não chama para ministro da guerra um general impoluto, para a justiça um juiz honradíssimo, para a marinha um vice-almirante enérgico?

- Isso era a maior de todas as desgraças, meu caro conselheiro! Homens que tomem pastas a seu cargo não devem ser apenas técnicos, e nunca devem ser intransigentes! A trica política é necessária; e os ministros precisam de saber e poder harmonizar as leis com os homens e os homens com as leis!

Ora aqui os têm como eles são! Sabem os leitores o que é harmonizar as leis com os homens e os homens com as leis? É fazer essas poucas vergonhas de todos os dias, é deixar roubar, quando o ladrão consiga operar com esperteza.

O marquês de Valada viu bem, mas tarde. Em crise de ladrões andamos nós há muito, e continuaremos provavelmente a estar, e as palavras do engenheiro deputado, de beiço grosso e olho piteireiro, dão a medida da consciência dos políticos, como devem ser, e mostram que os políticos fazem como os salteadores dos montados: quem se alistar há de provar que já fez uma morte!"
In Balas… de papel, n.º 3, 20 de Janeiro 1892

Na figura: um americano (carro de tracção animal).

6 comentários:

Anónimo disse...

Um político a valer
tem que perder a vergonha:
o povo nem sequer sonha
o que é político ser!

JCN

Anónimo disse...

O político, em geral,
com a sua hipocrisia,
é como autêntica enguia
nas águas de um pantanal!

JCN

Anónimo disse...

Quem tiver uma alma séria
da política se afaste,
pois não há pior miséria
que acabar por dar em traste!

JCN

Anónimo disse...

Olha,
a puxar a carroça,
ali, dois políticos,
no rossio.

Anónimo disse...

Ao meu jeito, de colarinhos engomados:

A puxar uma carroça
no Rossio ali vão dois
dos tais políticos, pois,
sem darem conta da troça!

JCN

joão boaventura disse...

E como convém - o que é visível na imagem - a condução pela esquerda, porque os eléctricos eram ingleses, e os eléctricos ingleses estavam habituados a andar pela esquerda.

Exactamente como os comboios... sempre pela esquerda. Assim o Metro.

Só a estrada escapou.

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