Por acaso coincidiram, em poucos dias, em jornais de Coimbra ou da Academia, vários trabalhos onde o denominador comum é a praxe, as festas académicas e aquilo em que estão a cair. Afinal já muita gente começou a verificar que as coisas não estão bem. O problema não é só de Coimbra, mas esta academia tem especiais responsabilidades, não só porque foi ela que começou mas também porque encarna, no imaginário nacional, a própria ideia de universidade e de estudante, e isso pesa muito. A tradição – que nem sempre se recomendou - não pode, apesar disso, estar nas mãos de uns tantos que, acabados de chegar e já de partida, imberbes facial e intelectualmente, vêm aqui fazer o seu desmame mediante comportamentos inaceitáveis sob a capa protetora da impunidade praxística.
O problema não se resolve proibindo as ditas cenas – o que terá de acontecer se as coisas continuarem a descer deste modo. Mas não será a melhor maneira, porque não faltariam saudosistas a ficar cegos, mesmo face aos mais condenáveis praxismos, e logo viriam os demagogos do costume a gritar contra a repressão – assim farão até a anti-repressão se transformar em repressão. Além disso, os políticos de terceira não deixariam de meter o bedelho para aproveitar.
Ouvindo, na Sé Nova, há dias, excertos do Messias, de Haendel, pela Orquestra Clássica do Centro (na imagem) e pelo Orfeão Académico de Coimbra, não pude deixar de pensar nas distâncias que podem separar manifestações de uma mesma cultura - neste caso a chamada cultura coimbrã - e no muito que ela pode fazer para puxar pelo nível geral da aca
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Perante a beleza da interpretação conjunta da Orquestra Clássica do Centro (com nove anos de vida) e do Orfeão Académico de Coimbra (com cento e trinta) percebemos como Coimbra e a Universidade se vão conservando e renovando, apesar de tudo. Depois, considerando, neste quadro inspirador, as actuais formas de receção aos caloiros, percebemos que algo deverá ser feito.
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A Associação Académica precisa de abandonar os discursos gastos e as campanhas débeis e sem chama, e perceber que lhe compete ver mais largo e mais alto. Tem pela frente um trabalho muito mais estimulante, rico, valioso e útil: organizar e promover formas de inserção e receção aos caloiros que os valorizem e os tornem exigentes para o resto da vida, porque exemplos de degradação temos até demais. A partir daqui ela própria se revalorizará. É de uma revolução cultural que se trata. Só a Associação Académica de Coimbra, pela sua idade, nome e pergaminhos, está à altura de a iniciar.
3 comentários:
Excelente.
A nossa universidade
tem a sua tradição:
tudo é questão, na verdade,
de pôr termo ao canelão!
JCN
Da Queima foi no cortejo
que meu amor conheci:
diferente nunca a vejo
da vez primeira que a vi!
JCN
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