quinta-feira, 4 de novembro de 2010

ÚLTIMOS DIAS DE BARTOLOMEU DE GUSMÃO


O fim de Bartolomeu de Gusmão foi, infelizmente, tão trágico como o do seu primeiros primeiro balão, que teve vida breve ao arder em 1709 no Paço Real. A 18 de Novembro de 1724, quase a completar 39 anos, o inventor luso-brasileiro morreu, de doença e inanição, na cidade de Toledo, Espanha, numa apressada fuga da Inquisição, que tinha passado pela travessia a pé da fronteira portuguesa sob nome falso.

Essa perseguição nada teve a ver com as suas invenções (fez outras além da bomba hidráulica, na sua juventude brasileira, e da "Passarola", na sua juventude portuguesa, como, já na meia idade, um dispositivo para drenar água dos barcos, que registou em 1713 na Holanda, durante uma longa viagem que empreendeu pela Europa Central e do Norte). Nem tinha a ver com uma eventual paixão por uma amante real tal como já foi com fértil imaginação aventado (de facto, D. João V, além de ter sido chamado O Magnânimo, ficou também conhecido por O Freirático por ter mantido relações com várias freiras, entre as quais a Madre Paula, do Mosteiro de Odivelas, a quem terá oferecido uma banheira de ouro).

Sabemos hoje por documentos guardados em arquivos de Madrid – designadamente o testemunho dado à Inquisição por Frei João Álvares de Santa Maria, o irmão mais novo de Gusmão que o acompanhou na fuga - que pendia uma acusação de prática de judaísmo, um libelo assaz perigoso numa época em que o rei se comprazia em assistir a autos-de-fé. Essa suspeita era aliás justificada, pois tudo indica que Gusmão, na fase final da sua vida, terá abandonado a religião católica em que tinha sido educado para aderir ao judaísmo. Note-se que, apesar de ter estudado num Colégio dos Jesuítas no Brasil, o "Padre Voador" nunca concluiu os estudos necessários para ingressar na Companhia de Jesus, pelo que não pode ser considerado um padre jesuíta, mas antes um padre secular. Pelo depoimento do irmão carmelita se depreende que as ideias utópicas do Quinto Império português lhe assaltavam a mente nos dias finais da sua vida...

9 comentários:

Anónimo disse...

Que diabo de utopia
foi a fé no Quinto Império
que ainda agora, hoje em dia,
resta quem a tome a sério!

JCN

Anónimo disse...

Com a sua férrea mão,
desse lá por onde desse,
ai de quem se disousesse
a afrontar a Inquisição!

JCN

Anónimo disse...

Lá que tivesse uma amante
ou que fosse um inventor,
um falsário sem pudor
ou grandíssimo tratante,

que mais dava? era vulgar;
mas de judeu ser suspeito
e a fé cristã renegar,
isso sim, que era um defeito,

para a Santa Inquisição
condenar, sem contradita,
Bartolomeu de Gusmão,
aprendiz de jesuíta!

JCN

Luís Silva disse...

Ora, vamos lá fazer umas contas. Quem é batizado a 19 de Dezembro de 1685 e morre a 18 de Novembro de 1724, morre com.....38 anos! Tragicamente, os voos do Fiolhais não têm o sucesso dos últimos balões do Gusmão e o amador de historiador de Coimbra erra nas contas. Ainda bem que a História da Ciência de Portugal a sério é feita por gente bem mais rigorosa.

Bartolomeu disse...

Mas, Luís Silva, o facto de ter sido baptizado em Dezembro, não significa, que tenha nascido nesse mês.

Luís Silva disse...

Não. Não significa. Mas dado que não existe algum dado que justifique que se presuma, como faz Fiolhais, que Bartolomeu de Gustão tenha nascido antes de 19 de Novembro de 1685, vale a data de batismo. Até mesmo atendendo à prática do batismo no século XVII. É apenas uma questão de rigor, ou falta dele. Falta que é vulgar ao presente autor que se quer passar por historiador.

Anónimo disse...

Entretanto, e sem avisar ou reconhecer, o texto foi alterado.

Anónimo disse...

Trinta e oito ou trinta e nove,
para a Santa Inquisição,
seja o que for que se prove,
fora estava de quesatão

que arderia na fogueira,
fosse lá de que maneira!

E tudo o mais são cantigas,
mimhoquices... ou intrugas!

Anónimo disse...

Embora escusadamente, corrijo a gralha "intrugas" por "intrigas". JCN

NOVOS CLÁSSICOS DIGITALIA

Os  Classica Digitalia  têm o gosto de anunciar 2  novas publicações  com chancela editorial da Imprensa da Universidade de Coimbra. Os volu...