Pelo interesse do comentário de João Boaventura ao texto Os laços que unem a humanidade, onde se destaca a referência a René Girard, tomamos a liberdade de o republicar como texto.
Filósofo, antropólogo e sociólogo, Lévi-Strauss, autor dos Tristes Trópicos e La pensée sauvage, considerava que entre os "selvagens" e os "civilizados" poucas seriam as diferenças, como entre o homem de hoje e o homem da idade média, relembrando, de certa forma, um discurso de Umberto Eco a demonstrar que nada do que se passa hoje difere do que ocorria na Idade Média.
O pensamento de René Girard (na imagem ao lado), que Leonardo, um leitor do De Rerum Natura, em boa hora nos traz, coincide com tudo quanto aqui se tem debatido sobre a Bíblia, a propósito de Saramago, e do tal Caim que, afinal, mais não é do que o representante do protótipo do homem de todos os tempos (civilizados, selvagens, de hoje ou do passado).
René Girard , filósofo, historiador e filólogo, e que também não desdenha do papel de sociólogo - "eu sou antes de tudo um cientista social", diria numa entrevista - já que aponta a Bíblia como um excelente documento para um estudo sociológico.
Na mesma linha de pensamento de Lévi-Strauss, René Girard considera que o homem colectivo é arrastado para a violência por mimetismo, porque as paixões presentes em cada um adquirem uma força multiplicadora. Seja o homem selvagem, civilizado, do século XXI ou do século V.
Numa entrevista ao jornal La Croix, considerou que "o cristianismo é o único a realçar o carácter mimético da violência."
João Boaventura
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
O mimetismo da violência
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5 comentários:
Acabou de sair aqui no Brasil um de seus livros traduzidos para o português, pela editora É-Realizações. Bem interessante!
Sobre a violência ou a paz !?
A globalização anti-hegemónica e solidária, que nasceu na sua essência, com o primeiro Fórum Social Mundial, reivindica uma lei universal contra a guerra, a violência, a opressão, a miséria, as desigualdades económico-sociais e a destruição ecológica. De facto, o bom senso ao aliar tecnologia e sociedade, defende que se existir uma evolução tecnológica sem uma evolução social assistiremos, de forma quase automática, ao aumento da miséria humana. Fundamentalmente, de acordo com esta perspectiva contra-hegemónica, globaliza-se os direitos humanos fundamentais (os naturais) que devem ser universais e mundiais e de aplicação obrigatória independentemente do território.
Abç,
Madalena Madeira
Agora que a teoria mimética da violência teorizada por René Giscard se tem generalizado, aproveito a oportunidade, novamente oferecida por Leonardo, que não indicou qual a obra traduzida, para falar, de entre as inúmeras publicadas por aquele autor, numa que se perfila no horizonte desencadeado por Saramago com a nova referência chamada "Cain".
Editado pela Desclee De Brouwer, em 2004, René Giscard publicou o significatico e sempre actual, pelo menos neste blog, "Politiques de Cain", onde o autor aborda a paradigmática luta política entre irmãos, transpondo-a para as lutas políticas, explicando que o detentor do poder não representa o pai mas o irmão que usurpou o lugar.
De acordo com esta tese este poder arbitrário revelaria "o gesto político do primeiro assassino da humanidade" porque, defende René Giscard, a história da humanidade começou com Caim e Abel que, com o fraticídio, teve como resposta a religiosidade.
A sobrevivência da humanidade, perante este homicídio teria arrastado a sociedade a criar as instituições religiosas em primeiro lugar, e as políticas em segundo.
De acordo com esta tese, ou ao encontro dela, há um paralelo no trabalho de Foucault, e cujo título parece desfasado deste contexto, "O que é um autor" (Vega, 7.ª ed., 2009), onde o autor explica que a humanidade encontrou na religião o lenitivo das dissidências e das paixões mas, numa segunda fase, não encontrando na Igreja a resposta para querelas entre vizinhos ou familiares, provocou o poder ou o soberano para as resolver, dando assim ênfase à teoria de René Giscard: 1.º a religião, depois a política.
Carroll Quigley, em "A evolução das civilizações" (ed. Fundo da Cultura,1961), já tinha avançado com o aforismo "tudo começa como místico e tudo acaba como político".
Esqueci, desculpem-me.
O nome do livro: Mentira Romantica e Verdade Romanesca, R. Girard, É-Realizações, SP.
Creio que é John Gray que tem uma posição quase idêntica. O progresso tecnológico não trouxe consigo o progresso moral.
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