Filósofo, antropólogo e sociólogo, Lévi-Strauss, autor dos Tristes Trópicos e La pensée sauvage, considerava que entre os "selvagens" e os "civilizados" poucas seriam as diferenças, como entre o homem de hoje e o homem da idade média, relembrando, de certa forma, um discurso de Umberto Eco a demonstrar que nada do que se passa hoje difere do que ocorria na Idade Média.O pensamento de René Girard (na imagem ao lado), que Leonardo, um leitor do De Rerum Natura, em boa hora nos traz, coincide com tudo quanto aqui se tem debatido sobre a Bíblia, a propósito de Saramago, e do tal Caim que, afinal, mais não é do que o representante do protótipo do homem de todos os tempos (civilizados, selvagens, de hoje ou do passado).
René Girard , filósofo, historiador e filólogo, e que também não desdenha do papel de sociólogo - "eu sou antes de tudo um cientista social", diria numa entrevista - já que aponta a Bíblia como um excelente documento para um estudo sociológico.
Na mesma linha de pensamento de Lévi-Strauss, René Girard considera que o homem colectivo é arrastado para a violência por mimetismo, porque as paixões presentes em cada um adquirem uma força multiplicadora. Seja o homem selvagem, civilizado, do século XXI ou do século V.
Numa entrevista ao jornal La Croix, considerou que "o cristianismo é o único a realçar o carácter mimético da violência."
João Boaventura
5 comentários:
Acabou de sair aqui no Brasil um de seus livros traduzidos para o português, pela editora É-Realizações. Bem interessante!
Sobre a violência ou a paz !?
A globalização anti-hegemónica e solidária, que nasceu na sua essência, com o primeiro Fórum Social Mundial, reivindica uma lei universal contra a guerra, a violência, a opressão, a miséria, as desigualdades económico-sociais e a destruição ecológica. De facto, o bom senso ao aliar tecnologia e sociedade, defende que se existir uma evolução tecnológica sem uma evolução social assistiremos, de forma quase automática, ao aumento da miséria humana. Fundamentalmente, de acordo com esta perspectiva contra-hegemónica, globaliza-se os direitos humanos fundamentais (os naturais) que devem ser universais e mundiais e de aplicação obrigatória independentemente do território.
Abç,
Madalena Madeira
Agora que a teoria mimética da violência teorizada por René Giscard se tem generalizado, aproveito a oportunidade, novamente oferecida por Leonardo, que não indicou qual a obra traduzida, para falar, de entre as inúmeras publicadas por aquele autor, numa que se perfila no horizonte desencadeado por Saramago com a nova referência chamada "Cain".
Editado pela Desclee De Brouwer, em 2004, René Giscard publicou o significatico e sempre actual, pelo menos neste blog, "Politiques de Cain", onde o autor aborda a paradigmática luta política entre irmãos, transpondo-a para as lutas políticas, explicando que o detentor do poder não representa o pai mas o irmão que usurpou o lugar.
De acordo com esta tese este poder arbitrário revelaria "o gesto político do primeiro assassino da humanidade" porque, defende René Giscard, a história da humanidade começou com Caim e Abel que, com o fraticídio, teve como resposta a religiosidade.
A sobrevivência da humanidade, perante este homicídio teria arrastado a sociedade a criar as instituições religiosas em primeiro lugar, e as políticas em segundo.
De acordo com esta tese, ou ao encontro dela, há um paralelo no trabalho de Foucault, e cujo título parece desfasado deste contexto, "O que é um autor" (Vega, 7.ª ed., 2009), onde o autor explica que a humanidade encontrou na religião o lenitivo das dissidências e das paixões mas, numa segunda fase, não encontrando na Igreja a resposta para querelas entre vizinhos ou familiares, provocou o poder ou o soberano para as resolver, dando assim ênfase à teoria de René Giscard: 1.º a religião, depois a política.
Carroll Quigley, em "A evolução das civilizações" (ed. Fundo da Cultura,1961), já tinha avançado com o aforismo "tudo começa como místico e tudo acaba como político".
Esqueci, desculpem-me.
O nome do livro: Mentira Romantica e Verdade Romanesca, R. Girard, É-Realizações, SP.
Creio que é John Gray que tem uma posição quase idêntica. O progresso tecnológico não trouxe consigo o progresso moral.
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