segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A educação dos jovens


Mais um post de Rui Baptista:

“Que presente melhor poderíamos oferecer à República além de educar os nossos jovens?” Cícero

Escreveu Mao Tse-Tung (cito de memória) que “um caminho demasiado plano não desenvolve os músculos das pernas”. E que bem se adaptam estas sentenciosas palavras a um ensino facilitador – como o nosso - em que alunos há que saem com diplomas do ensino básico mal sabendo ler e escrever. Como sempre, as excepções mais não fazem que confirmar a regra.

O “caminho demasiado plano” dos três ciclos do ensino básico faz com que os alunos circulem velozmente em auto-estradas sem paragens e quaisquer percalços, mas, deparando-se com a primeira portagem a pagamento para prosseguirem os exigentes ensinos secundário e universitário e levando as mãos às algibeiras, verificam ter os bolsos vazios de conhecimento e cheios de cotão de ignorância. Mas não se pense que este é apenas um mau fado da gente lusitana!

Charles Sykes, docente da Universidade de Wisconsin-Milwake e palestrante nas principais universidades norte-americanas, no seu livro “Dumbing Down our Kids” (New York: St. Martin’s Press, 1995) dá-nos conta de princípios que os estudantes do ensino secundário e diplomados do ensino superior não aprendem na escola pelo facto de o “sistema” criar uma geração de jovens sem o sentido da realidade promotora do respectivo falhanço na vida que os espera no futuro. Para que os estudantes possam vir a ter sucesso na vida profissional, estabeleceu onze regras (que na Net têm sido erradamente atribuídas a Bill Gates):

Regra n.º 1: “A vida não é justa; acostuma-te a isso”.
Regra n.º 2 “O mundo não se importa com a tua auto-estima. O mundo espera que faças alguma coisa por ele para te sentires bem contigo próprio”.
Regra n.º 3: “Não ganharás 40.000 dólares por ano mal saias da escola secundária. Não serás um vice-presidente com carro e telefone ao teu dispor até os mereceres”.
Regra n.º 4: “Se achas que o teu professor é exigente, espera até teres um patrão. Este não será tolerante”.
Regra n.º 5: “A preparação de hamburgueres não rebaixará a tua dignidade. Os teus avós têm uma expressão diferente para isso – chamam-lhe oportunidade.”
Regra n.º 6: “Se fracassares não é por culpa dos teus pais. Por isso, não lamentes pelos teus erros. Aprende com eles.”
Regra n.º 7: “Antes de nasceres, os teus pais não eram tão aborrecidos como são agora. Tornaram-se assim ao pagarem as tuas contas, limparem o teu quarto e darem conta do teu grande idealismo. Por isso, antes de exterminares os parasitas que julgas serem a geração dos teus pais, tenta arrumar o teu quarto.”
Regra n.º 8: “A tua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e vencidos, mas a vida não. Em algumas escolas aboliram as reprovações dando-te todas as oportunidades que queres para dares a resposta correcta. Isto, naturalmente, não tem a menor semelhança com NADA da vida real.
Regra n.º 9: “A vida não se divide em semestres. Não terás verões livres e poucos empregadores estão interessados em ajudar a encontrares-te contigo próprio. Fá-lo-ás só por ti.
Regra n.º 10: “A televisão não é a vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar a vida de café e ir trabalhar."
Regra n.º 11: “Sê simpático para com os patetas. Há uma certa probabilidade de vires a trabalhar para um.”

Face ao facilitismo que também assentou arraiais no nosso país, não será chegada a altura das entidades ministeriais competentes oferecerem à República Portuguesa um sistema educativo de qualidade e sem ser a duas velocidades? Por um lado, demorado e nalguns casos exigente para jovens que são obrigados a satisfazer um percurso académico normal. E, por outro lado, deveras permissivo e rápido no caso de adultos na obtenção do diploma do 12.º ano de escolaridade, através do Programa de Novas Oportunidades, e complemento de habilitações em universidades privadas, a fim de passarem de bacharel a licenciado num percurso académico do tipo “Morangos com Açúcar”!

12 comentários:

Luís Bonifácio disse...

"[...]entidades ministeriais competentes oferecerem[...]"

Entidades ministeriais competentes????
Onde? Onde?

Não sabia que existiam!

Mes se existirem onde é que uma entidade ministerial "oferece" alguma coisa?

CA disse...

"não será chegada a altura das entidades ministeriais competentes oferecerem à República Portuguesa um sistema educativo de qualidade e sem ser a duas velocidades?"

A única coisa que importa aos ministros da educação são as estatísticas e a redução das despesas. O resto é folclore.

Armando Quintas disse...

"percurso académico do tipo “Morangos com Açúcar”

Ai está uma bela designação do nosso sistema de ensino.


I - Extinção do actual ministério da educação e criação de novo organismo como pessoas novas e competentes.

II - Fim do ensino privado e coorporativo até ao fim da escolaridade obrigatória actual 9º ano.

III - Ensino Pré- Escolar gratuito e obrigatório e criação de respectiva rede escolar.

IV - Fim das direcções regionais de educação

V - Manuais escolares até ao 12º ano mandados fazer pelo ministério ao vencedor do concurso público de cada manual de cada disciplina para cada ano lectivo e manuais iguais em todas as escolas do país para a mesma disciplina.

VI - Alterações nas regras de trasicção de alunos com negativas, até ao 6º ano apenas 1 negativa sem ser português ou matemática e obrigatoriedade de frequencia de aulas de verão na referida disciplina reprovada, a partir do 7º ano de escolaridade, transição sem qualquer negativa. Proibição dos professores darem positivas mediante promessas de melhorias no semestre seguinte mesmo ficando escrito em acta na reunião dos docentes de turma(prática comum)

VII - Redução dos cursos de ensino no ensino superior e adaptado a procura à oferta de mercado, reposição do estágio remunerado e aumento da nota minima de acesso para 14 e respectiva qualidade no ministrar de cursos. Fim dos cursos de ensino no ensino superior privado. Fim das escolas superiores de educação, retomar funções nas areas pelas universidades e reabertura das antigas escolas de magistério primário.

VIII - Nono ano como escolaridade obrigatória mas referencial educativo no 12º ano.
Nono ano como requisito necessário para a fruição de completa vida civil e civica: carta de condução, numero de identificação fiscal, empréstimos, entre outras situações.

IX - Fim dos agrupamentos no ensino secundário, lecionação de um minimo de disciplinas obrigatórias, restantes opcionais com maximos e minimos razoáveis adaptadas às necessidades e interesses dos alunos referentes aos cursos superiores desejados, devidamente informados aquando do 10 ano com respectiva guia informativa sobre cursos do ensino superior cujas regras não poderiam ser alteradas nesses proximos 3 anos.

X - Harmonização e uniformização nacional de acesso e requisitos dos respectivos cursos de ensino superior nas diferentes universidades.

XI - Imposição de nota minima de acesso para qualquer curso superior no país de 12 valores.

XII - Fiscalização permanente e independente no ensino, superior ou não e público ou não.

XIII - Oferta do enino superior adaptada à procura do mercado de trabalho português.

XIV - Fim da ingerencia das ordens corporativas e profissionais no reconhecimento e exigencias profissionais dos recentes licenciados, poderes a transitar para o ministério superior.

XV - Dispensa de serviços por meio de reforma ou outros se se justificar de antigos docentes ditos da "velha escola" entenda-se docentes com idade de reforma ou superior a esta que lecionam mais que duas disciplinas cuja formação se tornou arcaica e obsoleta para os moldes actuais.


Enfim apenas algumas ideias simples e interessantes a implementar, mas repare-se que não só com medidas coercivas se vai lá, toda a comunidade têm que ser envolvida neste esforço, as regras apresentadas no post são bem interessantes e ilustram o quanto a escola tem que formar para a vida real.
Os alunos desintereçados ou problemáticos devem ser acompanhados mais de perto e envolver mais os progenitores nas tarefas da educação, ministrar aulas aos mesmos se necessário.

CA disse...

Armando

O estalinismo e as ditaduras já deram o que tinham a dar.

guida martins disse...

Apesar de todas as dificuldades os pais e a sociedade em geral nunca se empenharam tanto na educação dos jovens. Falo do que conheço: na cidade onde vivo e onde os meus filhos frequentam a escola, não se pode comparar a oferta de actividades desportivas, artísticas, cúlturais, etc. e respectivas infraestruturas de apoio, ginásios, piscinas, biblioteca, teatro, etc., com o que existia há uns anos atrás. Não se percebe o facilitismo da escola, nem se percebe que os resultados escolares não acompanhem este esforço.

Anónimo disse...

Parabéns pelo blog.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Acerca da educação dos jovens (e da falta dela), é estranho como um livro de 1530 («A Civilidade Pueril», de Erasmo) continua actual!
Na edição «Clássicos de bolso», da «Editorial Estampa», custa menos de 6 euros e vale bem a pena!

amores-marginais disse...

Até concordo, mas antes disso, se calhar pensar bem que professores estão em alguns politécnicos?
Incompetentes e estupidamente exigentes. Exigindo imbecilidades, frequências surrealistas, lembro por exemplo a estes de Coimbra com tontos a passarem-se por super professores.
E quem vistoria isto.
A quem nos podemos queixar.....como é possível te se chegado a este ponto. Quanto tempo vai levar para limpar o mercado destas pessoas? Como se pode formar pessoas sem se ter conhecimento de nada, em profissões de elevadíssimo desenvolvimento tecnológico.
desculpem n assinar com o meu verdadeiro nome, mas tenho medo de represálias

Sérgio O. Marques disse...

A educação não depende nem pode depender do sistema político vigente. A última grande escola científica foi a da união soviética e os estados unidos não souberam preservar a brilhante dádiva da escola alemã do pré-segunda-guerra. A educação não está relacionada com democracia ou ditadura.
No entanto, acho que, uma vez que nos assumimos como democratas não podemos privar os analfabetos de viver, têm tanto direito como os outros. Eu não preciso do nono ano para tirar a carta e posso muito bem ser melhor condutor do que alguém irresponsável com um grau académico superior.
No fundo considero que o mal da educação é propositado e não consequência da incompetência dos orgãos legislativos. Eles não são assim tão ineptos.
E digo isto como pensamento sobre o artigo e os respectivos comentários.

Angélique disse...

Algumas das sugestões mencionadas pelo senhor armando poderiam até funcionar muito bem! Mas será que estamos realmente num pais onde isso resultaria?
Vejo muita gente, principalmente dos meios rurais nos quais ainda se desvaloriza muito a educação e onde o ganhar o seu próprio dinheiro é mais importante do que qualquer formação. Não se da valor a formação das pessoas e so chamadas "crianças perdidas" muito pouco e feito para que estas retornem a escola! Apesar de todo o facilitismo que existe! Eu já apanhei muito desse facilitismo e agora vejo o quanto faz falta algumas bases!
Reforma precisa-se!? Sim muita, e temos muitos jovens formados, milhares de professores no desemprego e centenas de escolas a fechar.

Anónimo disse...

A adesão ao Novas Oportunidades em grandes quantidades servirá como critério de sucesso.
Quanto á qualidade da formação, nem é bom falarmos muito nisso.

Rui Baptista disse...

O valor dos comentários como "feed-back" ao post's têm para mim um significado que muito prezo. Por esse facto, agradeço a todos os comentadores a forma elevada como se debruçaram sobre o verdadeiro problema nacional da Educação. Parafraseando a letra de uma canção do Rui Veloso, julgo ter sido mais aquilo que nos uniu do que aquilo que nos separou numa discussão em que todos devemos participar no cumprimento de um dever de cidadania. A todos, o meu sincero obrigado.Por último, agradeço a Carlos Medina Ribeiro a sugestão para a leitura do livro "A Civilidade Pueril". Por não o encontrar nas prateleiras das livrarias de Coimbra. encomendei-o. Acabam de me avisar que já chegou. Vou lê-lo de imediato. Esta outra vantagem dos comentários: enriquecem a nossa cultura pessoal com a troca de informação que nos chega de pessoas interessadas na divulgação da Cultura, como é o seu caso. Aliás, de há muito, me habituei a admirar a correcção e a sólida argumentação que presidem aos seus comentários, nesta e em outras circuntâncias.

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