quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Os Mitos da Economia Portuguesa


Prefácio do jornalista Nicolau Santos ao novo livro do economista Álvaro Santos Pereira (na foto), "Os Mitos da Economia Portuguesa" (Guerra e Paz, 2007):

Gosto de iconoclastas. Estou farto do politicamente correcto. Se a humanidade sempre tivesse feito tudo como o fazia a partir do momento que houve vida no planeta, ainda hoje estávamos na idade da pedra. Por isso, é preciso que haja pessoas a desafiar o que está estabelecido, a provocar novas dinâmicas, a agitar ideias que vão contra o «main stream». É assim, foi sempre assim, que o mundo pula e avança.

Nem que seja para chegarmos à conclusão que estamos errados, há que desafiar com novas ideias, novas teorias, novos caminhos, o pensamento dominante, o modo de fazer igual, a réplica da réplica de um original já muito distante.

Na economia portuguesa, tem havido um pensamento claramente dominante. Temos de ter um défice orçamental próximo de zero porque só assim será possível termos taxas de crescimento significativas. Bom, mas no tempo em que Miguel Cadilhe foi ministro das Finanças, entre 1985 e 1990, o défice era elevado e tivemos um excelente desempenho económico, de tal modo que chegámos a ser conhecidos como o tigre celta, lembram-se? Ah, claro, houve a espectacular melhoria das razões de troca devido à queda do preço do petróleo e das matérias-primas e ao enfraquecimento do dólar. E estávamos a sair de uma recessão e o país encontrava-se financeiramente saneado. Pois, resumindo e concatenando, isso quer dizer que em situações específicas as políticas que resultam podem não ser iguais aquelas que estão em todos os livros.

Aliás, se pensarmos o que se passa nos Estados Unidos, onde apesar do espectacular défice orçamental acumulado por George W. Bush, a economia mantém um forte crescimento, tal como tinha acontecido quando o défice passou a superavit no tempo de Bill Clinton, chegamos à conclusão que há ligações que, no mínimo, devem ser discutidas e postas em causa.

Nos últimos anos, verificou-se uma clivagem no pensamento único dominante. Há os que defendem um alívio fiscal como forma de apoiar o crescimento económico. E há os que insistem em manter a pressão fiscal, porque só com as contas públicas saneadas haverá crescimento. Há os que sustentam que para captarmos investimento, temos de ser radicais e reduzir as taxas de IRC para 10% ou mesmo zero, como forma de nos distinguirmos na União Europeia. E há os que dizem que não há margem de manobra e que isso conduziria a um desastre orçamental. Há os que clamam que só com menos dinheiro o Estado será forçado a emagrecer. E há os que dizem que sim, mas só depois de equilibrar as contas.

Talvez por passar parte da sua vida profissional no exterior, Álvaro Santos Pereira tem a vantagem de olhar para esta e outras questões de uma forma descomplexada e traduzi-la numa linguagem acessível a qualquer mortal, que não tenha tirado um curso de economia ou engenharia e um MBA em gestão.

Por isso mesmo, este livro, em matéria de provocação e desconstrução da linguagem, está ao nível dos recentes «best-sellers» internacionais nesta área, de «Freaknomics» a «O Economista Disfarçado», passando, por exemplo, por áreas mais psicológicas para explicar a motivação das pessoas como «Blink».

A economia não tem de ser uma coisa chata, nem um livro sobre economia o recolher das ideias «pronto-a-vestir» que já todos conhecemos. É isso que Álvaro Santos Pereira prova nesta obra.

Nicolau Santos

Sem comentários:

Direitos e dever(es)

Texto gentilmente oferecido por Carlos Fernandes Maia, professor de Ética.   O tema dos direitos e deveres desperta uma série de interrogaçõ...