segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

ALTA TENSÃO


Sob o título “37 milhões para estudar alta tensão” noticia o último “Expresso” na primeira página:

“Portugal vai ter um programa de investigação pioneiro sobre os efeitos das linhas de alta tensão nas pessoas. A iniciativa financiada pela REN executada pela Faculdade de Farmácia de Lisboa, importará em 37 milhões de euros e estender-se-á por dez anos”.

Há muitas coisas estranhas nestas poucas linhas. Tantas coisas estranhas quantas as linhas. Em primeiro lugar a palavra “pioneiro”: revela um desconhecimento da enorme literatura científica sobre o assunto que desde há muitos anos tem sido publicada internacionalmente (não há nada de especial com as linhas de alta tensão portuguesas pois são iguais às dos outros países!). Em segundo lugar o financiamento pela REN: a Rede Eléctrica Nacional é parte interessada e sabe muito bem os resultados que quer. Em terceiro lugar, a Faculdade de Farmácia: ela não é o sítio certo para fazer um estudo desse tipo, pois a questão dos efeitos biológicos das radiações é mais do âmbito da da biologia, da medicina, da física e da engenharia electrotécnica.

Uma notícia deste tipo aproveita-se da falta de cultura científica nacional e não é por acaso que surge numa altura em que há populações muito sensíveis para a questão da saúde das pessoas que vivem perto de linhas de alta tensão. Também não será por acaso que aparece um financiamento deste género numa altura em que as universidades estão subfinanciadas. Vale tudo?

11 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
pedro oliveira disse...

Realmente! não era mais barato e fácil recorrer a outros estudos e canalizar esse dinheiro para investigação verdadeiramente inovadora. triste sina a nossa!
pedro oliveira
http://vilaforte.blog.com

Fulano de Tal disse...

Se calhar até fazia mais sentido que fosse a faculdade de letras a conduzir esse estudo, de forma a ter um relatório final com uma leitura agradável!!!

Carlos Medina Ribeiro disse...

A discussão tonta acerca deste assunto terminaria se alguém disse às populações em causa:

«Meus caros, as radiações dos telemóveis são n vezes mais fortes, e vocês metem esses aparelhos a poucos MILÍMETROS do cérebro; e já não falamos da radiação das antenas retransmissoras. Assim, e para vos levar a sério, vamos propor, a par do enterramento das linhas de A.T., a desactivação das redes de telemóveis nas mesmas zonas. A proibição dos micro-ondas e quejandos fica para uma segunda fase...»

Pedro disse...

Esta polémica não aconteceu nos EUA há 20 e tal anos e não se chegou à conclusão que não havia perigo à saúde pública?

José M. Sousa disse...

O Estudo não será certamente pioneiro, mas o facto de o desordenamento do território ser enorme em Portugal, certamente maior que a média europeia, e de, por isso, haver tanta proximidade entre linhas de alta tensão e pessoas, poderá revestir de alguma importância;
Não está provada uma relação entre a exposição aos campos electro-magnéticos das linhas de alta tensão e a saúde humana, mas também não está provado o contrário, daí que a OMS recomende o princípio da precaução. Parece que o mesmo não se passa com as antenas de telemóveis onde o mesmo princípio não se aplica.

Jose Paulo disse...

Este link é muito interessante e informativo, com boas referências. Porque é que os jornalistas não se informam decentemente? Quem lucra com esta falta de informação?

http://www.quackwatch.com/01QuackeryRelatedTopics/emf.html

José Paulo Andrade
www.pbase.com/jandrade

Carlos Medina Ribeiro disse...

Este "post" de Carlos Fiolhais" foi transcrito (como sucede com frequência) no SORUMBÁTICO (http://sorumbatico.blogspot.com), onde recebeu vários comentários, nomeadamente de dois engenheiros electrotécnicos que trabalharam muitos anos em Alta Tensão (um e-EDP e um ex-EFACEC).

José M. Sousa disse...

O que recomenda a Organização Mundial de Saúde:

WHO's guidance

For high-level short-term exposures to EMF, adverse health effects have been scientifically established (ICNIRP, 2003). International exposure guidelines designed to protect workers and the public from these effects should be adopted by policy makers. EMF protection programs should include exposure measurements from sources where exposures might be expected to exceed limit values.

Regarding long-term effects, given the weakness of the evidence for a link between exposure to ELF magnetic fields and childhood leukaemia, the benefits of exposure reduction on health are unclear. In view of this situation, the following recommendations are given:

* Government and industry should monitor science and promote research programmes to further reduce the uncertainty of the scientific evidence on the health effects of ELF field exposure. Through the ELF risk assessment process, gaps in knowledge have been identified and these form the basis of a new research agenda.
* Member States are encouraged to establish effective and open communication programmes with all stakeholders to enable informed decision-making. These may include improving coordination and consultation among industry, local government, and citizens in the planning process for ELF EMF-emitting facilities.
* When constructing new facilities and designing new equipment, including appliances, low-cost ways of reducing exposures may be explored. Appropriate exposure reduction measures will vary from one country to another. However, policies based on the adoption of arbitrary low exposure limits are not warranted.

Jose Paulo disse...

Desde que se cumpram as distãncias e normas de segurança parece, de acordo com os dados actuais,não haver perigo para a saúde. Os estudos epidemiológicos já foram efectuados noutros países.

"Magnetic Field Exposure and Cancer: Questions and Answers" do National Cancer institute dos EUA



http://www.cancer.gov/cancertopics/factsheet/Risk/magnetic-fields

"Overall, there is limited evidence that magnetic fields cause childhood leukemia, and there is inadequate evidence that these magnetic fields cause other cancers in children (see Question 2).
Studies of magnetic field exposure from power lines and electric blankets in adults show little evidence of an association with leukemia, brain tumors, or breast cancer (see Question 3).
Past studies of occupational magnetic field exposure in adults showed very small increases in leukemia and brain tumors. However, more recent, well-conducted studies have shown inconsistent associations with leukemia, brain tumors, and breast cancer."


Jose Paulo Andrade
www.pbase.com/jandrade

MM disse...

Viva...

De todas as dúvidas que as quase 4 linhas transcritas podem suscitar, aquela que mais me perturba é de facto ficar este estudo sobre a tutela da Faculdade de Farmácia. Fico com a impressão de que será um estudo para desenvolvimento ou selecção de medicamentos que possam contribuir para a minimização dos efeitos das linhas de alta tensão, sendo como uma resignação perante a melhoria da situação.

Talvez o tempo venha a dar-me alguma razão nesta ideia...

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