sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Uma sugestão de leitura


Os sonetos a Orfeu e Elegias a Duíno
De Rainer Maria Rilke
Tradução de Vasco Graça Moura
Edição: Bertrand (2007).

Rilke (1875-1926) nasceu, cresceu, fez estudos universitários e escreveu os seus primeiros poemas em Praga. Jovem, com vinte anos, rumou à cosmopolita Munique, onde se embrenhou num novo e fascinante mundo de arte. Nesse mundo, por influência de uma paixão, a bela e impetuosa Lou Andreas-Salomé, mudou o nome de Réne para Rainer e passou a dedicar-se inteiramente à escrita.

Entre as suas obras mais marcantes contam-se Elegias a Duíno, iniciada em 1912 e terminada uma década depois, no ano em que escreveu Os Sonetos a Orfeu. Vasco Graça Moura traduziu ambas as obras para a nossa língua, que se reuniram num só livro, em edição bilingue.

No prefácio desse livro, João Barreno escreveu o seguinte sobre este trabalho de tradução: “O que o leitor d´Os Sonetos a Orfeu e das Elegias de Duíno reterá de Vasco Graça Moura, para além do pormenor, é um conjunto notável que veste estes dois ciclos de Rilke como uma segunda pele. A pele visível, e a mais actual, de Rilke em português. O princípio orientador que o poeta Graça Moura parece seguir nesta sua nova aventura pelo ‘espaço orientador do mundo’ da grande poesia de Rilke poderia ser o que o próprio autor de Cadernos de Malte nos dá, pela boca do seu narrador (…) ‘Era um poeta e detestava a imprecisão’.

O poema que aqui transcrevo é parte integrante d´Os Sonetos (Sonet0 3, página 141) que Rilke criou de um só fôlego e apresentou como “monumento funerário” a Wera Ouckama Knoop, uma bailarina que morreu muito jovem e cujo encanto, sensibilidade estética e determinação o impressionaram de maneira muito particular.

Espelhos: o que sois na vossa essência,
nunca ninguém saberá explicá-lo.
Como os furos do crivo, sois a ausência,
do tempo a preencher como intervalo.

Vós, que esbanjais a sala inda deserta –,
vastos como florestas, quando a noite regressa…
E o lustre, como hastes múltiplas de algum gamo alerta,
vossa água inviolável atravessa.

Tanta vez estais cheios de pinturas.
Umas em vós parecem estranhadas –,
as outras afastou-as a vossa timidez.

Mas a mais bela de todas as figuras
ficará lá no fundo, até nas faces recatadas
romper claro e narciso sua timidez.

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