Imagens da Universidade de Roma La sapienza.
O reitor da Universidade de Roma La Sapienza decidiu convidar Bento XVI para proferir um discurso na abertura do ano académico nesta universidade, que terá lugar amanhã, 17 de Janeiro. O professor emérito de Física Marcello Cini considerou inaceitável esta mistura incongruente de ciência e religião e declarou-se ultrajado numa carta dirigida ao reitor em que lhe explicava, entre outras coisas, a tradição de mais de sete séculos de laicidade e autonomia da escola.
A esta carta seguiu-se outra assinada por 67 docentes - e subscrita por mais de 600 docentes como explicou o físico Andrea Frova - entre eles o recém nomeado presidente do Consiglio nazionale delle ricerche (Cnr), Luciano Maiani, em que pediam:
«Em nome da laicidade da ciência e da cultura e em respeito da nossa instituição aberta a professores e estudantes de todas as religiões e ideologias, esperamos que este evento incongruente possa ainda ser cancelado».
Para além das razões invocadas por Marcello Cini, os docentes recordavam um discurso em Parma de Ratzinger, em 15 de Março de 1990, em que este parafraseou Feyerabend: «Na altura de Galileu, a Igreja mostrou ser mais fiel à razão que o próprio Galileu. O julgamento contra Galileu foi razoável e justo». Palavras que os signatários consideraram que «como cientistas fiéis à razão e como professores que dedicaram as suas vidas ao avanço e difusão do conhecimento, ofendem-nos e humilham-nos».
Os estudantes de Física da Sapienza iniciaram por sua vez uma semana anti-clerical em protesto pelo evento e aparentemente foram seguidos pelos restantes discentes da escola. Estavam já marcados uma série de eventos coincidentes com a visita que incluíam um concerto rock (Bento XVI considera a música rock «expressão de paixões elementares que, nos grandes concertos musicais, assumiu carácter de culto, ou melhor de contra-culto que se opõe ao culto cristão»), um desfile gay contra a homofobia do Papa e uma Lectio Magistralis «em defesa da ciência contra o obscurantismo católico».
Ontem cerca de 100 estudantes ocuparam a sala de reuniões do Senado da escola em protesto contra uma decisão da reitoria de cercar com um cordão policial o edíficio onde o evento teria lugar para impedir as manifestações de protesto dos estudantes. Os estudantes abandonaram a sala depois de o reitor lhes ter prometido um lugar para essas manifestações.
Pouco depois, o Vaticano anunciou que a visita de Bento XVI à La Sapienza fora cancelada.
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119 comentários:
A ciência é laica: será que fariam o mesmo, com este fundamento, se fosse lá o Dalai Lama?
A ciência é independente da política: será que fariam o mesmo, com este fundamento, se fosse lá um político estrangeiro?
Caro CA:
há uns dois anos alguém teve a ideia peregrina de convidar o Dalai lama para um congresso de neurociências (nos EUA). Na altura em que este ia começar a falar a sala ficou às moscas: os cientistas sairam em protesto pelo convite. O Dalai Lama não tinha nada que lá estar.
Convidar B16, ou outro qualquer ou um político estrangeiro para a abertura do ano académico só de alguém com muita falta de senso (ou excesso de religião...)
É terrível, para não dizer completamente grotesco, que uma instituição universitária, que devia ser um exemplo de tolerância tome atitudes deste tipo.
Parece-me que há universidades que se estão a tornar antros de intolerância e de desrespeito pela liberdade de expressão.
Aposto que se Hugo Chavéz tivesse sido convidado pela universidade para discursar seria recebido de braços abertos pela extrema esquerda e aplaudido pelos "físicos".
Só há uma palavra que define esta atitude da universidade italiana: V-E-R-G-O-N-H-A.
É vergonhoso usar palavras como "laicismo", "cultura" e "ciência" para justificar atitudes que roçam o caricato (uma palavra simpática para não escrever fascismo).
Se isto ainda se passasse numa universidade privada, até entendia. Agora uma universidade pública não pode ser uma coutada de meia dúzia de cabeças não pensantes que em nome de um "contributo" para o "avanço" da ciência que ninguém conhece se arroguem em polícias e inquisidores do pensamento livre e da liberdade de expressão.
É preciso dizer basta! porque um dia não é só o Papa, somos todos nós!
Já agora algumas notas adicionais:
1) A universidade em causa foi fundada por um Papa e só em 1870 deixou de ser considerada universidade pontificia (por decisão da república italiana) pelo que um laicismo e autonomia de 700 anos é falso;
2) Tem 150 mil alunos, o que coloca dúvidas sobre o direito de uma minoria de 100 alunos de condicionar toda a universidade
Não haverá aqui um excesso de intolerância por parte de docentes e estudantes de La Sapienza, dessa intolerância de que tanto é acusada a Igreja Católica? O mesmo se diga quanto à liberdade de expressão. Fico perplexo com a intolerância e incapacidade de diálogo manifestada em La Sapienza. Fico também perplexo com a insistência em dualismos como religioso-laico, ciência-religião, etc. Há certamente alguma distinção entre o religioso e o laico, a ciência e a religião, mas é preciso recordar que distinguir não obriga sempre a separar. Nunca ouvi nenhum laico a protestar contra o facto de haver concertos em igrejas. E ainda bem! Será a música laica por natureza?
O Dalai Lama participou em inúmeros colóquios com neurocientistas tão ilustres como António Damásio, colóquios que o próprio Dalai Lama organizou, e só no último destes colóquios é que houve uma reacção negativa.
Nesta época em que se fala de diálogo, a atitude de La Sapienza é incompreensível. O que é afinal a liberdade de expressão?
E. Wilson afirma numa sua obra recente (A Criação) que se torna necessária a colaboração da ciência e da religião para se salvar o nosso planeta, e que o debate entre as duas dimensões da vida humana não tem que ser conduzido apenas ao nível metafísico. Parece-me uma posição bem mais sensata que a dos alunos e docentes de La Sapienza.
No que se refere a Galileu, a Igreja Católica já reconheceu que os teólogos que condenaram Galileu erraram. Este é um dado definitivo. Outra coisa é reconhecer o que estava em jogo na mudança de sistema cosmológico. Não se tratava, de facto, de uma simples questão astronómica. Numa época em que a ciência em sentido moderno estava a nascer, ela estava ainda muito ligada à filosofia e à teologia. O fim do universo geocêntrico significou o “fim de um mundo” que levou tanto a filosofia como a teologia a grandes mudanças. Na época de Galileu, tais mudanças não podiam ser feitas numa ou duas décadas. Elas têm sido feitas desde então, e as suas repercussões ainda hoje se fazem sentir. Isto não torna a condenação de Galileu racional no sentido que hoje damos ao termo, mas permite compreender que houve razões que bloquearam muito filósofos e teólogos da época de Galileu.
Já agora, mais um comentário:
O título não reflecte o que se passou em Roma. Não há nenhum conflito entre "ciência" e "religião". O que há é um conflito entre "intolerância" e "liberdade".
Se Richard Dawkins um dia for convidado para falar numa universidade católica e um grupo de alunos se manifestar contra a sua presença impedindo-o de falar o meu comentário será igual ao que produzi aqui.
Não lancemos poeira para se esconder o que está verdadeiramente em causa: um ataque á tolerância e ao pensamento livre.
É lamentável que um blogue como o De Rerum Natura, com a visibilidade que lhe é dada pelo jornal Público e com colaboradores que são figuras públicas pela sua actividade cívica não tenha a coragem suficiente para sobrepôr a defesa da liberdade aos seus sentimentos ateístas.
O conflito etre religião e ciência faz parte da História da civilização ocidental e da História da própria ciência. Não me parece que seja uma questão fracturante no século XXI. Concordo com o laicismo da universidade pública em nome da lberdade religiosa do mesmo modo que cocordo com a sua independência ideológica em nome da liberdade de ensino e de expressão. Porém, não me parece que, em nome do laicismo da ciência se justifique uma reacção tão violenta ao convite feito a Ratzinger pela La Sapienza, e muito menos um ajuste de contas com a História.
O laicismo implica necessariamente uma atitude de igual tolerância para com os crentes, os agnósticos e os ateus, (de qualquer religião! E ter abertura de esirito para ouvir todos...incluindo o Ratzinger.
Fui ver ao dicionário. A palavra "universidade" vem do latim "universitas", que quer dizer universalidade, totalidade.
O fenómeno religioso é um fenómeno humano.
Pelos vistos há pessoas que não percebem bem o que significa universidade ou então que têm medo que a sua pureza (científica?) seja contaminada por um líder religioso fazer um discurso na sua universidade.
Um "Taliban católico" não tem nada que discursar e espalhar a sua palavra fundamentalista numa universidade laica.
Faça-o no seu masjid jāmi para os seus entorpecidos.
Tolerância tem limites...
Tolerância era em nome da razão o Vaticano deixar de proibir o preservativo, por exemplo, e não sabemos quantos séculos vamos ter que esperar. Infelizmente a Sida não espera...
Hugo
Taliban quer dizer estudante de teologia.
Recusar a presença de alguém numa universidade apenas com base na sua religião é um exemplo acabado de intolerância e é um comportamento indigno do nome "Universidade".
Guida
A melhor prova da responsabilidade do Vaticano na propagação da SIDA é que em África e no mundo a SIDA só está espalhada entre as populações católicas.
É claro que é inadmissível a intolerância. E é até contrapruducente na medida em que qualquer posição que “cheire” a sectarismo desencadeia do lado oposto ainda mais sectarismo. E percebo a posição de alguns católicos que de boa-fé deixaram aqui as suas opiniões. Só que Bento XVI tem tudo menos ingénuo e boa-fé, na medida em que é o agente máximo de um poder.
Mas a verdade é que estes factos têm sempre que ser contextualizados. E Bento XVI tem proferido sistematicamente declarações provocadoras e por isso anda a pedi-las. Por isso o que aconteceu agora na Universidade La Sapienza deve ser visto mais como uma reacção de indignação a tudo quanto este papa, como entidade de poder, tem andado a propalar arrogantemente quanto a conceitos de verdade e pretensões de verdade por parte da Igreja, na medida em que ele reivindica poder e infalibilidade.
Vejamos alguns excertos do que ele diz:
“A fé cristã é, hoje como ontem, a opção pela prioridade da razão e do racional”.
“Talvez os homens possam perceber que contra a ideologia da banalidade, que domina o mundo, é necesária uma oposição, e que a Igreja pode ser moderna, sendo precisamente anti-moderna, opondo-se àquilo que todos dizem. Cabe à Igreja um papel de oposição profética e ela deve ter a coragem de exercê-lo”.
“Com a desculpa da bondade descura-se a consciência, à verdade antepõe-se a procura do consenso, o desejo de evitar confronto, a preservação de uma vida sossegada, a defesa do bom nome.”
“Hoje espalhou-se amplamente, mesmo entre os crentes, a imagem de um Jesus que não exige nada, que nunca condena, que acolhe tudo e todos, que nos aprova em tudo: exactamente o contrário da Igreja, na medida em que ela ainda ousa exigir e impor”.
Realmente não consigo perceber tanta fleuma por causa do convite a Bento XVI. Julgo que até seria uma boa oportunidade para os académicos lançarem um saudável debate com o representante da Igreja Católica sobre as suas posições.
Para que conste, durante as primeiras visitas do Dalai Lama, em que este foi convidado a discursos em várias universidades, o principal motivo dos protextos era a miopia de muitos cientistas (nem todos, felizmente). Nesse caso a estreiteza de pensamento e o cepticismo fanático fez com que durante algum tempo fosse "heresia" discutir questões que ultrapassassem os dogmas da ciência reducionista. Felizmente que cada vez mais investigadores se interessam por INVESTIGAR outras realidades e temas (aparentemente) controversos. Por muito que possa custar a muito boa gente, as diversas filosofias religiosas têm muito a dizer sobre as suas investigações sobre a consciência.
Voltando à noticia, até "em respeito da (...) instituição aberta a professores e estudantes de todas as religiões e ideologias", como refere a própria carta assinada pelos 67 docentes, poderiam muito bem receber o Papa.
Infelizmente, muitos ateus dogmáticos preferem apenas lançar lama, em vez de incentivarem o diálogo, a crítica fundamentada.
Um dos problemas de muitas universidades é que estão fechadas a temas "controversos", a autores que saiam do satus quo, a teorias que possam pôr em causa o pardigma reducionista vigente. Deveriam estar na vanguarda do conhecimento e dos valores. Infelizmente, muitas, estão numa autêntica "idade média" de obscurantismo.
Porquê tanto medo em discutir abertamente as religiões? Porquê lançar demostrações patéticas de cepticos fanáticos (tipo Shemer) a desmascarar truques de circo e ilusionismo como se estivessem a tratar de assuntos realmente sérios?
Medo? Dogmatismo? Ignorância? Intolerância? Quem sabe...
Bom, a tolerância parece ter um só lado, não é verdade? É intolerante protestar contra a ida do Papa, mas não parece ser intolerante considerar que tal é "fascismo" (fugindo à tal palavra simpática). Pergunto eu: qual o problema de haver pessoas, que pertencem à universidade, a protestar contra a ida de alguém, estrnho à mesma, lá discursar? O Papa que fosse, que aturasse os protestos e teria certamente muitos estudantes e docentes, católicos, que o iriam ouvir. O cancelamento apenas demonstra falta de tolerância do Papa, não dos manifestantes, que apenas mostravam o seu desagrado.
Seja como for, o protesto era contra a ida de Bento XVI à universidade. Ou, se quiserem, de Joseph Ratzinger, o homem anti-ciência que representa a ICAR. O protesto não era dirigido especificamente à ICAR, mas ao homem que (de forma não-democrática, já que falam em Chávez) a encabeça.
Quanto a esta frase: «Nunca ouvi nenhum laico a protestar contra o facto de haver concertos em igrejas», parece-me completa idiotice. Obviamente que os laicos não se queixarão disso. Nada tem a ver com eles. Já o contrário, padres a queixarem-se de resultados científicos, infelizmente há demais.
Pessoalmente também me apreceu demais. Sempre seria um chefe de estado a ir discursar e a abordar, certamente, questões morais na ciência, o que nada tem de mal. Agora querer dizer que manifestações bem fundamentadas contra tal facto são intolerância, isso é ir longe demais, especialmente quando vindo de apoiantes de instituições que queimaram antecessores dos manifestantes.
CA disse...
"Taliban quer dizer estudante de teologia"
Sério? Não me diga!
Lembro-me desse taliban apelar à revolta dos católicos contra os laicos faz muito pouco tempo. Não posso com ele e sei que não sou o único. No meu seio familiar (incluo pais, irmãs, mulher e alguns amigos), todos católicos também não podem vê-lo. Dizem-me que foi (a palavra deste papa) um passo atrás na espiritualidade e tolerância às diferenças.
Mas eu disso não percebo nada, eu só percebo que esse senhor apelou à revolta destes últimos contra mim (laico de gema) e achei (junto aos adjectivos que faz à música, aos homosexuais etc) muito taliban (no sentido de extremista... cego... fundamentalista) sem diferenças visiveis com os de turbante negro ou branco.
O problema é que o papa vicia as regras do jogo da tolerância e da liberdade logo à partida; quer obrigar-nos a obedecer. Ele é que tem o poder de nos obrigar a acreditar na verdade dele, que lhe veio não se sabe de onde. Dialogar como? Ele diz mesmo que quer impor. E sabemos como a Igreja impôs as suas verdades e vontades no passado. Há uma coisa que se passa com os gatos escaldados: desconfiam.
O papa é arrogante e dalai lama não. Este tem assumido, em todos os encontros que tem tido com cientistas, que tem de corrigir as suas ideias se as demonstrações da ciência forem contrárias. Respeita a ciência, o papa não, nas questões que colidem com as suas (da Igreja) conveniências e estratégias de poder sobre a mente humana.
Se relerem o post verão que grande parte da contestação não é dirigida à pessoa (o que é legítimo já que a pessoa toma posições que podem ser criticadas) mas sim ao facto de a pessoa ser uma líder religioso: é aí que está a intolerância.
F. Dias
Não sou propriamente um fã deste Papa, mas não percebo qual o problema das citações que faz dele:
"A fé cristã é, hoje como ontem, a opção pela prioridade da razão e do racional."
O facto disto ser dito parece-me bom. Mau seria se ele dissesse que quem é católico não precisa de usar a razão.
Também não se deve confundir a valorização da racionalidade, feita pela teologia, com a prática de muitos leigos e religiosos.
"Talvez os homens possam perceber que contra a ideologia da banalidade, que domina o mundo, é necesária uma oposição, e que a Igreja pode ser moderna, sendo precisamente anti-moderna, opondo-se àquilo que todos dizem. Cabe à Igreja um papel de oposição profética e ela deve ter a coragem de exercê-lo."
Há muitos autores laicos e ateus que se destacam precisamente por de oporem às ideologias da banalidade. No fundo Bento XVI diz que não é boa ideia ir com a manada.
"Com a desculpa da bondade descura-se a consciência, à verdade antepõe-se a procura do consenso, o desejo de evitar confronto, a preservação de uma vida sossegada, a defesa do bom nome."
Procuramos se fiéis à nossa consciência ou sermos bonzinhos? Procuramos a verdade ou apenas o consenso, mesmo que estejamos de acordo num disparate? Vale a pena o confronto de ideias ou é preferível ninguém incomodar ninguém?
Esta frase é realmente um desafio a muitos ambientes académicos.
"Hoje espalhou-se amplamente, mesmo entre os crentes, a imagem de um Jesus que não exige nada, que nunca condena, que acolhe tudo e todos, que nos aprova em tudo: exactamente o contrário da Igreja, na medida em que ela ainda ousa exigir e impor."
O que a Igreja "exige e impõe" fá-lo porque acredita que isso está já na nossa natureza (e aí a imposição da Igreja chama a atenção para os nossos limites). Mas hoje essa imposição só afecta os católicos e mesmo estes devem usar a razão e devem formar e seguir a sua pópria consciência.
O que preferem então:
que Bento XVI continue a proferir de cima do seu púlpito o que bem entende, num discurso de sentido único, ou então, a criação de oportunidades para questionar abertamente e frontalmente as muitas posições contraditórias e erróneas assumidas pela Igreja Católica?
Mas sabendo nós um pouco do pesado passado (e presente) do povo italiano às mãos da Santa Sé, tenho concordar que, às vezes... já há muita paciência.
Quis dizer: às vezes... já NÃO há paciência.
Por princípio de honestidade intelectual reconheço que CA, no estrito sentido da crítica que faz ao texto do post, tem razão. No entanto, se tivermos em conta todo o sentido da carta de Marcello Cini (mesmo que me considere inepto a ler italiano), todo a problemática que leva a declinar a lição magistral do papa vai muito para além da simples mistura da ciência com religião. Ingratamente, os textos contêm em si meta-textos, pressupostos e subentendidos que constantemente atraiçoam os literalismos.
Os seus comentários dizem tudo, CA. Nada mais tenho a acrescentar.
Lamento que por detrás da fachada da "ciência" e da "razão" se escondam novos inquisidores que se alguma vez dominarem o poder nos conduzirão para uma sociedade em que pensar de forma livre será proibido.
Expressões como "andar a pedi-las" provocam-me imenso medo.
É a minha opinião.
António Parente,
Não tenha medo de certos estilos de linguagem nemde fantasmas. Mas não negue a crueza da realidade em relação ao grande poder da Igreja Católica Apostólica Romana ao longo de séculos neste lado do mundo. Este sim, devia fazer-lhe sentir medo, quando ela também está com medo numa altura em que sente esse poder “fugir-lhe das mãos” (mais um stilo lingua).
F. Dias
A Igreja Católica tem o poder que os crentes lhe dão. Se não existirem uns milhões de pessoas que dêem apoio ao Papa, o dito não tem poder nenhum.
Se quer destruir o poder da Igreja terá de reduzir ao silêncio esses milhões de crentes que se reconhecem nas posições do Papa.
Há duas maneiras de o fazer: pelo confronto público de ideias ou pela força.
Eu prefiro, em todos os campos da minha vida, o confronto público de ideias. Há outros que preferem a força bruta em vez da argumentação filosófica. Os últimos têm cada vez mais força nas universidades. Para eles só há uma palavra: proibir em nome de uma pretensa ciência que só existe na cabeça deles. Como se um cidadão cientista, por ser competente em abanar um tubo de ensaio, fosse um cidadão de primeira e um cidadão canalizador fosse um cidadão se segunda.
A Igreja não tem o poder que lhe atribui. Faz propostas a que oa crentes aderem ou não. Por isso, há quem seja a favor da confissão e outros não. Há quem seja crente e não se apoquente com o preservativo e quem faça disso o cerna da espiritualidade. Há mais diversidade entre os católicos do que entre os amigos da "ciência".
O que se passa com o pretenso "poder" da Igreja é que o ateísmo não progride com a velocidade com que alguns gostariam. Mas isso deve-se mais à incompetência de quem faz a sua propaganda do que a alguma reacção da parte contrária. Por isso é que o ateísmo se apropriou do laicismo do Estado: é mais fácil impôr por lei aquilo que não se consegue mudar nas consciências.
Se um dia a Igreja obrigasse (ou obrigar) o f. dias a fazer qualquer coisa contra sua vontade eu estaria do seu lado e não do lado da Igreja porque essa não seria a Igreja em que acredito. Mas se um dia eu estiver a ser apedrejado por ser católico e por ter a ousadia de dizer o que penso, vai-me perdoar mas não acredito que o F. Dias estivesse (ou estará) lá para me defender.
Sobre o Papa dizem-se muitas coisas que não são verdade. Experimente ler alguns livros que andam aí pelo mercado e terá algumas surpresas.
A citação de Feyerabend: «Na altura de Galileu, a Igreja mostrou ser mais fiel à razão que o próprio Galileu. O julgamento contra Galileu foi razoável e justo» é bastante pertinente tendo em conta a própria História, não as lendas que se dizem à cerca de Galileu.
Em primeiro lugar, se, na altura de Copérnico, os padres não pudessem ir às universidades dar conferências, Copérnico – que era Padre – não teria exposto a sua teoria do Heliocentrismo. Facto que mostra como a atitude desta Faculdade é contra o espírito cientifico e contra o diálogo: basicamente é a falácia ad hominem (por ser Papa)
Em segundo lugar, a Igreja aceitava o Heliocentrismo, já antes de Galileu, como hipótese. O processo de Galileu é complexo. É verdade que o magistério da Igreja errou e não há problema nisso para os católicos. Também é verdade que Galileu errou nas citações da bíblia que utilizou e nas interpretações teológicas que fez -http://www.acidigital.com/controversia/galileu.htm. Aqui mostra-se que Roberto Belarmino pediu a Galileu para abandonar os argumentos teológicos, e ficar-se no Heliocentrismo como algo relativo à astronomia. Para Feyerabend esta era a posição mais sensata na altura, mais à luz da Razão. Se for proibido pensar desta maneira, muito bem, fiquemo-nos pelas peças de teatro de Bareti e de Brecht em que Galileu diz “No entanto move-se” e cai o pano. Mas isso tem tão pouco de espírito científico como de realidade.
Já agora, como este Blog é citado pelo público, podia mostrar as incongruências da notícia relativamente a este episódio de fanatismo anti-clerical: Feyerabend não é Teólogo, é Filosofo, um dos filósofos mais importantes do século passado no que diz respeito à filosofia da ciência. Para além de não ser teólogo, nada tem que ver com o cristianismo. Seria bom esclarecer esta lacuna.
Obrigado.
não sei para que foi preciso ir buscar uma citação de há 10 anos...
bastava ir buscar toda a palestra de Regensburg, "Faith, Reason and the University", para se ver a posição anti-ciência de B16.
Ou antes, anti-ciência que não reconheça como suprema fonte de conhecimento B16 e a sua igreja...
B16 assumiu qe a palestra foi uma critica da laicidade, ciência e o pensamento científico que se recusam a submeter à teologia católica...
Foi pena o B16 não ter a coragem de JPII que há uns anos foi à La Sapenza ser vaiado, assobiado mas foi lá.
Seria girissimo ver a marcha gay desfilar debaixo do nariz do papa mais homofóbico de sempre :)
Antes de os católicos de serviço começarem com as lamúrias do costume deviam investigar a situação em Itália e a ingerência intolerante e inadmíssivel do Vaticano nos assuntos de umestado que devia ser laico.
Por exemplo, investiguem o que se passou com a abortada lei que rconhecia alguns direitos legais a uniões de facto (incluindo homossexuais)
O Vaticano considera que o reconhecimento de direitos legais aos homossexuais, que exibem um «mal moral intrínseco», corresponde «à legalização do mal» e o mal não deve ser tolerado...
este é só um exemplo do efeito pernicioso da ICAR em Itália. Se eu fosse italiano tinha feito muito mais barulho por mais esta!
O Pedro coloca bem o dedo na ferida. A não ida de Bento XVI à universidade mostra bem que ele é que censura, quanto mais não seja pelo vazio, a contestação. Não a quis, por isso cancelou. Esta intolerância não lhes parece interessante, não é verdade?
Diz o António Parente: «Se um dia a Igreja obrigasse (ou obrigar) o f. dias a fazer qualquer coisa contra sua vontade eu estaria do seu lado e não do lado da Igreja porque essa não seria a Igreja em que acredito»
Bom, será que podemos considerar que chantagem psicológica não conta?: Faz isto porque senão não tens a salvação.
Alguém perguntou aos bebés se querem ser baptizados?
O obrigar as mulheres crentes a não ser mais que participantes da missa já é válido?
Impedir um homossexual de ser padre não é implicar com a liberdade? Note-se que nem sequer falamos de padres que violaram as regras de celibato. Esses, mesmo que seja com criancinhas, podem continuar a sê-lo.
Ter como líder da ICAR alguém que não é eleito não obriga a nada?
Veja lá a suas prioridades. Se quiser continuar a ser desta igreja, está à vontade, não o censuro por isso. Não venha é dizer que a ICAR não obriga a nada, isso é inenuidade.
Pena que Galileu não tivesse Feyerabend a seu lado no julgamento. Pobre coitado, que se terá defendido mal. Pois, ele parece que queria tentar conciliar a posição científica com a religiosa, até porque era religioso. Pois, foi condenado a prisão domiciliária, devido à grande bondade da santa madre igreja, por ser desastrado na sua defesa. Pobre ICAR que é acusada dos males dos outros...
Estimada Rita
Pode fazer o barulho que quiser. Como católico, dou-lhe todo o meu apoio e até lhe empresto umas panelas velhas para que se faça ouvir melhor.
O Vaticano não se ingere nos assuntos de qualquer estado. O Vaticano dá a sua opinião tal como a Rita a dá. O problema da Rita é que ninguém lhe liga nenhuma enquanto o Vaticano ainda é escutado pelo mundo todo.
Quanto à palestra que referiu, mesmo que tivesse razão (não tem) não era motivo para as atitudes dos extremistas italianos.
Quanto à velha treta do "laico" isso é mais uma aberração ateísta para impedir que quem nutre sentimentos religiosos entre no grande debate público sobre que assunto for. Como se ser cristão fosse um crime ou fosse equivalente à lepra na Idade Média.
É contra essa mentalidade de calar os outros pela força quando os argumentos faltam que eu me bato.
O tema do post é a visita do Papa a uma universidade iteliana e os protestos que gerou e que impediram a visita.
A Rita vem para aqui falar de homossexuais, pensamento científico, etc. Esqueceu-se de referir o preservativo que costuma ser metido em frente do nariz dos crentes quando estas discussões acontecem.
Mas não se trata disso esta discussão. O que está em causa é que uma pessoa foi convidada a ir a uma universidade e foi impedida por 100 alunos num universo de 150 mil. E foi mpedida por ter emitido opiniões passadas sobre assuntos que desagradram ao bando.
O que está em causa, estimada Rita, é um ataque à liberdade de expressão, ao pensamento livre e ao direito que cada um tem de incomodado só porque pensa de maneira diferente.
Tudo o resto são tretas. Como habitualmente usa a táctica de procurar desviar o assunto mas temas laterais. Comigo essa táctica não cola.
António Parente,
Estou admirado e pergunto-me sinceramente em que mundo António Parente tem vivido. Concordo consigo quanto aos fundamentalistas ateus. Mas quantos conhece? E quantos cientistas conhece? E o que será a evolução natural das coisas? E pode crer que tudo farei para o defender se um dia esse cenário se colocar. Se estiver ao meu alcance, claro. Duvido da minha eficácia em relação a um homem bomba. Acabei de ler o livro “Bento XVI – pensamento ético, político e religioso” de Dag Tessore – Círculo de Leitores – e não gostei. Acho este papa muito cínico. Mas intelectualmente sem dúvida que é muito refinado. E deve ser aí que está a antipatia do senhor Ratzinger, porque naturalmente não conheço a pessoa. O senhor Karol Józef Wojtyła era mais bondoso e até respeitava a fé na Senhora de Fátima. Ratzinger, duvido… e quanto a bondade, é ele próprio que diz que não interessa para nada, resumindo, claro!
Diz o Hugo (o segundo): «Em primeiro lugar, se, na altura de Copérnico, os padres não pudessem ir às universidades dar conferências, Copérnico – que era Padre – não teria exposto a sua teoria do Heliocentrismo»
Pois claro. Se ele não fosse padre, provavelmente nem sequer saberia ler nem escrever, não é verdade? Talvez fosse bom começar por aí.
Essa questão foge a toda a discussão, tal como o comentário do CA. Tal como o F. Dias, concordo que é difícil estar contra aquilo que o CA colocou no comentário. A questão é que não são essas as citações em causa.
A grande questão é que BXVI reserva para a ICAR o papel de bastião da razão. Até o poderá fazer se virmos esse papel de um ponto de vista religioso ou social. Pode discordar-se ou não, mas tem lógica óbvia. Mas tal não se extende à ciência.
Note-se que a ICAR e a sua teologia aludem aos mistérios e dogmas que aceitam essencialmente incompreensíveis ou inalcançáveis pelo ser humano. Como tal, serão inalcançáveis pela ciência. A ciência não se pode imiscuir nesses assuntos, que pertencem ao domínio da religião e da Fé. Aliás, parece ser esse o erro que Feyerabend aponta a Galileu, a fazer fé nas palavras de CA.
Da mesma forma, os cientistas reclamam que a religião não tem lugar na ciência. Nada impede que um cientista seja religioso ou que um crente seja cientista, bem pelo contrário, mas são formas completamente diferentes de raciocionar. O raciocínio científico, dentro da ciência, é bastante mais racional que o religioso. Assim como o raciocínio religioso, dentro da religião, também o será.
Do António Parente: «Como se ser cristão fosse um crime ou fosse equivalente à lepra na Idade Média.»
Permita-me reescrever: «Como se ser cristão fosse um crime ou fosse equivalente à ciência na Idade Média.»
Depois: «É contra essa mentalidade de calar os outros pela força quando os argumentos faltam que eu me bato.» - ver a parte sobre a Idade Média.
Hugo,
O problema de Fayerabend está nas citações deturpadas e na descontextualização daquele livrinho “Diálogo sobre o método” em que é mais um ajuste de contas com Karl Popper do que outra coisa. E antes de ser filósofo da ciência foi físico. Mas de facto só muito lateralmente é que o seu nome poderá ser chamado aqui à colação
Ainda António Parente (o homem é uma mina): «O que está em causa é que uma pessoa foi convidada a ir a uma universidade e foi impedida por 100 alunos num universo de 150 mil. E foi mpedida por ter emitido opiniões passadas sobre assuntos que desagradram ao bando»
Não foi impedido. Apenas foi impedido pela sua própria intolerância que não admite contrariedades. Ninguém se pespegou com armas à frente da Universidade e cartazes colados a dizer "Papa não entra!". A atitude dos docentes que pediram o cancelamento da visita (em vez de lamentarem a decisão) é demasiado radical. mas a atitude dos estudantes foi a de exigirem um espaço de manifestação (motivo da invasão da Sala do Senado) e entrarem por atitudes irreverentes (concerto Rock). Reveja lá as suas prioridades, já recomendei.
"Bom, será que podemos considerar que chantagem psicológica não conta?: Faz isto porque senão não tens a salvação."
Aponte-me um católico que se sinta psicologicamente chantageado e eu prometo-lhe que o liberto dessa chantagem.
"Alguém perguntou aos bebés se querem ser baptizados?"
Também ninguém lhes pergunta se querem ser vacinados. Aí têm de mesmo de o ser porque se não o forem os pais são acusados de negligência. Se o Estado pode decidir pelos pais porque não podem os pais baptizarem os filhos pensando que é o melhor para eles, mesmo que o jsa não o entenda assim?
"O obrigar as mulheres crentes a não ser mais que participantes da missa já é válido?"
Ninguém obriga mulheres ou homens a irem à missa. Isso é pura demagogia. Além disso, eu também sou um mero participante na missa e não me queixo. E se quisesse ser padre não me deixavam. Não é algo que me incomode.
"Impedir um homossexual de ser padre não é implicar com a liberdade? Note-se que nem sequer falamos de padres que violaram as regras de celibato. Esses, mesmo que seja com criancinhas, podem continuar a sê-lo."
Não. Quem vai para padre, seja homossexual ou não, sabe que tem de fazer um voto de castidade. Não se é padre e decide-se escolher o menu que lhe convém mais. Isso não é honestidade. Além disso, a Igreja tem liberdade e direito de escolher os seus sacerdotes de acordo com o perfil que entender. E não concordo que um padre continue padre se violar o celibato. Quando alguém vai para padre sabe o que o espera. Se não se sente capaz de cumprir, então deve deixar de ser padre. Quem comete um crime, dever ser condenado pela justiça civil. Seja padre ou leigo. As regras são claras e simples.
"Ter como líder da ICAR alguém que não é eleito não obriga a nada?"
Por acaso até é eleito pelos bispos. Queria que fosse eleito por mil milhões de católicos? E o que proporiam os candidatos a Papa? Indulgência geral a quem votasse neles? Uma redução da pena do purgatório? Missas com concertos rock? Autorização para usar preservativos aos sábados e dar uma facadinha no casamento á quinta-feira?
"Não venha é dizer que a ICAR não obriga a nada, isso é inenuidade."
Convido-o a frequentar a Igreja durante uns tempos. Acompanho-o e dou-lhe assistência espiritual. Há por aí muitas ideias erradas e preconceitos anti-religiosos. Nada que não tenha solução.
"Não foi impedido. Apenas foi impedido pela sua própria intolerância que não admite contrariedades."
Cito o Diário de Notícias de hoje:
"o perigo de que os protestos degenerassem em violência incontrolável motivaram o Vaticano a anular a visita".
"As polémicas das últimas horas foram agravadas pela exigência dos estudantes, apoiadas por grupos de extrema-esquerda, de poderem protestar, falar e criticar o discurso do Papa. Tudo isso tinha levado o Reitor a conceder-lhes um espaço dentro do campus universitário."
Como pode ver, está muito mal informado. Estou à sua disposição para continuar a esclarecê-lo. Como muito bem reconheceu o jsa, sou uma autêntica mina. De paciência, acrescente-se.
Felizmente que é uma mina de paciência, já que no que diz respeito ao alfabetismo funcional, esse filão parece ter-se esgotado.
Falei em homossexuais não poderem ser padres. Foi a própria ICAR que o disse. E note que ser-se homossexual não implica quebras de celibato. Pode-se ser heterossexual e não se quebrar o celibato, não é verdade? Implica apenas que o padre em questão tem maior atracção pelos homens que pelas mulheres, mas que a sua maior atracção continua a ser por Deus.
Eu escrevi «O obrigar as mulheres crentes a não ser mais que participantes da missa já é válido?», não que alguém obriga os crentes a irem à missa. O que a igreja obriga é as mulheres a não fazerem mais que ir à missa. Não as deixa ascender ao sacerdócio, tanto quanto sei.
Por outro lado, a ICAR obriga os crentes a ir à missa. Pelo menos uma vez por ano. Tanto quanto me foi explicado já por diversos padres, ser-se um católico implica, além do baptismo, ir-se à missa pelo menos uma vez por ano. A ICAR não obriga ninguém a ir á missa, apenas deixa de os considerar como seus.
«Queria que fosse eleito por mil milhões de católicos?» Fantástico, ficámos a saber que a ICAR não considera a democracia na Índia ou na China como exequíveis. Seria complicado, é um facto, mas não impossível. E em termos de promessas, não se arme em parvo, que é coisa que não é. Coisas como o sacerdócio feminino, considerar a teoria da libertação (que apenas conheço de nome e por ser rejeitada pela ICAR), a abertura á modernidade, etc, isso não poderia estar em discussão? Ou a vocação missionária ser aumentada ou diminuída, etc e tal. Sabe, aquelas coisas que os bispos discutem quando elegem o seu Papa mas que acham os crentes demasiado, digamos simples, para compreender.
É verdade que quem quer pertencer à ICAR tem que obedecer às regras, mas isso é diferente de dizer que se tem total liberdade. Isso não é verdade. Existe uma chantagem psicológica e emocional de facto, quer o António a veja quer não.
«As polémicas das últimas horas foram agravadas pela exigência dos estudantes, apoiadas por grupos de extrema-esquerda, de poderem protestar, falar e criticar o discurso do Papa. Tudo isso tinha levado o Reitor a conceder-lhes um espaço dentro do campus universitário.»
Agradeço-lhe que tenha recolocado esta parte, poupa-me trabalho. Note a parte de ter «m espaço dentro do campus universitário». Viu bem? Foi esta concessão que os fez abandonar a sala do Senado, lembra-se? Não me parece equivalente a dizer que os estudantes seguissem para lá com bastões e prontos à violência. Além disso, se o Papa está assim tão preocupado com os tais 100 estudantes na própria cidade, não sei como foi possível ir até à Turquia.
Não me venha com tretas. Ele pode esquivar-se nas possibilidades de violência o quanto queira (apesar de, como cristão, isso lhe ficar mal), mas as razões de não comparecer foram a sua intolerânca para com políticas opostas.
Proponho a todos os intervenientes um intervalo, e aproveitem para medir a tensão arterial. Subiu a todos, vale uma aposta?
Quem não quiser medir, tome ao menos uma chávena de chá de cidreira.
A minha subiu de 126/78 para 152/88.
Vou tomar um chá de tília.
Caro F. Dias, a minha está OK. Vou bebendo chá, mas é mesmo por hábito. Alias, esta discussão dá para eu relaxar da escrita da tese. Há muito que eu ansiava por um post destes para poder ir descontraindo com alguma coisa de diferente.
Paremos e interroguemo-nos: o que há de racional, i.e. sem preconceito, em cada uma das nossas intervenções nesta discussão?
Parecemos um saco de gatos, uns mais assanhados do que outros. Montes de sectarismo, de intolerância, de julgamentos morais,de arrogância intelectual,de falta de humildade, enfim montes de dogmatismo. Racionalidade zero! Onde está o rigor e o "logos" dos cientistas e dos filósofos... ?????
Afinal de que estivemos a dialogar?
Filosofia? Teologia? Ciência? Religião? Política?
Para os cientistas, os entendidos em assuntos do céu são separáveis em astrónomos e astrólogos assim como para os pastores os pequenos ruminantes domésticos são separáveis em cabras e ovelhas.
Para os filósofos, a separação faz-se entre sábios e excêntricos.
O que discute religião para conforto espiritual está mal orientado e, provavelmente, não é um muito bom argumentador, dado que a curiosidade intelectual não é o que o move. São bons no poema, no sermão, ou no ensaio literário.
O que discute com mania das filosofices, não tem qualquer peculiar aptidão para isso. Nem tem qualquer peculiar aptidão para ajudar a sociedade para um equilíbrio.
O resto da maralha, faz o que pode. Faz sofia, não necessariamente filosofia.
Como ainda ninguém me desmascarou, quero revelar a paternidade do meu último arrazoado. É uma adaptação diagonal de um texto de um filósofo americano – Willard Van Orman Quine [1908-2000]
Has Philosophy Lost Contact With People? – Theories and Things.
jsa
Nunca coloquei em dúvida o seu alfabetismo funcional. Fui ao perfil do google, vi que era estudante de doutoramento e pensei: "o jsa percebe tudo". Afinal parece que não. Vamos recapitular.
1) Em relação à homossexualidade, parece, pelo que escreveu, que há filas de homossexuais à porta dos seminários de joelhos a choramigarem a pedirem a admissão. Como sabe, não há. Se ler o documento do Vaticano que fala no assunto verificará que se fala em "prática homossexual" e é "tendências sexuais fortemente radicadas". Isto também é válido para os heterossexuais, como é óbvio. Qualquer pessoa menos letrada percebe. Não entendo a sua questão.
2)Em relação ao sacerdócio das mulheres, é explicado que é uma questão de tradição. Quando vou à Igreja há geralmente mais mulheres do que homens. Não percebo porque os que defendem as mulheres na Igreja não se escandalizaem porque nos Prémios Nobel de Química atribuído nos últimos 106 anos não se contarem mais de 4 ou 5 mulheres entre 120 vencedores. Vai argumentar que não existem mulheres inteligentes e competentes nos laboratórios de Química desse mundo?
3) Quanto ao ir à missa, estive 28 anos sem ir e quando voltei fui recebido como se tivesse lá ido ontem. Se a Igreja deixa de considerar como "seus" os que não vão à missa então os "seus" serão muito poucos.
4) Quanto à eleição do Papa, etecetera e tal, penso que está equivocado. Não acredito que se faça de parvo. Então já viu o que era um candidato propôr reduzir os 10 mandamento para 4, outro para 5, etc e tal? Isso seria o fim da Igreja Católica. Se é isso que o jsa quer bem pode esperar sentado.
5) Quanto ao existir uma existir uma chantagem psicológica e emocional de facto, convido-o a enviar-me todos os crentes que padeçam desse problema. Eu cuido deles.
6)Quanto à ida à Universidade aconselho-o a passar os olhos pela imprensa italiana. Lerá que a universidade afirmou não poder garantir as condições de segurança do Papa.
Caro F. Dias
Com esse discurso o Quine não faria muitos amigos.
Por mim o assunto está esgotado.
Até outro dia.
Não, não percebo de tudo. Apenas vou lendo e interpretando. Já o António parece gostar de detrupar.
1) não me lembro onde (e sinceramente não me interessa muito) surgiu há uns tempos a notícia que aos padres que tivessem confessado ser homossexuais foi retirado o sacerdócio. Note-se, não disseram que olhavam gulosamente os seus paroquianos homens ou que andavam em práticas de sodomia. Apenas que se sentiam mais atraídos por homens que por mulheres. Estou apra ver o Vaticano a censurar um padre que o faça pelo outro lado (por ser heterossexual). Para sua informação, os padres não são assexuados, apenas preferem ignorar a sua sexualidade.
2) pois, se não percebe não lê. A mim incomoda-me muito que não haja mais mulheres a ganhar prémios Nobel, pelo menos 50% deles. Felizmente que os Nobel são políticos e não reflectem a contribuição real da ciência. Muitas mulheres estão a fazer investigação absolutamente excitante e são reconhecidas por isso pelos seus pares. Ainda há muito machismo na ciência, mas vai acabando. Por outro lado, em 107 anos de prémios Nobel na ciência, já houve um punhado de laureadas. Quantas mulheres foram sacerdotes? (e note que falar de mulheres sacerdotes seria apenas o mesmo que falar em mulheres doutoradas, ir ao Nobel teríamos de invocar bispos ou Papas).
3) Pois são poucos são. Foi bem recebido porque voltou. Povavelmente foi ignorado enquanto católico enquanto não foi.
4) é engraçado clomo gosta de deturpar as coisas. Ninguém falou em mudar a Bíblia, pois não? as acha que aquele discurso sobre o relativismo que o Ratzinger fez foi inócuo para a sua eleição como Papa? Como acha que eles são eleitos? Por terem olhos mais bonitos que outros ou por rezarem melhor que os outros? Quem é que se está a fazer de parvo?
5) caro António, largue Jesus e funde a sua Igreja. pelo que me explica, basta ir ter consigo e todos os problemas estão resolvidos.
6) Claro que a universidade não garante a segurança de ninguém. Isso é ridículo. Apenas a polícia o pode fazer. A universidade onde estou também não me garante a segurança nem tem de garantir. Claro que a mim ninguém me ameaça à partida, mas se ameaçar não peço ajuda à universidade, vou antes à polícia.
Estimado JSA
1) Isso que leu é incorrecto. Uma vez padre, fica-se padre para a vida toda. O sacramento da Ordem não pode ser retirado. O que pode suceder é não exercer. Um padre homossexual fica padre a vida toda.
2) Tenho resposta para esta questão mas não a vou publicar porque não quero que a Prof. Palmira, uma doutorada por quem eu tenho o máximo respeito, admiração e simpatia (embora não seja correspondido), sofra uma apoplexia.
3) Errado. Como é um assunto do foro íntimo passo adiante.
4) Vejo que tem vastos conhecimentos sobre a eleição do Papa e sobre os motivos que levaram à eleição do cardeal Ratzinger. Nem lhe passou pela cabeça que seja uma autoridade respeitada junto dos Bispos. Provavelmente deve ser um absurdo existir alguém que goste do Papa.
5) Assobiou. Pedi-lhe um único crente chantageado e manda-me fundar uma Igreja. Concluo que não conhece um único crente chantageado. Azar o seu.
6) Pois é. Mas um Chefe do Estado estrangeiro deve ter condições de segurança dadas pelas autoridades locais. Ora competia à universidade requisitar protecção da polícia. Não o fez? Porquê?. Estranha sina a do Papa que tem mais segurnaça na Turquia do que na Itália.
Espero que tenha descansado bastante. Desejo-lhe boa continuação de tese.
Até sempre
Sinceramente, há um certo gosto e satisfação em constatar que a imbecilidade está, finalmente, a dar os seus frutos.
Os protestos na La Sapienza (ah, triste ironia, uma universidade fundada por um Papa) mostram que o laicismo radical, que quer impor a todos o ateísmo como sinónimo de ciência, está a ficar desesperado.
Não há muitas diferenças entre o obscurantismo destes alunos e professores, e o obscurantismo de quem queima fotografias de Bush no Médio Oriente, ou de quem queima bandeiras.
Depois desta semana de barbárie e intolerância na La Sapienza, o que se segue, na cadeia do desespero destes fanáticos?
Queimar fotos do Papa?
Queimar bandeiras da Santa Sé?
Ah, como teria sido diferente se este mesmo punhado de contestatários tivesse focado os seus esforços para preparar um debate público com o Papa filósofo... Mas isso seria arriscado demais!
Uma luta intelectual dá muito mais trabalho do que uma ocupação da Reitoria, ou do que comprar umas tintas e sarapilheira para fazer umas faixazitas...
Triste momento, este, para a La Sapienza. Grande momento para o catolicismo, porque o medo é sempre o primeiro sintoma da derrota.
Enquanto perseguirem o Papa Bento XVI, demonstram que o temem. E só se teme aquele por quem se tem respeito.
Bernardo Motta
Afinal esta discussão é sobre o quê? Um barco à deriva num mar ecapelado...vai tudo ao fundo ... mas não ao fundo das coisas... da rerum natura! Não há pachorra!
Houve algum anti-manifesto contra o manifesto anti-papa (ui, que trocadilhos!), isto é, algum grupo de professores/alunos pediu a presença do Papa?
Mas estes católicos passaram-se todos dos carretos ou quê?
Não dá para acreditar nas lamúrias, acusações de fascismo e rescantes carpiduras que para aqui vão!
O que aconteceu foi muito simples: o RATZinger cortou-se com medo das vaiadelas, horror ao rock que ia abafar a sua vozinha irritante e mais nada!
O único atentado à liberdade de expressão aconteceu por parte da beatada: os que queriam proibir os estudantes de se manifestarem; os que queriam processar todos os docentes que assinaram a carta (praticamente todos os docentes da casa), etc., etc..
Primo: A visita do Papa à Universidade de La Sapienza, em Roma, foi cancelada pelo Vaticano devido a protestos de professores e alunos que acusaram Ratzinger de "reaccionário" e "obscurantista".
Secundo: O Papa mantinha a visita até se ter concedido o direito de manifestação aos estudantes. A ocupação do senado serviu para a garantir esse direito que a beatada negava!
O Papa só ia se os alunos fossem reprimidos pela polícia;quando percebeu que isso não ia acontecer armou-se em mártir!
Depois, se virem os cartazes das manifestações percebem porque protestavam os alunos:reclamam a laicidade da ciência, recusam os muitos preconceitos católicos como a homofobia e acusao o vaticano de "querer invadir todo o espaço político e social".
A Universidade não é um púlpito para o B16 dizer as barbaridades do costume. Ele pode dizer as barbaridades que lhe der na telha mas não pode exigir que os outros não critiquem essas barbaridades nem que os outros não portestem por ele invadir o seu espaço com essas barbaridades!
Fico sempre espantada com a pesporrência dos que acham que liberdade de expressão é só para católicos. Os outros têm mais é que comer todos os disparates, atentados à laicidade, ao bom senso, insultos, acusações, etc.. e calar.
Se abrem a boca para protestar os muitos dislates papais são uns fascistas!
E este papa que equipara terroristas e cientistas que trabalham com células estaminais, que diz coisas como:
Deve admitir-se que a tendência para se considerar verdade apenas aquilo que pode ser experienciado constitui uma limitação à razão humana e produz uma esquizofrenia terrível, causa da existência do racionalismo, materialismo e hipertecnologia
é mais que reaccionário e obscurantista. Se alguém tivesse a triste ideia de convidar esta coisa para a abertura do ano académico numa universidade pública portuguesa eu faria exactamente o mesmo que os estudantes italianos: protestava alto e bom som!
Faltaram uns links:
No Público:
O Papa Bento XVI comparou hoje o aborto e as pesquisas em embriões ao terrorismo. Na homilia do Dia Mundial da Paz, o líder da Igreja Católica considerou que estas práticas constituem "um atentado contra a paz".
Na Zenit:
The Pope said: "The modern development of the sciences brings countless positive effects, which must always be acknowledged.
"At the same time, however, it must be admitted that the tendency to consider true only that which can be experienced constitutes a limitation for human reason and produces a terrible schizophrenia, evident to all, because of which rationalism and materialism, and hypertechnology and unbridled instincts, coexist."
Com estas, com a palestra de Ratisbona, em que disse que a ciência sem o catolicismo é irracional, e com mais milhentas destas, alguém se espanta por RATZinger não ser exactamente persona grata numa universidade?
Alguém se espanta com os protestos?
Eu queria ver é se estes professores "Valentões" fariam o mesmo se o convidado fosse o Ayatolah Ali Khamanei.
Estariam todos presentes e a lamber-lhes a botas, bem como esses estudantes "laicos".
Quando se convida alguém para o discurso de abertura de um ano académico esse alguém é suposto personificar um modelo a seguir.
O que está em causa é algo mais do que a liberdade de expressão.
pois, on:
mas alguma vez um católico deixa passar uma ocasião destas para carpir cristianovitimização?
Parece que a beatada não faz manifestações e protestos! Muitas, bem barulhentas e para negar direitos aos outros, ainda há pouco a vice presidente do congresso espanhol teve de avisar os bispos que estavam a pisar o risco com as suas mentiras
La vicepresidenta ha comparecido a petición propia en el Congreso para explicar la situación actual de las relaciones con la Iglesia Católica, cada días más maltrechas tras la concentración del pasado 30 de diciembre en defensa de la familia cristiana.
(a defesa da família cristã tem a ver com o redconhecimento dos casamentos homossexuais em Espanha, para a beatada isso é um "ataque" à família cristã).
Mas claro, para a beatada obrigar todos a seguir as palermices imorais católicas é democracia, chamar-lhes palermices e não as aceitar é "fassismo" :)
Pessoalmente estou com o RJ:
As manifestações em si não são de intolerância. São contra um intolerante e ortodoxo. Ratzinger, enquanto cardeal, semeou ventos.
As pessoas indignam-se pela vinda das FARC à festa do Avante ou com encontros Neo-nazis.
Mas qual é o problema da indignação de umas centenas de pessoas (estudantes universitários, mestrandos, professores doutorados) em relação a outro inimigo da liberdade que por acaso é o chefe de uma instituição cuja imagem de marca é a que todos sabemos? Um homem que, onde quer que vá, é só gente a dar graxa e no beija-mão?(...)
A Universidade La Sapienza deu o exemplo. Eu proponho que, em todas as universidades, se dedique uma semana (ou um pelo menos um dia) ao anticlericalismo.
Papa em universidade só se for de milho ou mandioca.
Eu gostaria era de saber a opinião dos autores deste blog sobre este episódio.
Vêem isto como uma guerra de facções (Vaticano vs. Professores de Física) e apoiam uma dessas facções? Será que vêem este episódio como uma "desforra da Ciência em relação à religião"?
Ou defendem princípios como a Liberdade de Expressão? Será que quem pensa diferente de nós não tem direito a expressar as suas opiniões?
Marco:
Que dramatismo! Vamos lá ter um bocadinho de bom senso: se o reitor da Sapienza tivesse convidado o G.W. Bush para proferir um discurso na cerimónia de abertura do ano lectivo e as reacções fossem as mesmas alguém falava em liberdade de expressão?
As reacções quer de estudantes quer de docentes eram perfeitamente expectáveis face às posições de Bento XVI em inúmeros pontos muito importantes quer no que respeita à ciência quer no que respeita a causas estudantis.
Não estamos a falar de uma palestra onde vai quem quer e onde todos podem exprimir os seus pontos de vista; estamos a falar de um discurso na abertura do ano lectivo. Uma cerimónia importante nos rituais universitários, destinada a todos, não apenas aos muito poucos, o reitor e pouco mais, que se reveêm nas posições de Bento XVI.
Mas se quisermos falar em liberdade de expressão esta aplica-se a todos: Bento XVI, docentes e discentes da Sapienza.
Bento XVI não tem falta de oportunidades para veicular as suas opiniões, mesmo em assuntos de Estado onde não se deveria intrometer.
Exactamente por isso, por as opiniões de Bento XVI serem sobejamente conhecidas, os manifestantes exerceram o seu direito à liberdade de expressão,da forma veemente habitual em meios universitários, opondo-se a que ele viesse «estragar» um ritual importante neste meio.
Ninguém pensaria em ver o Dawkins ou o Dennett a explanar as suas opiniões numa missa na basílica de São Pedro. Estariam aí tão deslocados como Bento XVI na abertura do ano lectivo na Sapienza :-)
Obrigado Palmira, pelo menos por uma vez conseguiu demonstrar, em apenas um parágrafo, dois EXEMPLOS dos dois extremos que alimentam continuamente a tão famigerada "discussão" entre ciência e religião: Bento XVI e o seu séquito de um lado, e Dawkins e Dennett de outro - leia-se, cristianismo literalista e dogmático de um lado e neodarwinismo e ciência reducionista de outro.
Já dizia Alguém: "sábio é aquele que vai pelo Caminho do Meio" - leia-se, nem crença cega nem negação pura!
Cara Palmira
E não acha que aquilo que os "professores" e os "alunos" fizeram não foi mais que uma reacção de "cobardia" tentando evitar o confronto de opiniões?
Eles assumiram uma posição dogmática, quando em ciência não se pode admitir dogmas.
Não acha que os professores de la Sapienza se mostraram muito pouco "sapientes"?
Caro Luís Bonifácio:
Qual confronto de opiniões? A abertura do ano académico não é uma ocasião de confrontar opiniões: é uma ocasião para debitar opiniões sem confronto.
Bento XVI desistiu da ida exactamente porque esse confronto iria ter lugar nomeadamente com manifestações de repúdio a algumas dessas opiniões :-) Diria que a haver cobardia não foi da parte de alunos e professores...
Estou certa que se convidassem o Bento XVI para um debate de opiniões existiriam inúmeros candidatos para rebater as opiniões retrogradas e obscurantistas do papa. Claro que Bento XVI nunca aceitará um convite desses pelo que essa hipótse nunca se porá mas seria interessante assistir a um tal debate!
Cara Palmira,
«Ninguém pensaria em ver o Dawkins ou o Dennett a explanar as suas opiniões numa missa na basílica de São Pedro.»
É absolutamente trágico que uma professora universitária não entenda a diferença crucial entre uma Igreja e uma Universidade.
Nenhuma igreja, muito menos quando usada durante a liturgia sacra, é um espaço de expressão verbal. Não é para isso que elas servem.
Já as Universidades foram criadas (curiosamente pelo cristianismo) como um espaço livre de debate e expressão verbal. Se uma pessoa, para mais um intelectual e académico de corpo inteiro como é Joseph Ratzinger (mesmo que não o vejam como autoridade moral, é uma figura académica de imenso relevo), é impedida de falar numa Aula Magna apenas porque defende uma ideologia contrária à de certos professores e alunos fanáticos, isso é um bloqueio à liberdade de expressão. Como também não faria qualquer sentido bloquear a porta a um Ayatollah, ou ao Bush, desde que viessem convidados. Tentar falar sem convite, isso sim, seria absurdo.
Há um abismo intransponível entre o ateísmo intelectual de um Habermas, que estabeleceu um longo debate intelectual com o actual Papa, e pessoas como as que assinaram aquele abaixo assinado (o qual, pelos vistos, a Professora Palmira Silva também assinaria de bom grado), que representam o pior espírito sectário que está a invadir e a perverter o que há de bom e verdadeiro no conceito de Universidade e de vida académica.
Repito: mais do que um sinal de intolerância, de falta de abertura ao diálogo intelectual, de falta de consideração e respeito, de falta de educação, isto é um sinal de medo. Puro e simples medo.
Termino com uma observação que alguém já fez, não me recordo onde: um Dawkins não seria barrado por ninguém se fosse convidado a falar sobre as suas ideias numa aula magna da Universidade Católica. Não estou a ver isso a acontecer, até pelo simples facto de que tal universidade está repleta de alunos e professores que não são católicos, nem é exigido um certificado de baptismo à porta...
Enfim, uma diferença radical de atitude.
Bernardo Motta
Prof. Palmira Silva
Um grupúsculo ateísta - parece que foram 100 alunos e 67 professores de Física num universo de 150 mil pessoas - cometeu um grave atentado contra a liberdade de expressão.
Que a Prof. Palmira se sinta feliz com o acontecimento, não me espanta. Está de acordo com a sua natureza.
Todavia, o seu contentamento não lhe dá o direito de distorcer a verdade. Leia os jornais italianos e confirmará que o Papa não se deslocou à universidade porque não lhe foram dadas garantias de segurança física.
Cobardia é uma horda de vândalos atacar as liberdades fundamentais que são o pilar da nossa civilização e não haja coragem para lhes chamar aquilo que eles merecem: energúmeros, para usar uma palavra simpática.
Quanto aos "inúmeros" candidatos para rebater a opinião do Papa, possivelmente a Professora estará a imaginar um debate tipo caixa de comentários do blogue De Rerum Natura, com mil "Ritas" a gritarem palermices e a impedirem conversas sérias e ponderadas. Penso que essa é a sua noção de debate.
Finalmente, uma universidade pública, seja italiana ou portuguesa, não é uma coutada privada para propaganda do ateísmo ou de um laicismo bacoco ou proviciano.
Cada vez admiro mais as universidades inglesas onde conseguem coexistir personalidades como Richard Dawkins e Alister McGrath.
Uma universidade pública, dizia eu, não pode ser uma coutada privada. Não é admissível que grupos privados, sejam ateístas, crentes ou agnósticos, se arroguem o direito de decidir quem fala ou não fala. Autonomia universitária não é isso, Professora, como muito bem sabe.
Ninguém dá o direito a um físico, um biólogo, um economista ou a uma química o direito de decidirem quem deve ou não deve falar numa universidade sobre temas que não são da sua área, apenas por motivos meramente ideológicos ou políticos.
Impedir alguém de falar numa cerimónia pública porque é católico ou ateu tem um nome: discriminação por motivos religiosos e é contra a declaração universal dos direitos do homem.
Espero que a professora não tenha a ousadia de escrever que as leis do país ou a declaração universal dos direitos do homem não se aplicam dentro dos portões da universidade.
Não se pode defender que a liberdade se aplica aos do nosso clube mas não aos outros. Essas regras não são limpas.
Quanto ao Richard Dawkins falar na Basílica de São Pedro, durante uma missa, para mim tal facto não me incomoda de modo nenhum. Quando a fé é forte não temos medo. Não é o caso dos primos ateus que face à ausência de argumentos e ideias perferem calar os oponentes com uma grande gritaria.
Doeu-me imenso escrever este comentário, Professora. Sabe que gosto de si e conservo uma enorme admiração pela sua inteligência, cultura, determinação e força interior. Não me sinto feliz por a contradizer. Preferia não o ter feito.
Tenha um excelente dia.
Palmira,
Ahmadinedjad - que é um dos lideres mundiais mais odiados nos EUA – teve a oportunidade de falar numa Universidade Americana. Apesar dos protestos, ele foi à Universidade, ouviu verdades que não gostou e teve oportunidade de defender-se. Não é isto um exemplo de Liberdade de Expressão?
Quando você argumenta que a liberdade de expressão também se aplica à Igreja de Bento XVI, está a legitimar de forma implícita o acto de censura que ocorreu na Sapienza. Isto é, já que não há liberdade expressão na Igreja Católica (e isto era outro assunto a discutir) então também está certo que não seja dada essa liberdade ao Papa na Universidade. Assim, estes universitários imitam os comportamentos mais sectários dos católicos conservadores.
Lembro que tenho imensas diferenças de opinião em relação a Bento XVI; e também as tenho em relação a Sam Harris. Tenho escrito algumas coisas sobre eles, mas nunca sugeri que os livros deles não devam ser lidos; eles têm opiniões que são desafios a crentes e não-crentes e que nos deviam fazer reflectir. Nunca me passaria pela cabeça que algum deles pudesse deixar de apresentar as suas opiniões, fosse onde fosse.
Repito que o que está em causa aqui é o valor da liberdade de expressão; quando trocamos os valores fundamentais por facções de interesses, então perde-se toda a objectividade.
Há um outro aspecto deste episódio que ainda não foi abordado: Não terá isto este cancelamento acaba por ser uma hábil jogada do Papa Bento XVI que conseguiu criar um facto onde a intolerância do ateísmo radical é exposta publicamente? Afinal este é o Papa que não teve medo de ir à Turquia depois das polémicas provocadas pelo discurso na Universidade de Ratisbona… Parece pois que estes universitários caíram na armadilha dos seus próprios protestos
Caro Bernardo:
»não entenda a diferença crucial entre uma Igreja e uma Universidade.»
Eu entendo, aparentemente o reitor da La Sapienza é que tem alguma dificuldade em o entender.
Volto a frisar que Bento XVI não foi convidado para um debate ou para um confronto de ideias: foi convidado para discursar sem contraditório na abertura do ano académico.
Parece que o reitor da Sapienza pensou ser pacífico transformar a Universidade numa igreja para a ocasião...
Este é um ponto crucial que parece estar a escapar a muitos dos nossos comentadores.
Depois, ninguém impediu o papa de fazer o que fosse, a decisão de não ir à Universidade foi dele.
E essa decisão foi tomada na sequência da garantia do reitor aos estudantes de que estes teriam direito ao contraditório que pretendiam e que o reitor pretendia negar-lhes com um cordão policial...
Marco:
Pois, Ahmadinedjad foi à universidade americana apesar dos protestos (bem mais veementes que no presente caso)... Bento XVI não quiz ir.
Acho que isto diz tudo
Caro Marco:
Não estou a ver como o acontecido seja uma exposição da «intolerância do ateísmo radical». Olhando para os protestos o que se vê não tem tanto a ver com religião, tem mais a ver com um total desacordo com as posições de Bento XVI em relação a uma série de temas.
Não é apenas a igreja que tem rituais, a universidade também os tem (e podemos ou não concordar com alguns...). É apenas normal que numa ocasião como esta muitos, docentes e discentes, se sentissem ofendidos e humilhados por o reitor ter escolhido para opinar neste ritual em particular alguém em cujas opiniões muito poucos se reveêm e que a esmagadora maioria repudia.
O único culpado deste incidente lamentável foi o reitor que decidiu unilateralmente endereçar o convite. Na conjuntura actual italiana, conhecendo a universidade, para que o fez? Como provocação?
Mesmo que o reitor seja totalmente autista não era muito difícil prever o que iria acontecer, especialmente se considerarmos como foi acolhido João Paulo II na Sapeinza há uns anos. E João Paulo II era um papa muito menos contestado e polémico que Bento XVI e a conjuntura da época menos desfavorável...
A Prof. Palmira faz uma defesa declarada à auto-censura: não se pode convidar porque basta um discente ou docente sentir-se ofendido para que quem deseja convidar cale o seu desejo.
A Prof. Palmira não dispõe de quaisquer dados estatísticos que lhe permitam afirmar que a maioria esmagadora dos discentes e dos docentes da universidade repudia não se sabem bem o quê em relação ao Papa Bento XVI.
A Prof. Palmira Silva continua a sustentar o insustentável. Julga que repetindo sempre a mesma ideia ela passa a ser verdadeira na cabeça dos amáveis comentadores.
Os docentes estão há 18 anos humilhados por algo que o papa, então cardeal, disse numa universidade a 600 km de Roma. Finalmente ficaram esclarecido, tinham percebido tudo mal. Finalmente após 18 anos de humilhação isto acabou bem.
Não lhe parece que isto foi desenterrado para justificar o injunstificável e tomar o papa como anti-científico, coisa que não existe.
Existe uma vontade expressa de alguns de inventar polémicas.
Vale a pena ler:
O papel da sapienza e da honestidade no debate intelectual
17.01.2008, José Manuel Fernandes
Quando se fecham a Bento XVI as portas de uma universidade, impedindo-o de falar, é sinal de que alguns praticam tudo o que no passado criticaram à Igreja. E ainda se orgulham disso...
O tempo dá por vezes razão aos que parecem não a ter mais depressa do que os próprios se atreveriam a esperar. Há uma semana, nas páginas do PÚBLICO, Rui Tavares atacava Vasco Pulido Valente por este ter sugerido, na sua expressão, que "a Igreja é capaz de ter de viver novos tempos de clandestinidade". O que era obviamente ridículo. E impensável.
Nem uma semana passou sobre esse texto e acabamos de assistir não à "passagem à clandestinidade", mas a algo igualmente impensável: em Roma, na sua prestigiosa Universidade, crismada "La Sapienza" (A Sabedoria), um grupo de professores mobilizou um protesto que conseguiu levar o Papa Bento XVI a declinar o convite para falar na sessão inaugural do ano lectivo. Porquê? Porque consideraram que o convite a um dos grandes intelectuais europeus da actualidade - uma qualidade que só por cegueira se pode negar ao antigo cardeal Ratzinger - era "incongruente" com a laicidade da universidade. Ou seja, um cidadão de Roma e do mundo, um bispo que se distinguir como académico, viu serem-lhe barradas as portas do que devia ser um templo da ciência em nome de um princípio sectário e de um preconceito que levou um grupo de cientistas a deturparem o que tinha dito num passado já longínquo. Na sua arrogância consideraram mesmo o homem que manteve uma polémica aberta e elevada com Habermas como sendo "intelectualmente inconsistente".
Ernesto Galli della Loggia, editorialista do Corriere de la Sera, ele mesmo um defensor dos princípios da laicidade, escrevia ontem que o gesto dos professores, poucos mas com responsabilidades, traduzia "uma laicidade oportunista, alimentada por um cientismo patético, arrogante na sua radicalidade cega". Uma laicidade que não hesitou em seguir o mesmo caminho dos islamitas radicais que tresleram o famoso discurso de Ratisbona, deturpando-o e descontextualizando-o, para atacarem Bento XVI. E Giorgio Israel, um professor de História da Matemática que se distanciou dos seus colegas, explicou que estes tinham construído o seu caso a partir de "estilhaços de um discurso" realizado pelo então cardeal Ratzinger em Parma há 18 anos. O processo foi muito semelhante ao de Ratisbona: em vez de notarem que o Papa citava outrem para a seguir marcar as suas distâncias, pegaram nas palavras do autor citado - em Parma o filósofo das ciências Paul K. Feyerabend - para, atribuindo-as a Bento XVI, considerarem que este dava razão à Igreja na sua querela com Galileu. O sentido do discurso de Parma, prosseguia o mesmo Giorgio Israel, era exactamente o contrário da caricatura que esteve na origem do protesto: afirmar que "a fé não cresce a partir do ressentimento e da recusa da modernidade".
Mas que universidade é esta, que cidade é esta, que Europa é esta, que fecha as portas a alguém como Bento XVI, para mais com base numa manipulação? Não é seguramente a que celebra não apenas a tolerância, mas a divergência, a discussão em busca da verdade. E que por isso não aceitou sequer ouvir o que o bispo de Roma lhe tinha para dizer. E que já sabemos o que era, pois o Vaticano já divulgou o discurso.
Como este Papa nos tem habituado, era, é, um grande texto, uma extraordinária aula onde o teólogo e o professor, unidos num só, discorrem sobre o papel da Igreja e o da universidade, que, "na sua liberdade face a qualquer autoridade política e eclesiástica, encontra a sua vocação particular, essencial para a sociedade moderna", a qual necessita de instituições autónomas de interesses ou lealdades particulares, antes dedicadas à "busca da verdade".
Evoluindo entre referências modernas (John Ralls e Habermas) e clássicas (com destaque para o "pouco devoto" Sócrates, que elogia e defende), socorrendo-se de Santo Agostinho e S. Tomas de Aquino, Bento XVI escreveu um texto que, devemos admiti-lo, seria uma afronta para os seus detractores. Por possuir a abertura e a universalidade que são o oposto do seu sectarismo anticlerical. Por defender que "o perigo do mundo ocidental é que o homem, obcecado pela grandeza do seu saber e do seu poder, esqueça o problema da verdade. E isto significa que a razão, no fim do dia, acabará por se vergar às pressões dos interesses e do utilitarismo, perdendo a capacidade de reconhecer a verdade como critério único".
E alcançar a verdade implica questionar - mas não ignorar - as certezas de hoje. E um Papa, na universidade, não vem para "impor a fé de cima, pois esta é antes do mais um dom da liberdade".
No tribunal de "La Sapienza" foi um Papa que quiseram colocar no lugar de Galileu, e foram cientistas que fizaram o papel do acusador de então, o cardeal Roberto Bellarmino, porventura mostrando ainda menos compaixão.
Mas nisso, infelizmente, não andam sozinhos. Já repararam como, entre nós, vai por aí um debate sobre Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente terem chamado "fascista" a Sócrates, o que nenhum deles chamou. Como, de resto, nem o próprio António Barreto chamou, pois o seu raciocínio completo é: "Não sei se Sócrates é fascista. Não me parece, mas, sinceramente, não sei. De qualquer modo, o importante não está aí. O que ele não suporta é a independência dos outros, das pessoas, das organizações, das empresas ou das instituições."
Como é mais sexy discutir o "fascismo", ilude-se o que o próprio autor considera ser "o importante" - o que é mais depressa chicana política do que debate intelectual, perdoe-se esta franqueza, que só pode ser tomada pelo que é: um desafio a recusar o mau exemplo de "La Sapienza".
O editorial de José Manuel Fernandes é perfeito. Resume o que todas as pessoas sensatas e intelectualmente honestas pensam. Não há mais nada a dizer.
Nada mais ...
Apenas mudar o nome à Universidade que de "La Sapienza" pouco ou nada tem.
O Público é o meu diário preferido apesar do seu director. O Sr. Fernandes pode ser uma luminária dos meios jornalísticos ou empresariais mas quando fala sobre educação ou ciência pouco se afasta das mais rasteiras opiniões mais em moda num dado instante.
Um ideia que não entra em muitas cabeças supostamente pensantes é a da que religião e ciência (no sentido que foi exposto pelo Desidério Murcho, noutro post) são fundamentalmente incompatíveis. Sobre isto há uma brilhante e corajosa conferência TED do Richard Dawkins que sugiro a todos.
Felizmente houve pessoas na La Sapienza, essas sim verdadeiramente sensatas e intelectualmente honestas, que protestaram contra o convite feito ao Sr. Ratzinger, um falso intelectual que de cartilha, para a abertura do ano escolar. Se fosse aqui, está-se mesmo a ver: iriam (quase?) todos ao beija-mão do 'brilhante' intelectual que ocupa o trono de S. Pedro em nome de uma tolerância que tudo permite.
paulo
Parece que a vontade que essa incompatibilidade (para mim mítica e absurda) exista é tão grande por parte de alguns que se vêm na necessidade de manipular as palavras do Papa.
«um falso intelectual que de cartilha» parece que os argumentos se reduzem todos ao insulto e ao preconceito.
Mas já agora o discurso que o papa iria fazer está na internet. O que tão insuportável e intolerável o papa iria dizer que justifique as ofensas proferidas pelos docentes e professores.
Relembro que o líder comunista italiano Bertinotti foi doutorado por uma universidade católica.
Caro Cláudio Pascoal,
a incompatibilidade referida deveria ser óbvia: a vontade de conhecer, ou seja a Ciência no seu sentido mais geral e nobre, não se compatibiliza com quaisquer dogmas. Esta é a minha convicção que não depende de quaisquer palavras do papa que desconheço e, por isso, não posso ter manipulado.
Explico melhor "o falso intelectual de cartilha": o Sr. Ratzinger pode ser o mais respeitável teólogo da igreja católica mas apenas isso. Como, obviamente, segue uma cartilha (consulte o dicionário, p.f.) não pode ser considerado um intelectual no mais amplo sentido universitário. Isto parece-me um argumento e não vejo onde está o insulto.
O que o papa iria dizer é absolutamente irrelevante. O que ele representa não.
PS: é fácil detectar neste blog os comentadores confessionais: são os primeiros a acusar os oponentes de preconceito, radicalismo ou intolerância. Provavelmente pela falta de melhores argumentos ou simplesmente pela incapacidade de distinguir argumentos de profissões de fé.
Estimado "paulo"
Não parta agora para uma tentativa de branqueamento do debate ocorrido nesta caixa de comentários. Perde o seu tempo.
Toda a gente percebeu a posição de cada qual, bright ou confessional, está tudo devidamente esclarecido.
Só temos que agradecer à Prof. Palmira por ter publicado este post.
Não tinha a ideia da pequenez deste protesto. Os números oficiais deste boçal e obscurantista protesto são estes:
67 professores assinaram, num corpo docente de 4.767 pessoas.
Fico mais descansado...
Uma última nota para a Palmira:
«Volto a frisar que Bento XVI não foi convidado para um debate ou para um confronto de ideias: foi convidado para discursar sem contraditório na abertura do ano académico.»
Não conheço os detalhes do convite, pelo que não sei até que ponto seria possível haver algum contraditório (p. ex. perguntas finais). Mas mesmo que esse espaço não existisse neste evento em concreto, está-se a censurar, de forma totalmente intolerante, algo de muito simples: o convite, por parte do Reitor, a uma figura pública intelectualmente relevante no contexto de uma Universidade. Bento XVI, para além da sua carreira e vocação eclesiástica, tem uma carreira académica própria e muito digna.
Será que, cada vez que se convida alguém de fora para discursar na abertura de um ano lectivo, tem que se criar, à força, um espaço de contraditório para todo aquele contestatário (que há sempre!) que discordar das ideias do palestrante?
Será que já não é possível, simplesmente, ouvir um homem a falar?
No final de contas, é disto que estamos a falar: se o Papa deve ou não ser censurado pelo facto de ser "persona non grata" para um pequeno bando de 1,4% de docentes intolerantes e fanáticos, e para um talvez maior bando de alunos com muito tempo livre e poucos miolos...
Paulo
sendo assim todos os comunistas são falsos intelectuais etc. etc. Todos aqueles que pertencem a um grupo ou a uma filosofia são falsos intlectuais. Por isso usas Sr. Ratzinger em vez de Ratzinger ou só papa. O objectivo é ser ofensivo. Seria melhor ter um discurso mais polido.
Quanto à religião/ciência, todos nós temos opiniões diferentes. Se a incompatibilidade lhe parece óbvia se calhar não teve o tempo suficiente para reflectir. O problema que lhe levantei é que muitas vezes se tenta criar um conflito que não existe.
"67 professores assinaram, num corpo docente de 4.767 pessoas.
Fico mais descansado..."
Espectadores, não lhe parece que se a ideia da visita agradasse aos 4.767 o papa talvez não tivesse cancelado.
Cara Palmira,
É bom referir que a citação que Ratzinger fez de Feyerabend foi para o criticar. É o que dá quando se tiram as citações fora do contexto.
Está aqui o que Ratzinger disse sobre Feyerabend: http://edicola.avvenire.it/ee/avvenire/default.php?pSetup=avvenire&curDate=20080115&goTo=A04
Ainda bem que o papa não foi pregar à universidade.Não lhe basta a cátedra de s. Pedro? A capela onde diz missa? Um qualquer seminário? Esses são os lugares mais adequados à divulgação da ficção mistica.
Man, mas que grande filme de histerismo imbecil a beatada está a fazer de uma coisa muita simples: as universidades são por definição lugares de contestação, de assobios, de apupos, etc..
Uma coisa insensível e odiosa como o RATZinger, que distribui insultos a todas as pessoas racionais de cada vez que abre a boca, estava á espera de quê? Que ir falar a uma universidade a sério fosse a mesma coisa que ir debitar lixo ao seminário da esquina? Que lhe estendessem uma passadeira vermelha e se prostrassem em reconhecimento da "honra"?
A Ratzinger não quis ser apupado e como ratazana velha e sabida aproveitou a ocasião para virar o bico ao prego numa prática em que a igreja dá cartas a todos: armar-se em vítima quando é o carrasco.
B16 cancelou a visita. Ponto. Mais contestação houve na visita à Turquia e ele não a cancelou. por que cancelou esta?
Depois, o B16 que não aceitou o convite para vir a Fátima porque razão aceitou um convite completamente descabido como este?
Faz tanto sentido B16 dar uma missa na abertura do ano académico de uma universidade pública de um estado laico como o Dawkins conduzir a homilia da Páscoa no Vaticano :)))
A abertura do ano académico é uma coisa com pompa e circunstância em que discursam membros proeminetes da academia ou representantes institucionais e se fazem grandes declarações de propósitos da missão da universidade.
A missão de uma universidade pública não é proselitar ninguém, bem pelo contrário;
B16 não é uma figura institucional do estado italiano;
B16 não é um membro da academia, muito menos proeminente. B16 é um membro da anti-academia, aquela classe que se recusa a dar uso aos neurónios e se entretém em pseudo-justificações impenetráveis e palavrosas do injustificável: os apologetas do catolicismo :)
A carta do professor Marcello Cini é fabulosa e esclarece qualquer dúvida sobre a profunda imbecilidade do reitor em fazer um convite sem sentido que nunca deveria ter feito.
Desde 1870 que Roma não é a capital de um estado pontificio e a teologia não é uma disciplina que faça parte da academia moderna. Não faz certamente parte dos curriculos de universidades em estado modernos não confessionais.
A palestra de Ratisbona de infeliz memória seria sufciente para alguém com dois dedos de testa (e dois neurónios funcionais não obliterados pela religião) perceber a estupidez de tal convite.
A palestra porgramada para La Sapienza confirma essa estupidez: B16 pretende voltar aos tempos da Inquisição e ao poder supremo da igreja e pretende subordinar a ciência e as universidades aos ditames do Vaticano.
Que ele diga essas barbaridades dos púlpitos é lá com ele; haver quem ache que pode fazer o mesmo numa universidade e não ser alvo de contestações ´é algo que me ultrapassa!
Juro que não percebo como é que a beatada pode achar que recusar ser regido pelas palermices do Vaticano é "fassismo" e que contestar um papa que acha que as universidades devem submeter-se ao vaticano é um atropelo à liberdade de expressão.
Acho que é um tema fascinante para uma tese de doutoramento em neurociências perceber estes efeitos da religião...
Rita
Não escrevas asneiras, por favor. A sua ignorância parece não ter limites.
Vá aos sites das universidades de Cambridge, Oxford e Harvard e verá na listagem de cursos, a teologia e os estudos religiosos. Será que tem a coragem de afirmar que a Inglaterra e os EUA são estados confessionais? Posso apresentar-lhe mais países, se quiser.
Antes de vir para aqui com esse discurso sem sentido devia ter consultado as notícias e lido que o reitor da universidade leu o discurso do Papa que foi aplaudido durante "largos minutos" por estudantes e professores que assistiam à cerimónia.
Entretanto um bando de anormais impediu um Bispo de entrar nas instalações da Universidade.
Não pegue mais neste assunto, é uma causa perdida. Descredibiliza-se cada vez mais. Não julgue os outros tolos, Rita.
António Parente:
A Inglaterra é um estado confessional.
Não há cursos de teologia em universidades públicas americanas. Harvard é uma universidade privada.
Rita
Em relação a Inglaterra tem razão. Esqueci-me da Igreja Anglicana.
Quanto aos EUA, tem razão quando afirma que Harvard é privada. Mas existem cursos de teologia em universidades públicas.
Se fizesse como eu, que reconheço quando não tenho razão, em vez de andar sempre a remoer o mesmo tema as discussões acabavam depressa.
Nem sequer sou fã de Ratzinger mas aposto que a maioria dos que aqui o insultam nunca leram nada dele do princípio ao fim. Só vejo exibições de preconceitos.
Será que o ateísmo racionalista do racionalismo apenas retém o nome, enveredando a seguir por uma abordagem panfletária e nada rigorosa? Distribuem-se por aqui adjectivos com grande generosidade mas a fundamentação é completamente infantil.
Será que os ateus de serviço alguma vez pensaram quais devem ser os seus próprios limites ou partem do princípio que estão divinamente iluminados e que podem dizer e fazer tudo o que lhes vem à cabeça porque está divinamente justificado?
Caro CA:
A minha opinião de Ratzinger foi formada pela muita coisa que li dele.
O autor do Dominus Jesus acha-se um iluminado, a única pessoa no mundo detentora da verdade "absoluta" e é um inimigo declarado da ciência que:
"Desde o Iluminismo, pelo menos uma parte da ciência se empenha com tenacidade em buscar uma explicação do mundo na qual Deus seja algo supérfluo".
e
"A ciência e a técnica convenceram algumas pessoas a pensar que tudo é fruto da evolução e que o homem não tem nenhum Deus".
Para Ratzinger tudo o que não se submeter à igreja católica é irracional e foi esse o tema da palestra de Ratisbona. Para ele a ciência é especialmente irracional porque "exclui" Deus das suas teorias.
Ratzinger é um inimigo declarado da genética em particular e das biociências em geral porque
"O nosso estatuto ontológico como criaturas feitas à imagem de Deus impõe limites à nossa auto determinação (biológica). A soberania (sobre o nosso corpo) de que dispomos não é ilimitada" embora a ciência dê a ilusão «que o homem tem direito pleno sobre a sua natureza biológica.»
Para quem tiver dúvidas sobre a peça, aconselho o livro "Sem raízes" (Without Roots: The West, Relativism, Christianity, Islam) que nos explica como a laicidade e o multiculturalismo que aceita religiões "falsas" estão a matar a Europa.
Ratzinger diz que apenas o regresso ao fundamentalismo católico da Idade Média pode salvar a Europa.
Alguns pontos abordados no livro:
-A falta de valores cristãos e a recusa em aceitar a soberania do Vaticano explicam porquê tantos europeus se opuseram à segunda guerra no Iraque e à iniciativa «democrática» de George W. Bush no Médio Oriente;
-Os católicos têm de admitir que o diálogo inter-religiões promovido pelo concílio Vaticano II falhou e deve ser abandonado. É obrigação dos católicos assumir a superioridade da sua religião.
O mesmo tom é retomado no livro «Values in Times of Upheaval».
Quem não tiver pachorra para ler as barbaridades do senhor, pode ler o discurso no convento da Saint Scholastica em Subiaco, Itália, na véspera da morte de João Paulo II.
Ratzinger identifica o racionalismo iluminista, herança da Renascença que retirou a igreja de Roma do centro de decisões na Europa como o grande perigo.
«de acordo com a tese do iluminismo e cultura secular da Europa, apenas as normas e conteúdos do iluminismo são passíveis de determinar a identidade europeia» o que tem como consequência que «esta nova identidade, determinada exclusivamente pela cultura iluminista, implica igualmente que Deus não participa de todo na vida pública e nos alicerces do Estado».
Para ele a cultura do iluminismo é a culpada do "abismo" europeu porque põe a tónica nos direitos humanos e não na «vontade» divina (interpretada pelo Vaticano) e porque explica o mundo com a ciência e não com deuses.
Pior ainda, a igreja não é o alicerce do Estado o que permitiu um direito que não é ditado de Roma.
Esta «ideologia confusa de liberdade» que «leva ao dogmatismo» - dogmatismo supremamente condenável que leva ao fim da discriminação da mulher e da criminalização ou proibição do "pecado" (homossexualidade, aborto e divórcio, por exemplo), esta insistência nos direitos humanos é um erro crasso responsável pelo "abismo" actual.
Ratzinger decretou a falência dos valores de tolerância e respeito pelos direitos do homem e advoga que a única forma de sair do "abismo" é o retorno à cristandade, a supremacia do catolicismo sobre tudo.
Todos, católicos e não católicos, têm de aceitar ser regidos como se Deus existisse, veluti si Deus daretur, e como só o vaticano está "autorizado" a interpretar a vontade "divina" todos devem estar subordinados aos ditames e dogmas do Vaticano.
Links para a homilia de RATzinger em Subiaco:
Europe’s Crisis of Culture
"Excludes God From the Public Conscience"
"A Confused Ideology of Freedom Leads to Dogmatism"
Christianity: "The Religion According to Reason"
tudo na Zenit
outra para se ver a qualidade da peça:
Pope attacks 'folly' of secular Canadians
DURING A meeting last week with bishops from Ontario, Pope Benedict XVI issued one of his toughest warnings against secularism...
Rita
O comentador CA falou em ler livros, não em usar um arquivo e debitar links que nem sequer consultou. Quem não a conheça pensará que é uma sumidade no pensamento do Papa.
E é preciso notar que continua a branquear o debate. Não está em causa o pensamento do Papa. O que se discute é o direito à liberdade de expressão e pensamento, o direito de um grupúsculo pôr em causa os direitos humanos que todos, crentes e não crentes, devíamos respeitar. Já toda a gente percebeu que a Rita respeita esse direito desde que a pessoa seja do seu clube. Não é suficiente.
A Rita não percebe o perigo que corre ao continuar essa linha de argumentação. Está a legitimar a acção futura de grupúsculos religiosos fundamentalistas que também optem pela via do confronto em vez do diálogo.
O que está em causa, Rita, é mais do que uma pretensa guerra entre ciência e religião. O que está em causa, Rita, é se somos demasiado frouxos um dia grupos que não aceitam o diálogo e querem impôr a visão do mundo pela força, que insultam e ofendem, chegam ao poder.
Hoje é o Papa, amanhã pode ser a Rita. E quando for a vez da Rita não tem autoridade moral para gritar "aqui há lobo!" porque quando outros gritaram não os socorreu.
Não seja ingénua, Rita. Pare para pensar.
Paulo,
o Sr. Richard Dawkins sabe muito pouco (para não dizer nada) de religião e filosofia religiosa (como se constata da leitura do seu God Desilusion e das suas palestras nas TED e outras). E mesmo dentro da comunidade cientifica é considerado por muitos colegas como fundamentalista e dogmatico (aliás, até é conhecido como o Rotweiler de Darwin). Acontece que são estes "ídolos" ateístas radicais que passam a ideia de que ciência e religião são incompativeis. Ciência e Religião não são apenas compativeis como são complementares, isto claro se não tomarmos religião=catolicismo e ciência=reducionismo (o que acontece em muitas das discussões deste blog, inclusive pelos seus autores).
Rita
A sua primeira mensagem confirma abundantemente o que eu disse:
"O autor do Dominus Jesus acha-se um iluminado, a única pessoa no mundo detentora da verdade "absoluta""
Segui os links. No primeiro fico a saber que ele gosta de escrever os seus próprios discursos e que não é um especialista em islamismo. No segundo fala-se de discussões teológicas católicas. A qualificação que a Rita atribui a Ratzinger não decorre dos artigos. Além do mais são artigos de jornalistas e não afirmações de Ratzinger. Mostra o estilo panfletário e não fundamentado da Rita.
"e é um inimigo declarado da ciência que:"
Um inimigo declarado de algo é alguém que quer acabar com isso. Ratzinger pode ter muitos defeitos mas não é um inimigo declarado da ciência. As citações que a Rita usa mostra até que ponto os seus preconceitos alteram a sua compreensão do que se diz. Vejamos:
"Desde o Iluminismo, pelo menos uma parte da ciência se empenha com tenacidade em buscar uma explicação do mundo na qual Deus seja algo supérfluo".
Isto é uma pura banalidade. Isto é o que os cientistas ateus fazem (legitimamente, diga-se de passagem). Se eu não acredito em Deus procuro uma explicação do mundo sem Deus. Para ser honesto deve dizer-se que até se ter criado um dispositivo experimental que permita detectar a existência de Deus (algo que a teologia sugere que é impossível) eu também penso que mesmo qualquer cientista religioso (católico, por exemplo) deve procurar as explicações do mundo sem usar a hipótese de Deus. Por isso acho que se deve explorar o evolucionismo na explicação dos fenómenos até onde for racionalmente
possível.
"A ciência e a técnica convenceram algumas pessoas a pensar que tudo é fruto da evolução e que o homem não tem nenhum Deus".
Outra banalidade ou verdade de La Palisse. A prova experimental de que isto é verdade está na Rita e outros ateus que escrevem aqui.
"Para Ratzinger tudo o que não se submeter à igreja católica é irracional e foi esse o tema da palestra de Ratisbona. Para ele a ciência é especialmente irracional porque "exclui" Deus das suas teorias."
Segui os links. O que parece que ele disse (não esquecer que estamos a trabalhar sobre curtas citações de jornais) é que o evolucionismo puro e duro supõe que não há a actuação de um Deus racional e portanto nós seríamos produto de forças irracionais. Não é a ciência que é irracional.
"Ratzinger é um inimigo declarado da genética em particular e das biociências em geral porque
"O nosso estatuto ontológico como criaturas feitas à imagem de Deus impõe limites à nossa auto determinação (biológica). A soberania (sobre o nosso corpo) de que dispomos não é ilimitada" embora a ciência dê a ilusão «que o homem tem direito pleno sobre a sua natureza biológica.»
A bioética (religiosa ou ateia) existe porque reconhecemos que nem tudo é legítimo. Quem tem convicções religiosas encontra certos fundamentos para a ética que são diferentes da bioética ateia. Mas isto é outra verdade de La Palisse e não faz ninguém inimigo de toda uma área científica.
A sua afirmação é tão ridícula como dizer que um movimento ecologista que se opõe às centrais nucleares é contra toda a física das partículas.
CA,
volto a repetir. Convidar alguém para discursar na abertura oficial de um ano lectivo é apresentá-lo como um exemplo a seguir pelos alunos.
Alguém que se reconhece como detentor de um estatuto de infalibilidade nalgum domínio não poderá ser nunca um exemplo para um aluno universitário.
A liberdade de expressão não é posta em causa com esta atitude. O Papa tem todas as facilidades do mundo para divulgar as suas ideias.
On
A Sapienza não tem apenas um curso de Física. Tem Filosofia, Sociologia, Política, etc, etc.
Além disso o Papa foi convidado porque a Universidade decidiu considerar o ano lectivo de 2007-2008 como "ano académico contra a pena de morte".
Reproduzo aqui as palavras do Reitor:
"L'incontro con il Pontefice poteva rappresentare un momento importante di riflessione per credenti e non credenti su problemi etici e civili, quale l'impegno per l'abolizione della pena di morte, che sono la linfa vitale del nostro lavoro didattico e di ricerca. L'ascolto della voce di uno studioso che ha scritto su temi del nostro tempo sarebbe stato alimento per la libertà delle coscienze e per tutti coloro che si interrogano laicamente."
Penso que muita gente opina sem ter conhecimento de todos os factos. É pena.
On
"Convidar alguém para discursar na abertura oficial de um ano lectivo é apresentá-lo como um exemplo a seguir pelos alunos."
Não estou de acordo por duas razões: a primeira é que não é papel da universidade dar exemplos aos alunos para eles seguirem (isso é mais próprio para as religiões; os santos católicos são precisamente os exemplos a seguir); a segunda razão é que, como toda a gente tem os seus aspectos negativos, dificilmente alguém seria admitido a discursar na abertura oficial do ano lectivo. Será que deveria haver uma selecção moral dos cientistas? Antes de alguém ter um papel de destaque num acto académico deve ser avaliado moralmente pelos seus pares?
"Alguém que se reconhece como detentor de um estatuto de infalibilidade nalgum domínio não poderá ser nunca um exemplo para um aluno universitário."
Se o tal "estatuto de infalibilidade" fosse em relação ao conhecimento universitário isso faria algum sentido.
Ora o estatuto de infalibilidade é uma noção estritamente teológica (no fundo supõe-se apenas que se toda a comunidade dos crentes está de acordo numa verdade teológica então isso tem que ser verdade porque Deus não nos enganaria) e tem exclusivamente a ver com questões internas da Igreja Católica. Nunca o Papa invocou essa infalibilidade em matérias académicas.
"A liberdade de expressão não é posta em causa com esta atitude. O Papa tem todas as facilidades do mundo para divulgar as suas ideias."
Não é a liberdade de expressão que está em causa mas sim:
- a discriminação com base em razões religiosas (como se um líder religioso não pudesse discursar numa universidade ainda que ele próprio seja um homem de cultura e um académico);
- a atribuição a uma pessoa de posições que ela não tomou feita por pessoas que têm um preconceito contra Ratzinger e se limitam a basear-se em leituras atabalhoadas de artigos de jornal.
Este episódio fez-me lembrar o período da "caça aos comunistas" nos Estados Unidos, quando os acusados, em Tribunal, não conseguiam fazer-se ouvir, porque até o Juíz batia com o martelo na mesa para abafar as palavras destes.
Se o líder dos católicos não chegou a falar, ninguém teve oportunidade de confirmar ou desmentir aquilo de que o acusam. Teria sido uma boa oportunidade para o questionarem, mas, em vez disso, optaram pelo caceteirismo.
Não vejo inconveniente em se condidar líderes religiosos para estes eventos, desde que não sejam sempre do mesmo credo.
Creio que o que os autores do protesto quiseram evitar foi uma sala cheia. Ainda não têm estofo para admitir opiniões contrárias às suas e insistem em salvar a Humanidade a todo o custo. Nisso, assemelham-se aos extremistas religiosos.
Para aqueles que não desejam ser ignorantes (Ateus, religiosos, agnósticos e etc e tal) que tal ganharem mais cultura lendo o discurso de Sua Santidade, que os professores e alunos da Universidade de "La Burrice" não quiseram ouvir.
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2008/january/documents/hf_ben-xvi_spe_20080117_la-sapienza_it.html
Vale a pena ler:
A liberdade vai morrendo
18.01.2008, Vasco Pulido Valente
A Mesquita Central de Oxford, muito conspícua, com minarete e cúpula, reclamou agora o direito de fazer apelo à oração, com o ruído que a ortodoxia recomenda. Para quem viveu em Oxford, isto é difícil de engolir. Mas suponho que não haverá grandes problemas. Pouca gente irá protestar contra a "islamização" da cidade e as coisas seguirão em sossego, de acordo com as regras do multiculturalismo. Já em Roma, um grupo de professores não permitiu que o Papa Ratzinger - um académico, um filósofo e um teólogo - fosse à Universidade de Roma, "La Sapienza", em nome da laicidade da investigação e do que ele pensa (se pensa) sobre a condenação de Galileu. Aqui, manifestamente, o multiculturalismo não vale. Vale o velho ódio à Igreja Católica e a intolerância da "correcção política".
O direito de cada minoria se afirmar - ou, pelo menos, de certas minorias se afirmarem - acabou em conflito. Não acabou, como se esperava, numa nova espécie de coexistência pacífica. O universalismo da civilização do Ocidente, agora desprezada, está a ser substituído por uma série de particularismos, que não reconhecem o direito à diferença e que se querem impor ou separar. Usando uma antiga estratégia, o islão invoca a liberdade contra a liberdade. Um método que sempre seduziu a "inteligência" europeia, invariavelmente partidária da força e da repressão: a liberdade invocada para autorizar um muezzin em Oxford é a mesma liberdade invocada para não permitir que o Papa fale na Universidade em Roma. A liberdade condena a "islamofobia" em Oxford e aprova a "catolicofobia" em Roma.
A intolerância aumenta; governa a religião, a saúde, a ética sexual (só uma é aceitável) e, contra toda a inteligência e toda lógica, começa a ressuscitar o nacionalismo. Na Bélgica, em Espanha, na Itália (embora moderadamente), a exclusividade regional reaparece, com um ódio hesitante mas profundo. A "Europa", afinal, não juntou, separou. Por um lado, em Bruxelas, para as pessoas se entenderem, falam inglês. Por outro, na Catalunha ou no País Basco, há quem se queira afastar ou isolar do mundo mais próximo. A fragmentação cultural do Ocidente não trouxe a ninguém autonomia e poder de escolha. Trouxe, e continua a trazer, fanatismos de vária ordem, que pretendem reger, "regularizar" e limitar o comportamento do cidadão comum. A liberdade vai morrendo.
«um falso intelectual que de cartilha»
Contando que estudou teologia e se doutorou na mesma, exerceu a docencia em teologia dogmatica e historia do dogma, não passa de um escolastico ao mais brilhante estilo medieval, entre ele e as camarilhas dos alquimistas não divergem muita coisa, a expressão é adequada, eu acrescentaria que é uma fraude intelectual..
Eu tambem posso estudar alquimia, projecção astral e doutorar-me em homeopatia e tornar-me tb outra fraude intelectual como muita gente que anda por esse mundo fora, o papa é mais um, com a diferença que é mundialmente escutado e seguido.
Verissimo disse...
"Ainda bem que o papa não foi pregar à universidade.Não lhe basta a cátedra de s. Pedro? A capela onde diz missa? Um qualquer seminário? Esses são os lugares mais adequados à divulgação da ficção mistica."
Pois ficção mistica, é comparavel a alguem que hoje em dia afirme que a terra é plana, o conhecimento que o papa detem é arido, esteril, inutil e mais demagogia da treta..
O papa se quer fazer missas que as faça nas igrejas, a universidade não é local para gente como ele, as universidades tem como objectivo a procura e divulgação do conhecimento não de tretas e pseudo-pensamentos e palermices afins de esquizofrenicos que adoram bonecos.
Rita disse...
"Desde 1870 que Roma não é a capital de um estado pontificio e a teologia não é uma disciplina que faça parte da academia moderna."
Rita ensinar actualmente teologia numa universidade é o mesmo que ensinar alquimia, astrologia, quiromancia, projecção astral e demais parvoices medievais que ainda populam por ai.
Rita disse...
"Acho que é um tema fascinante para uma tese de doutoramento em neurociências perceber estes efeitos da religião..."
Eu tambem acho e gostaria de ver um estudo desses confirmar ou desmentir a relação do fanatismo religioso com a esquizofrenia, cá na minha opinião penso que as duas coisas andam muito ligadas, o que se pode chamar a quem anda a venerar bonecos?
Rita disse...
"Para quem tiver dúvidas sobre a peça, aconselho o livro "Sem raízes" (Without Roots: The West, Relativism, Christianity, Islam) que nos explica como a laicidade e o multiculturalismo que aceita religiões "falsas" estão a matar a Europa.
Dispensa-se a redundancia, todas as religiões são falsas porque veneram falsas identidades e realidades inexistentes, eu tambem posso criar a minha igreja com base num deus de um livro de ficção cientifica ou numa visão que tenha(felizmente não tenho problemas mentais) e tem a mesma validade que as outras que já existem e quem são os outros para dizer que é falsa?
Rita disse...
"Ratzinger diz que apenas o regresso ao fundamentalismo católico da Idade Média pode salvar a Europa."
Resposta: o papa está para o cristianismo como bin laden para o islamismo, imaginem dois darth vader com sabres de luz em duelo um contra o outro..
Quim disse...
"contece que são estes "ídolos" ateístas radicais que passam a ideia de que ciência e religião são incompativeis. Ciência e Religião não são apenas compativeis como são complementares,"
A religião foi um dos patamares da evolução mental do ser humano, a sua época terminou, deve ficar confinada junto às mitologias nas bibliotecas e arquivos, foi substituida pela ciencia porque não consegue dar resposta satisfatoria sobre o meio que nos rodeia, extinguiu-se, esqueca a religião e passe à frente, quando aprendeu a andar de bicicleta certamente tinha a rodinha pequena para ajudar, actualmente ainda a usa? duvido muito.. tá a compreender onde quero chegar?
Alyod disse...
"Aqui, manifestamente, o multiculturalismo não vale. Vale o velho ódio à Igreja Católica e a intolerância da "correcção política"
Isso que se chama actualmente de multiculturalismo é uma treta, fraude e demagogia, uma justificação para muita coisa indesejável, se querem verdadeiramente que se reproduza o que a palavra determina, afastem da vida publica e politica da sociedade toda a religião, seja ela qual for, e que as pessoas vivam em paz 1 com as outras e não pensem na religião do vizinho..
Alguem se lembra da sicila medieval normanda? Ou do governo de jerusalem sobre saladino ou a tolerancia religiosa iberica antes do espirito de cruzada ou a tolerancia holandesa?
Armando Quintas
Devo presumir que a sua mensagem é um exemplo do pensamento que hoje deve ter lugar nas universidades?
Vale a pena ler a seguinte coluna, do «La Repubblica», um jornal «de esquerdas»:
Democrazia minima
Ilvo Diamanti
Si odono ancora, distintamente, gli echi delle polemiche sollevate dalla rinuncia di Papa Benedetto XVI a proporre la sua lezione magistrale all'Università "la Sapienza" di Roma. Preoccupato dalla lettera dei 67 professori che avevano espresso, a tale proposito, il loro dissenso. E dalle manifestazioni annunciate da alcuni circoli di studenti, anch'essi apertamente contrari all'arrivo del Papa. Anche se, probabilmente, oltre alla preoccupazione è subentrata l'irritazione per il mancato senso di ospitalità (non si invita qualcuno a casa propria, come ha fatto il Rettore, per poi comunicargli che i figli lo accoglieranno, all'ingresso, per fischiarlo). Senza trascurare la volontà del Vaticano di far passare la religione civile fondata sulla "ragione" dalla parte del "torto". Rovesciando sui "militanti laici" la critica di intolleranza che, da qualche tempo, accompagna il rinnovato protagonismo della Chiesa sulla scena pubblica.
Le polemiche dei giorni seguenti (che proseguono ancora) si sono concentrate, soprattutto, sul concetto di laicità, di libertà, pluralismo. In particolare, è stata criticata - giustamente, a nostro avviso - l'azione volta a impedire la lezione di Joseph Ratzinger. Pontefice, ma anche eminente filosofo e teologo: sarebbe stato di casa all'Università. Per contro, altre voci, più circoscritte, hanno insistito sull'inopportunità che l'autorità più rappresentativa della Chiesa aprisse le lezioni di un centro di cultura pubblica e "laica", qual è la più grande università italiana.
Noi, tuttavia, vorremmo spostare l'attenzione dalla luna al dito che la indica. In altri termini, intendiamo soffermarci su un aspetto laterale, rispetto a questa discussione. E, tuttavia, sintomatico del male che affligge il nostro (povero) Paese; e indebolisce la nostra democrazia. Ci riferiamo alla sproporzione delle forze in campo.
67 professori esprimono il loro dissenso verso una iniziativa dell'Università in cui insegnano. Insieme ad altri 2000 docenti. Affiancati da circa 300 studenti, che manifestano la loro protesta. E la rilanciano giovedì scorso, quando avviene l'inaugurazione. Senza il Papa, ma di fronte al sindaco Veltroni e al ministro Mussi. Studenti molto diversi da quelli del mitico '68. Definiti e auto-definiti "autonomi", non perché si ispirino ai collettivi e ai movimenti "rivoluzionari" degli anni Settanta, ma perché dichiaratamente estranei e antagonisti rispetto ai soggetti politici attuali. "Antipolitici", per usare le categorie del nostro tempo. Ripetiamo un'altra volta: 300 studenti. Trecento: in una Università dove gli iscritti sono circa 140 mila.
Il nostro appunto (e disappunto) è riassunto da questi numeri. Una iniziativa di grande rilievo pubblico e di grande importanza simbolica si è, infatti, incagliata sul dissenso espresso dal 2,8 % dei professori e dallo 0,2 % degli studenti. Tanta sproporzione suggerisce una considerazione inquietante. La nostra democrazia non è più in grado di sopportare neppure una frazione di conflitto e di opposizione così ridotta. L'opposizione di alcuni professori di Università. Ambiente dove è, quantomeno, normale che vengano espresse distinzioni, differenze; talora "eresie" culturali. La sfida irrequieta e "maleducata" di un drappello di giovani studenti. Ai quali, per età e condizione, va comunque concessa la possibilità anche di sbagliare in proprio. Hanno di fronte una vita per sbagliare con la testa degli altri.
Una democrazia incapace di "tollerare" il dissenso (anche quando esprime posizioni "poco tolleranti"), neppure se è così minuscolo, ci appare seriamente malata. Tanto più se, poi, cede. Se non è in grado, comunque, di garantire il rispetto delle scelte assunte dagli organi di governo legittimi; condivise dalla stragrande maggioranza della società.
La colpa non è del 2 % degli intellettuali che si oppone, né dello 0,2 % della popolazione che manifesta. E' delle istituzioni, delle autorità che si arrendono loro. Una democrazia che, come in troppe, altre, precedenti occasioni, si piega di fronte a pressioni minime. E non sopporta il minimo dissenso. E' una democrazia minima.
(18 gennaio 2008)
CA disse...
Armando Quintas
"Devo presumir que a sua mensagem é um exemplo do pensamento que hoje deve ter lugar nas universidades?"
Aquilo que acima escrevi é a minha opinião pessoal sobre a matéria debatida neste post, algumas coisas considero que sim devem ser o pensamento nas universidades.
Na universidade o religioso e sobrenatural devem ficar à porta, lá dentro há estudantes dos vários cursos e proveniencias geograficas e não cristãos, muculmanos ou outros, e a teologia deve tambem ficar à porta, imagine teologia numa universidade publica, teolgia cristão obviamente, depois com a questão do multiculturalismo teria que haver teologia islamica, depois hindu, depois budista e talvez pagã, considerando que a teologia nada contribui para a humanidade e não explica da melhor maneira o meio que nos rodeia a nós continuo sem saber a sua utilidade numa universidade, como disse a sua utilidade é igual à da alquimia e espiritismo e teosofia e afins.
Quanto ao papa, sim acho que as entidades religiosas não se devem imiscuir nas universidades, sejam de que religião forem, por isso acho deploravel o convite do reitor que errou e o papa gentilmente deveria recusar de imediato mas como quer mediatismo e oportunidades para o proselitismo achou por bem aceitar.
Quanto as reacções dos estudantes e corpo docente são mais que justas, já pensou ser chefe de um departamento ou faculdade de medicina e o seu reitor convidar para lecionar na sua faculdade e no seu curso em determinadas cadeiras, pessoal da homeopatia, bruxos, videntes, curandeiros, a comparação é licita e justa. o papa não tinha nada que fazer la, a igreja deve e tem a obrigação de se manter no estrito ambito do religioso, desocupando o espaço que detem no espaço social e politico, senão tem que ser avisada como foi em espanha pela presidente do congresso.
Nos paises laicos e democraticos quem manda e deve mandar é o estado, à igreja apenas lhe compete as missas e o religioso, quanto ao resto deve manter-se afastada.
Espero que tenha entendido a minha posição sobre a questão..
Armando,
Começo por dizer que temos em comum a convicção da necessidade imperiosa de expor as posições ilógicas e dogmáticas das Igrejas, cleros e religiões exotéricas. Mas ficamos por aqui, como o Armando fez questão de demonstrar na sua resposta.
Vejo que a sua CRENÇA (porque é de facto de uma crença que se trata) cresce dia após dia! Nesse aspecto, o seu discurso assemelhasse muito ao de Dawkins. Mas como já tinha referido anteriormente ele “sabe muito pouco (para não dizer nada) de religião e filosofia religiosa”. São assim os Crentes positivistas e ateístas radicais, na sua cruzada para salvar o mundo de qualquer vestígio da religião.
Esquecem-se, por exemplo, que a investigação aponta para que as religiões que criticam sejam afinal a “epiderme” (constituídas por “montanhas” de deturpações, interpolações e falsificações feitas por clérigos ignorantes e sedentos de poder) a que podíamos chamar manifestações religiosas antropomórficas – veja-se, no caso do cristianismo, o silenciamento e as mentiras levantadas em torno dos chamados evangelhos apócrifos, contra os gnósticos primitivos, os essénios, etc.). São essas “camadas” exteriores que encobrem a essência de cada uma das religiões, que encobrem os ensinamentos originais e puros de cada um dos seus primitivos fundadores (gostaria até de saber quantas pessoas que criticam o cristianismo conhecem, por exemplo, o evangelho de Tomé). É exactamente essa ESSÊNCIA, esse património universal, que pode ser encontrado sobre as montanhas de escolhos das doutrinas e cultos religiosos modernos, que é compatível com a ciência (veja-se o exemplo da profunda filosofia budista ou vedanta, que é perfeitamente compatível com as interpretações da realidade avançada pela física quântica).
Aliás, foi aí mesmo, ao pensamento místico oriental, por muito que custe a aceitar, que vários cientistas (Einstein, Bohm, Heisenberg, etc.) foram buscar inspiração para as suas posteriores investigações.
Alguém à algum tempo atrás, aqui neste blog, ficou muito chocado ver que o famoso Giordano Bruno tinha escrito um livro sobre Magia. Também pode causar “calafrios” a muita gente (ao Armando por exemplo) que Einstein ou Edison tenham estudado Teosofia, Newton tenha sido um estudiosos de Alquimia, Francis Bacon um apaixonado pelo Hermetismo, Pitágoras um versado no misticismo egípcio e oriental, etc., etc. Antes que alguém algum dos ateus radicais comece a gritar BLASFÉMIA, HERESIA, convém que se pergunte que Alquimia, Magia, Hermetismo ou Misticismo estamos a falar? Será aquilo que por aí prolifera na literatura pseudo-espiritual e nos best-sellers pseudo-misticos que enchem as livrarias? Todos os sábios da antiguidade seriam uns perfeitos ignorantes (devendo as suas teorias “ficar confinada[s] junto às mitologias nas bibliotecas e arquivos”)? Será o ateísmo radical o pináculo da evolução do pensamento humano? Serão os Dawkins, Shemers, Comtes, Armandos e Ritas, e tutti quanti, o corolário da sabedoria? Muitas questões afinal, para quem procura saber… um pouco mais.
Há aqui uma diferença fundamental. Existem o cepticismo saudável, uma extraordinária virtude de todos os que procuram a verdade ONDE QUER QUE ELA ESTEJA (e aí encontramos a maioria dos grandes vultos da ciência, e não só). Depois existe um outro cepticismo, aquele que é usado como uma arma para defender posições, pouco ou nada interessado na procura da verdade. Este cepticismo existe tanto (ou mais) na religião como na ciência. São aqueles que pensam que já detêm a verdade, como parece ser o caso do Armando e demais, que à muito descartaram qualquer conhecimento que possa ter um qualquer cunho religioso. Julgo que valeria a pena manter um cepticismo prudente e investigar melhor as informações que gerações de sábios nos legaram, mas isso é a minha opinião pessoal.
Só quem não quer é que pode negar que existe uma cada vez maior aproximação entre a ciência e o pensamento misticismo (algo que por exemplo os físicos já perceberam à muito tempo).
O Armando acha que o “religioso” deveria ficar “à porta” das universidades. Chega até a protestar dizendo: “imagine teologia numa universidade pública, teologia cristã obviamente, depois com a questão do multiculturalismo teria que haver teologia islâmica, depois hindu, depois budista e talvez pagã”. Por acaso até foi isso mesmo que sugeriu Jorge Sampaio, actual Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, ao afirmar "A história das religiões deve ser integrada no ensino" (ver revista Visão de 10 de Janeiro). Conhecer o outro é a melhor maneira de não o temer, de o respeitar, de convivermos juntos.
Afinal, a CRENÇA do Armando é que a ciência já lhe deu resposta a todas as suas questões fundamentais, por isso, porquê perturbar a sua “paz”…?!
Caro quim..
Claro que a forma como as religiões são divulgadas são a epiderme das proprias religiões, só alguem muito ingenuo e com a mente formatada ( am maioria) pensa que a igreja que existe hoje, isto para falar da católica, foi instituida por cristo, alias eu até tenho duvidas se foi instituida alguma, obviamente o que move o vaticano é sede de poder, de controlar..
Agora continuo a dizer e a defender, sejam as religiões de "epiderme" sejam elas depuradas dos erros, devem manter-se no estrito espaço religioso e pessoal de cada um e não invadirem o espaço publico, dai o laicismo.
Quando fala dos cientistas e de sabios anteriores, pelo que sei einstei acreditava num deus pessoal ao genero da natureza, tudo bem mas não foi a religião dele se a teve que lhe fez a teoria da relatividade e sim a ciencia, os sabios mais antigos como newton entre outros praticaram a alquimia obviamente, muitos durante a idade media tambem a praticaram porque era o conhecimento da epoca, mas note que acabaram por a abandonar e criar outro conhecimento porque ela não servia, senão estavamos ainda a estudar alquimia, a questão aqui é que eu queria dar a entender que alquimias, teologias, religioes, são etapas no desenvolvimento civilizacional e mental humano e o seu tempo já passou, agora é a ciencia.
Quando diz:
"Depois existe um outro cepticismo, aquele que é usado como uma arma para defender posições, pouco ou nada interessado na procura da verdade. Este cepticismo existe tanto (ou mais) na religião como na ciência. São aqueles que pensam que já detêm a verdade, como parece ser o caso do Armando e demais, que à muito descartaram qualquer conhecimento que possa ter um qualquer cunho religioso."
A questão aqui não é a procura da verdade pois isso nunca está em causa, é a forma de a procurar, ora se eu defendo a ciencia e rejeito a religião é porque a encontro na primeira e não na segunda, para mim o que me interessa é o que possa explicar da melhor maneira a realidade em que vivemos, de forma clara sem dogmas e mentiras, com explicações racionais e vai encontrar isso na ciencia e não na religião a não ser que defenda que a religião explica melhor que a ciencia o mundo e a realidade que nos rodeia, se fosse a religião eu tinha escolhido a religião.
Sim continuo a achar que o religioso deve ficar à porta não só das universidades como do espaço publico para não trazer situações de conflitos religiosos em que uma religião tende a afirmar-se superior em relação às outras e a unica verdadeira.
Em relação a Jorge Sampaio o que tenho a dizer é que como presidente da republica não contribuiu em nada para a defesa do laicismo que vigora no pais e ele como presidente deveria ter defendido, não concordo com as ideias dele nesta questão. Já disse o multicuralismo que vigora actualmente é tudo menos o que a palavra propria significa, é a desculpa para a criação de guetos para as minorias religiosas.
Quanto à historia das religioes, ela é exactamente isso e não confunda com teologia, já é leccionada em algumas faculdades em cursos na area de historia mas até poderia ser opcional no secundário ou fazer parte dos programas de historia, porque não? Não é isso que está em causa.
Uma coisa é estudar as religioes e como surgiram e desenvolveram e as sociedades que a criaram, outra coisa é estudar teologia em que se afirma que é sim e que é não porque sim e porque não e porque deus quis e deus quer, que esse mesmo deus é inalcancável como objecto de estudo e por isso se recorre às escrituras antigas, escritas por humanos num tempo determinado da historia e transportar e fazer cumprir esses ditames no presente, um pouco absurdo não?
"teologias, religioes, são etapas no desenvolvimento civilizacional e mental humano e o seu tempo já passou, agora é a ciencia"
Que o tempo da religião e da teologia não passou é óbvio: basta olhar para o mundo actual.
Substituir a religião pela ciência é algo que mostra que não tem a menor ideia do que é a religião.
Já lá vai o tempo da religião para explicar fenómenos naturais. Mas a ciência não tem qualquer capacidade de responder às questões filosóficas, morais e existenciais que a religião problematiza o a que dá resposta.
Armando e Quim
Fazem demasiadas afirmações com ar de segurança quando o que estão a dizer revela com frequência ignorância ou uma enorme falta de rigor.
Armando,
Correndo o risco de ser acusado de estar a fugir ao tema do post, julgo, no entanto, que estamos a aproximarmo-nos do fundamental, nesta questão entre a ciência e religião. É por se verificar que a religião católica está assente numa teologia quase infantil, limitada e parcial que não fornece respostas às questões mais profundas da humanidade, que é necessário um retorno às origens. E quando esse “retorno às origens” é feito, através, por exemplo, do estudo das fontes principais que influenciaram o surgimento do cristianismo ou do estudo comparado com outras religiões e filosofias, depois desse retorno dizia, encontramos o essencial.
A ciência, com a sua exigência de rigor, de compreensão, de verdade, de investigação constante, pode (como tem acontecido nos últimos séculos) ajudar as religiões a libertarem-se das camadas e camadas de mistificações interpostas por clérigos ignorantes e sedentos de dominação, expondo as muitas doutrinas completamente ilógicas que abundam na grande maioria das religiões. A ciência demonstra-nos principalmente que a Natureza é regida por leis. O crença cega está (ou deveria estar) afastado da Ciência como o deveria estar da Religião. Para quem investigue os grandes vultos da religião ou filosofias religiosas e místicas (Hermes, Buda, Cristo, Lao-Tsé, Confúcio, Shankaracharia, Platão, Pitágoras, Tales de Mileto, Heraclito, Jâmblico, Proclo, Origenes, etc.), constata que estes não apelam a qualquer fé cega, mas antes à compreensão e ao estabelecimento de uma ciência do espírito, estabelecida em rigorosos critérios. Apelam fundamentalmente ao conhecimento das Leis Universais que governam o Universo e a Vida. Neste sentido, ciência e religião são complementares, diferindo obviamente os objectos de estudo e a metodologia aplicada. Na ciência isto é visível na seguinte afirmação de Einstein: “"Chegamos assim a uma concepção de relação entre ciência e religião muito diferente da usual...Sustento que o sentimento religioso cósmico é a mais forte motivação da pesquisa científica."
Ora, Einstein, pelo que posso perceber, não acreditava em qualquer Deus pessoal, como o Armando disse. O que penso é que Einstein reverenciava a Divindade Abstracta no qual tudo se encontra, à boa maneira dos pitagóricos, gnósticos, neoplatónicos, budistas, vedantinos ou filósofos como Espinosa, Hegel, etc. (algo muito diferente do absurdo Criacionista) Dizia ele, "Todo o profundo pesquisador da natureza deve conceber uma espécie de sentimento religioso, pois não pode admitir que seja ele o primeiro a perceber os extraordinariamente belos conjuntos de seres que contempla. No universo, incompreensível como é, manifesta-se uma inteligência superior e ilimitada. A opinião corrente de que sou ateu baseia-se num grande equívoco. Quem a quisesse depreender das minhas teorias científicas, não teria compreendido o meu pensamento." Por isso afirma ele também algo pelo qual todos os místicos também se esforçaram: "Eu quero conhecer os pensamentos de Deus; o resto são detalhes." Não nos esqueçamos que, por exemplo, de acordo com os ensinamentos budistas, o Universo é Mental. Muitos teóricos da física quântica afirmam hoje o mesmo. Conhecer esse Pensamento é conhecer as Leis Universais.
Ao contrário do que diz o Armando, tenho boas razões (desde logo pelo exposto anteriormente) para pensar que os grandes vultos da ciência que se interessaram profundamente por filosofias místicas não as abandonaram, mas simplesmente optaram por desenvolver a Ciência, porque esta é fundamental para desenvolvimento do pensamento humano e porque a investigação mística era feita com a Ciência e não contra a Ciência (como muitos podem pensar).
Ora, para resumir, de que nos falam as diversas filosofias religiosas e místicas? Basicamente e grosso modo da existência de outros planos de substância/matéria/energia não percepcionados (ainda) pelos sentidos humanos e instrumentos científicos; a existência de outros estados de consciência; o homem como sendo mais do que o seu corpo físico (e que, por exemplo, a consciência não é um produto da actividade cerebral); a vida depois da morte; a reencarnação; a origem divina do homem; o porquê de aqui estarmos e o nosso fim, etc, etc.
Disto também se pode depreender a importância da religião e do seu diálogo com a ciência, porque como muito bem refere Ca “a ciência não tem qualquer capacidade de responder às questões filosóficas, morais e existenciais que a religião problematiza o a que dá resposta”.
A ciência ensina-nos sobre a realidade externa a religião (ou o pensamento místico) sobre as realidades internas.
Para finalizar, caro Ca: conto consigo para me ilucidar quaisquer pontos em que possa não estar a ser o mais rigoroso que posso e que a ocasião me permite. Sou todo ouvidos!
Quim
"veja-se, no caso do cristianismo, o silenciamento e as mentiras levantadas em torno dos chamados evangelhos apócrifos, contra os gnósticos primitivos, os essénios"
Quando é que foram escritos os evangelhos canónicos e os apócrifos?
E mais um texto de opinião, a ler:
Afinal, o Papa discursou
20.01.2008, Jorge Almeida Fernandes
O caso pode ser tratado como "cretinice" ou como manifestação do "espírito do tempo". Os editoriais da imprensa italiana de quarta-feira, de esquerda ou direita, trucidavam os 67 professores que pediram o cancelamento do convite a Bento XVI para falar na inauguração do ano lectivo da Universidade La Sapienza, de Roma. "Uma ideia doentia" (La Repubblica), "Venceu a intolerância" (Il Sole 24 Ore), "Derrota dos laicos" (La Stampa), "Derrota do país" (Corriere della Sera) ou "Em Roma o Papa não pode falar, na Turquia sim" (Il Giornale).
O filósofo Massimo Cacciari, presidente de Veneza, declarou que os 67 podem ser "óptimos professores de Física (...) e outras ciências excelentes. Mas deram prova de absoluta cretinice política." Acrescenta: "A presença do Papa no interior da Universidade é oportuníssima."
Quando, na terça-feira, Bento XVI cancelou a sua participação na cerimónia um professor exultou: "Vitória da autonomia" académica. Um estudante proclamou: "O papa retira-se com as suas divisões". No dia seguinte, perante a reacção da imprensa e de quase todos os quadrantes políticos, queixaram-se de "linchamento mediático".
O mundo político tem alguma responsabilidade. Afogados no lixo de Nápoles, na iminência de uma crise política e na véspera de uma decisão sobre a alteração da lei eleitoral, governo e oposição deixaram correr o marfim. Só depois de o Papa cancelar a ida à universidade, abrindo uma crise maior, é que o Governo Prodi acordou.
A génese do "incidente" merece ser resumida. Quem tomou a iniciativa foi um professor jubilado de La Sapienza, Marcello Cini, 84 anos, físico, ex-comunista dissidente, veterano do anticlericalismo. Os 67 professores (entre mais de 2000) são quase todos do seu antigo departamento. O protesto estudantil circunscreve-se a 300 militantes "antiglobalização" ou anarquistas (La Repubblica).
A carta dos 67 evoca um discurso do cardeal Ratzinger, em 1990, em que este - citando o filósofo da ciência Paul Feyerabend - teria tentado legitimar a condenação de Galileu. É uma falsificação do que ele disse. Ratzinger discutia o "novo clima intelectual", as incertezas da modernidade sobre si mesma e sobre a ciência, de que as contraditórias avaliações de Galileu eram um sintoma.
Os 67 foram, aliás, acusados de não terem sequer lido o discurso. Por exemplo, a citação de Feyerabend é incorrecta - diz-se que foi tirada da Wikipédia. Pouco interessa.
Interessante é a carta que Cini enviou ao reitor, publicada em Il Manifesto (14 de Novembro). Convidar o Papa para falar no 705º aniversário da Sapienza é "uma incrível violação da tradicional autonomia da universidade", pois uma lectio magistralis como ele fez em Ratisbona (Setembro de 2006) só deve ser feita em "instituições universitárias religiosas". O convite viola a "repartição de competências entre a Academia e a Igreja".
Cini denuncia a "bela coragem" de Bento XVI para apagar os crimes da cristandade. Mas o que verdadeiramente o enfurece é a persistente vontade do "ex-chefe do Santo Ofício" em discutir as relações entre fé e razão. "Mudou de estratégia. Não podendo já usar as fogueiras e as penas corporais [da Inquisição], aprendeu com Ulisses. Utilizou a Deusa Razão dos iluministas como Cavalo de Tróia para entrar na cidadela do conhecimento científico e pô-la em ordem."
O que aparentemente o perturba em Ratzinger é ele ser um intelectual.
A querela do laicismo pode ser lida em diferentes geografias.
A Turquia ilustra um paradoxo. A Constituição está a ser revista. Os supostos "islamistas" do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, querem abolir o ensino religioso nas escolas públicas. Os "laicistas" opõem-se. Aqueles querem suprimir a proibição do uso de lenço islâmico nos espaços públicos. Os outros denunciam isto como atentado à "laicidade". Para já, ninguém ousa tocar na Direcção dos Assuntos Religiosos, que controla o culto em todos os seus aspectos.
Ataturk instituiu, no fim dos anos 1920, um modelo de Estado laico inspirado no francês. O ensino obrigatório da religião (sunismo hanefita) é muito posterior: foi imposto pelos militares "laicistas", após o golpe de 1980. Tratava-se, na altura, de travar a expansão do marxismo... através do islão.
O AKP quer reformular a lei da separação, de forma a que o Estado deixe de controlar a religião e esta tenha livre expressão no espaço público. Este é o centro do debate, que revela não só duas concepções da relação entre Estado e religião mas também uma luta pelo poder, entre a velha elite kemalista e a nova "burguesia piedosa".
Nos "países católicos", designadamente nos latinos, domina uma dinâmica diferente. Há fortes tensões entre os governos, largos sectores da sociedade civil e as conferências episcopais, visíveis na Itália e, sobretudo, em Espanha. As recentes declarações de Sarkozy, atacando um laicismo radical que quer "cortar a França das suas raízes cristãs", anunciam novo foco de crispação.
É um puzzle. Por um lado, grande parte dos próprios católicos não se revê na Igreja em matéria de costumes. Por outro, a acelerada secularização da sociedade está a produzir um crescente relativismo moral. Em contrapartida, a religião ou o espiritual ganham terreno com o fim das grandes utopias, como o socialismo ou o progresso (Bruno Etienne).
É neste quadro que regressa à cena - inclusive em Portugal - "a religião laicista", o velho anticlericalismo ou a "catolicofobia" de que tem falado Vasco Pulido Valente.
É útil voltar atrás, ao debate de 2004 entre Ratzinger, então cardeal, e o filósofo alemão Jürgen Habermas, um "ateu metódico". Para este, o debate com a Igreja é incontornável na questão dos valores. O cristianismo, diz, é o fundamento último da liberdade, dos direitos humanos, da civilização ocidental: "Não dispomos de opções alternativas. Continuamos a alimentarmo-nos desta fonte. Tudo o resto é palavreado pós-moderno." Perante o rolo compressor da globalização, os Estados liberais devem salvaguardar "os seus recursos culturais e morais, dos quais a religião faz parte".
Habermas citou o filósofo político E.W. Bockenforde. "A Igreja não deve intervir directamente no domínio do Estado, na legislação ou nos poderes executivo e judicial. Mas é preciso lembrar que, previamente à ética de facto preconizada pelo Estado para os cidadãos, existe um ethos pré-político. O Estado secularizado deve submeter-se às normas que o precedem. (...) A Igreja tem o direito e o dever de se referir às normas fundamentais que decorrem da própria essência do ser humano."
Quase esquecia: afinal, o Papa "falou" em La Sapienza. O seu discurso foi lido por um professor, a encerrar a cerimónia, longamente aplaudido. Dizia que La Sapienza é uma universidade "laica", livre da "autoridade política e ecelesiástica".
O meu apreço pelo post do Quim. A disputa entre Ciência e Religião é artificial. É fruto de desconhecimento mútuo, e mais motivada pela emoção que pela razão. O conhecimento humano não é fraccionável. Tudo está interligado.
Nem de propósito, alguém que sabe escrever, ao contrário da minha pessoa, pronunciou-se sobre este caso.
Rui Ramos, no Público, em «Obrigado aos "sábios" de Roma», faz algumas pertinentes e equilibradas observações. O artigo está disponível em vários sites, mas não o vi integralmente trnscrito em nenhum.
N'A Grande Loja do Queijo Limiano" está quase completo; ver, sff http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2008/01/contra-o-jacobinismo-tolerncia.html
Contra o Jacobinismo, a Tolerância - é o nome do post.
Um excerto:
«O fundamentalismo laicista trata toda a convicção religiosa como o vestígio absurdo de uma idade arcaica, intolerável fora do espaço privado. Mas a fé não é fácil, não é uma opção primitiva nem simplesmente um preconceito. Ou antes: pode ser tudo isso, mas pode também corresponder à mais forte exigência intelectual e à disponibilidade para enfrentar profundamente as mais difíceis de todas as dúvidas. Exactamente, aliás, como o ateísmo: há quem o viva como um dogma beato, muito contente consigo próprio, ou quem o tenha adoptado como a forma mais conveniente de não pensar. Muitos são hoje ateus pelas mesmas razões por que teriam sido beatos no século XVII. E se mandam calar Bento XVI é porque, há quatro séculos, teriam mandado calar Galileu.»
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