segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Explosões alcalinas



Jābir ibn Hayyān ou Geber foi o alquimista que introduziu o termo ál-cali (alcalino) no léxico químico. Hoje em dia usamos esse termo também para designar os elementos do primeiro grupo da Tabela Periódica (com excepção do hidrogénio, claro). Os metais alcalinos, lítio, sódio, potássio, rubídio, césio e frâncio, apresentam apenas um electrão de valência muito fácil de remover. Os metais alcalinos são assim os elementos que apresentam as energias de ionização mais baixas, sendo facil e por vezes, como exemplificado, espectacularmente oxidáveis.

O frâncio é um elemento radioactivo muito instável, na realidade, tirando alguns transuranianos é o elemento mais instável que se conhece, com vida média de 21 minutos. Foi isolado pela primeira vez por Marguerite Perey no Instituto Curie em Paris que o detectara em 1939 nos produtos de decaimento radioactivo do actínio-227. Não é assim de estranhar que não o tenhamos visto nesta experiência. Aliás, a química do frâncio não é, pelas razões óbvias, muito conhecida, embora seja de prever que reaja pelo menos tão violentamente com água como os restantes membros do grupo.

O elemento mais leve dos metais alcalinos, o lítio com número atómico 3, era, até 10 de Agosto de 2006, o elemento mais intrigante para os físicos, ou mais concretamente, para os astrofísicos, não pelas suas propriedades químicas mas pelo facto de que existia uma «crise do lítio», ou seja, a quantidade de lítio medida nas estrelas mais antigas era entre duas a três vezes menor do que a prevista por modelos assentes no Big Bang.

Nessa data, foi publicado na Nature um artigo da equipa do astrónomo Andreas Korn, da Universidade de Uppsala, na Suécia, que atribuiu a discrepância a processos estelares ainda pouco conhecidos, que não tinham sido considerados nos cálculos anteriores, a difusão microscópica e a circulação pouco turbulenta de material. Como explicou Corinne Charbonnel, do Observatório de Genebra, Suíça, num artigo na mesma edição da Nature, entrando com estes parâmetros nos cálculos e «extrapolando para trás no tempo, o conteúdo inicial de lítio do aglomerado globular e das estrelas do halo podem ser inferidas, e o valor está de acordo com as previsões da nucleossíntese no Big Bang.»

O elemento que permite a explosão mais espectacular, o césio, é indissociável de dois grandes nomes da ciência do século XIX, Robert Bunsen (de fama ardente, pelo menos) e Gustav Kirchhoff, que embora um dos pais da espectroscopia é mais conhecido pelas leis que têm o seu nome.

A espectroscopia foi a base da descoberta do césio: duas magníficas e desconhecidas riscas espectrais de cor azul celeste (de onde deriva o nome do elemento, do latim caesius, azul celeste) detectadas em 1860 pelos dois cientistas em água mineral de Durkheim na Alemanha. O césio, como os restantes metais alcalinos, devido à sua reactividade química não aparece na natureza na forma metálica mas sim em minerais como a lepidolite e a polucite, que deve o nome ao mítico Pollux que com o seu irmão Castor foi eternizado na constelação Gémeos.

Embora para mim seja mais fascinante o que os elementos do grupo I da Tabela Periódica invocam, como estas pequenas histórias, o vídeo reproduzido ajuda a perceber porque razão os meus alunos me pedem sempre algo semelhante quando falo em metais alcalinos!

4 comentários:

paulu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
paulu disse...

Não me posso esquecer deste truque para animar os programas de formação: uma garrafinha de água e umas raspas de um metal alcalino...

Gostei muito do post (e o video está impagável).

perspectiva disse...

Palmira cita:

«extrapolando para trás no tempo, o conteúdo inicial de lítio do aglomerado globular e das estrelas do halo podem ser inferidas, e o valor está de acordo com as previsões da nucleossíntese no Big Bang.»

Esta citação tem alguns problemas:

1) a ideia de que podemos extrapolar para um hipotético passado (não observado por ninguém) é uma premissa indemonstrável;

2) o Big Bang baseia-se na premissa indemonstrada de que o Universo não tem centro nem bordo exterior: se a premissa estiver errada (como observações recentes sugerem), e uma vez que o tempo não é constante (antes é travado por forças gravitacionais), isso pode distorcer significativamente as conclusões que extraímos dessas extrapolações;

3) se extrapolarmos para trás no tempo temos que concluir que no passado existia mais ordem e complexidade do que existe agora;

4) se extrapolarmos para trás no tempo temos que concluir que o Universo teve um princípio e, por isso, uma causa;

5) se extrapolarmos para trás no tempo temos que concluir que essa causa não pode ter sido o próprio Universo e teve que introduzir energia e ordem no Universo;

6) o facto de valor estar em sintonia com o Big Bang não prova a verdade do Big Bang, na medida em que o mesmo pode ser compatível com outros modelos;

6) o Big Bang não explica a origem das estrelas e das galáxias, nem a sua distribuição;

7) Ironicamente, se há alguma coisa que o Big Bang não explica é a própria origem do Universo. O mesmo limita-se a ser uma extrapolação especulativa acerca do que aconteceu depois da suposta grande explosão.

8) A radiação cósmica de fundo, tantas vezes apresentada como evidência do Big Bang, é compatível com outros modelos, incluindo modelos criacionistas, para além de ser muito mais uniforme do que o previsto pelo modelo do Big Bang.

9) Na última década, os astrónomos descobrirem centenas de planetas orbitando outras estrelas. Em boa parte trata-se de planetas grandes, do tamanho do planeta Júpiter, orbitando muito próximos das respectivas estrelas, exactamente o contrário do que o previsto pelos modelos inspirados no Big Bang.


Tanto basta para se dizer que se a Palmira Silva pensa que esta citação pode ser utilizada para fazer passar, subliminarmente, a bondade do modelo Big Bang, a mesma só pode estar a inventar.

Já faz lembrar o que disse o físico e prémio Nobel Leom Ledermann, no seu livro The God Particle, quando se referia às especulações e devaneios sobre o Big Bang e a origem do Universo na literatura científica:

“When you read or hear anything about the birth of the universe, someone is making it up.”

Unknown disse...

BLÁ BLÁ BLÁ BLÁ BLÁ BLÁ BLÁ e deus criou o universo e BLÁ BLÁ BLÁ BLÁ e ides todos para o inferno e BLÁ BLÁ BLÁ BLÁ BLÁ ......


(desculpem mas não resisti,podem apagar este post

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