Isaltina Martins e Maria Helena Damião
“Os professores não podem dar erros de ortografia”. A declaração é da presidente da Asociación de Mestres Rosa Sensat e foi usada como título de um artigo publicado, no passado dia 9 de Julho, no jornal El País, assinado por Ivanna Vallespín
O PROBLEMA
O artigo é baseado em recentes estudos internacionais de avaliação que, consistentemente, indicam um decréscimo dos resultados académicos dos alunos, sobretudo em matemática e na compreensão leitora. Mas baseia-se também em depoimentos de especialistas que indicam um decréscimo do hábito de leitura entre os professores e problemas na sua expressão oral e escrita.
Um deles – Francesc Imbernon, catedrático de Didáctica na Universidade de Barcelona com 46 anos de trabalho – diz que, tanto ele como os seus colegas notam uma descida no nível de escrita e de expressão oral dos estudantes que irão ser professores: custa-lhes ler e entregam trabalhos cheios de erros.
Outro – Enric Prats, professor de Pedagogia na mesma universidade – diz: “entregar um trabalho ortograficamente impecável não é requisito para se ser aprovado. Isso não me parece bem. Estamos a ser muito permissivos na escrita, na leitura e em conceitos culturais básicos”.
RAZÕES DO PROBLEMA
O problema terá várias causas e elas serão complexas, entre elas estarão as seguintes:1. Deterioração geral dos cursos que preparam os professores. Alguns, diz a citada presidente, Mar Hurtado, conferem certificados com grande celeridade. A sua qualidade é duvidosa mas revertem em aumentos salariais e vantagens nos concursos.2. Outra, indicada por Enric Prats, é de origem social. A língua deixou de ser objecto de cuidado, o que tem repercussões ao longo da escolaridade. Além disso, as competências linguísticas foram secundarizadas em relação a outras como a atenção à diversidade.3. Um terceira, referida pelo mesmo autor, situa-se na mudança de funcionamento das aulas. Agregando alunos com vários tipos de necessidades faz com que o professor dê o apoio mais urgente a todos sem se poder corrigir falhas concretas de cada um.4. Uma causa muito polémica: são os alunos mais fracos do sistema que optam pelo ensino, como profissão.5. E outra, não menos polémica, indicada por Imbernon, é que as provas de ingresso nos cursos de formação de professores são muito elementares.
O QUE FAZER?
1. Hurtado afirma ser preciso fazer uma avaliação séria, exigente das práticas docentes.2. Prestigiar a profissão e melhorar as condições laborais para atrair as pessoas com talento.3. Investir na formação inicial de professores mas não descuidar a formação contínua.4. Prestar especial atenção à didáctica, afirma Imbernon, ao como ensinar. E, nesta linha, aproximar escolas e universidades, ligar a investigação sobre a prática docente à reflexão sobre a mesma.5. E não esquecer, continua Imbernon, de prestar atenção às condições de trabalho dos formadores.
1 comentário:
O professorado mais numeroso e bem preparado de sempre, em Portugal, essa enorme força laboral que, em países mais desenvolvidos, seria mais bem empregada a fazer torradeiras elétricas, televisões, ou frigoríficos, por exemplo, está, neste primeiro quartel do século XXI, manifestamente desnorteada e praticamente proibida de ensinar pela tutela. Aquele incentivo, do poeta António Gedeão, de aparelharmos a barca, soltarmos o pano e rumarmos à estrela polar, já não faz sentido para a maioria dos professores e educadores de infância, incluindo as chefias. Caímos num estado de inércia, do qual só poderemos sair se fizermos força, tal como nos ensinaram Galileu e Newton. Lá está, antigamente acreditava-se na força do ensino - agora, é praticamente proibido!
Voltarmos ao ensino de exigência e rigor, com exames nacionais devidamente valorizados, com mais de 75 % na nota final, e escolaridade obrigatória até aos 16 anos, seriam os primeiros passos para acabar com o ensino, para inglês ver, por domínios, rubricas e "descritores".
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