sábado, 28 de janeiro de 2023

Volta, ainda que sejas perseguido

Volta, ainda que sejas perseguido,
Como uma praga, algo que se execra.
Chora sobre a mesa, sobe a fraga.
Desce sob as lágrimas do plátano.
Empurra a porta de casa até ao rio
E deixa entrar no quarto e em ti o vento.
Esquece a dor de entregar um livro.
Nenhuma mão jamais te exaspera.
Intangível é o coração quando deflagra.
Volta, ainda que sejas perseguido.
Ainda que o livro esteja reduzido a pó
E seja a magia que te mirra sem fim.
Volta, ainda que os burgueses de merda
Digam que tens um só casaco e puído.
O livro que arranje a vidinha a todos.
Sonha, um dia acordarás como um pássaro,
Revoluteando ao redor do plátano,
E as margens conhecer-te-ão melhor.
Reconhecer-te-ão a palavra
E a tua longa partida fará então sentido.
Esquece a dor de entregar um livro.
Um sol novo nasce longe da barbárie.

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