segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O que é ChatGPT e por que a sua utilização tem preocupado as escolas

Por Adriana Costa
(A convite do De Rerum Natura)

O ChatGPT é o mais recente sistema de chat gratuito, criado pela empresa norte americana OpenAI baseado em inteligência artificial. Lançado há pouco mais de dois meses, essa ferramenta tem preocupado a comunidade escolar e levantado uma série de discussões sobre a utilização desse tipo de tecnologia na educação.

O facto é, que o ChatGPT possibilita ao usuário a partir de uma simples solicitação, a redação de textos, planificações de atividades, resolução de problemas, criação roteiros, artigos e composições sobre os mais diversos conteúdos, e ainda respostas para variadas questões, em qualquer idioma e totalmente inéditos. 

Para exemplificar do que estamos a falar: se hipoteticamente um aluno desejar pesquisar sobre o século de Péricles no período da Grécia Antiga, o ChatGPT apresentar-lhe-á, em poucos segundos, um completo e inédito texto referente a temática solicitada. Se for professor, e deseja tirar proveito da ferramenta, poderá solicitar ao ChatGPT que apresente ideias de como estruturar uma aula sobre a temática em causa.

Esta facilidade disponibilizada nas redes em tão curto tempo, somada à celeridade com que penetra no tecido social, tem provocado debates importantes sobre como aprender e ensinar em tempos de Chatbots. 

Os mais “céticos”, preveem o reducionismo dos processos pedagógicos e os “inovadores” creem na mudança do fazer pedagógico a partir de tão esplendorosa ferramenta. 

O ineditismo do ChatGPT e a falta de elementos que assegurem uma avaliação criteriosa por parte dos professores, tem despertado uma certa desconfiança na comunidade escolar, o que, seguramente, irá manter o tema em evidência por algum tempo, até de facto, podermos avaliar com algum grau de criticidade, rigor e ética a sua utilização nas salas de aula. 

Recentemente, o Estado de Nova York restringiu o seu acesso em dispositivos e redes internas escolares como forma de coibir os alunos de recorrerem à ferramenta nas atividades escolares. Outros Estados norte americanos tencionam adotar a mesma determinação. A medida tem sido criticada por alguns professores que veem na proibição um elemento sedutor para os jovens, e também uma forma equivocada de resolver a situação, visto que o seu acesso em casa não será coibido. 

É certo que as tecnologias trazem desafios aos educadores; a necessidade de preparar os alunos para esse mundo que, certamente, não existirá sem elas, é condição que não se tem volta a dar. 

Aqui em Portugal, há vozes para o uso pedagógico de Chatbots, mas, sem ainda apresentarem, de forma concreta, como isso poderia ocorrer no contexto escolar sem prejuízos para aprendizagem. 

A verdade é que a nova ferramenta desenterra velhos debates sobre as potencialidades e limitações das tecnologias nas salas de aula e na formação dos docentes. Mas também, nos propõe uma reflexão sobre princípios éticos que a escola, como entidade educativa que é, precisa assegurar.

Adriana Costa
Doutorada em Ciências da Educação

5 comentários:

Anónimo disse...

Se o chat funciona realmente como refere Adriana Costa, então as escolas-grandes-armazéns EB 2, 3 + S de Portugal, que ainda existem porque se faz de conta que lá ainda se ensina alguma coisa, têm os dias contados. Se se trata apenas de tomar conta de crianças e jovens, não serão necessários professores com formações académicas anacrónicas, mas somente muitos computadores e alguns, poucos, coachers e animadores sociais.
PS: por favor, procedam às seguintes correções:
Onde se lê:
- "Lançado a pouco mais de dois meses", deve ler-se "Lançado há pouco mais de dois meses";
- "como forma de coibir os alunos de recorrem à ferramenta", deve ler-se "como forma de coibir os alunos de recorrerem à ferramenta".
- "nos propõe que refletamos sobre as questões ética", deve ler-se "nos propõe que reflitamos sobre as questões éticas".

Helena Damião disse...

Caro Leitor, muito obrigada pela proposta de correcções. Outras que veja, diga-nos, por favor. Relativamente à questão que coloca. Saberemos, conseguiremos, como professores, como educadores, manter a educação como acção humana? Há aqui um perigo mas também há um desafio. Cumprimentos, MHDamiao

Cientista Preocupado disse...

O maior problema é que o ChatGPT aprende com material que existe escrito, e existem muitos disparates escritos, já para não falar de ficção. Para além disso combina e recombina pedaços de texto muito diferentes, por vezes sem contexto. O resultado é que os textos gerados são hilariantes. Sob aparência de texto bem construídos e credíveis os factos e informações neles contidos muitas vezes são ficções e disparates monumentais. Para além disso, se pedirmos para citar fontes, ele "gera" as citações, ficcionando autores que existem para artigos que não existem, criando DOIs que não vão dar a lado algum, ou vão dar a artigos diferentes, etc... Ou seja, neste momento os textos gerados pelo Chat GPT são perigosíssimos porque na realidade, para alguns factos certos e aparentemente com sentido, misturam-se outros que são pura ficção e realismo mágico. E, portanto, não podem ser levados a sério. Aconselho algumas leituras extra sobre o tema, com experiências levadas a cabo por professores que tentaram utilizar a ferramenta: 1. https://twitter.com/paniterka_ch/status/1599893718214901760

2. https://mashable.com/article/chatgpt-amazing-wrong

Helena Damião disse...

Caro Leitor, muito obrigada pelo seu comentário e referências de relevo. Penso que a questão está mesmo no que diz: "sob aparência de texto bem construídos e credíveis os factos e informações neles contidos muitas vezes são ficções e disparates monumentais". Acontece que na área da Educação (e, presumo que não só) encontramos textos escritos por pessoas (muitas delas sem qualquer preparação, outras com interesses particulares, etc.) que podem ser descritos desta maneira, pelo que importa redobrar o escrutínio da informação que circula (o que só pode acontecer com base em conhecimento) e robustecer o pensamento crítico. Cumprimentos, MHDamião

antónio disse...

Necessito, por favor, do endereço de mail para poder colocar uma questão. Muito obrigado.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...