sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Quatro sugestões de leitura a quem toma medidas para a educação

A quem com responsabilidade na educação escolar, seja a nível internacional, nacional ou local, declara e toma medidas que contribuem para
substituir os professores por toda uma panóplia de ferramentas digitais ou lhes atribui a tarefa de as gerir e complementar,
negar ou desvalorizar a sua função de ensino em prol da de tutor, mentor, inspirador, coach... 
descuidar a sua formação, a qual não pode ser menos do que exemplar e se associa, necessariamente, a uma selecção séria para entrada na profissão, 
desvalorizar o seu trabalho, permitindo, até, que quem não é professor o realize...
recomendo, vivamente, que leia o que faz questionar a "cartilha" vigente, o que decorrer de um pensamento honesto; o que estiver baseado em argumentos racionais, o que trouxer ideias razoáveis, o que incomodar... Leia e pondere, claro!

Deixo quatro sugestões de obras fáceis de encontrar, esperando que as frases que delas seleccionei sejam suficientemente apelativas à abertura das suas páginas.
“Em 1848, Charles Dickens escrevia «Por vezes ouvimos falar de um processo de danos contra o médico incompetente que deformou um membro partido em vez de o tratar. Mas o que dizer das centenas de milhares de espíritos que foram deformados para sempre pelos inaptos insignificantes que pretendiam formá-los." 
Thomas De Koninck, filósofo e professor. 
In A nova ignorância, Lisboa: Edições 70, 2003, 11. 

“Devo dizer que acho não só justificável como ainda e, principalmente, necessária e honesta a severidade em qualquer exame para professor. Para se salvar um homem podem-se perder mil (…) entregam-se centenas de crianças a um incompetente. Temos, portanto, de exigir do júri que critique, que diga tudo o que entende que deve ser dito."
Sebastião da Gama, professor e poeta.
In Diário, Lisboa: Ática, 1958/1993, 95-96.

“A educação é uma moldagem do homem pelo homem, uma contribuição da substância. Se abandonarmos uma criança, é possível, se ela encontrar um meio natural onde se possa alimentar, que o seu corpo se desenvolva, mas o crescimento orgânico não é acompanhado por um crescimento mental.”
George Gusdorf, filósofo e professor.
In Professores para quê?. Lisboa: Morais Editora, 1963/1967, 38.

“Ensinar com seriedade é lidar com o que existe de mais vital num ser humano. É procurar acesso ao âmago da integridade de uma criança ou de um adulto. Um Mestre invade e pode devastar de modo a purificar e a reconstruir. O mau ensino (...) arranca a esperança pela raiz. O mau ensino é, quase, literalmente, criminoso e, metaforicamente, um pecado. Diminui o aluno, reduz a uma inanidade cinzenta a matéria apresentada (…) [são raros os professores que têm consciência do que está em jogo quando ensinam], a maioria daqueles (…) a quem pedimos orientação e exemplo na academia, pouco mais são que “amigáveis coveiros.” 
George Steiner, crítico literário e professor.
In As lições dos mestres, Lisboa: Gradiva, 2011, 25.

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