A epígrafe acima, da autoria do grande dramaturgo irlandês, George Bernard Shaw, diz uma verdade universalmente reconhecida, mas é uma verdade incompleta, porque o não saber muito de coisa nenhuma e ter um saber ridiculamente residual de uma infinidade de coisas aponta não só para uma carreira política, mas, também, para uma bem sucedida carreira de sociólogo.
Lembro-me de vários sociólogos de língua portuguesa – António Barreto, Maria Filomena Mónica, Boaventura Sousa Santos, entre outros, menos famosos – que se dão ares de grande autoridade, a propinarem, desde assuntos de lingerie, até temas mais transcendentes como teologia ou Física Quântica.
Estou a fazer caricatura, mas esta não anda longe da verdade. Um deles teve até uma muito vendida obrinha sobre filosofia da ciência, que foi eloquentemente demolida pelo Professor de Física, António Manuel Baptista. Pôde, no entanto, consolar-se, por ter tido a defendê-lo o grande especialista, nessa área, Eduardo Prado Coelho...
Seja como for, o arco de saber, que lhes dá fama e dinheiro, não conhece limites. A nada do que o homem criou, são alheios. E, sobretudo, opinam com uma enorme e invejável assertividade. Aliás, nunca opinam: afirmam, como foi agora o caso de António Barreto, num notório artigo sobre educação, publicado no Público, de sábado, dia 13 (Agosto), e admiravelmente escrutinado, no mesmo diário, no dia 18, quinta feira, pelo professor do ensino secundário, Francisco Teixeira.
Com a assertividade pomposa dos ignorantes atrevidos, Barreto faz propostas que constituem algumas das maiores enormidades que até agora se escreveram sobre o tópico da educação, propondo-se despi-la de valores essenciais, retirando-lhe, anacronicamente, cadeiras nucleares (as artes e as letras deveriam, segundo este sábio, ser ensinadas “fora das horas de aulas”!
A proposta de se retirar da escola o ensino do que seja a democracia, aproxima Barreto dos teóricos mais abalizados do partido de Ventura. Grandes chefes de empresa chegaram à conclusão de que o que faltava aos seus engenheiros, para subirem pelo organograma acima, era uma dose bem necessária de cultura geral.
O grande engenheiro electrotécnico, que foi o Professor José Ferreira Dias, era um homem de grande cultura humanística, como era Robert Oppenheimer, o coordenador e gestor de Los Alamos, como era Albert Einstein. Como foram os Professores Mira Fernandes, grande matemático português, ou António da Silveira, Professor de Física teórica, do Instituto Superior Técnico. O meu amigo José Tiago Oliveira, grande Matemático português, tinha uma fenomenal cultura humanística, como a teve um Bento Jesus Caraça.
Mas Barreto descobriu agora uma velha pólvora, destruída pelo tempo e pela humidade… A incapacidade de pôr em dúvida as suas tenebrosas “hipóteses” podem levá-lo aos mais clamorosos dislates.
Duvidar é o ingrediente essencial do pensar. “Duvidemos mesmo da própria dúvida”, aconselhava o sage Anatole France. E acho que Sacha Guitry ia mais longe, ao propor, ironicamente: “Dê-se a Deus o benefício da dúvida”. Há pouco tempo, abonando-me de uma famosa peça de Ionesco, escrevi e publiquei um texto intitulado “A Filologia leva ao crime”.
Posso agora dizer que a Sociologia, às vezes, também. Tende a ignorar a farpa do velho Voltaire quando observava que a dúvida era um estado muito desagradável, mas que, em compensação, a certeza era ridícula. Os nossos sociólogos estão cheios de certezas e, por isso, fazem as figuras que fazem.
Eugénio Lisboa
Sem comentários:
Enviar um comentário