domingo, 28 de agosto de 2022

Está em marcha a reconfiguração do sistema de formação de professores

 Por Cátia Delgado

Está em marcha a reconfiguração do sistema de formação de professores, sub-repticiamente, uma medida atrás da outra, para não criar grande alarde nem ferir suscetibilidades. Sem termos noção do todo, vamos vendo as peças encaixarem-se, procurando perceber o que será o novo sistema.

Na passada sexta-feira, o Jornal de Notícias avançou que o Ministro da Educação “vai criar um programa de acompanhamento, com enfoque na componente pedagógica, para os professores com habilitações próprias que estejam a dar aulas no próximo ano letivo”.


Esclarecia a notícia que o referido “programa” não substituirá o mestrado, como conferente da profissionalização docente. Ou seja, este mestrado mantém-se, mas a par da profissionalização em serviço. Estando um tal programa em marcha, haverá para desvendar. 

Ao que se pode constatar, a profissionalização em serviço já está prevista no plano de estudos do Instituto Piaget, em Viseu, através do Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares (ISEIT/Viseu), em articulação com a DGAE (Direção-Geral da Administração Escolar), para o próximo ano letivo, em regime 100% e-learning. 

Este “Curso de Profissionalização em Serviço”, apresenta-se com o objetivo enunciado de “contribuir para a qualificação profissional na docência” e, assim, “formar professores capazes de educar”, bem como “cooperar para as necessidades do sistema, em número e qualificação dos professores”. 

Pelo anúncio, de que será ministrado no ano escolar de 2022/2023 (unicamente?), podíamos entender esta iniciativa como sendo, de facto, uma tentativa de mitigação da falta de professores e não como uma ameaça a outro tipo de profissionalização, como os mestrados em ensino. No entanto, há um requisito que rapidamente nos transporta para realidades anteriores de profissionalização em serviço: os candidatos terão que reunir 5 anos completos de serviço para ingressar no curso. 

Ora, se há um despacho a ser preparado que faculta habilitação própria a licenciados (pré e pós-Bolonha), tendo em vista o alargamento da possibilidade de “dar aulas” a pessoas sem experiência (nem formação pedagógica e com o mínimo dos mínimos de formação científica), que candidatos reunirão as condições para este novo Curso, a não ser os que ingressem agora no sistema e, daqui a 5 anos, possam profissionalizar-se por esta via?

1 comentário:

Anónimo disse...

Há mais de trinta anos que a desconfiança é o mote das ordens abertas, ou veladas, que o ministério da educação vem passando para os professores através da mais variada documentação legal. Esse ditar de regras, de aceitação obrigatória, aponta sempre no mesmo sentido: é preciso passar os alunos todos, quer eles aprendam muito, pouco, ou nada, para alcançarmos os níveis dos países mais avançados do mundo no que concerne à percentagem da população habilitada com ensino secundário e superior, bem como à qualidade desse ensino ministrado nas escolas secundárias, institutos politécnicos e universidades.
Existe a convicção de que quanto mais exigente for a formação dos professores em pedagogia, mais dóceis eles serão na aceitação, e “compreensão”, de orientações estúpidas. Quem ainda está a emperrar o sistema, são os professores da velha guarda, com formação científica de nível universitário, que recusam fazer parte de uma escola que serve para tudo, menos para ensinar!
Depois desta breve introdução, deixo para os leitores a reflexão sobre a importância de um despacho, sobre as habilitações para a docência, da responsabilidade de quem menospreza, objetivamente, a quantidade e qualidade das matérias que deveriam ser ensinadas nas escolas.

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