Meu artigo de opinião publicado hoje no "Diário as Beiras":
“Morre o bicho,
acaba-se a peçonha” (provérbio popular).
Li no “Público” (12/05/2018), em chamada de 1.ª página,
que o “Ex-presidente fez nomeações depois de sair da ADSE”.
Na respectiva página 23, está impresso: “O conselho
directivo da ADSE, cujo presidente Carlos Liberato Baptista está demissionário,
aprovou na quinta-feira a nomeação de 16 dirigentes dos novos departamentos e
divisões do instituto que gere o sistema de assistência na doença da doença da
função pública”.
Felizmente, porque ainda há gente neste Portugal, como diria
Camilo, sem curvar a cerviz a vizires, não
cedendo a artifícios legais, quais piruetas que tentam justificar o
injustificável, transcrevo dessa mesma
notícia: “A chamada de atenção para as nomeações de dirigentes intermédios por
parte do presidente demissionário partiu da Associação 30 de Julho (criada por
um grupo de benificiários da ADSE), considerando que elas ‘visam
condicionar’ a acção do futuro
presidente”. Isto é, em contradita com o provérbio popular, em epígrafe, porque nem sempre que um dirigente se demite
acaba a sua peçonha.
Acresce o facto do presidente demissionário da ADSE não pode
ser tido como simples menino de coro por uma auditoria do Tribunal de Contas ter
noticiado que o Governo está a financiar
o Orçamento de Estado à custa da ADSE por os funcionários públicos estarem a
pagar mais 228 milhões do que seria necessário (“Expresso”,
17/07/2015), contrastando esta situação
com a notícia publicada, três anos passados: “ADSE gastou mais 40 euros por
beneficiário em 2017. Despesa com cuidados de saúde disparam e ameaçam contas do sistema” (“Público”, 10/05/2018).
Será que a culpa dos responsáveis por este “statu quo” morre solteira?
Entretanto, não posso deixar de estranhar o silêncio do
Bloco de Esquerda, do Partido Comunista e dos Verdes (penitencio-me se me
demonstrarem que estou a ser injusto!)
por uma medida do Partido Socialista de desprezo pela velhice que
mereceu de Arnaldo Gama o queixume: “ Para isto é que eu vivi! Malditos anos!
Maldita velhice!” Essa medida, enviou
familiares de beneficiários da ADSE para uma espécie de antecâmara da
morte: um Serviço Nacional de Saúde, a rebentar pelas costuras, que não podia,
e muito menos devia, ser sobrecarregado com a chegada de novos “clientes”, até
recentemente, beneficiando dos serviços da ADSE.
Muitos deles, no ocaso da vida, padecendo de doenças inerentes à sua idade que os obriga a ficarem para
sempre amarrados a uma cadeira de rodas, sem ‘lobbies’ ou escritórios de advogados que
os represente (Bagão Félix) e, essencialmente,
sem o traquejo de doentes que têm sido assistidos a vida toda pelo Serviço Nacional de Saúde, “et pour
cause”, com o hábito enraizado de se
desenrascarem (passe o plebeísmo de caserna!).
Doentes, chutados de supetão da ADSE, normalmente, sem terem familiares que os
possam acompanhar às consultas hospitalares, por se
encontrarem em horas de serviço, são
coagidos a aceitarem o facto de serem tidos como trapos velhos de que umas tantas
crianças de antigamente faziam bolas de
futebol de rua por as magras bolsas de seus pais não lhes permitirem a compra
de bolas de couro.
Séculos atrás, interrogava Eça: “Pode exigir-se que haja um Dante em cada
paróquia e exigir que os Voltaires nasçam com a profusão dos tortulhos?” Claro
que não! Mas deve-se exigir, isso sim!, que os cidadãos, com responsabilidades na
direcção da “res publica”, não tenham falta
de competência que deslustre e, muito
menos, ausência de ética que
desonre!
2 comentários:
Que os cidadãos com responsabilidades na direcção da "rés pública" sintam um dia a ardência de um azorrague com tantas cordas quantos os males que, conscientemente, infligiram.
Para não deixar adormecer o sono dos injustos, encontro-me a preparar uma resposta a este comentário sobre um assunto que tem merecido um silêncio cúmplice dos partidos políticos, e salvo, alguma honrosas excepções, de cidadãos a que esta temática não atinge directamente.
Ressalvo, saudando-a, uma "Petição Pública", posta a correr meses atrás, sem ter colhido eco que a levasse a ser discutida na Assembleia da República de um País em que se discute acaloradamente a "morte assistida" sem merecer uma acção concertada contra a "morte desassistida" da velhice que foi enviada, de supetão pela ADSE, para um Serviço Nacional de Saúde pese embora o brio profissional de mádicos e enfermeiros que o sustentam amparado por arames.
Bem eu sei que a ADSE, vitimada por contas de merceeiro que se preocuparam em obter receitas de novos associados sem se preocuparem com as despesas inerentes caminha, a passos largos, para o descalabro, em que, em versos de Álvaro de Campos, "toda a realidade é um excesso/uma alucinação/extraordinariamente nítida".
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