O respectivo conteúdo, calou fundo na minha gratidão pela sua manifesta solidariedade humana que me levou a não sentir a falar no deserto do mutismo do próprio governo e gestores responsáveis por discutíveis medidas tomadas pela ADSE pagas com o suor dos nossos impostos. Ou obtenho respostas oficiais que me remetem para a leitura de legislação que suporta esta falta de caridade para com os velhos, doentes e deficientes deste país à beira-mar de um mar salgado, em que muito do seu sal são lágrimas de Portugal (Pedro Homem de Melo).
Apoquenta-me (seja-me desculpado o calão, chateia-me mesmo!) que os ilustríssimos letrados dos respectivos órgãos directivos me tenham por ignorante (ou mesmo burro que nem uma porta) incapacitado de interpretar simples articulados legais que me enviam como desculpas esfarrapadas. Logo eu!, habilitado com o exigente exame da antiga 4.ª classe do ensino primário, obrigado a engolir, na idade adulta, a xaropada do óleo de rícino da minha juventude através de legislação semelhante à que o falecido António de Almeida Santos, presidente da Assembleia da República, ministro de vários governos, legislador com crédito firmado e prosa elogiada, criticou:”A redacção de grande parte das leis, depois de 25 de Abril, chumbariam no antigo exame da 4.ª classe!”
Este o cerne da questão que o demissionário presidente da ADSE, Carlos Liberato Baptista, com um curriculo académico de me fazer corar de vergonha quando confrontado com o meu modesto percurso de vida profissional, pelos vistos, não entendeu ou não quis entender (como sentencia a sabedoria popular, “o pior cego é aquele que não quer ver”!). Sejamos claros de uma vez por todas: conheço de ginjeira a existência dessa legislação que serve de argumento irredutível aos próceres da ADSE para que tudo continue na mesma na pachorra de um povo preocupado em sobreviver o seu dia-a-dia com os olhos postos em ordenados que, por vezes, mal chegam para as despesas mensais. Ou seja, mesmo aceitando a validade dessa legislação, renego em tê-la como vaca intocável, idolatrada pelos hindús, arredando os políticos dos verdadeiros problemas de um povo “que lava nos rios e talha com os seus machados as tábuas do seu caixão” ( Pedro Homem de Melo).
Sendo mais explícito, numa altura em que certas medidas são alteradas, sem rei nem roque, pela ADSE como no “Jogo do Rapa” (tira, põe, deixa e rapa!), tirando a uns para dar a outros, não seria altura de rever uma legislação dormindo, desde 1983, o sono dos (in)justos, quiçá pelo impacto negativo que poderia ter em termos eleitorais, despertada, agora, pela euforia eleitoral do Partido Socialista, ainda que em perda de gás, segundo recentes sondagens?!
Inconformado, desde sempre, com injustiças como, por exemplo, a censura interna de órgãos de informação, de antes de 25 de Abril, que brandia o alfange para cortar as cabeças dos coronéis/ censores do Estado Novo (“vendo o argueiro no olho do vizinho e não vendo a trave no seu”) , sofri na carne essa forma de censura por parte de um revista de Lourenço Marques que não publicava (ou deturpava!) as respostas a ataques por si diferidos, destituídos de qualquer razoabilidade, a um meu artigo publicado num jornal diário local. Por esse facto, obriguei-me a publicar a expensas minhas um livro/resposta, titulado “Sem contemporizar”, em que numa das suas páginas iniciais citava Raul Proença (“Seara Nova”, 1928): “Chama-se liberdade de imprensa o direito exclusivo que têm certos potentados ou certos malfeitores, graças à sua fortuna ou às suas chantagens de influir na opinião do país. O problema não está, evidentemente, em impedir a liberdade desses homens, mas em pôr a imprensa ao alcance de todos, de manira que os argentários não continuem a possuir o monopólio da opinião”.
Este livro teve o prefácio de um grande amigo da antiga Lourenço Marques, já falecido, Augusto Cabral, após a independência de Moçambique, director do “Museu Álvaro de Castro” de Maputo. Em transcrição parcial, escreveu ele: “Não é de admirar que tenha defendido, desde que o conheço, a sua posição em particular e da sua classe em geral. Defesa em que tem sido intransigente, mesmo quando fica sozinho e luta até ao último alento: até quando lhe falta o apoio daqueles que se sobre estes assuntos se deveriam pronunciar, e o não fazem, limitando-se a colher os benefícios, quando os há, da luta sem quartel que ele tem travado”.
Saúdo a democratização trazida pela Net, embora criticando o exagero actual de prosas virulentas em desbragados ataques pessoais, porque, como escreveu António Sérgio, “contestar a ideia de um certo homem, ou defendida por um certo homem, não é insultar esse mesmo homem: sabe-se isto no mundo inteiro e só se desconhece neste país”, por ter dado armas pessoais de defesa a todo aquele que amordaçado por uma certa imprensa ditatorial, publicam textos que, por vezes, atentam contra a moral pública ou os bons costumes. Isto sem entrar em polémica sobre o que é (ou deve ser) a moral pública e os bons costumes que, sei-o bem, vão mudando com as épocas e conceitos evolutivos das sociedades em que se inserem!
Mas como nos ensina a vox populi, “burro velho não aprende línguas” “e, muito menos, deverá mudar de opinião qual catavento. Assim, estarei sempre na 1.ª linha de combate contra expulsão de antigos familiares de beneficiários da ADSE, quer tenham descontado ou não doze anos para a Segurança Social, tratando, igualmente situações diferentes. Aliás, princípio contestado por um antigo director da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Rui Alarcão, que passo a citar: “O principio da igualdade, que está na Constituição, significa que o que é igual dever ser tratado igualmente e o que é desigual deve ser tratado desigualmente”. Ou, como escreveu Baudelaire, “apenas é igual a outro quem prova sê-lo”! Além disso, neste caso, prevaleceu a retroactividade da lei, princípio que não merece consenso entre os próprios juristas.
Fiel, portanto, a um princípio, que me tem orientado numa luta estrénua contra todas as formas de injustiça, um meu post aqui publicado, e saído anteriormente no “Diário as Beiras” tinha o título/ promessa: “SOBRE A ADSE ‘ATÉ QUE A VOZ ME DOA’” (05/04/2018). Promessa que nada tem a ver com a de políticos criticados por Nikita Kruschev: “Os políticos em qualquer parte do mundo são os mesmos. Eles prometem construir pontes, mesmo quando não há rios!”
Alea jacta est! O que pensa o leitor da recente expulsão de familiares de beneficiários da ADSE? Muito ganharia esta querela com comentários de quem nela descortine virtudes, contrastando com os daqueles que nela vêem defeitos. Como diz o provérbio, “da discussão nasce a luz”!
12 comentários:
Se eu mandasse tanto como a doutora Catarina Martins, integraria imediatamente na ADSE todos os familiares de Rui Baptista, injustamente expulsos por uns burocratas mangas de alpaca que não são capazes de enxergar, para além do tampo da sua secretária de 1,20 m de comprimento por 90 cm de largura, os males de que padecem os homens no mundo! Bastaria o estilo gongórico das petições de Rui Baptista para que, num país minimamente civilizado, como a Suiça, que percorri de comboio, ou a Noruega dos fiordes, que conheço através da internet, lhe fosse atribuída uma tença anual para cima de 120 mil euros. Só quem algum dia teve o prazer de ler as diatribes de Rui Baptista contra o Estado Português somítico, pode entender verdadeiramente o valor supremo da arte!
A mim, o que me chateia a sério, é o Liber Rato não conseguir explicar milhões de euros ratados quando esteve à frente da associação de cuidados de saúde da Portugal Telecom.
“As irregularidades apontadas neste relatório indiciam a prática de vários crimes e poderão envolver, pelo menos, cerca de cinco milhões de euros.”, dizem os jornais. Vermelho!
A tareca Ana Leal é que não perdoa a rataria.
Eu cá, só quero que retirem da vaquinha do presépio (geralmente é onde estão) ou da árvore de Natal as percentagens a que tenho direito de cada vez que me sinto doente com isto tudo...
Depois admiram-se que as pessoas mereçam o seu atestado psiquiátrico de férias no Hawai, impossibilitadas de trabalhar para o bem comum.
Mal ficaria se não congratulasse com o comentário anónimo (do passado dia 15 deste mês). Responde ele ao meu apelo final do meu post para que o leitor se manifestasse a favor ou contra a referenciada medida da ADSE (mesmo que sob anonimato!) Obrigado, por cá eu não sou de guardar rancores.
Lamento, todavia, a referência à doutora Catarina Martins que eu, na minha declarada ignorância, tenho dificuldade em decifrar por não me identificar com a esquerda portuguesa.
Por ser um dever ensinar os ignorantes, agradecia que trocasse esta referência (que tenho de descabida) por um português que eu perceba...
Muito bem!
Então, peço-lhe, por favor, que substitua "...como a doutora Catarina Martins...", dos olhos de amêndoa doce, por "...como o CHERNE JOSÉ MANUEL DURÃO BARROSO...", no texto do meu primeiro comentário. O CHERNE começou por ser de extrema-esquerda, mas na idade madura revelou-se um enorme estadista de direita que, quando teve de escolher, qual Winston Churchill português, entre a paz e a guerra, em relação ao Iraque - que dispunha de um arsenal monstruoso de armas químicas! -, optou, sem hesitar, pela invasão do Iraque de que resultaram milhares de mortos, que nada são quando comparados com a defesa da verdade, que, como se veio a provar, mais uma vez, está sempre do lado dos judeus e dos seus amigos americanos, ou vice-versa.
Obrigado!
Mas continuo sem perceber a analogia entre Catarina Martins e Durão Barroso. Desculpe-se-me a brejeirice: "Que tem o dito (utilizo-me de um eufemismo) a ver com as calças?"
Gostaria de ver um assunto que diz respeito a uma coisa séria como a doença de velhos e doentes ser discutido com a dignidade e o humanismo que merece. Nunca por nunca, ser tratado em termos políticos e, muito menos, como na Grécia Antiga em que os velhos, doentes e deficientes eram lançados ao rio sem ser para fazer hidroginástica terapêutica. Valeu?
Caso contrário, como diria Eça, meu escritor de noites de insónia , perante a desumanidade que defende, "não é um vencido que se retira; é um enfastiado que se safa"!
Contudo, não garanto eu que me retire, mas do fastio ninguém me livra! Prezo demasiado as boas-maneiras a liberdade de expressão para o remeter ao meu silêncio sem lhe dar uma nova oportunidade junto dos seus possíveis admiradores porque a mim" hoje só me diverte o circo de Domingo de toda a semana da minha infância" (Fernando Pessoa).
A minha resposta seu ao comentário, que agradeço, endosso-a para Milton Friedman: "Dinheiro público é o dinheiro que o governo tira aos que não podem escapar e dá aos que escapam sempre"
Rectificação , porque, como como já me citei a mim próprio, as gralhas não pousam, ousam! Assim, "seu ao", emendo para "ao seu".
Não rectifico "rectificação" por escrever segundo o antigo Acordo Ortográfico!
O sr. Baptista (do acordo antigo) sai sempre da toca quando cheira a época de estio (gosta de dar o penta-pé de saida para a silly season).
O sr.Baptista, eu, para evitar confusões com outros Baptistas pela omissão do meu nome próprio, continua fiel ao antigo Acordo Ortográfico seguido na sua exigente 4.ª classe do antigo ensino primário.
Como fiel continua ao parágrafo do seu post, em que cita Raul Proença ("Seara Nova", 1928). O abuso da liberdade de imprensa muito se alargou com os comentários desabridos na NET, há que aceitar esse facto com paciência de Job.
Todavia, em nome dessa mesma liberdade, mesmo com odores, de "silly season" (expressão que lhe tomo de empréstimo com o cuidado de a escrever entre aspas), o seu anonimato justifica-se pela tendência que possa, porventura, atribuir a um argumento apenas por causa das características do seu autor sem a máscara no rosto do anonimato por assinar com o seu nome de registo civil e pia de baptismo.
Fiel, outro tanto, a Bergson, quando escreve não existir cómico fora do que propriamente cómico, diverti-me imenso com o seu comentário O "show" começou! Irá até onde? Pelo menos, até se apagarem as luzes do seu palco...
Na sua luta justa pela reintegração de todos os seus familiares na ADSE, Rui Baptista mostra uma dignidade e retidão exemplares, nomeadamente através da forma e conteúdo dos requerimentos que humildemente dirige aos senhores deste mundo egoísta. Para mim, isto não se trata de uma questão de esquerda ou direita, nem, muito menos, de política ou futebol, essas estrumeiras onde chafurdam pequenos animais viscosos desprovidos de coluna vertebral; se a ética republicana e a solidariedade abrilista não se tivessem transformado em palavras vãs, a inscrição de todos os cidadãos portugueses na ADSE seria, já hoje, uma realidade antiga e consolidada. Não devemos esquecer que, em Maio de 68, os estudantes e as estudantes, como eram todos muito bons, ousaram gritar:
- Abaixo o realismo socialista. Viva o surrealismo!
Apenas por uma questão de coerência, Rui Baptista deveria, na 2.ª linha do 1.º parágrafo, substituir "continua" por "continuo" e "sua" por "minha".
Agradeço o seu comentário, que responde, aliás, em contraponto como outros aqui anteriormente publicados do mesmo autor, em que ele se detêm mais na opinião que tem da minha pessoa e menos naquilo que escrevo em desobediência ao apelo que faço no final do meu post: “O que pensa o leitor da recente expulsão da recente expulsão de familiares de beneficiários da ADSE?”
Enfim! Vivemos tempos de baixa política que como escreve, e eu secundo, “ não se trata de uma questão de esquerda ou direita, muito menos, de política ou futebol, essas estrumeiras onde chafurdam pequenos animais viscosos desprovidos de coluna vertebral”.
Aliás, a própria Sophia de Mello Breyner, em a carta a Jorge de Sena (1962), defende: “Acho que não se pode criar em nome do anti-fascismo um novo fascismo”.
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