quarta-feira, 30 de maio de 2018

"Há lágrimas espremidas..."

Meu artigo de opinião publicado ontem no jornal "As Beiras":


Há lágrimas espremidas pelas mãos da prepotência 
e a lei acobarda-se de levar aos olhos do fraco o 
lenço que vela os olhos da Justiça” 
(Camilo Castelo Branco).

O pensamento de Camilo, em epígrafe, e a citação que faço de Victor Hugo de que “os velhos têm tanta necessidade de afecto como de sol”, endosso-os para o “ghetto” em que foram lançados os idosos expulsos da ADSE, como se fossem gafos indesejáveis para a “polis” que  Aristóteles, através de uma visão ética da política, defendeu como comunidade ordenada tendo em vista a felicidade dos cidadãos, ao invés de determinados políticos portugueses para quem os fins justificam os meios, neste caso, ínsitos no  Decreto-Lei 118/83, Secção III, ponto 2, que passo a transcrever: “A inscrição na ADSE destes familiares só será viável desde que provem não beneficiar de qualquer outro regime de protecção social e enquanto se mantiver esta situação”. 

Em desrespeito pela lei, até então em vigor, passaram estes  anteriores beneficiários da ADSE a ser havidos como  ferro velho que se atira para lixeiras municipais, facto tanto mais insólito por acontecer  numa altura em que se discute acaloradamente a “morte assistida” e se presencia, paradoxalmente, uma “morte desassistida” de idosos enviados  para um Serviço Nacional de Saúde a rebentar pelas costuras, pese embora o brio profissional de médicos e enfermeiros ao seu serviço em contantes manifestações  de justo descontentamento.
Em nome da verdade dos factos, refira-se que esta legislação  foi partejada pelo PSD, durante o VIII Governo Constitucional, qual recém-nascido necessitado de cuidados em incubadora do PS, no XXI Governo Constitucional, tornando extensivo o usufruto de familiar de beneficiário titular a uniões de facto, apesar dos dispendiosos encargos trazidos poderem contribuir, a brevíssimo prazo, para o fim da ADSE. Seja como for, discutirei até à exaustão ou na letra de um fado “até que a voz me doa”, isso sim, o facto de se tirar a uns para dar a outros em contas de rudimentar conhecimento contabilístico feitas por gente que julga ter descoberto a pólvora, através do acréscimo de dinheiro entrado em catadupa nos cofres da fazenda pública, sem ter em conta o défice provocado pelo aumento exponencial de despesas inerentes.
Em nome de uma necessária clarificação de processos, e em consideração pela sempre presente afectividade presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa, entendo que haveria toda a conveniência  em ser tornado  público o entendimento  dos partidos com assento na Assembleia da República sobre esta situação com exclusão, obviamente, do PSD e  PS , ambos responsáveis directos por esta medida legislativa. Estranhamente, a própria opinião pública mantém um quase silêncio sobre esta temática de elevado interesse social e humanitário, com honrosa excepção de uma recente “Petição Pública” que não encontrou eco bastante para ser discutida na Assembleia da República. 
Formulo sinceros votos para que o novo presidente da ADSE a aguardar nomeação  (em esperança que eu não desejaria sebastiânica) tenha como plano de acção um futuro promissor para a ADSE e seus beneficiários, contrariamente a Carlos Liberato Baptista com um passado que nada abona a seu favor por a respectiva tutela estar sob suspeita de desvios de dinheiros e favorecimento de empresas  na Associação de Cuidados de Saúde da Portugal Telecom (“Público”, 01/05/2018).
Porque, como nos adverte a voz populi, “cesteiro que faz um cesto faz um cento desde que tenha verga e tempo”, por críticas que tenho feito constantemente à sua actuação na ADSE, estou convencido que foi por falta de tempo que ele não fez pior! Ou muito pior?

4 comentários:

Anónimo disse...

Considero os métodos de luta de Rui Baptista brandos demais contra a injustiça brutal infligida pelo Estado Português sobre os beneficiários da ADSE, essa vetusta instituição humanitária, fundada no consulado do Doutor Oliveira Salazar que, como hoje todos sabemos, tinha como grande objetivo político, a destruição da Nação Portuguesa!
A ADSE e os Hospitais Universitários de Lisboa, Coimbra e Porto eram só para disfarçar!
Aproveitando o direito à indignação, Rui Baptista deveria assumir-se, de uma vez por todas, como chefe de um movimento político forjado no próprio universo dos beneficiários da ADSE, e marchar sobre Lisboa, onde contará com a adesão do povo anónimo, para correr com os Costas, os Vieiras, os Santos, os Pecadores e toda a sorte de gente que tem feito dos Ministérios do Terreiro do Paço - centralista até mais não! - uma Tapada, no interior da qual se podem praticar, sem ninguém ver, crimes de participação económica em negócios e atos vis de corrupção!

Os beneficiários da ADSE unidos jamais serão vencidos!

Anónimo disse...

Infelizmente este é o país que temos!
Este é o país que, também nos anos oitenta, obrigava um jovem desempregado diabético a pagar na íntegra as dispendiosas agulhas para as inoculaçoes diárias de insulina e as oferecia a um qualquer heroinomano...! Tal como no caso referido por V.a Ex. tudo se resume a uma questão de prioridades...
Os partidos ainda são os mesmos. As suas práticas também.

Rui Baptista disse...

Tanto breve quanto possível, responderei a estes dois comentários agradecendo, desde já, a sua publicação.

Rui Baptista disse...

POR ESQUECIMENTO IMPERDOÁVEL MEU,PERANTE O BÁLSAMO QUE REPRESENTARAM PARA MIM ESTES DOIS COMENTÁRIOS DE APOIO PERANTE A DESUMANIDADE DA ADSE EM LANÇAR NO DESESPERO OS VELHOS, DOENTES E DEFICIENTES AQUI RELATO.BEM HAJAM!

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