“Quem dá e tira ao inferno vai parar” (provérbio).
E porque “em todas as lágrimas há uma esperança” (Simone
Beauvoir), começo por transcrever, na
íntegra, o comentário anónimo que foi feito nesse mesmo dia ao meu post aqui publicado, intitulado “A ADSE
criticada pela Associação de 30 de Julho” (23/05/18): "Que os
cidadãos com responsabilidades na direcção da "res publica" sintam um
dia a ardência de um azorrague com tantas cordas quantos os males que,
conscientemente, infligiram”.
Reporta-se este comentário à reprovação, por
parte do seu autor, ao tratamento dado
pela ADSE a anteriores cônjuges de seus beneficiários, como se fossem gafos,
expulsos da “polis”, segundo Aristóteles, comunidade ordenada tendo em vista o
bem viver dos cidadãos, ou seja a sua felicidade, através de uma visão ética da política, ao inverso de
determinados políticos portugueses ambiciosos para quem os fins justificam os
meios mesmo que seja discutível a sua legitimidade. Colho mero exemplo, no Decreto-Lei 118/83, Secção III, pondo 2, que
passo a transcrever: “A inscrição na ADSE destes familiares só será viável
desde que provem não beneficiar de qualquer outro regime de protecção social e
enquanto se mantiver esta situação”.
Desta forma, retorcida de encarar os antigos
familiares em piruetas de retroactividade das leis mandando para o cesto de
papéis, o que estava em uso, de há dezenas de anos para cá, ademais numa altura em que se “discute a morte
assistida”, assiste-se a uma espécie de “morte desassistida” de idosos lançados,
de uma hora para a outra, para um Serviço
Nacional de Saúde já a rebentar pelas costuras, pese embora o brio profissional
de médicos e enfermeiros ao seu serviço em contantes manifestações de descontentamento.
Este Decreto-Lei foi partejado durante o VIII Governo Constitucional,
tutelado pelo PSD e reanimado em cuidados intensivos que remontam de 83 aos
nossos dias, em incubadora do Partido
Socialista. Sem discutir a intenção social(ista), em procura de votos
favoráveis a futuras eleições que se avizinham, pelo alargamento de beneficiário de titulares de uniões de facto, dando a uns para tirar a outros casados pelo civil, expulsos do seu seio, discuto apenas a orientação dada a esta medida feita por
parte de merceeiros de bairro
entusiasmados com aquilo que consideram uma espécie de “milagre das
rosas”.
Ou seja, dinheiro obtido alegremente com essas novas inscrições sem tomar em linha de conta o défice de uma ADSE com o aumento de despesas maiores em cuidados de saúde não orçamentados e previstos devidamente, conduzindo, a breve prazo, à respectiva falência. Como nos ensina a vox populi, é preferível prever a prevenir.
Ou seja, dinheiro obtido alegremente com essas novas inscrições sem tomar em linha de conta o défice de uma ADSE com o aumento de despesas maiores em cuidados de saúde não orçamentados e previstos devidamente, conduzindo, a breve prazo, à respectiva falência. Como nos ensina a vox populi, é preferível prever a prevenir.
Julgo haver toda a conveniência em ser
conhecido publicamente o que pensam desta situação o Bloco de Esquerda, o
Partido Comunista e os Verdes (já por mim chamados à colação anteriormente), e no espectro político oposto, o CDS, com exclusão, evidentemente, do PSD
e PS responsáveis pela paternidade conjunta
deste aborto legislativo. A própria
opinião pública mantém um ruído ensurdecedor, como sói dizer-se, sobre este
assunto de elevado interesse social e humanitário, com a honrosa ressalva de uma recente
“Petição Pública” que não encontrou eco para ser discutida numa Assembleia da
República, ainda que com o perigoso respaldado de votos maioritários da apelidada (com ironia cáustica de Vasco Pulido Valente) de
“Geringonça”.
Em ultima ratio, faço votos para que o novo
presidente da ADSE, que aguarda nomeação,
não siga as pisadas de Carlos Liberato Baptista, presidente
demissionário, porque “tudo o que sucede, sucede por alguma razão” (Gabriel
Garcia Marquez). Atrevo-me a pensar que
o que fez foi por não ter capacidade para fazer melhor ou por se ter deixado encadear pelo poder do
cargo desempenhado qual borboleta
atraída por uma lâmpada eléctrica sendo [i]por ela queimada. Isto na melhor e mais benevolente acepção
crítica!
7 comentários:
Eu sinto-me ENCANDEADO pela luz intensa que irradia sem cessar dos seus brilhantes comentários!
Perante os seus argumentos, carregados de filosofia e política, considerando esta última ciência apenas na sua aceção mais nobre, os Liberatos deste mundo adquirem, diante dos nossos olhos abertos de espanto, a sua real dimensão de pigmeus morais!
No fundo, Vossa ExceLência é de opinião que na gamela da ADSE há sempre lugar para mais um, deixando para segundo plano questões miudinhas, como a de saber se é possível fazer omoletas sem ovos! Para si, quem vier atrás que feche a porta!...
-Não há ovos porque alguns pilham e comem as galinhas! Enquanto isso outros dormem! Apoiando as suas leves e valiosas cabeças pensantes em almofadas de penas,... de galinha!
Seja bem reaparecido (isto do anonimato pode levar-nos a más, mas não malévolas, interpretações: deveria ter escrito aparecido?). Mas este facto, e até o facto de nós insistirmos em discutir a ADSE e seus responsáveis leva-me a tomar de empréstimo, salvaguardando as excepções, palavras de Jorge de Sena: "Que adianta dizer-se que Portugal é um país de sacanas? Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas; e todos estão contentes de se saberem sacanas".
Quiçá por ter lido em diagonal o meu texto, não se terá apercebido que estamos do mesmo lado da trincheira no que tange à crítica que fazemos a medidas da ADSE que a transformaram de fonte de receita num organismo deficitário que a levará à falência com o aumento de novas inscrições, sem rei nem roque, com despesas incontroláveis.
Diz, e bem, citando, salvo erro Oto Glória, antigo treinador do Benfica que sem ovos não se fazem omeletes. A que acrescento, com ovos podres fazem-se omeletes que podem conduzir à indigestão da ADSE ou mesmo ao seu estertor final!
"No que tange" a zurzir políticos que querem levar à falência a ADSE, eu estou do lado de Rui Baptista. Já no que diz respeito ao Fado, só tenho a dizer que:
-Se se fazem para aí tantas semanas culturais, porque não fazer uma semana Anti-Fado, indo ao encontro da proposta inicial do saudoso Vasquinho da Anatomia?! Morte ao Fado, matem-se os fadistas, matem-se os fregueses, arrebentem-se as guitarras!...
Quer dizer, a situação é mais grave do que eu pensava! Afinal, não só não há ovos, como também não há galinhas!
Não lhes dou mais um ano até que Israel arrase o Irão, esse país muçulmano produtor de petróleo! Quando a gasolina a subir exponencialmente, o que vamos fazer a tantos carros de combustão interna que atafulham as nossas cidades vilas e aldeias, colocando o paupérrimo Portugal nos lugares cimeiros dos países com as mais elevadas taxas de automóveis por habitante do mundo!
Dá que pensar!...
Já agora, como determinados dirigentes do pontapé na bola se recusam a demitirem-se, porque não um ano sabático para tentar dar-lhes noções de ética e boas-maneiras? Ou mesmo sete anos, se necessários, tantos quantos Jacob serviu Labão pai de Raquel!
Ou, em alternativa, mudar-lhes apenas a indumentária. Isto por como escreveu Eça, meu escritor de mesinha de cabeceira, "com uma casaca preta e uma gravata branca quem quer que seja pode passar por civilizado"! Julgo que aqui, ambos estamos novamente de acordo se não houver clubite que manche esse acordo. E julgo que não haver!
Confesso eu, desde já, que a minha preferência clubística pende para o Sporting por e ser do tempo dos seus maviosos "cinco violinos" - Peyroteu, Vasques, Travassos, Albano e Jesus Correia (este último, outrossim, Campeão Mundial de Hóquei em Patins) - que espalhavam magia e "fair-play" pelos relvados, e alguns campos pelados, que muito diferiam das catedrais actuais com dezenas de milhares de lugares para os seus fanáticos e suas claques de energúmenos.
Errata: No final do 3.º parágrafo do meu comentário anterior, emendo "julgo que não haver" para "julgo não haver".
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