sexta-feira, 24 de abril de 2015

CARTA ABERTA AOS PILOTOS DO GRUPO TAP

Documento do movimento NÃO TAP OS OLHOS, impulsionado por António Pedro Vasconcelos, que eu apoio:

O Movimento Não TAP os Olhos, que tem estado a lutar contra a Privatização da TAP, tem vindo a demonstrar, ao longo destes últimos meses, que é possível, de uma forma séria, democrática e com o apoio incondicional da grande maioria dos portugueses, denunciar os falsos argumentos e as verdadeiras intenções do Governo, e impedir a privatização da TAP Portugal. 

A verdade é que o governo de Passos Coelho, não só não tem sido sério ao longo de todo este processo (quando anunciou a privatização total da empresa, em 2011, indo mais longe do que os compromissos assumidos com a Troika, a TAP não tinha problemas de tesouraria), como deixou de ter o pretexto do Memorando da Troika e, em fim de mandato, deixou de ter legitimidade política para tomar a decisão de privatizar qualquer empresa pública.

Para provar a má-fé do Governo basta dizer que, ao mesmo tempo que reconhece a importância estratégica da empresa, a necessidade de manter o Hub de Lisboa, e se escudou na defesa do interesse dos emigrantes para travar, através de uma “requisição civil” ilegal, a greve contra a privatização, decretada pela Plataforma de todos os sindicatos, pretende agora vendê-la ao desbarato a uma empresa estrangeira, com um “caderno de encargos” inquinado de ilegalidades, sem ter em conta minimamente o interesse nacional.

 Se fosse necessário invocar um testemunho insuspeito, em Fevereiro deste ano, e já em pleno processo de privatização, o presidente da administração da TAP veio dizer, preto no branco, o seguinte: “Há empresas que têm de ser privatizadas ou fecham. Não é o nosso caso, que é sustentável. Tivemos resultados positivos nos últimos cinco anos – ou nos últimos oito, se esquecermos 2008.”

Foi isto que a Plataforma dos sindicatos defendeu quando anunciaram a greve de Dezembro, que o governo sabotou, dividindo os trabalhadores, seduzindo com promessas demagógicas alguns sindicatos. Não é isso que defendem agora os pilotos com a anunciada greve de dez dias. De facto, esta greve anunciada não é contra a privatização da TAP. Pelo contrário, é uma greve a favor de uma privatização que lhes permita retirar miríficos dividendos da privatização da companhia nacional, nomeadamente 10% a 20% das acções da empresa ou a devolução das diuturnidades suspensas pela Lei do Orçamento Geral do Estado.

 Com esta atitude, os pilotos não só demonstram um total desprezo pelos seus colegas da manutenção, de cabine e de terra, pretendendo vir a ser os seus patrões, como estão a dar pretextos ao governo para diabolizar o direito à greve, pôr a opinião pública contra os trabalhadores e reforçar a sua desculpa para a urgência em vender a TAP a qualquer preço.

 Por isso, o Movimento Não TAP os Olhos declara-se inequivocamente contra esta greve marcada pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, que considera autista, por ser uma quebra de solidariedade com os restantes trabalhadores, e porque em nada contribui para credibilizar o protesto de milhões de portugueses que, em Portugal e na diáspora portuguesa, querem que a TAP se mantenha nas mãos do Estado.

 Pelos motivos acima referidos, o Movimento Não TAP os Olhos apela a todos os Pilotos do Grupo TAP que cancelem esta greve, por ser inoportuna, politicamente suicida e que, sem descurar os seus direitos legítimos, se batam, isso sim, contra a privatização da empresa que, além de privar Portugal de um instrumento estratégico para a ligação do universo lusófono espalhado por vários continentes, seria ruinosa para a nossa economia e para o futuro dos trabalhadores da empresa.

2 comentários:

Unknown disse...

Concordo plenamente que a TAP deve ser privatizada e concorrer com todas as outras companhias. Chamo a atenção dos pontos positivos de se ter acabado com o monopólio das ilhas, tanto para os viajantes , como para a economia geral e principalmente turistica e da construção civil das ilhas; e isto com a perca apenas de alguns poucos trabalhadores que deixaram de ser os unicos.

Anónimo disse...

Carta Aberta,

Como piloto PGA, orgulhoso na profissão que tenho, é com grande angústia que tenho vivido estes últimos dias. Estou de greve, pois infelizmente, é a última, e agora a única, esperança que me resta, porque quero continuar Piloto por muitos anos, com saúde, a voar em segurança e a proporcionar aos nossos passageiros o melhor. Tudo isto parece óbvio e indiscutível, devia ser óbvio aos olhos de todos e em primeiro lugar ao dos que lideram. Talvez pensem que estou a falar de “um mundo ideal”, quando priorizo a segurança de alguém que opta por apanhar um avião e confia no seu comando, talvez considerem excesso de zelo, mas se a vida passa a ser secundária em prole dos escandalosos lucros de alguém que não entra nesse voo, diria que alguém tem o mundo ao contrário, mas não serei eu, nem os 90% dos Pilotos PGA que se recusam a compactuar neste crime autorizado.

Numa companhia em que a Administração insiste em planeamentos impensáveis, que enviam pilotos para casa, com baixas médicas, fatigados, levados ao seu limite, para que os lucros de alguém aumentem… de facto, alguém quer um mundo ao contrário… mas os Pilotos recusam-se a pagar com as suas vidas. Os Pilotos não estão à venda, não fazem greve para enriquecer, ou talvez o façam, se como diz a sabedoria popular: “Não há maior riqueza que saúde!”

Não há um único piloto a fazer greve de ânimo leve. A greve é sempre a última opção, uma opção desgastante, uma última esperança de fazer valer o que devia ser prioritário: o direito à vida, pela segurança. Quanto custará ao Estado custear esta segurança? Compensará o custo da greve? Nada disto faz sentido, num mundo (idealmente) normal.

Um Piloto “normal” da PGA

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