segunda-feira, 6 de abril de 2015

"Apagando David: O significado da vida privada ou o que dela resta"


"Se não tem nada a esconder,
seguramente não terá nada a temer" 

 In documentário Erasing David, 2010. 

Ontem, muito tarde, passou no canal de televisão Odisseia um documentário admirável apresentado em 2010, cujo título é Erasing David.

Quem o concebeu e realizou foi um sujeito inglês mais ou menos anónimo, David Bond, que "um belo dia recebeu uma carta do governo a informá-lo de que era um dos 25 milhões de habitantes cujos dados se tinham extraviado, entre eles o seu nome, a sua morada e os seus dados bancários. 

Intrigado, começou a investigar a forma como se gerem esses dados e não demorou a descobrir algumas verdades alarmantes sobre o que o governo e as empresas privadas já sabem sobre os cidadãos comuns, inclusive descobre que há pessoas que foram apanhadas no fogo cruzado das bases de dados e ficaram coma vida destruída. Para comprovar até que ponto se podem saber coisas a partir destes dados, David contratou os serviços de uma prestigiosa agência de detetives e propõe-lhes um desafio singular: desaparecerá sem deixar rasto durante um mês, enquanto tentam encontrá-lo.

E acrescenta, "outrora bastião da liberdade e dos direitos civis, o Reino Unido é agora uma das sociedades modernas mais vigiadas do mundo, só superada pela China e a Rússia. O adulto médio britânico aparece em mais de 700 bases de dados e é gravado diariamente por uma das mais de quatro milhões de câmaras situadas nas ruas de todo o país."

David contesta em particular a idea que surge a todo o momento, tanto por lá como por cá: Se não tem nada a esconder, seguramente não terá nada a temer... Além de atentar contra um direito fundamental - a privacidade e a intimidade - que deve, em circunstâncias "normais" ficar ao livre arbítrio de cada um, e de esvaziar a pessoa dessa dimensão fundamental da sua vida, é uma redonda mentira, pois temos razões de sobra para temer o que nos pode acontecer quando os nossos dados, mesmo aqueles que parecem não ter interesse nenhum, são deliberada ou aleatoriemente usados para fins perversos, que são múltiplos.
Este texto tem continuação

7 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

E talvez devêssemos preocupar-nos com os sistemas de alarmes, vigilância e proteção que nos são propostos, em casa, nos próprios computadores, nos estabelecimentos comerciais, etc., porque dispositivos como câmaras e microfones são fáceis de dissimular em qualquer local, incluindo parques e espaços públicos onde, supostamente, não estaríamos a ser espiados.

bea disse...

A tecnologia usada sem ética dá resultados terríveis.E hoje a ética não é garante de coisa nenhuma. Talvez por ter deixado de importar, ou se terem sobreposto valores materiais que a abafam e ignoram.

Anónimo disse...

Então deixem instalar um contador inteligente em casa, logo verão o que são brechas na privacidade mais íntima!!!

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Bom exemplo está a ser o exercício a honestidade.

Anónimo disse...

Repito, os contadores inteligentes são como a smart TV um olho e um ouvido electrónico em casa de cada um. Que ética pode restar depois disto?

dumoc disse...

"Quando nos encontramos num local onde podemos ser monoritozados, onde podemos ser observados, o nosso comportamente altera-se radicalmente.

A gama de opções de comportamentos por que podemos optar, é drasticamente reduzida, quando pensamos que estamos a ser observados.

Quando alguém sabe que pode estar a ser observado, adopta comportamentos muito mais complacentes e conformistas.

"Uma sociedade na qual as pessoas podem ser monitorizadas todo o tempo é uma sociedade que gera conformismo, obediência e submissão."

"Essa é a razão porque todos os tiranos, do mais descarado ao mais subtil, deseja esse sistema."

http://dumoc-and-me.blogspot.pt/2014/10/privacidade-liberdade.html

Anónimo disse...

O problema antes mas quando perdemos a própria noção de até onde somos vigiados, é algo mais que está em causa.

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