quarta-feira, 15 de abril de 2015

EM DEFESA DOS INDEPENDENTES

Meu artigo no Público de hoje:


Falta menos de um ano para as eleições presidenciais. É, portanto, natural que, enquanto os partidos continuam entretidos com os seus joguinhos de poder, alguns cidadãos, insatisfeitos com a actual situação da República, anunciem a sua disponibilidade para se apresentarem à única eleição de âmbito nacional que não tem de ter as chancelas partidárias. Foi o que aconteceu, por ordem cronológica, com o empresário Henrique Neto, com o matemático Paulo Morais e com o professor universitário António Sampaio da Nóvoa. Só os dois primeiros é que anunciaram a sua candidatura, enquanto o terceiro está ainda a ponderar. As relações deles com os partidos são muito díspares: o primeiro é militante do PS, o segundo foi até há dois anos filiado do PSD e o terceiro nunca teve filiação partidária. Podemos dizer que são todos independentes, uma vez que, se o primeiro possui cartão de um partido, é óbvio que não encarneira no grupo. Pela minha parte, dada a contínua frustração que tem sido a política nacional, verifico com agrado que existem compatriotas não alinhados que estão disponíveis para darem o seu contributo à res publica. São todos, tanto quanto me é dado saber, cidadãos com biografias impolutas. Empenhados na vida colectiva, todos têm, na praça pública, expressado opiniões e manifestado desejos. Sendo bastante diferenciadas, parece-me que são escolhas a que um eleitor tem direito no sufrágio de 2016.

Apesar da péssima experiência do candidato “independente” Fernando Nobre em 2011 (viu-se que era um falso independente quando se prestou a ser marionete nas mãos de Passos Coelho nas legislativas desse ano), creio que as candidaturas de independentes são boas para a democracia. Um independente como eu, decepcionado pelas acções e omissões da maioria dos nossos políticos, gostaria de escolher um candidato independente. Os desiludidos com os políticos arregimentados poderão até ser maioritários, decidindo a contenda.

Bem sei que numa democracia os partidos são indispensáveis. Mas os partidos que temos tido na governação bem se têm esforçado por mostrar a sua dispensabilidade. E, se são dispensáveis, dispensemo-los na única ocasião política em que o podemos, efectivamente, fazer. Também sei que as eleições legislativas serão realizadas antes das presidenciais e que são elas que determinam o governo do país. Mas, nas legislativas, a possibilidade de participação dos cidadãos independentes é reduzida: somos obrigados a escolher listas feitas pelas oligarquias partidárias, feitas de nomes que representarão apenas quem os nomeia (nem sequer serão capazes de se representar a si próprios). Julgo que a próxima eleição presidencial é um momento decisivo da nossa vida política, uma vez que será possível – tem de ser possível – encontrar um português com independência, sentido de responsabilidade e, acima de tudo, devoção ao bem comum. O que não tivemos nos últimos anos. O presidente não tem poder executivo, mas tem poderes importantes em momentos decisivos, que exigem uma análise lúcida e uma postura fundada no interesse nacional. E tem outro poder, que pode ser relevantíssimo se bem usado: o da palavra. Pode, pela palavra, unir os portugueses, apontando grandes desígnios nacionais, chamando a atenção para o essencial.

E que vejo? Vejo, consternado, a vozearia estridente, o ódio imenso, a perseguição pessoal que as referidas candidaturas suscitaram a alguns dos políticos instalados. Chegaram ao ponto de chamar palhaço a Henrique Neto, de apoucar a ética de Paulo Morais e de atacar António Nóvoa com base no nome dele. A candidatura com mais hipóteses de ganhar é desde já a mais malhada. Eu não sei ainda em quem vou votar. Mas o mais provável é que, nas presidenciais, vote num independente, em alguém que contribua para sairmos do atoleiro em que a política profissional nos meteu. E que, antes disso, nas legislativas, vote em forças que não só estejam apostadas na necessária mudança como prezem o contributo para ela dos cidadãos independentes. Portugal, se for quebrado o bloqueio a que nos conduziram políticos formados nas “jotas” que além de ignorantes são atrevidos (a ignorância sempre foi atrevida), tem futuro. Mas esse futuro, numa democracia digna desse nome, não pode ser criado só pelos partidos, tem também de ser empreendido por quem não se revê neles.


PS) Aleluia, após muitos dislates, vai haver renovação na Fundação para a Ciência e Tecnologia. Não interessa tanto o nome da nova pessoa, mas mais a nova orientação. Há, sem prejuízo do normal funcionamento da ciência, que anular o ilegal e indecoroso processo de “avaliação”, castrador da investigação nacional. E agora, quando segundo a ministra das Finanças os cofres estão cheios, há que dar esperança aos jovens atraídos pela ciência. O futuro deles será, em larga medida, o nosso.

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