terça-feira, 16 de outubro de 2012

VALENTE E BOTAS SOBRE A EDUCAÇÃO POS 25 DE ABRIL

Troca de cartas entre António Brotas e Guilherme Valente, a propósito de "Os Anos Devastasdores do Eduquês" saído no blogue "Educação do meu Umbigo":

Senhor Professor António Brotas:

Muito obrigado pela atenção que deu ao meu texto a que o Expresso entendeu dar uma visibilidade a que eu, aliás, não me atrevera a aspirar, por se tratar de uma resposta, naturalmente sintética, a carta de outro Amigo, que igualmente estimo. Muito obrigado  também pela atenção comigo que a sua carta manifesta.

Gostava, no meu livro, que lesse um texto intitulado "Sottomayor Cardia, pioneiro do anti-eduquês". Se o ler,  verificará que a generalização que faço com a expressão  "a educação depois do 25 Abril" refere-se ao domínio do ME pela ideologia e pelas teorias pedagógicas irracionalistas que designamos com o termo eduquês e à devastação que o seu instalado domínio e progressiva imposição totalitária à escola, nomeadamente à formação de professores, determinaram. Mas, como talvez possa concordar, até poderia alargar essa minha expressão a mais  manifestações do que aquela a que me tenho referido e quis referir na minha carta  ocorridas na sequência do nosso 25 de Abril, do 25 de Abril que, pelo menos a mim, me roubaram. Julguei, erradamente, reconheço, que se percebesse, e quem me costuma ler terá, seguramente, percebido.

Quanto à minha ignorância, que é de facto enorme, não era preciso ser menor para eu ter consciência da hecatombe educativa (até me custa usar o termo, educativa...), que é mais do que visível e está objectivamente documentada em vários registos. Bastou-me, para a ter visto e ver, querer ser um homem livre. E quero, e sempre quis. Nem foi mesmo preciso a alguma familiaridade, que tenho a obrigação de ter, com a história, a ciência política e até a sociologia (a que, confesso, acho pouca graça) e, sobretudo, com a filosofia, para  lhe ter vislumbrado a etiologia, percebido os propósitos,compreender as razões do seu êxito, gerais, no Ocidente, e específicas entre nós.

Claro que depois do 25 de Abril houve coisas boas na educação, e não terei qualquer hesitação em atribuir ao Senhor Professor  António Brotas boas realizações, ou, pelo menos, bons propósitos, quando exerceu as funções de Secretário de Estado de um dos governos  de Portugal. Mas onde estão hoje essas coisas boas ou propósitos? O que lhes aconteceu? Essa é a questão.

Cumprimento-o com muita admiração, admiração também por eu saber, ou supor, que o Senhor Professor tentou enfrentar dentro do seu Partido a praga que eu tenho enfrentado fora dele. Praga que, estou convencido, não será vencida e virá, em breve, pelo contrário, a manifestar-se reforçada. Sabe porquê? Porque ela é instrumento e, ao mesmo tempo, já manifestação do interregno de barbárie que aí vem ou já aí está.

O seu amigo ao dispor,
Guilherme Valente

14 de Outubro de 2012
Caro Guilherme Valente,
Há duas espécies de pessoas que escrevem na Comunicação Social sobre a Educação. Os completamente ignorantes e os semi  ignorantes.  O Guilherme Valente é um semi ignorante.  Pode crer que é um elogio. Eu  sou outro.  Temos capacidade crítica e ideias acertadas sobre vários assuntos (mas não certamente sobre todos).  Somos capazes de apresentar propostas, algumas bem válidas (mas sistematicamente ignoradas por quem decide).   Conhecemos muito bem alguns sectores e alguns períodos do nosso sistema educativo mas estamos, talvez, um bocado desactualizados. 
Assim, é normal que neste texto sobre o seu artigo ontem publicado na página 32 do "Expresso", me refira ao que escreveu sobre um período já  bastante antigo. Nas linhas que nele escreveu sobre sobre a Educação no pós 25 de Abril  mostrou estar mal informado, ser  injusto e, pior, deu uma achega  para a manutençao de uma desinformação generalizada que continua a ser francamente  nefasta.
Peço-lhe, assim, que se informe melhor e, em particular que leia o texto: "Contributo para a História da Educação durante os Governos Provisórios",  publicado nas páginas 9 e 10 do 2º número do "Jornal República " de que lhe farei chegar um exemplar.
Com respeito ao presente e ao futuro, devo dizer-lhe soube que publicou recentemente um livro sobre a Educação.  Não o vou ler agora. Mas, se levar para diante o projecto de publicar em 2013 ou 2014 um livro sobre a Educação, não o farei sem ler muito atentamente este seu livro, e não deixarei de registar que o Guilherme Valente teve uma  influência significativa sobre a Educação em Portugal com a edição de livros de elevado valor científico que só tenho pena de ver quase desaparecidos das livrarias.
Terei bastante gosto  se o "Expresso", ou qualquer outro jornal  publicar  este texto.. Em qualquer caso, ele será noticiado no próximo número do "Jornal República" em janeiro e ficará arquivado nos seus arquivos eléctrónicos.
O Guilherme Valente poderá, naturalmente, dar continuidade ao assunto em iguais condições, se o desejar.
Por hoje, subscrevo-me, com estima e consideração
António Brotas

1 comentário:

José Batista disse...

Praga longa e vasta. Acabo de ler a notícia de que "François Hollande quer acabar com os trabalhos de casa no ensino francês.
A medida tenciona acabar com as desigualdades educacionais entre alunos, já que nem todas as crianças têm o mesmo apoio dos pais nos trabalhos de casa" (Portal Sapo)

Estranha e brutal forma de acabar com as desigualdades: há meninos que não têm pais que os ajudem, então faz-se o possível para que nenhuns pais ajudem os filhos!

Ora, isto é um crime. Penso eu.

Entretanto, nas notas do último conselho pedagógico da minha escola, que hoje recebi, é dito que estão a desaparecer os manuais da sala de estudo da biblioteca, mesmo aqueles que não são os adoptados. Isto preocupa-me e entristece-me, mas... só parcialmente.
Porque, em boa verdade, há no meu peito uma ternura enorme pelos meninos que roubam livros para estudar. Fica a confissão, na esperança de que alunos meus não andem por aqui.

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