A partir do infeliz passo do Governo com a TSU gerou-se tal gritaria e poeirada que o importante não se consegue ouvir nem ver. Menos ainda pensar.
O Governo foi inepto, já toda a gente o sabe. Convenceu-se de que a calma lusa vinha da consciência da situação económico-financeira e da necessidade de endireitar as coisas. E é verdade. Apesar de tudo temos o bom senso de perceber que, quer a nível público quer privado o crédito fácil levou-nos a muitos passos em falso. Era difícil resistir, de resto. Temos agora seguir o bom senso. Contudo, face às dificuldades crescentes e à desinformação, a irracionalidade está a vir à superfície.
É urgente a política, no sentido nobre do termo, mas o que rende, pensam muitos, é o ruído e a poeira.
Os partidos não ajudam, já todos sabem, são uma grande parte do problema. Bloqueados mentalmente de dentro para fora e blindados legislativamente de fora para dentro, afastam-se cada vez mais do País impedindo uma dinâmica de transformação qualificadora.
À esquerda é o que se sabe: demagogia, demagogia. Como se não vivêssemos a crédito, nem dependêssemos dos credores, nem estivéssemos integrados na União
Europeia, nem tivéssemos uma indústria débil, nem precisássemos de pagar quase tudo o que comemos, etc. O PC e o BE, vivendo num mundo fechado, insistem em ideias desadequadas, anacrónicas e vazias. E em estratégias que só são boas na cabeça deles, como as recentes moções de censura. E com a outra, de tão “bons” resultados políticos e económicos, lembram-se? O PS, por outro lado, dá uma no cravo, outra na ferradura, procurando fugir às responsabilidades em tudo isto e tentando convencer-nos de que, no Governo, iria fazer diferente e melhor. A Direita, dominada pela finança especulativa, desvaloriza pessoas, trabalho e produção, e alienada na voragem do dinheiro que se reproduz do nada, está dizimando a classe que a alimenta.
Ironia da História: a burguesia está a ser destruída, não pelo proletariado mas pelo capital, que a proletariza, conseguindo assim o milagre de confirmar a teoria marxista, mesmo que de pernas para o ar.
O certo é que, agora, todos gritam, muitos se acham como o direito a ser malcriados e grosseiros via telejornal, e as televisões gostam muito disso mostrando o pouco nível que têm. O certo é que se criou uma atmosfera de PREC que só nos prejudica. Isto não interessa a ninguém, salvo a alguns que se estão marimbando para o povo real em nome do povo abstrato.
Nesta confusão nem a Comunicação social se salva. A maior parte grita se ouve gritar, cala-se quando não ouve vozes, corre para onde vê os outros correr, diz o que toda a gente diz, repete o que todos repetem, sem querer saber se é certo ou errado, se nos favorece ou nos prejudica. Agir no bom sentido é, muitas vezes, dizer o contrário da maioria, chamar a atenção para o que não se sabe e não para o que todos vêem e dizem.
Como explicar, por exemplo, que não nos informem sobre as razões de algumas greves que por aí andam, inundando-nos com informações que desinformam? Por exemplo, mais do que saber que os condutores do Metro, os maquinistas da CP e os pilotos dos portos estão a fazer greves, e entrevistar os massacrados utentes, os portugueses gostariam de saber qual o salário líquido desses trabalhadores, horário de trabalho, regalias, habilitações e preparação técnica exigidas, etc. E depois comparar com os profissionais de tarefas idênticas, em Portugal, para avaliar das suas razões. E com os colegas na generalidade dos países europeus, incluído os de Leste. Isso, sim, seria informar. Talvez muitos dos que fazem estas greves tão lesivas para a economia deixassem de as fazer.
João Boavida
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15 comentários:
Mais um exemplo daquilo que já tive oportunidade de criticar neste blogue. Tanto cuidado com o rigor científico e em criticar a falsa ciência que anda por aí mas depois fazem coisas destas quando se põem na área de conhecimento dos outros.
Sr. João Boavida, "À esquerda é o que se sabe: demagogia, demagogia. Como se não vivêssemos a crédito, nem dependêssemos dos credores, nem estivéssemos integrados na União Europeia, nem tivéssemos uma indústria débil, nem precisássemos de pagar quase tudo o que comemos, etc." ?
Esta citação mostra que o Sr. não pode ter lido uma linha sequer do que a esquerda apresenta. Não pode. Não pode sequer ter lido uma linha de um livro de Keynes. Não pode. Não deve conhecer nem Krugman, nem Stiglitz, nem Rogoff, nem Sen, nem Akerlof, nem Rodrik, entre tantos outros reputados economistas internacionais cujas ideias se aproximam actualmente daquilo que os partidos de esquerda defendem. O que é exactamente viver a crédito? Que implicações económicas isso tem? E porque estamos onde estamos? E qual o papel da UE no estado em que estamos?
Não pode apresentar as coisas com tal leviandade. Toda a gente pode criticar, mas não com esta leveza de ideias.
Como diz o Tiago Santos, da esquerda (e de alguma direita também) vem demagogia, mais demagogia, e ainda mais demagogia. Infelizmente estamos num estado em que todos clamam pelo carácter sacrossanto dos seus direitos, a questão é que estes direitos têm de ser pagos (isso é que começa a ser um problema). Independentemente de volta e meia a esquerda poder propor qualquer coisa que possa fazer sentido (que até podia ter algum valor e contribuir para a resolução dos problemas dos portugueses), a única atitude consistente da esquerda perante os problemas é através de medidas que fazem aumentar a despesa do estado, isto é com dinheiro dos contribuintes, que já não há, e portanto só podem ser realizadas através de mais crédito. Como se a nossa capacidade de nos endividarmos fosse uma coisa infinita e os credores, no fundo fossem nossos devedores de alguma coisa.
Até estamos bem habituados à demagogia dos políticos, da esquerda à direita, digamos que isso é o preço da democracia, onde cada um promete as ilusões que consegue. Mas há limites para a demagogia, o que a esquerda, infelizmente parece desconhecer. Daí clamar por uma absurda arrogância moral e intelectual (infelizmente a vossa moral, a vossa inteligência, ou a vossa cultura está no máximo ao nível dos outros todos).
Um dia destes gostava que a esquerda mostrasse um quadro coerente das suas propostas para a sociedade e ver conseguiam propor algo de diferente das "republicas populares", que surgiram como cogumelos depois da segunda guerra (das quais subsistem Cuba e a Coreia, como tristes exemplos).
Correcções ao comentário anterior, quem diz que a esquerda é demagógica é o João Boavida (autor do post original) e não o Tiago Santos (que ficou incomodado com a evidência das práticas degamagógicas das esquerda).
E já agora para se perceber da demagogia da esquerda não é necessário ler Keynes, nem Krugman, nem Stiglitz, nem Rogoff, nem Sen, nem Akerlof, nem Rodrik, nem os outros reputados economistas internacionais cujas ideias se aproximam actualmente daquilo que os partidos de esquerda defendem. Basta estar minimamente atento às propostas e posições dos partidos de esquerda.
Nota: este comentério e o anterior foram escritos sem qualquer leviandade e com ideias pesadas e robustas, de muitos anos a ouvir a demagogia da esquerda (que a própria história se encarregou de escrutinar).
1. Talvez tenha razão, sr. Tiago Santos, do ponto de vista dos economistas. Não sou economista, e se calhar devia estar calado. Mas o artigo não estava escrito nem do ponto de vista dos economistas nem dos políticos, mas do cidadão comum, do que vê acontecer na sociedade e da opinião que lhe pedem que tenha, ou que, mesmo sem lha pedirem, ele vai tendo. Ora, o que nos chega da Esquerda, ou seja, o sistemático ataque a tudo o que os governos (este e todos os outros) fazem e não fazem, leva ao cansaço das pessoas e ao descrédito de propostas eventualmente consistentes e viáveis vindas da Esquerda. Dir-me-á que todos os governos têm tido posições de Direita, e talvez seja verdade, mas aí entra o contexto geopolítico e económico em que estamos integrados e que a Esquerda tem dificuldade em reconhecer e em considerar no entendimento dos problemas e da sua solução. A Esquerda tem todo o direito de apresentar as suas propostas. Mas ou elas andam perto de uma social democracia, de uma democracia cristã, ou de uma esquerda democrática, como dizia o Partido Socialista, e nessa altura não podemos fugir a dívidas e temos que lidar com credores, visto a situação em que estamos, integrando-se, portanto, nos esquemas gerais da organização social, política e económica do chamado capitalismo ocidental, ou entram por uma organização político-económica e social que exige, ou a alteração de todo o mundo ocidental em que nos inserimos ou a nossa desinserção dele e o consequente isolamento. E isto nunca é dito explicitamente para não alarmar as pessoas. Mas devia ser dito e explicado. Os que reclamam e fazem greves mesmo com os maiores prejuízos e sem grandes razões, deviam estar conscientes do perigo que correm.
(Continua)
João Boavida
2. Por outro lado, há que considerar que:
a) A economia não é uma ciência exata, é uma ciência social;
b) tem, portanto, todas as fragilidades, no ponto de vista do rigor, que têm as ciência sociais e humanas.
c) Além disso tem-se fragilizado em virtude das componentes políticas e sociais que inevitavelmente a atravessam e influenciam as decisões políticas e económicas.
d) Falar de economia é, desde logo, falar de, ou considerar implicitamente, um ponto de vista que não é necessariamente nem exclusivamente económico, mas sim ideológico.
Estando a economia dependente de fatores psicológicos e sociais, internos e externos, todo este clima de agitação social que se está a viver em Portugal não é favorável ao país, e é disso que eu falo. E não é senão pelas consequências que pode ter e que podem ser muito graves. É claro que a Esquerda tem direito a combater o que considera errado, mas aqui está a acontecer-lhe aquela história do rapaz que disse que vinha lá o lobo, uma vez e outra e outra, até que um dia, quando veio o lobo, já ninguém acreditou que ele agora vinha mesmo. E também lhe digo mais, nunca votei nos partidos da direita, ou aquilo que normalmente se chama, no nosso leque político, a Direita, mas começo a estar cansado deste tipo de cegueira, ou de discurso. Talvez seja só uma questão de discurso, mas a palavra é tudo
Finalmente, talvez o De Rerum Natura devesse se mais seletivo no que diz respeito a artigos que falam, ou se aproximam de economia, quando escritos por pessoas que não são economistas. A qualidade científica a isso devia obrigar. Há, é óbvio, uma qualidade científica que não é acompanhada em todas as áreas científicas, e a economia não escapa a isso. Mas eu, que a toda a hora ouço falar em ciências da educação com o maior desprezo – ciência igualmente social e humana, com todas as dificuldades inerentes à sua natureza – eu que constantemente ouço dizer delas coisas que Maomé não diria, nem sequer imaginaria, do toucinho, aguento e fico calado. Ninguém, ou muito poucos, reconhecem a carga política e ideológica que sempre houve nas decisões dos ministérios da Educação, nem a ausência de formação em educação que tinha a maior parte daquela gente. E eu, que além de professor durante mais de quarenta anos estudei e investiguei educação durante mais de trinta e cinco, fico calado, porque reconheço, cada vez com mais nitidez, o pouco que sei sobre o assunto. Mas os outros têm direito a falar, e falam, mesmo erradamente, porque a educação, tal como a economia, é demasiado importante para ser deixada aos especialistas. Diz um amigo meu, biólogo de formação, a propósito de toda esta crise: «Eu, se fosse economista, pintava a cara de preto». A economia, enquanto área de estudo e de investigação, enquanto ciência social e humana, também terá de pintar a cara de preto? Não acho.
João boavida
Caro João Boavida.
Tinha a certeza que era capaz de escrever aquilo que escreveu e que me faz corar por talvez ter sido demasiado insultuoso no meu comentário. Concordo plenamente com praticamente tudo o que escreve.
Eu tenho vindo várias vezes a constatar aquilo que diz sobre as ciências da educação e repare, do assunto percebo de certeza muito menos do que o senhor percebe de economia.
Quanto ao assunto da esquerda. Concordo com a analise que faz no comentário, já que de um ponto de vista de estratégia, é notório que algo está mal com a esquerda. No entanto, nem tudo me parece ser culpa da própria esquerda que se defronta com uma realidade dificil de enfrentar e que se resume nisto: ao lermos uma notícia sobre declarações do Francisco Louçã lemos todos os soundbytes que ele tenha dito, que realmente aceito que possam soar a demagogia. Mas depois, ao ler os livros que escreve, vemos uma imensa busca por ideias, com uma grande sustentação científica, com uma argumentação cuidada e uma grande prudência naquilo que defende.
Outro exemplo vi há tempos numa entrevista de Mário Crespo ao secretário-geral da CGTP. Mário Crespo atirava que a CGTP nunca está nos acordos de concertação social, uma percepção que deve ser partilhada por grande parte da sociedade portuguesa. A essa insinuação, Arménio Carlos responde com a evidência dos acordos que nos últimos anos foram assinados pela CGTP e que os governos NÃO cumpriram, de forma sistemática. Claro que a percepção das pessoas é o da CGTP que nunca está de acordo com nada, mas não a de que os governos violam sistematicamente os acordos assinados com os parceiros sociais.
Portanto, parece-me acima de tudo que a esquerda sofre de uma pressão que a sociologia saberá explicar e que faz com que não consiga mostrar-se como uma alternativa credível, não querendo com isto querer desculpabilizar os erros estratégicos que já referi acima. Nesta linha, o seu artigo contribui para essa descredibilização da esquerda que me parece demasiado injusta.
Por último tenho de concordar com "Mas os outros têm direito a falar, e falam, mesmo erradamente, porque a educação, tal como a economia, é demasiado importante para ser deixada aos especialistas."
Enquanto fui estudante de economia, até à pouco tempo atrás, tentei através de vários esforços, lutar por uma ciência económica mais plural, aberta e pluridisciplinar. Capaz de aprender com outras áreas do saber e capaz de aprender com os casos reais das pessoas. Porque é disto que a economia trata: de casos reais de pessoas reais. É por isso que é demasiado importante para ser deixada aos especialistas. E por isso desejo fortemente que possamos todos dar a nossa opinião sobre temas importantes (e menos importantes). Terei todo o gosto em ler neste blogue, ou noutro espaço qualquer o que pensa sobre questões de economia. Talvez lhe peça apenas que não use palavras como demagogia de uma forma tão leve como me pareceu ter usado neste artigo.
Despeço-me, pedindo mais uma vez desculpa pela forma um pouco arrogante como comentei inicialmente.
Com os melhores cumprimentos
Mais uma referência breve:
Costuma-se dizer que a esquerda só critica e não apresenta alternativas. Tem piada que hoje o BE apresentou um conjunto de medidas alternativas para a economia portuguesa. Podemos não concordar com as medidas mas, penso que já não lhe podemos chamar demagogia...
A propósito, quantos noticiários televisivos vão falar sobre estas medidas?
As propostas podem ser vistas em:
http://www.esquerda.net/sites/default/files/6_medidas_salvar_economia-esquerda_1.pdf
Identifico-me inteiramente com o texto de entrada do (meu) estimado Professor João Boavida.
E percebo-lhe a mágoa sobre o que se diz das "ciências da educação". E o desconforto de ficar calado nessas ocasiões. Peço-lhe, no entanto, que entenda o sofrimento, a tristeza, a decepção e o horror de todos os que sentem na pele, ao longo de décadas, o efeito dos desvarios irresponsáveis e criminosos provenientes do que se tem chamado "ciências da educação", que motivam, por exemplo, os conselhos de turma disciplinares mais ou menos inúteis, que decorrem (neste momento) nalgumas escolas (sempre públicas) para travar os ímpetos de meninos de quinto (sim, do quinto!...), sexto e sétimo anos de escolaridade. E daí para cima é o que se cala e esconde... Então as pessoas idóneas das ciências da educação não deviam falar sobre isto? Isto não devia ser o principal objetivo do seu estudo? Queremos que as crianças aprendam ou não?
Ou andamos, como andamos, a encanar a perna à rã?
Falemos pois. Claramente. Mesmo que não acertemos sempre. Porque os "especialistas", e o que propuseram (impuseram...) foram, por vezes, mais ineficazes e prejudiciais do que a "ignorância" dos que têm por função fazer as coisas. E que as fazem com gosto, de resto...
É (o) nosso dever.
Meu caro Tiago Santos,tinha ainda alguma coisa a dizer antes do seu comentário. E a ideia é esta. Não sendo especialista em economia há alguns anos que vou lendo sobre economia e já vou percebendo alguma coisa. Embora não muito, já compreendi que grande parte da nossa crise foi provocada pela grande finança internacional (e nacional)criminosa e implacável, mas nós pudemo-nos a jeito e alguns erros de anteriores Governos, sobretudo do último, deixaram-nos muito fragilizados. Também dá para compreender que este processo de austeridade não deve ir longe, e que aquilo que há meses muitos andam a dizer, se não houver uma inflexão forte irá, tudo o indica, concretizar-se. Mas, por outro lado, sem financiamentos não há economia, e nós estamos sem financiamentos, e sem credibilização não há financiamentos,e, portanto, não haverá dinamização económica. Neste aspeto penso que o Governo tem razão procurando obter crédito psicossocial para poder em seguida obter crédito fiduciário, ou melhores condições para ele. E aqui a questão psicológica e de opinião corrente é essencial e a nossa esquerda parece não perceber, porque muitos dos seus discursos, de incentivo à reivindicação e à agitação social (e é óbvia a orquestração da agitação)feita por alguns que não têm razão nenhuma para o fazer, só nos afastam desse crédito donde poderão vir as condições de financiamento e de dinamização económica. Portanto, este clima de PREC poderá ser bom para quem quer deitar governos abaixo, se possível todos e sucessivamente, mas não interessa à economia real nem às pessoas e empresas concretas. Por outro lado ainda é óbvio que estamos reféns das ideias feitas dos povos do Norte da Europa, em muitos aspetos erradas mas em muitos outros certas,e essa mudança entra sobretudo com informação e com boa fama, que é precisamente o que nos falta. Mas que temos estado a recuperar, segundo parece. E é isto que se está a destruir. Estamos, portanto, numa situação dilemática em que todas as saídas parecem truncadas, mas os alegres reivindicativos não querem perceber isto e acham interessante dificultar ainda mais as coisas. É certo que o Governo tem ajudado com atitudes desastradas e ideias descabidas, mas o que devíamos fazer era evitar extremar as coisas e não levar o Governo ao sentimento de que está acossado. Todo o animal acossado se transforma em perigoso.
Agradeço-lhe, de qualquer modo, a qualidade do debate que proporcionou.
Tem razão na sua mágoa e na sua indignação, meu caro José Batista, há muita gente que se enfiou nas "ciências da educação" porque viu ali um furo e foi para lá a fazer e a dizer disparates e a ir na onda das ideias feitas ou das que julgava que estavam a dar. E há outros, muito badalados nos órgãos de comunicação social, que não são das ciências da educação, mas foi com elas que ganharam fama e proveito, criando por vezes má vontade entre as pessoas que já não podem com aquele discurso. Também eu me indigno com coisas no género das que refere, e com as "ideias educativas" que deseducaram toda uma geração, mas disso há muitos culpados, e nunca os encontraremos a todos. Ou seja, muito do que se faz em nome das ciências da educação tem mais a ver com ignorâncias, e com meias verdades que são tomadas como vindas das ditas ciências, mas não são resultado de investigação, ou são só parte ou a superfície dessas investigações.
Por outro lado, as ciências da educação têm a dificuldade de serem ciências sociais e humanas e, nestes domínios, as coisas são muito mais difíceis e complexas que nas ciências exatas. E não podemos exigir o mesmo nível de rigor e de certeza, pela infinidade de variáveis que interferem e a impossibilidade de as controlar a todas. Veja o que acontece na economia e a infinidade de opiniões que aí vai, e as coisas na educação são ainda bastante mais complexas. Mas a verdade é que se faz investigação económica que vai aumentando o conhecimento. Com a educação é a mesma coisa. A investigação que se faz é imensa, apesar de todos os ataques que se lhe são feitos e o que sabemos hoje é infinitamente mais do que há cem anos, por exemplo. A cruzada anti ciências da educação está, porém, condenada ao insucesso, como qualquer cruzada anti-científica. Todos os esforços, ao longo da história, para impedir o progresso dos conhecimentos foram, a longo prazo, infrutíferos. Em muitos casos atrasaram o conhecimento e a evolução científica mas o conhecimento e a ciência acabaram sempre por levar a melhor.Sabe isto e está de acordo, com certeza, e mais, sei que é um agente empenhado e sério de tudo o que aumente os conhecimentos e qualifique as pessoas. Os que defendem a educação à moda antiga como se fosse muito boa não reparam nas imensas ignorâncias e limitações que continha. Mas como era muito má(tese) caiu-se no oposto igualmente mau (antítese). Estes movimentos sociais e de opinião são geralmente dialéticos. Pode ser que estejamos a entrar numa síntese equilibradora. Tenhamos esperança.
As (pseudo) ciências da educação são um logro, um poço de ignorância atrevida, o reduto de tudo o que é intelectualmente medíocre no nosso país. Quem tem, de facto, dois dedos de inteligência tira cursos a sério e não se mete naquele pântano de coisa nenhuma.
Ingredientes básicos das (pseudo) ciências da educação: uns laivos de história da educação (numa visão puramente marxista e desenquadrada de toda a outra história), uns pozinhos de sociologia, meia fotocópia de filosofia, e umas ideias mais ou menos vagas de estatística.
Assim se formam os doutores da coisa. Assim conseguiram dominar todo o ensino sem que haja hoje mestrado ou mestradozinho, doutoramento ou doutaramentozinho que não tenha o seu seminário, a sua cadeira, ou ou seu banco de wc das (pseudo) ciências da educação. Até ter um reitor numa das maiores universidades portugueses esta gente já conseguiu.
Ah, pois, que este é outro as aspecto de que geralmente os nossos comentadores do DRN se costumam esquecer: o aspecto mafioso da coisa.
E por aqui me fico.
"A cruzada anti ciências da educação está, porém, condenada ao insucesso, como qualquer cruzada anti-científica. Todos os esforços, ao longo da história, para impedir o progresso dos conhecimentos foram, a longo prazo, infrutíferos. "
Para isto ser verdade, era preciso que as CE fossem de facto uma ciência, coisa que não são. Por isso, acho que, pelo contrário, é uma cruzada votada ao sucesso e é obrigação dos verdadeiros cientistas expor o logro que as CE são. Começando talvez por explicar o que é uma verdadeira ciência e sobretudo por desmontar a linguagem socio-filosofico-historico-pseudocientifica usada pela tribo, julgando assim impressionar o povo. Aliás o discurso dessa gente é a única coisa que ainda os vai salvando. A maioria dos simples, como todos nós, ouve aquele monte citações e de palavras difíceis roubadas a várias áreas científicas e impressiona-se muito: ui ui, que doutores, até sabem o que é o esterno-cleido-mastoideo!
"E depois comparar com os profissionais de tarefas idênticas, em Portugal, para avaliar das suas razões".
Estimo deste comparativo a classe intelectual, responsável pelo conveniente acerto com o leitor da resultante a crítica equilibrada.
Meu caríssimo Professor.
Nem calcula quanto gosto de o ouvir (ler, neste caso).
Eu sei que não foi pelo Senhor nem por tantos como o Senhor que chegámos aqui. Espero que não se sinta desconfortável por eu escrever isto assim. É uma pequenina homenagem que lhe faço. Porque, como tantos outros, a merece.
Deixe-me só dizer-lhe por que "grito" tanto às vezes. É por coisas como as que ainda há momentos me quiseram contar, durante a hora de almoço:
- Um casal de pessoas bem formadas, de pose humilde e muito digna, foi esta manhã pedir uma audiência ao diretor da escola do filho, o qual frequenta o quinto ano de escolaridade. Pai e mãe estavam consternados: outro aluno, da mesma turma, cuspiu no chão e obrigou-o a debruçar-se e a lamber a lama de cuspo que fez no chão. Atarantado, o diretor ia pedindo/ordenando aos pais que apresentem tudo por escrito, e eles a acrescentar, cordatamente, que não querem processos burocráticos, querem antes um sério problema resolvido...
Agora, na escola e fora dela todos sabem que aquele caso não dará em nada. Todos...
Que andamos nós a fazer?
E são crianças de quinto ano de escolaridade...
Preparamo-las (bem) para quê? - Talvez para virem a fazer umas praxes académicas (?!) ou participar nalgum programa da senhora dona Teresa, ou... para entrar no mundo do crime.
Não há direito. Não há.
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