A notícia está em todos os jornais, na rádio e na televisão. Múltiplas entidades, indignadas, desdobram-se na denúncia. As instâncias devidas asseguram que vão proceder a investigação.
O caso é o de uma escola portuguesa que, confrontada com crescentes dívidas de encarregados de educação respeitantes à alimentação dos alunos e, ao que parece, depois de ter avisado que tomaria medidas de suspensão desse serviço, caso os pagamentos não fossem regularizados, deixou uma criança de cinco anos sem almoçar.
Como é costume, todas as outras crianças almoçaram na cantina com excepção dessa criança, que terá ficado na sala a comer algo como bolachas e leite, tendo por companhia uma educadora, esperando pela mãe, que não deu a certeza de chegar a horas.
Dizemos nós, concentrados na actuação da escola: isto não devia ter acontecido, uma escola não pode deixar uma criança sem almoço. A acção é reprovável, a mensagem que veicula é contrária à orientação humanista que tem por obrigação seguir.
Trata-se dum caso que, polarizando tantas atenções, terá, presumo, o tratamento devido, por isso refiro-o para dar conta de algo que tenho visto nas escolas e que também me têm contado.
As crianças não podem ficar sem pequeno almoço, sem almoço e sem merenda. Se os pais não podem assegurar a alimentação, a sociedade tem obrigação de agir. Este é o princípio, passemos à realidade: como sabemos bem de mais, a sociedade desfaz-se a cada dia que passa e os professores convivem com uma das faces mais negras dessa circunstância: a fome das crianças, sobretudo pela manhã.
Sei de muitos que compram, pedem, recolhem pão, fruta, sumos... o possível e discretamente dão-no a alunos que percebem não terem o que comer além do almoço que, em certos casos, a escola assegura.
Este caso é, pois, infelizmente, um em centenas ou milhares de que não há conhecimento público porque alguém faz alguma coisa. Mas, até quando? Até quando será possível aos professores a que refiro mitigarem a miséria que cresce, cresce?
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
1 comentário:
Professora Helena Damião;
Seja-me permitido fazer uso de duas citações.
A primeira é retirada de um “post” do Professor Rui Baptista;
“A escola única é uma ficção, um igualitarismo funcional que nada tem a ver com a igualdade real” (Jean-Luc Mélenchon, ex-candidato às eleições presidenciais francesas de 2012, “L’Express, 22/03/2001).
A segunda é retirada da Escola Única de Bento de Jesus Caraça;
“A famosa neutralidade da Escola onde existe, ou existiu? Não neste mundo, que me conste. Pelo contrário, passando uma vista de olhos sobre a história da pedagogia, só encontraremos, como veremos daqui a pouco, uma Escola reflectindo directamente, na sua extensão e no seu conteúdo, a estruturação social do lugar e do tempo a que se reportar.”
Cordialmente,
Enviar um comentário