Academia
de Atenas, numa pintura de Rafael. Ao fundo e ao centro Platão e Aristóteles
Limitando-nos às ciências da Terra, nas suas múltiplas disciplinas, e ao mundo mediterrâneo, berço da nossa civilização, foi na Grécia antiga que surgiram os primeiros textos envolvendo temas desta importante área do conhecimento, incluídos na chamada Filosofia Natural.
A grande influência dos filósofos e poetas gregos no pensamento da Europa cristã (através das suas obras originais ou das traduções destas, feitas, mais tarde, por judeus e árabes), também se fez sentir nalguns temas incluídos nas ciências da Terra. Ao tempo, a chamada Filosofia Natural especulava acerca da natureza, ou seja, do universo físico. De início, não dava grande ênfase à descrição dos objectos e dos fenómenos naturais, procurando, sobretudo, chegar à essência dos entes (que possuem corpo), e ao conhecimento das primeiras causas e dos “princípios” (constituintes) do mundo material.
Na linha do pensamento platónico, era uma disciplina mais de elaboração mental do que de observação ou de experimentação. Filósofos gregos pré-socráticos deixaram-nos obra escrita no âmbito da Filosofia Natural, com destaque para Demócrito de Abdera (460-379 a C) e o seu pensamento sobre o atomismo. Para Platão (429-347 a C), o inovador do idealismo e do inatismo, a verdadeira realidade estava no mundo das ideias, das formas inteligíveis, apenas acessíveis através da razão.
Para este discípulo de Sócrates (469-399 a.C), as ideias começavam por ser formuladas no pensamento, sendo o raciocínio e a indução as principais vias para atingir o conhecimento. Interessou-se pelo vulcanismo, uma realidade geológica do seu tempo bem à vista no Mediterrâneo. Admitia a existência de um rio subterrâneo de lama fervente e lava, o “pirofiláceo”, que serpenteava pelo globo terrestre e alimentava os vulcões. Esta mesma ideia já fora divulgada na obra poética do seu conterrâneo Píndaro (518-438 a C), na qual se fala da existência de um canal ardente, o “typhone”, que, em profundidade, ligava a região de Nápoles à Sicília, com ramificações subterrâneas, explicando assim as erupções do Etna e das ilhas Lipari.
Frequentador de Academia de Platão, o astrónomo e matemático Eudóxio de Cnido (390 – 338 a C), foi o autor do primeiro modelo do Sistema Solar, que concebeu como um conjunto de esferas centradas na Terra. Esta hipótese cosmológica geocêntrica, que causou grande impacto sobre a filosofia natural grega, antecipou-se, cerca de cinco séculos, à de Cláudio Ptolomeu.
Ao contrário de seu mestre, Aristóteles (384 - 322 a C) introduziu o pensamento realista, sendo por isso considerado um precursor do empirismo. Para este discípulo de Platão as ideias chegam-nos através dos sentidos, observando, pelo que dava muita importância ao mundo exterior entendido como principal fonte do conhecimento e aperfeiçoamento das capacidades intelectuais. Para ele, o único mundo é o sensível, que é também o mundo inteligível. Este, que foi o fundador do Liceu de Atenas, introduziu o termo “física” (do grego antigo, physis, sinónimo de natureza) em substituição de filosofia natural, e destacou-se pelas suas especulações e investigações no âmbito desta disciplina, tendo influenciado profundamente o cenário intelectual europeu.
Aristóteles foi um notável e influente apoiante do modelo geocêntrico de Eudóxio. Segundo ele, a Terra permanecia estática, com uma geografia imutável, e era, também, o centro do Universo, que considerava praticamente eterno. Atribuía grande estabilidade ao mundo terrestre e, tendo em conta a efemeridade da vida do ser humano, defendia que certas acções naturais, extremamente lentas e imperceptíveis no dia-a-dia, teriam grande expressão com o acumular do tempo, que tinha por incomensurável.
Com este pensamento, o Estagirita (assim chamado por ter nascido em Estagira, hoje Stavro, na Macedónia) antecipou de mais de dois milénios a ideia do cúmulo de um tempo imenso sobre os processos naturais, a que James Hutton, no século XVIII, deu grande visibilidade, a ponto de ser visto por muitos como o pai desta ideia.
Continua.
Galopim de Carvalho
1 comentário:
Querida Filosofia Natural instrumento da ciência!
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