segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Confissões de um mercenário económico

Não conheço o senhor John Perkins, nem percebo o suficiente de economia, política ou sociologia para saber se ele tem ou não razão nas conjecturas que faz sobre a crise em que a Europa está mergulhada. Mas talvez valha a pena ler o que tem a dizer sobre o assunto porque, ao que entendi, esteve metido e foi parte da crise...

A jornalista Sara Sanz Pinto, do jornal i, entrevistou-o no passado mês de Setembro, resultando daí um texto intitulado “Portugal está a ser assassinado, como muitos países do terceiro mundo já foram”. Eis um extracto, onde se refere ao nosso país:
No fim do ano passado escreveu um artigo onde afirmava que a Grécia estava a ser atacada por assassinos económicos. Acha que Portugal está na mesma situação? 
Sim, absolutamente, tal como aconteceu com a Islândia, a Irlanda, a Itália ou a Grécia. Estas técnicas já se revelaram eficazes no terceiro mundo, em países da América Latina, de África e zonas da Ásia, e agora estão a ser usadas com êxito contra países como Portugal. E também estão a ser usadas fortemente nos EUA contra os cidadãos (...).
Mas a boa notícia é que as pessoas em todo o mundo estão a começar a compreender como tudo isto funciona. Estamos a ficar mais conscientes. As pessoas na Grécia reagiram, na Rússia manifestam-se contra Putin, os latino-americanos mudaram o seu subcontinente na última década ao escolher presidentes que lutam contra a ditadura das grandes empresas (...).
Por isso encorajo as pessoas de Portugal a lutar pela sua paz, a participar no seu futuro e a compreender que estão a ser enganadas. O vosso país está a ser saqueado por barões ladrões, tal como os EUA e grande parte do mundo foi roubado. E nós, as pessoas de todo o mundo, temos de nos revoltar contra os seus interesses. E esta revolução não exige violência armada, como as revoluções anteriores, porque não estamos a lutar contra os governos mas contra as empresas. E precisamos de entender que são muito dependentes de nós, são vulneráveis, e apenas existem e prosperam porque nós lhes compramos os seus produtos e serviços. Assim, quando nos manifestamos contra elas, quando as boicotamos, quando nos recusamos a comprar os seus produtos e enviamos emails a exigir-lhes que mudem e se tornem mais responsáveis em termos sociais e ambientais, isso tem um enorme impacto. E podemos mudar o mundo com estas atitudes e de uma forma relativamente pacífica. Mas as próprias empresas deviam ver que a ditadura das multinacionais é um beco sem saída (...)
Aquilo que fizemos com esta economia mundial foi um fracasso. Não há dúvida. Um exemplo disso: 5% da população mundial vive nos EUA e, no entanto, consumimos cerca de 30% dos recursos mundiais, enquanto metade do mundo morre à fome ou está perto disso. Isto é um fracasso. Não é um modelo que possa ser replicado em Portugal, ou na China ou em qualquer lado. Seriam precisos mais cinco planetas sem pessoas para o podermos copiar. Estes países podem até querer reproduzi-lo, mas não conseguiriam. Por isso é um modelo falhado e você tem razão, porque vai acabar por se desmoronar. Por isso o desafio é como mudamos isto e como apelar às grandes empresas para fazerem estas mudanças. Obrigando-as e convencendo-as a ser mais sustentáveis em termos sociais e ambientais. Porque estas empresas somos basicamente nós, a maioria de nós trabalha para elas e todos compramos os seus produtos e serviços. Temos um enorme poder sobre elas. Por definição, uma espécie que não é sustentável extingue-se. Vivemos num sistema falhado e temos de criar um novo. O problema é que a maior parte dos executivos só pensa a curto prazo, não estão preocupados com o tipo de planeta que os seus filhos e os seus netos vão herdar.
Para se aprofundar o assunto, a editora Pergaminho publicou em 2007 um dos seus livros, que tem sido muito vendido: Confissões de um mercenário económico: a face oculta do imperialismo americano.

5 comentários:

fernando caria disse...

Para saber mais sobre os conceitos de Gestão e de Marketing Sustentável, que são dois caminhos possíveis para responder à questão em aberto do John Perkins, ver:

http://aquila2.iseg.utl.pt/aquila/homepage/l19041/marketing-sustentavel

Gisele Secco disse...

"os latino-americanos mudaram o seu subcontinente na última década ao escolher presidentes que lutam contra a ditadura das grandes empresas (...)"

Sorry, esse NÃO é o caso do Brasil MESMO.

Kynismós! disse...

Esquerdopatia....

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Estimada professora Helena Damião aprendi admirá-la e compreendê-la! Mas, meu respeito por vos significa do compromiso a que reservo-me e neste post o receio. Pois vosso fruto de estudo e principalmente de âmparo ao conhecimento e opinião, e que representara nesta altura experiência na lide educativa um respaldo; pois algo surpreende-me, deixar-se vos levar por terceiros "um Perkins entitulado mercenário" e que ferozmente, tenta projectar interesse sensacionalista onde o livro nem deixa-nos enganar, está denunciando-o despropósito "bestseller", e isto é o que feri o compromisso do conhecimento a nem substimar-nos, ou seja, no que induz o que entendemos por alienar o outro, de imcompreensão. É demonstrar quão frágil está o leitor, sem compor quaisquer informação de punho ou nem só. E cuja a gravidade do objetivo é tencionar; assim, por dizer contaminar discórdia. Todo ser solidário e principalmente professores têem por instrucção o dever, e prioridade do esclarecido para seleccionar a educação de conteúdo, o preparo e o anseio para justamente transpor do embate. Por favor, professora Helena Damião, meu simples pedido e estende-se pelos outros. Pois esperamos mais decisão e clareza a causa na lide do ensino que exige firmeza aos detalhes. Na modéstia do comentário a dedicação.

Sien disse...

É obvio que estamos a ser atacados por assassinos economicos: chamam-se socialistas...

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