Em entrevista à Revista da Ordem do Psicólogos Portugueses - Psis 21, n.º 2 -, Manuel Viegas Abreu, professor catedrático jubilado da Universidade de Coimbra, explica a situação da saúde mental em Portugal.
Disse uma vez numa entrevista que o sector da saúde mental é o mais pobre de todos...
Sim, o mais pobre e o mais desvalorizado. O mais pobre porque é o sector da saúde com menos recursos financeiros e também com menos recursos humanos. O sector da saúde mental tem sistematicamente o orçamento mais baixo de todos os sectores da saúde, orçamento que está centrado nas despesas com "camas" (ou seja, internamentos hospitalares) e com fármacos. O que significa que falta dinheiro para investir em estruturas, serviços e programas de Reabilitação Psicossocial e outras valências terapêuticas em que as intervenções psicológicas são de uma efectividade cientificamente demonstrada.
Desvalorizado porquê? Porque nos planos de tratamento dos doentes não são integradas outras modalidades de cuidados com as intervenções psico-educativas de doentes ou familiares, as terapias cognitivo-comportamentais e as actividades de Reabilitação Psicossocial. Trata-se de um «sintoma» da desvalorização com que a saúde mental é encarada pelas autoridades responsáveis pela melhoria da qualidade da saúde em Portugal. É preciso mudar esta situação.
Como é que se faz essa mudança?
A mudança requer a sensibilização de diversos agentes sociais e exige a conjugação de esforços de muitas organizações desde Associações de doentes e seus familiares até às Universidades (...). É indispensável reconhecer e proclamar que a reabilitação psicossocial é um direito das pessoas com doença mental e um dever do Sistema nacional de Saúde.
Actualmente dirige a Associação ReCriar Caminhos. Pode explicar em que consiste?
Associação ReCriar Caminhos foi criada no final de 2008 com o objectivo de contribuir para o apoio ao desenvolvimento vocacional, formação e inclusão social de pessoas com esquizofrenia. Ao afirmar que a reabilitação social das pessoas com esquizofrenia é possível, com base em experiências e dados científicos provenientes de outros países, a Associação está a defender um direito dessas pessoas, a pressionar as autoridades responsáveis pela política de saúde e a sensibilizar os cidadãos para a necessidade de integração da reabilitação psicossocial no sector da saúde mental.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
"A escola pública está em apuros"
Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
1 comentário:
È perfeitamente lamentável que a saúde mental seja o sector da saúde mais desvalorizado. Devia ser um sector da saúde nacional com prioridade pois o impacto do futuro, ou os vários impactos do futuro, sendo um deles a esquizofrenia capitalista, a isso devia obrigar.-
Enviar um comentário