segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Apresentação do livro Os Anos Desvastadores do Eduquês pela professora Celina Veiga de Oliveira

Apresentação do livro de Guilherme Valente, no dia 11 de Setembro no El Corte Inglês de Lisboa, por Celina Veiga de Oliveira:

Conheci Guilherme Valente em Macau, nos anos oitenta do século passado, quando ele dirigia uma publicação bilingue, em português/chinês, numa época em que o bilinguismo não era ainda assumido como norma geral, que se chamava Revista de Administração Pública de Macau. Esta revista ainda se continua a publicar em Macau, o que só por si é testemunho da justeza do conceito que lhe deu vida. Quando regressou a Portugal, fiquei a substituí-lo como directora dessa revista e ainda hoje colaboro com o envio de um ou outro artigo sobre história e cultura de Macau.

Mais tarde voltou para Macau para colaborar com o Governador Vasco Rocha Vieira e continuámos a ser amigos. Fui também professora do André, seu filho, no Liceu em Macau, o que ajudou a estreitar os laços de amizade à família. Talvez tudo isto sirva de justificação para o honroso convite para apresentar, com o Professor Carlos Fiolhais, coimbrão como eu, este livro. Mas se a presença do Professor Fiolhais era indispensável, porque é um dos mosqueteiros desta cruzada contra o eduquês, a minha era dispensável, porque eu nem professora já sou.

Guilherme Valente (GV) quis, no entanto, que eu viesse aqui dar o meu testemunho de quase quatro décadas na sala de aula, em dois continentes. Como não tenho alternativa, dou-o com todo o gosto…

Comecei a dar aulas em 1970, apanhando os primeiros anos da Reforma Veiga Simão. Por pura intuição, apliquei sempre, com as devidas adaptações, naturalmente – porque ensinar um jovem de 13, 14 anos é diferente de ensinar um adulto -, aquela norma pedagógica popular do «pau e pão», que me tinha, aliás, formado, entendido o pau como o estudo, a disciplina, o respeito, o brio, a vontade de aprender, e o pão, como o afecto, umas vezes cúmplice, outras vezes «maternal», a capacidade de ouvir e de estar atento às reacções e aos comportamentos, o conselho… e também a graça no momento certo. Posso assegurar-vos de que este método nunca falhou.

Nunca embarquei em «pedagogices», como diz GV no livro. Na aula eu ensinava e o aluno aprendia. Nunca tive receio destes verbos. A sala de aula, porta fechada, era o meu reino. Nunca abdiquei da minha autoridade.

Fazer tudo isto em Macau, para onde fui em 1980, era muito fácil. Os alunos do Liceu Nacional Infante D. Henrique - chineses, macaenses e «metropolitanos», como se chamava na altura aos que iam de Portugal - eram muito respeitadores. E é este respeito pelo professor – aliás, uma das normas confucianas de piedade filial - que permite que em Macau as turmas das escolas chinesas tenham tantos alunos, 50 ou mais, mas onde todos aprendem.

Sempre que há reuniões de convívio de pessoas que trabalharam em Macau e as minhas filhas se encontram com antigos alunos meus, é certo e sabido que me vêm com alguma história que eles contam desses tempos. Esta que vou ler está publicada no livro O Liceu de Macau, de João Botas, e faz-me sorrir quando a recordo:

"Eu tinha uma turma de adolescentes, com alguns rapazes «metropolitanos» que estavam naquela fase de gostarem pouco de se lavar. Mas gostavam da bola, passando os intervalos a jogar. Com a correria e o calor sufocante que se fazia sentir, o cheiro a suor na sala com a porta fechada era insuportável. (…) Tinha de pôr cobro à situação. Com habilidade, para não fazer perder a face aos que davam pouco uso ao sabão e à água, e sobretudo com eficácia.

E assim foi. Como quem não quer a coisa (…), adverti a turma do seguinte: «Cheira mal aqui dentro da sala. Há muito calor e nós transpiramos (…). Por isso é preciso tomar banho. Todos os dias. Para eu dar as aulas bem disposta e animada, não quero sentir esse cheiro (…). Então é assim: na próxima aula de História, eu vou cheirar os alunos um por um, à porta. Só entra quem cheirar bem. Só entra quem tiver tomado…» Deixei a frase em suspenso. Alguns responderam: «banho!». «Exacto (...). Quem cheirar a lavadinho, entra. Quem cheirar mal não entra». Silêncio….

Na aula seguinte lá estava eu à porta da sala. Cheirei-os a todos. Foi tudo passado a pente fino. Claro que muitos, sobretudo as meninas, não precisavam nada daquilo (…), mas eu não podia fazer distinções para não magoar os «prevaricadores» (…).

Cheirava um e dizia: «Entra». Cheirava outro: «Entra» e assim todos foram entrando. Os menos asseados aprenderam a lição e nunca mais houve maus cheiros. Presumo até que se sentiram heróis por terem passado na barreira da professora…."

Quando regressei a Portugal, quase vinte anos depois de ter saído, pensei que tinha entrado numa outra galáxia. A desordem, que começara com os ventos libertários do 25 de Abril, era enorme. Algumas antigas funcionárias queixavam-se-me da maneira como os alunos as tratavam e falavam com saudade do tempo em que a escola era um lugar de aprendizagem de conteúdos e de comportamentos;

O cansaço de muitos professores que se sentiam incapazes de impor o respeito era notório e grande a desilusão por um Ministério da Educação comandado por gente que os desprezava. As leis medíocres, labirínticas e em constante mutação, numa arrepiante «confusão de directivas e contradirectivas» que esse ministério vomitava a cada passo, o barulho nos corredores e a degradação dos espaços eram o prato do dia.

E eu pensei: - Bonito serviço! Onde me vim eu meter!

A solução para a minha sobrevivência era a aplicação do meu método infalível: as primeiras aulas, «tipo tropa», até os alunos se convencerem de que não podiam fazer farinha. E logo que isso acontecia, eu entrava de férias.

No final do 3.º período, depois das notas dadas, os alunos faziam por escrito uma apreciação das aulas de história. Tenho orgulho em afirmar que sempre disseram que eram as aulas de que mais tinham gostado porque havia disciplina, atenção, exigência e também teatro, que a professora fazia a explicar a matéria…

Depois deste preâmbulo, vamos então ao livro Os Anos Devastadores do Eduquês, a cruzada de GV. Comecemos por um pequeno resumo desta «tragédia», como lhe chama o autor.

O poder político instalado após o 25 de Abril não teve o discernimento necessário para fazer uma avaliação da reforma Veiga Simão, um «desafio nacional, que consistia em educar todos os portugueses». E o sistema educatico começou a esboroar-se:

- extinção do ensino industrial e comercial.
- progressivo apagamento da exigência na aquisição de conhecimentos.
- legislação concebida para «democratizar» a educação: transição de ano independentemente dos conhecimentos adquiridos; criação das necessidades educativas especiais, especificidades que visavam garantir a «democratização» na educação e que possibilitavam que alunos transitassem de anos com 4 ou 5 negativas.
- sobrecarga de tarefas burocráticas e administrativas para os professores, cada vez com menos espaço para ensinarem (eu tenho pensado muitas vezes que aqueles grandes escritores portugueses que foram professores, se fosse hoje, dificilmente o teriam sido, porque não tinham tido tempo para a leitura, para a reflexão e para a escrita).
- o Ministério da Educação repleto de gente com horário zero há mais de 30 anos…
- um cortejo de ministros e secretários de estado raramente lembrados como autores de obra útil e válida para o país.

E que professores temos nas nossas escolas? Muitos dos que estão no activo já foram formados segundo o modelo do «eduquês».

Vale a pena destacar a este respeito algumas das perguntas do livro:

"É claro que os professores têm responsabilidade na tragédia dos resultados. Mas não são uma ilha.

Quem é o responsável pela sua formação, permitindo que não dominem as matérias que devem ensinar?

(…) Quem tem desvalorizado a função da escola como transmissão do conhecimento?

Quem impôs teorias, métodos e ambiente que impedem milhares e milhares de crianças de aprenderem a ler, escrever e contar?

Quem desvalorizou ou permitiu que se desvalorizasse o papel dos professores, apagando a função principal que deve ser a sua – ensinar?

Quem esmaga e tolhe os docentes com toneladas de papel?

Quem, aceitando-a e elogiando-a, tem encorajado a indisciplina, semente da violência?"


Metodicamente, através de artigos na imprensa portuguesa, GV traçou um diagnóstico sobre os principais problemas daquilo a que ele chamou OS ANOS DEVASTADORES DO EDUQUÊS.

No fundo, o que ele pretende é recolocar a escola como um problema central da nação, na senda do que um leiriense ilustre e seu conterrâneo, António José Saraiva, defendeu na conferência que proferiu na sessão solene da inauguração do Liceu Gonçalo Velho, em Viana do Castelo, em 1947, onde era professor, justamente intitulada «A Escola: Problema Central da Nação». Os tempos eram outros e o Estado Novo procurava sobreviver aos refluxos oriundos do fim da segunda guerra mundial, sobretudo a democracia, a liberdade e a descolonização.

Hoje, num novo século e num novo milénio, a Escola continua a ser um Problema Central da Nação: esvaziada da autoridade, com um prestígio estilhaçado, servida por um corpo docente heterogéneo, ameaçada por um garrote financeiro, a escola tem sido um laboratório permanente de experimentalismos.

A título de exemplo, vou falar-vos de uma situação que eu vivi quando regressei a Portugal, importada, como me explicaram quando pedi explicações, de França, o país que «às vezes só descobre as coisas com um século de atraso», como afirma George Steiner (esta é uma das inteligentíssimas epígrafes escolhidas por GV para o livro):

Três semanas depois do início das aulas, quando já os alunos começavam a vencer a força da inércia depois de um longo período de férias, as aulas paravam, durante uma semana… para reuniões intercalares. Todo o ritmo entretanto adquirido e o trabalho de persuasão e de estímulo iam por água abaixo. Tinha de se começar tudo outra vez. Felizmente esta situação acabou, para contentamento dos Professores com letra maiúscula e tristeza daqueles alunos para quem a escola, sendo inútil, era difícil de suportar.

GV denuncia, com uma coragem que não é habitual entre nós, as «tais pegagogices supostamente dernier cri que confundem e ocupam os professores e servem apenas para justificar o emprego da nomenclatura do ministério». Estamos a destruir gerações de alunos e de professores, mas sobretudo não estamos a construir futuros cidadãos num momento em que eles são tão precisos para o país.

E por ter plena consciência desse facto, o autor enfrenta, sem concessões, a moda do «eduquês», a tal «conveniente ideia feita», e as forças que a impuseram, pondo em prática, no fundo, a máxima de Aristóteles: «Sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da verdade», outra das fantásticas epígrafes do livro. Independentemente das amizades, dos interesses instalados e das conveniências, o compromisso com a verdade acima de tudo.

Usa uma escrita directa, que não faz desvios, que assume as suas ideias, que não anda às voltinhas para não ferir este ou aquele – um problema tão português. Tal como o Pai, a quem dedica uma referência muito tocante, não confunde as ideias com as pessoas que as defendem. Sobre este assunto, aconselho a leitura do artigo Yes, Minister, na p. 201.

É redundante dizer que o livro está bem escrito - outra coisa não seria de esperar de um brilhante editor como GV –, mas gostaria de salientar a originalidade dos títulos dos artigos. «O regresso de Chiang Ching» é o meu preferido, também por ser um aviso de como os delírios de gente alucinada podem comprometer a história de um povo…

Portugal atravessa um momento de crise terrível. Dizia Agostinho da Silva que «o tempo que vivemos, se for mesquinho, amesquinha o eterno».

Mas os tempos de crise são também muitas vezes tempos de regeneração. Este livro aparece no momento certo. Qualquer responsável pela educação nacional pode, caso queira, servir-se dele para retirar do seu conteúdo todo um programa de acção. Não é preciso reinventar o que já está inventado.

O que é preciso fazer em minha opinião?

- Refazer e dar consistência científica aos programas das disciplinas.
- Voltar ao estudo dos clássicos.
- Reforçar a formação científica dos professores – um mau professor condena a aprendizagem.
- Devolver à escola a autoridade que lhe foi retirada.
- Valorizar e estimular os professores.
- Valorizar a escola, uma escola onde os professores possam «voltar a ser professores», uma das frases do livro que mais me emocionou.

O conteúdo deste livro vai de encontro ao pensamento de muitos professores que só aparentemente estão em silêncio porque estão esgotados pelo trabalho nas escolas.

Por último, este livro devia ser, quanto a mim, de leitura obrigatória para alunos, candidatos a professores, professores, pais, Associação de Pais e sindicatos e também de bibliografia recomendada para mestrandos e doutorandos em Educação, concorde-se ou não com o seu conteúdo. Não pode ser ignorado.

Ou muito me engano, ou este livro vai dar muita luta, vai causar muita polémica. Assim seja, desde que da discussão saia a luz da razão por que todos esperamos.

Muito obrigada.

Celina Veiga de Oliveira

4 comentários:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Reverência a excelência!

Ildefonso Dias disse...

Senhora Professora Celina Veiga de Oliveira;

O leitor do DRN António Pedro Pereira escreveu aqui no DRN e em resposta a um comentário meu o seguinte:

“É bom ver um jovem como o senhor ler atentamente os escritos do Prof. Sebastião e Silva, pessoa de tanto valor e tão injustamente esquecida (sabe, o seu racionalismo não serve à campanha dos anti-eduqueses fanáticos)

Neste momento caminhamos para o que o excelente e tão esquecido Prof. Sebastião e Silva criticava, e não o fazia para o substituir pelo chamado Eduquês, mas para lhe dar um sentido muito para além da mera apropriação acrítica e papagueação dos conhecimentos apreendidos.” Como este Senhor, António Pedro Pereira, com o conhecimento que tem pela Obra do Professor Sebastião e Silva, e apercebendo-se da minha falta de conhecimento sobre o que é o Eduques/Anti-eduqueses logo se prontificou para me alertar para o caso;

Infelizmente, em Portugal vivemos um tempo em que existem demasiadas pessoas que pretendem á força ser pedagogos, - e sem esquecer a diferença de idades - da Senhora Celina Veiga de Oliveira e o do Dr Guilherme Valente, digo-lhes; que para esta coisa não foram fadados, e mais, que não se apercebem que o que deveriam escrever era coisas menos ambiciosas de acordo com as possibilidades de cada um; que certas matérias ultrapassam as vossas capacidades, que existem matérias que só são acessíveis a espíritos mais elevados, os estruturadores, do presente e do futuro cuja acção perdura para alem da sua vida.

Senhora Professora analisemos um pouco do seu texto: e a descrição da sua experiência como professora.

E analisemo-lo opondo-lhe os textos do Professor J. Sebastiao e Silva, espírito elevado, que foi alguém no mundo nesta área, precisamente, aquela que e inacessível à Senhora Celina Veiga de Oliveira e também ao Dr Guilherme Valente (vou opor duas citações suas e também duas do Professor Sebastião e Silva que considero bastante eloquentes, pouco importa a ira que provoco em algumas pessoas ao falar no nome deste Professor eminente, nome que para elas é preciso esconder, mas que o Pais tanto precisava de lembrar). Que diferença...!!!

A Senhora escreve:“aquela norma pedagógica popular do «pau e pão», que me tinha, aliás, formado (...) Posso assegurar-vos de que este método nunca falhou.”

[J. Sebastiao e Silva] “Lamento profundamente ter de reconhecer que o ensino em Portugal está ainda, de alto a baixo, dominado pela concepção pedagógica que tem por símbolos a palmatória e as orelhas de burro. Geralmente, num ensino deste tipo, sobretudo nos graus primário e secundário, o aluno fica marcado: geram-se deste modo os complexos e as barreiras psíquicas, que a grande educadora psiquiatra Maria Montessori soube genialmente evidenciar (principalmente no ensino da Matemática!).”


(continua)...

Ildefonso Dias disse...

...(Continuação)

A Senhora escreve: “Na aula eu ensinava e o aluno aprendia. Nunca tive receio destes verbos. A sala de aula, porta fechada, era o meu reino. Nunca abdiquei da minha autoridade.”

[J. Sebastiao e Silva] “Há mas de 2000 anos Sócrates mostrou como se podem formar discípulos. Diz-se, e eu aceito, que os Diálogos de Platão fazem parte dos fundamentos da Cultura Ocidental. E, contudo, o ensino em Portugal encontra-se hoje, praticamente, numa fase pré-socrática. Aliás, é preciso notar que também Sócrates já está ultrapassado: nos Diálogos, o mestre aparece a impor discretamente o seu ponto de vista, conduzindo os discípulos onde quer que eles precisamente cheguem... Mas hoje é necessário mais: é necessário que o diálogo assente inteiramente numa base de compreensão mútua. Quer dizer: dantes, o professor falava, para que os alunos se aproximassem dele humildemente e se esforçassem por compreendê-lo; agora é preciso, além disso, que, reciprocamente, o professor se aproxime dos alunos, com humildade, e se esforce por compreendê-los, isto é, por compreender o ponto de vista de cada um deles e por encorajá-lo a sair do casulo e a encontrar por si novos caminhos; mais ainda: é preciso encorajá-lo a pôr os seus problemas e a encontrar o seu próprio caminho. Eu sei que esta ideia de o professor se aproximar dos alunos com humildade poderá escandalizar muita gente. Com efeito, quando se atribui a actual efervescência da juventude a uma crise da autoridade dos pais, dos educadores, etc., tende-se a confundir a verdadeira autoridade (que essa, realmente está em crise) com orgulho, egoísmo e arbitrariedade. Mas, não, a verdadeira autoridade não é incompatível com uma atitude mental e humana de humanidade: eu creio que o exemplo também já vem de longe; as pessoas é que continuam a sofrer de falta de memória.”

P.S. Senhora Celina Veiga de Oliveira choca-me ver o nome do Professor Universitário Carlos Fiolhais associado a este seu e mais que ultrapassado “reboliço” pedagógico, não devia ser assim. Ao mesmo tempo gostaria muito que o Professor Nuno Crato tivesse um pouquinho de tempo para ler este meu comentário pois “o Pais tanto precisava de o lembrar”.

Nazaré Oliveira disse...

Só hoje verifiquei, aqui, no De Rerum Natura, q a apresentação do livro para a qual teve a amabilidade de me convidar... já aconteceu!
Sr Dr Guilherme Valente, que triste fiquei!
Espero poder cumprimentá-lo numa próxima oportunidade e dar-lhe os parabéns, pois, com toda a certeza, será um livro para ler atentamente e uma séria reflexão sobre educação/ensino/professores/Escola no nosso país.

Os meus cumprimentos

Nazaré Oiveira

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