sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
PARABÉNS, STEPHEN HAWKING
Minha crónica no Sol de hoje:
Na velha Trinity Street entre os históricos Trinity College e King’s College da Universidade de Cambridge fica um outro não menos histórico colégio daquela prestigiada instituição: o Gonville and Caius College. Entre os membros desse Colégio está Stephen Hawking, o físico teórico muito conhecido pelos seus trabalhos na área da astrofísica e cosmologia e na divulgação científica (o seu livro Breve História do Tempo vendeu milhões de cópias em todo o mundo). Não há muito tempo Hawking era visto com frequência a passear por aquela rua de Cambridge e mesmo num ou noutro dos extensos greens de Cambridge, na sua cadeira de rodas, sempre acompanhado por uma enfermeira ou um assistente. Agora já quase não aparece em público dada a sua cada vez mais precária condição física. No passado dia 8 de Janeiro, na data em que ele fez 70 anos (e na data em que passaram 370 anos após o falecimento de Galileu), não pôde comparecer para agradecer os parabéns e os aplausos dos seus muitos amigos e admiradores. Foi ouvida uma sua mensagem, que ele sugestivamente intitulou Breve História de Mim, na voz sintética do computador, já que o próprio há muitos anos não consegue falar.
Cambridge é um autêntico viveiro de génios. Membros célebres do Trinity foram o físico J. J. Thomson, o descobridor do electrão, e o matemático e filósofo Bertrand Russel. Membros ilustres do Christ foram o biólogo Charles Darwin, o descobridor da evolução, e o escritor C. P. Snow. E membros famosos do Caius foram o biofísico Francis Crick, um dos descobridores do DNA (a notícia foi anunciada num pub, o Eagle, podendo o visitante ver a placa comemorativa) e o economista Milton Friedman. A inspiradora paisagem verde, o microclima favorável e, sobretudo, a tradição ancestral de desenvolvimento das ciências e das artes (a Universidade tem mais de 800 anos) facilitam, sem dúvida, o sucesso em Cambridge.
A história pessoal de Hawking é a da sua vitória contra a terrível doença, a esclerose lateral ameotrófica, que o atacou há quase 50 anos, mais exactamente em Janeiro de 1963 quando estava a começar o doutoramento em Cambridge, depois de ter obtido a licenciatura pela Universidade de Oxford (Hawking é natural de Oxford). Os médicos, na altura, não lhe deram mais do que dois ou três anos de vida. A festa dos seus 70 anos mostra que, por vezes, os médicos se enganam redondamente... O prognóstico grave não o impediu não só de terminar o seu doutoramento, mas também de se tornar um dos físicos com mais renome: deteve durante 30 anos a cátedra Lucasiana que foi outrora ocupada por Isaac Newton, membro do Trinity College.
A Stephen Hawking todos os físicos e todos os amigos da física, incluindo os leitores dos seus livros, desejam bastantes mais anos de vida!
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3 comentários:
Um nome que sugiro ser referido é o de Jeremiah Harrocks, pai da Astronomia inglesa.
Manel Rosa Martins
Interessante artigo, uma excelente homenagem à vida impressionante de Stephen Hawking!
No entanto, como membro da Universidade de Cambridge, permita-me fazer um reparo a uma das personalidades que referiu como um dos membros ilustres da minha universidade: Milton Friedman. Compreendo que não é possível citar todas as grandes personalidades da história de Cambridge em tão poucas linhas, e que a escolha de alguns exemplos é sempre questionável. No entanto penso que este exemplo em concreto é particularmente infeliz. Milton Friedman passou, de facto, pelo Gonville and Caius college, durante uma licença sabática. Não foi aluno da Universidade nem um professor proeminente (tem o estatuto de 'visiting fellow') e a sua passagem por Cambridge foi relativamente fugaz. E acima de tudo, Friedman é o principal representante de uma corrente económica que é completamente contrária à da escola de Cambridge, com a qual se identificam economistas não menos ilustres como Alfred Marshall, Joan Robinson ou John Maynard Keynes.
Este último seria de facto o nome mais indicado para representar a escola económica de Cambridge, cidade onde nasceu e onde desenvolveu toda a sua carreira académica tornando-se um dos mais notáveis economistas do século XX.
O sábio nem acolhera, sabre.
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