Nas últimas décadas, a selecção dos conteúdos curriculares tem sido
substancialmente subjugada a critérios de utilidade. Isto nos mais diversos
sectores da educação formal. E sempre por referência aos alunos.
O que se afigura imediatamente aplicável no seu quotidiano vivencial imediato
(social, laboral, pessoal...) é incluído no currículo; o que se afigura de aplicação remota ou não aplicável nesse quotidiano afasta-se do currículo.
Assim se foi arredando a área de saberes que designamos por Humanidades: a
Filosofia, as Línguas e Literaturas Clássicas, a História, a Literatura...
Se essa área (ainda) marca alguma presença nos currículos é com
sacrifício da sua essência: amputada, adaptada, convocada só e quando se lhe vê
proveito para resolver problema do dia-a-dia.
Trata-se duma lógica que não interessa a muita gente. Não interessa, por
exemplo, a Antoine Compagnon, professor de Letras do Collège de France, que
procura, em particular, o sentido da Literatura.
Na sua lição inaugural como catedrático, pronunciada em 2005, este literato
que estudou engenharia, formula várias perguntas “críticas e políticas” que nos
podem guiar na mesma procura, a saber: “Que valores pode a literatura criar e
transmitir no mundo actual? Que lugar deve ser o seu no espaço público? Será
benéfica para a vida? Por que defender a sua presença na escola?”
Pelo interesse das respostas que avança, dar-lhe-ei atenção em próximo
texto.
Referência completa:
- Compagnon, A (2010). Para
que serve a literatura? Porto: Deriva Editores.
1 comentário:
"a selecção dos conteúdos curriculares tem sido substancialmente subjugada a critérios de utilidade." Concordo consigo e acho que é um grande erro. Não acontece só na literatura, acontece também na Matemática. Deixando de lado o que não tem aplicações, estropia-se a Matemática e despreza-se a beleza da Matemática. É uma tristeza.
E que entender por "aplicações"? No caso das ciências parece que muitos entendem que é útil aquilo que der lucro a alguma empresa! Se não dá lucro não interessa.
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