segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
AS DUAS FACES DO SOL
Crónica publicada no "Diário de Coimbra".
Acontece com todas as esferas: se segurarmos uma bola qualquer e olharmos para ela, é fácil chegar à conclusão que só vemos metade da sua superfície de uma só vez. Mesmo que rodemos a bola, estaremos sempre a ver só metade dela, para nós a sua face visível. A outra é, por oposição, a face oculta ou não visível do nosso ponto de observação.
Como é que conseguiríamos ver a superfície toda? Talvez com a ajuda de um espelho, colocado do outro lado da bola e alinhado com os nossos olhos. Assim poderíamos ter uma boa aproximação na visualização de toda a superfície da esfera. Ou então, com duas câmaras de filmar colocadas em lados opostos a fazer entre elas e a bola um ângulo de 180°. Com as filmagens lado a lado num monitor, ou utilizando um software apropriado que gere uma imagem tridimensional da bola a partir das imagens, poderíamos analisar o estado, no mesmo intervalo de tempo, de dois pontos distintos nas duas faces na superfície da bola.
Todo este registo tem um interesse acrescentado se ocorrerem eventos, fenómenos diferentes, num determinado momento, em cada uma das faces, e o interesse será ainda maior se formos afectados por esses acontecimentos.
Se olharmos o Universo à nossa volta, registamos que grande parte dos corpos celestes são mais ou menos esféricos. A Lua, os planetas, e o Sol são corpos aproximadamente esféricos. O que significa que, na sua observação directa, vemos só uma face, um disco de cada vez.
Se a face oculta da Lua, espaço de mistério romântico, sempre alimentou a curiosidade científica, a face ou disco oculto do Sol esconde informação que nos é útil.
De facto a superfície do disco solar, a coroa solar ou de Fraunhoffer, constituída por um “mar” de protões, de electrões e de outras partículas subatómicas a uma temperatura na ordem dos dois milhões de graus Celsius, no estado designado por plasma, apresenta uma dinâmica espantosa e dantesca que afecta inúmeras actividades humanas, assim como o clima do nosso planeta. São exemplos as tempestades solares, ventos solares de partícula ionizadas que atingem a Terra e que, por terem u,a natureza electromagnética, interferem com a nossa sociedade baseada numa transferência de informação dependente da electricidade e da radiação electromagnética.
É de realçar, na investigação do disco solar visível, o trabalho quase centenário do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra. Desde 1926 que este Observatório regista regularmente a actividade, não da coroa mas das camadas solares que lhe são subjacentes, a fotosfera e a cromosfera solares, através de observações feitas com um tipo clássico de espectroheliógrafo.
A predição de uma tempestade solar é importante não só para precaver danos na actividade hertziana e eléctrica humana mas também para o estudo e exploração do Universo. É útil termos acesso à actividade de toda a superfície solar, não só para melhorar os actuais modelos de física solar, mas também para nos prepararmos para as variações de “humor solar” nos próximos dias, semanas, meses, à medida que "translacionamos" o Sol.
Em vez de colocar um grande espelho para além do Sol, a NASA enviou dois satélites em 2006 no âmbito da missão STEREO os quais acabam de ficar, desde o dia 6 de Fevereiro, diametralmente colocados em torno do Sol. Ou seja, cada um deles regista permanentemente discos solares opostos, enviando para os investigadores dados sobre a actividade solar que permitem reproduzir a actividade da superfície solar de forma tridimensional (ver vídeo aqui e aqui.)
O conhecimento científico e a tecnologia permitem-nos hoje abrir uma janela para a aurora do dia de amanhã, antever o que está para além da curva do seu horizonte, e permite-nos avisar uma avó nossa que leve o guarda-sol, pois amanhã o Sol que nos energiza vai estar um pouco mais que inflamado!
António Piedade
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14 comentários:
A tempestade solar que nos atinja virá do lado visível do sol
2º contrariamente à lua circundamos o Sol em 365 dias e sendo a rotação solar o que é
não se pode afirmar que haja uma face solar inaudita
apenas não a vemos durante um período minúsculo
3º T da coroa solar muy variável
emission showing the solar corona at a temperature of about 1.3 million K.
Fe XII-XVIII emission is formed in the low corona (2x1.ooo.ooo K) of the Sun
15ºA predição de uma tempestade .....ahn
em 7 minutos e meio chega cá
tiram-se os satélites do espaço é?
uma tempestade similar à dos anos 80
seria muito mais destrutiva
uma que tivesse uma ou duas ordens acima
não seria o colapso mas seria muito mau
Prever ...prever ou para ver?
DRAWBACKS OF DATA INADEQUACY IN SOLAR FLARES
• The outcomes are:
– Inadequate modelling
– Limited to a subset of phenomenological and physical
aspects
– Often neglects the complex interplays among different
processes
Obrigado pelos comentários
De facto não tornei claro que o Sol (como, a Terra, como a Lua, como os outros planetas, etc.) também tem um movimento de rotação sobre o seu próprio eixo: período de rotação no equador do sol de cerca de 27 dias terrestres. Por isso, talvez haja um intervalo útil de previsão se o evento durar mais do que os cerca de 8 minutos, intervalo de tempo necessário para que a radiação electromagnética emitida a partir do Sol atinja a Terra.
AP
Porque será que nuca se fala das tempestades solares quando se fala em mudanças climatéricas?
É sempre e só o CO2
Hurra, parece que acertei ;)
Trotil ós Estalinhos, apesar de sermos atingidos por aquilo que está do lado visível do Sol, esses eventos levam o seu tempo a formar-se. Com estes novos dados que possuímos, podemos prever se a face do Sol que estará visível num futuro próximo pode afectar-nos negativamente ou não.
doce laranja amarga disse...
Porque será que nuca se fala das tempestades solares quando se fala em mudanças climatéricas?
É sempre e só o CO2
7 de Fevereiro de 2011 19:23
porque não são as tempestades solares
e sim os conjuntos mais complexos
a que chamamos ciclos solares que controlam o clima (parcialmente apenas) influenciam ficava
melhor
Resumindo já que pelos próximos tempos não devo voltar à prédica:
Uma maior quantidade de manchas
solares significa ua menor actividade do sol. Durante o XXº houve periodos com grande
quantidade de manchas solares 1956 teve mais de 200 seguidos de periodos com baixa frequência de manchas, 1965 quando Churchil bateu as botas houve 6 e a temperatura global manteve apesar destas variações tendência ascendentes
daqui a 11 anos 2022, o ciclo solar 25 será um dos mais débeis de sempre
é esperar para ver
eu com sorte ainda cá estou
não sei se fui claro oh whoknewindeed disse...
Hurra, parece que sou futurólogago
a previsão e a correlação com fenómenos...enfim
podiam ter o Miguel Miranda aqui
não há um geofísico de serviço
só físicos teóricos e bioquímicos
não que eu tenha nada contra bioquímicos
Quem diria!
E no entanto, ele move-se whoknewindeed
Termófilos
Um biológo...
Curiosamente apesar da quantidade de informação
a revolução tecnológica de pouco serviu
para o esclarecimento das massas ou mesmo dos jornalistas
no blog jugular há um indivíduo que acredita ser possível fazer diluições à sexagésima potência
e retirar todas as moléculas de soluto do solvente...pois
e o problema é que há professores que dizem as mesmas barbaridades
uma simples diluição de 1mg
numa solução 1/10.000.000.000 exigiria 10milhões de litros
acontece o mesmo na física, na geofísica, na biologia
é uma falta de fundamentos básicos e de senso comum
o problema nas generalizações e nas simplificações é grande...
a
E de facto a clareza é uma coisa que não abunda.
whoknewindeed disse...
E de facto a clareza é uma coisa que não abunda
é verdade ó pseudo-físico
para quê chatear-me com isso
não ganho nada
quem perceber percebe
quem não perceber faz-me lembrar o Mark Serreze
Duas faces pode ter
o sol que nos alumia,
apesar de todavia
uma só cara manter!
JCN
Nem sempre dos cientistas
é clara a sua expressõ,
em frontal oposição
à gíria dos humanistas!
JCN
Anónimo disse...
Nem sempre dos cientistas
é clara a sua expressõ, ( Pois nota-se.....
em frontal oposição (oposiçõ
à gíria dos humanistas
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