segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

OS SEM-ABRIGO ENTRE NÓS

A propósito do Europeu contra a Pobreza e Exclusão Social, que ora se inicia, recebemos de António Mota de Aguiar o seguinte texto:

2010 é o Ano Europeu contra a Pobreza e Exclusão Social. O Instituto Nacional de Estatística revelou a semana passada que, em 2008, 18% dos portugueses, viviam no limiar da pobreza: cerca de dois milhões de pessoas. As estatísticas dizem-nos também que “há mais de 3000 sem-abrigo em Portugal”, com “mais de 2000 em Lisboa e Porto". Os sem-abrigo, apesar de só representarem uma ínfima parte dos pobres, são uma das realidades mais gritantes no contexto da pobreza e exclusão social no nosso país.

Nos últimos tempos tem feito muito frio em Portugal. E os sem-abrigo continuam a dormir ao relento, sobre lajes, normalmente em sítios concavados de prédios, alguns modernos, ou então por baixo de arcadas de edifícios públicos, como o Terreiro de Paço em Lisboa. Basta passarmos por eles para nos darmos conta do que lhes vai na alma... Como será viver nas suas condições, sobre e sob pedaços de cartão, com temperaturas tão baixas como as que têm feito?

Algumas associações de assistência a estas pessoas distribuem pela noite alimentos e, nalguns casos, dão-lhes guarida. Mas essas instituições têm um orçamento escasso e número fixo de camas. Pouco têm podido fazer. Sobre a temática dos sem-abrigo existem muitos estudos, pareceres, definições, cursos, etc., enquanto…o s sem abrigo continuam a dormir ao frio.

Um artigo do Jornal de Notícias de 30.12.09, diz-nos que está:

«Em estado muito adiantado (…) o processo de registo dos sem abrigo (…) Escolhidos estão já 20 destes cidadãos para darem o pontapé de partida no projecto de reinserção social: Casas Primeiro.” (…) ”Queremos evitar as soluções em espaços colectivos de vida”, como albergues onde vivem em grupo. “É preciso fazer um corte e este começa por a pessoa sentir que tem a sua casa, o seu quarto e as suas coisas”, conclui Martinho.”» [Edmundo Martinho, Presidente do Instituto de Segurança Social].

Pretende-se, portanto, dar a cada sem-abrigo uma casa e, nesse sentido, há já 20 registados… Duvido que seja para ser levado a sério!

A questão dos sem-abrigo em Portugal resolver-se-ia rapidamente se os presidentes de câmara, de facto, quisessem. Dou dois exemplos: Em Paris, na década de 60 do século passado, viviam em barracas, chamados bidons-villes” muitos milhares de portugueses em condições miseráveis. O assunto começou a ser falado, criticado, e, ao fim de alguns anos, o governo francês, sob forte pressão, resolveu a situação: os “bidons-villes” acabaram. Veja-se também o drama do milhão de portugueses que, num curto espaço de tempo, deixaram as ex-colónias portuguesas e vieram para Portugal em pontes áreas. Portugal soube dar a estes nacionais o alojamento necessário e na sua maioria as pessoas encontraram um tecto onde ficar.

Pelos sem-abrigo quase ninguém se interessa. Eles não têm nenhuma capacidade de se fazer ouvir a nível político. Quisessem António Costa, Rui Rio, e Carlos Encarnação presidentes, respectivamente, das Câmaras de Lisboa, Porto e Coimbra resolver esta calamidade humana, tinham os meios necessários para isso. Mas falta-lhes, infelizmente, a vontade.

Como resido em Lisboa, refiro esta cidade: existem aqui milhares de edifícios devolutos, abandonados, fechados. Poder-se-ia criar nalguns desses edifícios situações de habitabilidade, satisfazendo as necessidades básicas dos sem-abrigo: refeições, roupa, medicamentos, higiene, além de um atendimento social, psicológico, psiquiátrico e, aos emigrantes, jurídico. A ocupação destes edifícios seria provisória, enquanto o Estado não desse aos seus ocupantes um outro destino. Em caso de falta de meios próprios, os presidentes de câmara têm acesso directo com o governo central. Para este último, seria "miudezas" arranjar meios financeiros para socorrer estas “mais de 3000 pessoas”. As câmaras dispõem de pessoal de assistência social, há o pessoal de instituições de caridade, e encontrar-se-iam decerto jovens desejosos de ajudar. De algumas empresas viriam certamente donativos e bens materiais.

O drama dos sem-abrigo impõe, em primeiro lugar, que se lhes dê tanto guarida como a assistência mínima. Só depois, quando estiverem todos alojados, é que se deveriam fazer-se os estudos, pareceres, definições, cursos, etc. O Ano Europeu contra a Pobreza deve servir para nos sobressaltar e fazer agir.

António Mota de Aguiar

7 comentários:

Anónimo disse...

HÁ SEMPRE PIOR!

Jesus! quando nasceste na Judeia
em pleno inverno, a tiritar de frio,
não havia em Belém da Galileia
na hospedaria um só lugar vazio.

Como estava a chegar o teu momento,
teu pai, ao cabo de uma vã disputa,
descobriu nos subúrbios uma gruta,
onde teve kugar teu nascimento.

Não tinhas um mantéu para tapar-te,
mas ainda assim tiveste a acalentar-te
o bafo de dois mansos animais.

Pois olha que irmãos nossos hoje ainda,
dois mil anos depois da tua vinda,
passam pior que tu... sob os portais!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...

Escusado seria dizer que "kugar" é gralha por "lugar", devida com certeza à proximidade das teclas a par de dedos grossos. JCN

Anónimo disse...

Concordo com o drama dos sem-abrigo que descreve. Será que, no Portugal de hoje, esse drama se «resolveria rapidamente se os presidentes de câmara quisessem»?

Basta querer? Oxalá bastasse! Porém, é preciso ter vontade efectiva de solucionar um dos dramas humanos mais graves. Nesse sentido, concordo.

Que Deus nos ajude e cada um faça tudo o que pode.

Américo Tavares

Anónimo disse...

"Algumas associações de assistência a estas pessoas distribuem pela noite alimentos e, nalguns casos, dão-lhes guarida. Mas essas instituições têm um orçamento escasso e número fixo de camas." A grande maioria destas associações são Católicas que assim testemunham e praticam a Palavra de Deus, será que Dawkins é cego? e não vê nestes actos a prova de Deus? e os nossos bloggers?

Vera Santana disse...

O tema tratado no post do meu amigo António Mota de Aguiar é de toda a importância, pertinência e relevância. Penso que há várias soluções, todas desejáveis, não sendo de excluir nem as colectivas nem as individuais.

Os comentários ao post são maioritariamente anónimos - excepto o do Américo Tavares - pelo que não mereciam sequer ser lidos. No entanto, merecem ser lidos porque reflectem a falta de interesse (geral? colectivo? da sociedade?) por um tema que devia ser objecto do nosso interesse e da nossa solidariedade activa. Gostaria que o nosso Presidente da Câmara, António Costa, olhasse com olhos bem abertos para as pessoas que dormem nas ruas de Lisboa e que agisse com brevidade. São situações de calamidade urbana. Não podemos deixar em mãos alheias - Deus ou a História - a resolução dos problemas que nos rodeiam. Para quando uma Manifestação na Cidade pelos Sem-Abrigo?

Vera Santana disse...

O post do meu amigo António Mota de Aguiar olha para um problema social enorme e que se eterniza, mudando embora os actores que vão morrendo nas ruas da Cidade ao frio. As soluções são muitas, em espaços colectivos ou individuais, com ou sem a Igreja.

Os comentários ao post, na sua maioria anónimos (excepto o do Américo Tavares), por o serem não mereciam ser lidos. No entanto, merecem ser lidos e comentados porque demonstram a pouca importância (geral? colectiva? social?) dada à questão, porque colocam e mãos Alheias - Deus ou a História - a resolução da questão dos Sem-Abrigo.

Gostava que o meu Presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, olhasse com olhos bem abertos para as pessoas que dormem, à noite, pelas ruas da nossa cidade e agisse com brevidade.

Para quando uma Manifestação que mostre, a toda a Cidade, as vidas dos Sem-Abrigo?

Anónimo disse...

Não sou do contra, simplesmente deixo este apelo: deixem os sem abrigo pernoitar nas igrejas, e os padres que façam peditórios para alimentação e vestuário para oa sem abrigos durante as missas. Estou certo que mais pessoas passariam a acreditar mais nos padres católicos e não só e a ir mais à missa.

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