Há quase um ano, escrevi sobre a devil facial tumor disease (DFTD) que ameaçava de extinção o diabo da Tasmânia, o único Sarcophilus sobrevivente e o maior de todos os carnívoros marsupiais. Na altura, referi que os cientistas pensavam que, para debelar a epidemia de proporções catastróficas, seriam necessárias medidas extremas, como matar os animais que apresentassem os estágios iniciais da doença ou criar áreas fechadas com populações saudáveis nas ilhas ao largo da Tasmânia.
Hoje descobri que aparentemente essas medidas poderão não ser necessárias já que os próprios diabos estão a reagir a esta alteração ambiental drástica. Mais concretamente, os diabos lutam contra a extinção com sexo, atingindo a maturidade sexual em metade do tempo «normal».
No artigo «Life-history change in disease-ravaged Tasmanian devil populations», publicado no mês passado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, PNAS, Menna Jones da Universidade da Tasmânia conta-nos como a doença alterou radicalmente os hábitos sexuais dos diabos.
Jones e a sua equipa estudaram os dados existentes sobre reprodução e dinâmica populacional referentes a 5 locais. Antes da DFTD, quando existia uma muito maior proporção de adultos maduros, com mais de 3 anos, as fêmeas começavam a reproduzir-se com dois anos e continuavam por mais três anos, morrendo por volta dos 5-6 anos. Com o aparecimento da doença, a reprodução precoce de fêmeas com 1 ano de idade aumentou dramaticamente em quatro das populações seguidas. Dependendo dos locais, entre 13 e 83% das fêmeas começam a reproduzir-se ainda «adolescentes».
Os tumores afectam principalmente adultos com pelo menos dois anos e os diabos infectados morrem em seis meses. Os até 4 filhotes de cada ninhada vivem 4 meses na bolsa marsupial da mãe e depois são amamentados durante 5 meses pelo que esta reprodução precoce aumenta muito a probabilidade de sobrevivência das ninhadas e, por consequência, da espécie.
Os autores sugerem que menores densidade populacional e competição por comida podem ser as causas da reprodução juvenil. O certo é que embora o destino desta espécie continue incerto, o mecanismo que evoluíram vai pelo menos atrasar a sua extinção.
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1 comentário:
Sabe-se que a capacidade sexual é extremamente adaptável às condições externas, nalgumas espécies até pode determinar mudança de sexo, situação utilizada por Spielberg no filme do Jurassic Park.
Não se trata, é claro, de nenhuma «evolução»; esta capacidade já reside na espécie. Tal como no post seguinte da Palmira, a questão que se põe é identificar o mecanismo através do qual o ser vivo determina o seu funcionamento sexual.
Em algumas espécies animais a actividade sexual é determinada pelo macho ou fêmea dominante - as suas hormonas inibem a sexualidade dos outros, que só «desperta» na ausência daquele. Pode haver aqui um mecanismo deste tipo.
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