domingo, 24 de agosto de 2008

A física do impossível


Transcrevemos o artigo de Nelson Marques com o título de cima da revosta "Única" do semanário "Expresso" de ontem:

Alguns dos temas da ficção científica poderão tornar-se realidade num futuro não muito longínquo, defende o físico norte-americano de ascendência japonesa Michio Kaku. A invisibilidade pode estar à distância de poucas décadas mas viajar no tempo demorará muito mais

“Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela”. A frase de Albert Einstein é o ponto de partida para o mais recente livro do reputado físico teórico norte-americano, Michio Kaku, professor da City University de Nova Iorque e um adepto da “teoria de tudo” desejada por Einstein. Em “A Física dos Impossíveis”, que chegará a Portugal no Outono com a chancela da Bizâncio, Kaku aborda algumas das fantasias clássicas da ficção científica que, na sua opinião, poderão tornar-se uma realidade. O "Expresso" revela-lhe algumas dessas teorias mais extravagantes e dá-lhe a conhecer a opinião do físico português Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra.

Teletransporte

Apesar do cepticismo da generalidade dos cientistas sobre a possibilidade de desmaterializar uma pessoa num lugar e rematerializá-la noutro, o físico japonês acredita que o cenário imaginado na popular série “Star Trek” poderá mesmo ser uma realidade dentro de dois séculos. Kaku lembra que os físicos estão já a realizar experiências de teletransporte de partículas conhecidas como fotões a uma distância de 142 quilómetros, um fenómeno descrito por Albert Einstein como “efeito fantasmagórico à distância”. Contudo, os fotões não são transportados verdadeiramente, já que os fotões originais são destruídos e o que chega ao outro lado são fotões idênticos com a mesma informação dos iniciais.

O veredicto de Carlos Fiolhais: "Sou céptico. O chamado teletransporte que se faz actualmente com luz pouco tem a ver com a ideia do “Star Trek” de passar instantaneamente o Capitão Kirk de fora para dentro da nave."

Invisibilidade

Kaku acredita que esta impossibilidade física até agora será a primeira a tornar-se realidade, no espaço de apenas uma década. A opção mais promissora é familiar aos fãs de Harry Potter: passa pela criação de uma espécie de capa de invisibilidade, capaz de desviar a luz dos objectos, tornando-os invisíveis. Para o conseguir, os cientistas estão a desenvolver um novo tipo de substâncias, denominados metamateriais, com propriedades electromagnéticas muito diferentes dos materiais comuns. Enquanto estes têm um índice de refracção positivo, os metamateriais apresentam um índice negativo, permitindo camuflar o objecto.

O veredicto de Carlos Fiolhais: "Acho perfeitamente possível. De certo modo os aviões invisíveis ao radar (luz de microondas) são já um protótipo de objectos invisíveis à luz".

Viagens no tempo

É outro dos temas mais recorrentes dos filmes de ficção científica e, segundo o professor catedrático da Universidade City de Nova Iorque, não existe nenhum impedimento nas leis da física que torne impossível viajar no tempo. A esse propósito, Kaku lembra o consagrado físico teórico Stephen Hawking, professor da Universidade de Cambridge, o qual, durante grande parte da sua carreira, descartou essa possibilidade, mas, desde há uma década, vem admitindo que “é possível, mas nada prática”. Para forma de concretizar este desafio, os cientistas terão que, segundo Kaku, desenvolver os seus próprios buracos de verme, atalhos cósmicos que funcionam como ligações entre regiões do universo. A intensa gravidade destes túneis seria suficiente para desintegrar a estrutura do espaço-tempo, funcionado assim como janelas para viajar no tempo. Um cenário que, admite o autor, poderá levar, contudo, alguns milénios a concretizar-se.

O veredicto de Carlos Fiolhais: "Às viagens no tempo não digo categoricamente que não, mas, se possíveis, serão extremamente difíceis e muito limitadas."

Contacto com vida extraterrestre

O autor norte-americano acredita que um possível contacto com qualquer cultura extraterrestre poderá acontecer no prazo de apenas algumas décadas. Para justificar o seu optimismo, lembra que nunca como hoje a comunidade científica dispôs de tão boas oportunidades para entrar em contacto com outros mundos. Os satélites e telescópios espaciais de última geração irão permitir, de acordo com o cientista, analisar mil vezes mais dados do que aqueles recolhidos até hoje. Entre eles está o satélite "Kepler", que a NASA pretende lançar em Fevereiro do próximo ano para encontrar no espaço planetas semelhantes à Terra.

O veredicto de Carlos Fiolhais: "Gosto da ideia de que “há mais mundos”. Não me admiraria nada que viesse a acontecer... Seria um marco importante para a Humanidade."

Nelson Marques
unica@expresso.pt

6 comentários:

Anónimo disse...

Este artigo é muito interesante, mas contem um erro. O Kaku é americano, naseu em Califórnia; não tem nationaildade japonês.

Jorge Oliveira disse...

De facto, que lamentável confusão do autor do artigo.
Michio Kaku tem feições orientais mas nasceu em San Jose, Califórnia, sendo cidadão americano de pleno direito.

A Wikipédia pode dar uma ajuda :
http://en.wikipedia.org/wiki/Michio_Kaku

Armando Quintas disse...

É um artigo interessante, vou gostar de ler esse livro, penso que das ideias inumeradas a que se concretizará mais rapidamente será a invisibilidade, nada terá de extraordinário se pensarmos na camuflagem bélica num futuro proximo, a mais dificil será sem duvida as viagens no tempo.
Uma nota para o artigo, onde diz contacto com vida extraterrestre bem poderia ser mais estimulante adicionar vida extraterrestre inteligente, pois somente vida vai ser bastante facil daqui a decadas, basta encontrar bactérias vivas, quem sabe se de marte não virão algumas..

Nas viagens no tempo poderia acrescentar outra hipote, contudo só valida para o futuro.
Viajar para alfa centauro numa nave que atingisse quase a velocidade luz sem afectar muito os seus ocupantes, possibilitando aos mesmos uma viagem de ida e volta, para eles o tempo passaria devagar, algumas decadas, mas quando chegavam novamente há terra estariam no futuro, pois cá o tempo passaria normal e teriam passado séculos.
Quanto aos buracos de verme, não seria necessário uma energia imensa ai de cerca de mil sois como o nosso para abrirem assim um tunel que possibilitasse uma nave com ocupantes? e essa energia como se iria criar?

De Rerum Natura disse...

Têm razão os dois leitores que assinalaram o erro sobre a nacionalidade de Kaku. Já informei o autor do artigo e emendei no texto de cima.
Carlos Fiolhais

atribodofutebol disse...

As feições, o nome e, muito provavelmente, uma má fonte induziram-me, de facto, num erro lamentável. São as rasteiras que as situações aparentemente óbvias nos pregam e que nem sempre é possível controlar. Deixo, por isso, aqui o meu "mea culpa".

O site da universidade dele e outras fontes credíveis citam-no, contudo, como "Japanese-American", o que talvez se refira mais à sua descendência japonesa que ao facto de ter as duas nacionalidades. É um dado que não consegui confirmar. Em qualquer caso, deveria sempre ter mencionado a sua nacionalidade americana. O mais correcto teria sido escrever "um físico americano de ascendência japonesa".

(http://www1.ccny.cuny.edu/prospective/science/profiles/Kaku-Profile.cfm)

António Pedro disse...

Armando Quintas, uma viagem até alfa centauros só seria possível dobrando o espaço. Mesmo à velocidade da luz, dos ocupantes da nave quando lá chegassem, só restaria os esqueletos.

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