Minha crónica no "Sol" de hoje:
“Pharmacopea Lusitana" é o título de um livro saído em 1704, da autoria do médico e boticário do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, D. Caetano de Santo António, que foi pioneiro ao reunir na nossa língua formulários de medicamentos de origem química. “Pharmacopoeia” é o nome do grupo de artistas britânicos formado por Susie Freeman, Liz Lee e David Critchley (a primeira artista têxtil, a segunda médica e o terceiro artista de vídeo) que criaram uma monumental peça de arte que está patente no Museu Britânico em Londres, no centro da exposição “Living and Dying” ("Viver e Morrer").
A peça, intitulada “Cradle to Grave” ("Do Berço à Campa"), surpreende por mostrar, dentro de uma rede com 13 metros de comprimento, os cerca de 14 000 medicamentos que um ser humano, homem ou mulher, toma por receita médica ao longo de toda a sua vida. Se os autores acrescentassem os fármacos tomados sem receita, a obra tomaria dimensões gigantescas pois seriam precisas mais 40 000 unidades por cada indivíduo. Mostram-se os casos de um homem e de uma mulher típicos, levantados a partir de uma selecção de situações reais. O homem, apesar de ter sofrido de asma em novo e de fumar, não tem de início sérios problemas de saúde. Toma apenas antibióticos e analgésicos para pequenas maleitas. Porém, apanha aos 70 anos uma infecção pulmonar, passa a sofrer de tensão elevada e morre de ataque cardíaco passados poucos anos. No seu último decénio de vida toma mais remédios que em toda a sua vida anterior. A mulher, por seu lado, depois de ter tomado a pílula ao longo de anos, ter dado à luz duas vezes e de ter feito terapia de substituição hormonal, vem a sofrer de cancro do seio, curando-se por quimioterapia. Sofre agora de obesidade e de artrite, mas ainda está viva.
Desde o século XVIII até hoje, com o avanço da química, a farmacopeia progrediu extraordinariamente, o mesmo acontecendo com a esperança de vida. Os muitos comprimidos e outros remédios reunidos na instalação, de todas as cores, tamanhos e tecnologia química.
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