É normalmente aceite que as alterações climáticas forçam migrações de espécies ou adaptação das restantes ao clima e que quando os habitats se fragmentam a diversidade biológica pode aumentar como aconteceu nas Galápagos.
Mas nem sempre isso acontece, as alterações climáticas podem conduzir à extinção de muitas espécies que não são substituídas por outras. Um exemplo recente está disponível na edição online da PNAS, onde Catherine Badgley, do Museu de Paleontologia e do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan, e colaboradores descrevem a catástrofe em termos de diversidade biológica que aconteceu no Miocénico no norte do Paquistão à medida que o clima se alterou e a zona passou de floresta tropical luxuriante a savana.
O artigo «Ecological changes in Miocene mammalian record show impact of prolonged climatic forcing» descreve como o estudo de fósseis de 27 espécies de mamíferos no sítio arqueológico de Siwalik mostrou que as mudanças no clima da região durante milhões de anos ditou extinção da maioria das espécies. O Siwalik é um dos locais arqueológicos mais completo e mais estudado do mundo que ao longo dos seus mais de 3 km de registo fóssil conta a história dos animais que lá viveram entre há 1 a 18 milhões de anos. O novo estudo altera assim o que era normalmente aceite, que mudanças climáticas globais não teriam um impacto tão grande na diversidade de mamíferos já que estes seriam capazes de se adaptar ao novo ambiente ou de migrar para outra área com melhores condições.
De acordo com este estudo, há cerca de 8 milhões de anos, quando eventos tectónicos elevaram os Himalaias e o clima nas regiões mais baixas se tornou parecido com o encontrado actualmente no Corno de África, praticamente todos os mamíferos que dependiam de alimentos fornecidos pela floresta tropical não se conseguiram adaptar e extinguiram-se. O registo da dieta fornecido pelos dentes fósseis indicou ainda que até mesmo alguns dos animais que se alimentavam de gramíneas deixaram de existir. Poucas espécies novas substituíram as que extinguiram, ou seja, as alterações climáticas ditaram uma diminuição drástica da diversidade biológica nesse local.
Mas se as alterações climáticas estão na origem de extinções em massa de espécies, um estudo publicado em meados de Agosto também na PNAS, «Late-surviving megafauna in Tasmania, Australia, implicate human involvement in their extinction», indica que a extinção em massa de animais pré-históricos na terra do TAZ pode ter sido resultado da caça e não de mudanças climáticas como se acreditava.
Até agora pensava-se que a mega fauna da Tasmânia já estaria extinta quando o homem lá chegou, há aproximadamente 43 mil anos, altura em que a ilha estava temporariamente ligada à Austrália por uma ponte de terra. Os cientistas descobriram, através de datação com carbono-14, que os cangurus gigantes sobreviveram na Tasmânia até aproximadamente dois mil anos após os primeiros homens terem habitado a ilha. A descoberta recupera a possibilidade de ter sido o homem o responsável pela extinção da megafauna nesta ilha, possibilidade que aumenta quando se sabe que toda a região da Tasmânia não sofreu uma alteração climática no período em análise.
De facto, como referem os autores, perceber as causas das extinções do passado é crítico para se prevenir as que acontecerão no futuro. O exemplo da Tasmânia poderá ser aplicado a outras regiões do mundo e corroborar a tese destes cientistas: tal como agora, embora por mais factores que não apenas a caça, a acção do Homem pré-histórico foi a principal razão da extinção de animais.
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2 comentários:
Em relação às mudanças climáticas e importância que teve nas espécies, podemos olhar para a evolução humana, que traça o seu momento marcante a partir da altura em que o istmo do Panamá se fechou e mudou completamente as correntes marítimas entre Pacífico e Atlântico e assim alterou o clima do mundo inteiro.
Em relação às extinções, vale sempre a pena referir um livro que acho excelente para a ciência (O "A Brief History of Nearly Everything", de Bill Bryson). Ainda que limitado cientificamente, o autor escreve muitíssimo bem, com humor, e foca os pontos importantes de forma clara e com boas referências (ou através de outras obras ou falando com autores/cientistas). O seu último capítulo é precisamente dedicado às extinções, especialmente aquelas de mão humana. E as que terão acontecido na Austrália são bom exemplo disso. Outro exemplo é, segundo penso lembrar-me, aquelas que os humanos provocaram na América, especialmente na América do Norte. Os cavalos seriam, penso, também nativos da América do Norte. Contudo, após a extinção dos mesmos provocada pelos humanos que para ali migraram, os "americanos nativos" (que na verdade não o são, se quisermos ser rigorosos) apenas voltaram a ter contacto com equídeos após a chegada dos europeus.
Bastante simples: quanto mais gente houver, menos "bichos" haverá.
Dizer que esta relação se processa através de "alterações climáticas", é muito sofisticado, enfim, podiam ter referido um principio da não sobreposição da matéria, eu sei lá...
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