As cerimónias de regresso às aulas tornaram-se "obrigatórias", tanto para o governo como para a imprensa. E, portanto, é certo e sabido que, em Setembro, ministros, secretários de estado, jornalistas, professores, alunos e uns quantos figurantes dão corpo a quadros mais ou menos surrealistas.
Digo que são quadros surrealistas por várias razões: por, como o Carlos fez notar em texto do passado dia 14, escolas públicas serem benzidas por sacerdote católico na presença do chefe governo; por estações de televisão entrevistarem crianças e jovens no espaço escolar, suponho eu, sem a devida e antecipada autorização da Comissão Nacional de Protecção de Dados e dos encarregados de educação; por se perceber que a visita da comitiva governamental estar combinada e organizada, mas querer dar-se a ideia de espontaneidade, por exemplo, a comitiva governamental aparece numa sala onde alunos e professor “trabalham tranquilamente” (com câmaras de filmar…).
Neste ano resolvi passar por cima das notícias sobre a ida da tutela ao “terreno educativo real”, mas a minha atenção foi presa por um dito do nosso primeiro-ministro num telejornal. Não foi tanto o dito, mas o modo como foi dito. Passo a explicar.
Retive de memória José Sócrates afirmar que já se tinham fechado mais de duas mil escolas e que se continuariam a fechar escolas. Olhei, e era de júbilo, mesmo de exultação, o ar com que falava!
Esta é uma daquelas declarações que, deslocada do contexto, pode assustar. Na verdade, se não tivesse a certeza de viver num regime democrático, ficaria seriamente preocupada e interpretaria que fechar escolas constitui um triunfo do poder político contra a educação. Como tenho a certeza de viver num regime democrático que preza a educação, fiz outra interpretação: pareceu-me que o nosso primeiro-ministro quis sublinhar que fechar más escolas com poucos alunos e abrir bons centros escolares com muitos alunos é uma medida positiva que, por isso mesmo, deve continuar a ser implementada.
Os argumentos que, em geral, são invocados para defender a redução de escolas são os seguintes: um centro escolar dispõe de mais recursos do que uma escola isolada e as actividades que pode proporcionar estão mais de acordo com as exigências da educação do século XXI; para se desenvolverem harmoniosamente, as crianças precisam de conviver com (muitas) outras crianças; há vantagens em que os professores, planifiquem, avaliem, enfim, trabalhem em conjunto… O aspecto económico também terá a sua importância: sob este ponto de vista, um centro escolar é mais vantajoso do que várias escolas dispersas.
Tudo isso estará certo, mas não é menos certo que quando se fecha uma escola pequena, as crianças deslocadas ficam mais tempo afastadas das famílias, mesmo as muito pequenas estão o dia inteiro fora de casa; as famílias, por seu lado, também vão menos à escola, pois, neste pequeno país, as distâncias são difíceis de ultrapassar. Por outro lado, sem crianças a fazer barulho por perto, as comunidades do interior, muito envelhecidas, perdem vida e perdem, em muitos casos, o único sítio de saber e cultura de que dispunham. Sem recursos básicos, os que podem saem para outras paragens, onde haja pelo menos uma escola e, assim, lugares e aldeias ficam cada vez mais desertos...
Ou seja, na decisão de fechar uma escola com poucos alunos há necessariamente prós e contras a ponderar. Até pode ser que os argumentos a favor sejam mais fortes do que os argumentos contra. Contudo, a ligeireza com que aqueles se afirmam e estes se omitem dá que pensar.
Talvez por isso, face ao muito assertivo discurso do primeiro-ministro lembrei-me imediatamente das palavras do escritor francês Vítor Hugo: “Quem abre uma escola fecha uma prisão”.
Palavras que foram ditas num tempo (no século XIX) em que abrir uma escola numa povoação remota constituía uma vitória contra a ignorância, essa mãe de todos os males… Hoje, apesar de temos uma atitude um pouco mais comedida em relação aos resultados da educação (sabemos que ela não conduz necessariamente à felicidade, à bondade e à sabedoria), ainda nos devíamos guiar pelo princípio de que ter uma escola próxima de nós faz alguma diferença para as crianças que a frequentam e para a comunidade onde está integrada.
Num certo sentido, abrir uma escola é (ou deveria ser) um acontecimento alegre; enquanto fechar uma escola é (ou deveria ser) um acontecimento triste, ainda que saibamos que esse fecho é ditado por uma causa boa e razoável.
Imagem tirada daqui.
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20 comentários:
Parabéns. Sugiro ao jornal Público que comece a publicar artigos seus regularmente. Este blog é demasiado pequeno para a forma brilhante como escreve.
Olá Helena:
O teu artigo fez-me lembrar outro que li recentemente apesar de ter quasi 10 anos. Um excerto:
Em 1927, a escritora Virgínia de Castro e Almeida, numa altura em que havia 75% de analfabetos em Portugal, escreveu no jornal O Século que 'A parte mais linda, mais forte e mais saudável da alma portuguesa reside nesses 75 por cento de analfabetos', e, à pergunta que ela própria faz em alusão aos rurais que aprenderam as primeiras letras, 'Que vantagens foram buscar à escola ?', ela mesma respondeu: 'Nenhumas. Nada ganharam. Perderam tudo. Felizes os que esquecem as letras e voltam à enxada'. O escritor e historiador João Ameal escreveu: 'Portugal não necessita de escolas' (...) 'Ensinar a ler é corromper o atavismo da raça'. O escritor José de Sá Pereira Coutinho, Conde de Aurora, exclamava: 'Felizes aqueles que não sabem ler!'
Alfredo Pimenta, em oposição aos republicanos que diziam 'abrir uma escola era fechar uma cadeia', declarava que 'abrir uma escola era abrir dez cadeias', etc.
in Manifesto a Favor da Refundação do Sistema Educativo. Comunicação do Professor Doutor José Morgado
nas Jornadas Bento de Jesus Caraça - Matemática, Ensino e Cultura
Por vezes acho absolutamente espantosa a defesa intransigente dos nossos citadinos intelectuais relativamente à ruralidade ancestral encravada nenhures. Eu próprio convivi toda a minha vida com familiares que aí viviam e vivem antes e depois de Abril. Defender até às últimas que os filhos das classes sociais campesinas, pobres e deserdadas cultural e educacionalmente, que os seus filhos e netos continuem a ser ensinados longe de meios mais dinãmicos e ricos, é uma vez mais cegueira ideológica enviada para cima daqueles que geracionalmente continuariam a ficar para trás na "roda da história". E lamentar que as crianças dessas classes sejam transportadas para algures fora do "seu sítio" (e "cadeia de valor não-acrescentado"!) é o mesmo que dizer que defender a sua futura exclusão. Porque sempre chegará um tempo do seu eventual percurso escolar em que estas crianças terão necessariamente de procurar outros ambientes. Mas nós achamos mal em Portugal que as famílias possam escolher as escolas dos seus filhos, não é? Liberdade de escolha é igual a zero, excepto para os que podem pagar o ensino privado. Por isso ninguém o exige ao Governo, como se fazem em outras Europas! Num mundo globalizado, em que todos deverão ser "cidadãos do mundo" para melhor sobreviverem e prosperarem, como podemos ter intelectuais, opinadores, professores e políticos a defenderem para os filhos dos outros, e mais pobres, aquilo que quase de certeza não querem para os seus filhos ou netos?
Deixem que estas crianças se abram ao mundo e se libertem das "cadeias" em que os seus ascendentes viveram e morrerão!
E quando leio hoje que há pelo menos centenas de alunos com 10 horas de aulas num só dia, bem posso refutar Vítor Hugo: escolas assim são presídios!
Embora compreenda a opinião de Pinto Correia, não posso deixar de tecer alguns comentários. Em primeiro lugar, não me parace que a preocupação que preside à actual política de encerramento de escolas se prenda com um desejo de levar "os filhos das classes sociais campesinas, pobres e deserdadas cultural e educacionalmente" para "meios mais dinãmicos e ricos". Uma escola em que há alunos, porque nessa localidade há mais população, não corresponde necessariamente a um meio mais rico culturalmente. O desenvolvimento e a riqueza cultural têm outros indicadores que nunca vi mencionados nos actuais discursos políticos.
Em segundo lugar, Pinto Correia afirma a necessidade de liberdade de escolha, por parte dos pais, relativamente à escola que pretendem para os seus filhos. Muito bem. Não me parece, porém, que, nesta estratégia de deslocação de alunos, os pais tenham sido ouvidos, nem que tenham sido eles a escolher a escola dos seus filhos!
Admitindo, como o faz a própria Helena, que haverá razões importantes para as decisões tomadas, relativas ao encerramento das escolas, admito, igualmente, que haverá umas outras tantas que apontam num outro sentido. Nesta medida, acho que o texto da Helena é muito oportuno, pois chama a atenção para um problema que merece uma reflexão e uma discussão sérias.
Muita gente parece não querer ver que não é centralizando mas descentralizando que se obtém um desenvolvimento mais rico e positivo. Estarão esquecidos de que o nosso país ainda continua a pagar caro a falta de um verdadeiro investimento na descentralização? Abrir uma escola será sempre um gesto libertário e um abrir de janelas lançadas ao mundo, se o mesmo for sempre feito em ordem às múltiplas latitudes e longitudes vivenciais. Fechar escolas será o inverso da medalha...
O tempo que a minha mãe levava (a pé) da aldeia dela à escola da aldeia mesmo ao lado (45 minutos, é certo que por pinhais floridos), era incomparavelmente superior ao tempo que levam hoje as crianças dessas mesmas 2 aldeias à sede do concelho (10 m, de autocarro). Nessa altura, a sede de concelho era quase outro país (ia-se lá à feira, de 15 em 15 dias ou mês a mês). Hoje, trabalha-se ou vai-se lá tomar café.
Vamos lá a ver: o mundo mudou, não é? E uma das mudanças mais significativas foi que a nossa concepção de espaço e das distâncias é radicalmente diferente. Pelo que o excelente mapa de escolas republicano não pode ser o modelo para o mapa das escolas actuais. Mantê-lo era ser anacrónico (e, nessa medida, muito anti-republicano, mesmo).
Há, na verdade, uma nostalgia rural utópica no texto da Helena, muito pouco de acordo com o país real que temos hoje. Pois, as escolinhas rurais eram bonitas, tanto fisica como ideologicamente; mas, feliz ou infelizmente, conforme as opiniões, esse mundo rural e fechado é que já não existe (pelo menos na Europa). É que não existe mesmo! (é só fazer uma sondagem a quantas juntas de freguesia estão ligadas à Net; eu não fiz, mas desconfio que serão a grande maioria; e se não estão, sugiro que alguém trate disso rapidamente - tanto quanto me parece, por aí passará também parte do verdadeira espírito republicano, nos tempos que correm).
Quanto às citações da Palmira, elas sugerem, retoricamente, que o fecho das escolas é equivalente à retrógada ausência de ensino para uma parte da população - e como não é o caso, parece-me ser esta uma estratégia retórica, no mínimo, abusiva.
Ninguém gostará mais da paisagem bucólica, da mansidão das paisagens e do bater das horas, da suavidade das cavadelas de uma enchada a penetrar a terra-mãe, ou do doce e lamuriento apascentar de um rebanho, que eu próprio que tenho vários familiares vivos que o fizeram outrora. E era ver os seus filhos, hoje os pais de mais uma geração muito mais exígua, a caminharem com as botas enlameadas e encharcados nas invernias a caminho das minúsculas escolinhas "salazaristas" da aldeia. Na mesma aldeia beirã que hoje, ainda que situada a meio caminho entre duas sedes de concelho, recebe numa enorme e moderna escola, construída há cerca de oito anos, onde pululam umas centenas de alunos desses concelhos e filhos de campesinos. E todos os dias eles chegam em transportes especiais a esse "centro de conhecimento e de intimidade humana". Qual poderia ser o benefício das duas a três crianças dessa aldeia se estivessem circunscritas a uma pequena sala de aula, na "mesma escolinha salazarista" que lá subsiste, vendo-se todos os dias repetidamente e envoltos pela mesma professora, ali sós e entregues a si-próprios e aos seus laços e capacidades? Esse é que é o dilema em discussão! E não se diga que há contariedades em deslocar estes alunos dessas escolinhas sem se clarificarem quais são elas e que prejuízos acarretam para os futuros escolares e profissionais dessas mesmas crianças! Que não há escolha das escolas eu sei. Nem espero que este Ministério e Governo venha a dar qualquer passo nesse sentido. Porque se existisse essa liberdade das famílias, muita desta demagogia ternurenta em torno destas já não faria provavelmente sentido. Nem existe poder efectivo dos municípios, porque se a descentralização fosse real, e não meramente retórica neste Estado eternamente centralizador, já as comunidades locais estariam a governar as escolas. E então as famílias saberiam a quem pedir responsabilidades efectivas pelos despautérios educativos...
Penso que o texto da Helena Damião foi mal interpretado, face às críticas que recebeu. Mas a própria defender-se-à, se entender necessário.
Eu li neste texto uma crítica à ligeireza como José Sócrates defendeu o encerramento das escolas. Tal como a autora defende "na decisão de fechar uma escola com poucos alunos há necessariamente prós e contras a ponderar. Até pode ser que os argumentos a favor sejam mais fortes do que os argumentos contra. Contudo, a ligeireza com que aqueles se afirmam e estes se omitem dá que pensar."
Helena Damião defende que para além da questão financeira se entre em conta com factores de natureza sociológica. Em momento algum se diz ser preferível o isolamento dos alunos. E conclui (muito bem, na minha opinião): "Num certo sentido, abrir uma escola é (ou deveria ser) um acontecimento alegre; enquanto fechar uma escola é (ou deveria ser) um acontecimento triste, ainda que saibamos que esse fecho é ditado por uma causa boa e razoável."
Parece-me que as críticas do comentador Pinto Correia são descabidas.
Excelente o blog...
Filosofia, uma paixão pessoal, muito bem abordada aqui.
Convido-te humildemente a conhecer meus espaços:
folheteen.blogspot.com
nemefrego.blogspot.com
Fechar uma Escola é matar uma Aldeia - sabe-se isso faz muito tempo...
O que o senhor Sócrates gosta(va) nesses encerramentos de escolas (e ele, que não tem coragem de ir fechar uma Escola, apenas vai abrir uma nova, se esta dar uma notícia em prime-time de 5 minutos...) era, apenas o que poupava em dinheiro, vil dinheiro.
Não digo que é mau ter boas Escolas, com muitos meios e muitas crianças, mas basear tudo no factor económico e nem sequer ter coragem de dizer a verdade ao portugueses parece-me de mais num pseudo-engenheiro que é Primeiro Ministro de Portugal.
Parece-me que os defensores do fechamento de tais escolas recaem no mesmo sofisma dos que exaltam o uso da tecnologia no meio educacional. Mais asneiras.
Fechar uma escola é abrir uma prisão; mas, como a prisão só abre na legislatura seguinte, não faz mal.
Às vezes, certos opinadores, em vez de pensarem naquilo que os outros realmente querem dizer, preferem "berrar" as suas razões.
Parece-me que é o caso de alguns comentadores deste "post". Mas enfim.
Também me mete espécie como muitos dos intervenientes ainda aplicam conceitos que já estão ultrapassados: na maior parte das aldeias já não há verdadeiramente um "campesinato". Muitas das pessoas que aí vivem não se dedicam apenas à agricultura, acumulando com profissões mais ou menos qualificadas, muitas vezes pouco qualificadas, como as ligadas à construção, extração, etc.
Eu concordo que esta questão de se ficharem escolas pequenas, se bem que tenha inegáveis vantagens pedagógicas, envolve outros aspectos: transportes escolares (que nuns concelhos funcionam bem noutros nem por isso), instalações condignas de acolhimento (uma coisa é uma escola que acolhe alunos que lhe são vizinhos, outra que acolhe alunos que ficam longe; não esquecer que uma criança de 6 anos encara uma ausência prolongada de casa de maneira diferente da de uma de 10 ou 12), entre outros aspectos.
Se numa família com baixas expectativas perante a escola se colocarem dificuldades de acesso (por exemplo, acharem que os filhos ficam longe ou que não se conseguem organizar para levar os filhos ao transporte, ou por qualquer outra razão, bastando um pretexto qualquer) pode ser o bastante para se assistir a um aumento de fuga á frequência da escola por certos extractos da população.
Por fim: já repararam que quando há um problema numa escola, a reacção dos pais é FECHAREM a escola? Isto é contraditório, porque se os pais achassem que a escola era realmente importante não a fechavam mas antes arranjariam outras formas de "luta". Mas não, fecham as escola porque "eles" (os que mandam) têm de arranjar solução para o problema. Entretanto os filhos não têm aulas. Um dia destes uma mãezinha até dizia que o filho ficaria em casa até que fosse resolvido o problema. Ora, se esta gente se preocupasse com o futuro escolar do filho o que queria era que a escola não fechasse, embora também procuraria que o problema se resolvesse.
Querem exemplo mais evidente que uma parte importante da nossa população não considera assim tão importante a escola.
Caros leitores, agrade�o os coment�rios, os quais, pelo n�vel de empenhamento que denotam, ajudam a pensar, e � um fun�o deles que deixo uma nota e uma correc�o.
A nota: O facto de se questionar uma ideia n�o significa que se defenda a ideia contr�ria. Obviamente, n�o fa�o a apologia de escolas frias e tristes, perdidas entre pinheiros, onde alunos e professor estejam afastados do resto do mundo, nem de escolas de cidade (que tamb�m fecham)degradadas e sem recursos. Contudo, devemos ter em conta que reunir os alunos em centros escolares, por muito bons que seja no plano l�gistico, relacional, pedag�gico, etc., n�o tem apenas vantagens: h� aspectos cr�ticos a considerar, tanto em rela�o aos alunos, como �s fam�lias e �s comunidades. Assim, uma atitude de pondera�o parece-me do mais puro bom senso (express�o de que n�o gosto particularmente).
A correc�o: Escrevi "ter uma escola pr�xima de n�s faz alguma diferen�a...". E devia ter escrito: "ter uma BOA escola pr�xima de n�s faz alguma diferen�a...". Na verdade, s� uma BOA Escola, que pode estar situada no centro de uma grande cidade ou perdida num lugarejo, permite aos alunos ter contacto com o saber (universal, antes de mais, mas tamb�m nacional e local), condi�o fundamental para que possam vir a fazer as suas escolhas, a exercer a sua liberdade, fim �ltimo da educa�o.
Escolas, prisões, quarteis ou fábricas são locais panópticos de regularização disciplinar, na acepção panóptica de Foucault.
Escolas, prisões e quartéis são as metáforas da fábricas: fazem-se alunos, melhoram-se presos, preparam-se soldados.
A primeira impressão colhida por um pedagogo brasileiro que foi convidado a visitar as universidades americanas, e ao ver uma pista de atletismo, foi a de que "uma pista bem lançada convida a correr".
Da mesma forma, uma escola bem concebida, convida a frequentá-la e estimá-la. Assim como uma escola num contentor, eternamente provisório, só convida a passar o tempo.
Também uma prisão bem concebida pode ajudar a melhorar o comportamento dos presos.
Igualmente um quartel bem apetrechado pode fazer melhores soldados.
Instituiçóes todas diferentes, todas iguais.
Abrem-se e fecham-se escolas, e em cada caso apenas se pensa na escola em si, e na sua função. Como se ela não dependesse do que está à volta. Raramente se pensa na logística de transportes para as famílias ou no incómodo que acarretam para os vizinhos as filas intermináveis de carros à entrada, por exemplo, duma escola como a 39, em Coimbra, localizada numa rua habitacional sem saída, e que, além disso, já tem em construção, bem ao lado, um infantário que ainda irá piorar mais esta situação, à hora de ponta. Nem a escola, nem o infantário, nem os moradores da zona dispõem de quaisquer espaços verdes. Fala-se em enfiar as crianças em mais uns quantos «contentores». De facto, foi assim nos dois anos transactos, logo após o absurdo encerramento da saudosa escolinha do Mosteiro de Celas, onde muita gente da zona podia simplesmente levar e ir buscar os filhos a pé. A escola de que tanto se orgulha Sócrates é a do encarquilhamento das crianças em frente a um écran, papagueando frases feitas, pronto-a-usar, retiradas da internet. Ou então a das gritarias infindáveis nos recreios sem vigilância (não, não deve ser electrónica!) e da chinfrineira massificada à hora de almoço. Sócrates, que não dá sossego a ninguém neste país, não percebe que na escola pública é preciso paz, a fim de se fomentar a concentração dos alunos e de possibilitar o aumento dos níveis de exigência. As crianças não são galinhas de aviário.
Adelaide Chichorro Ferreira
Mas afinal ficamos em quê? No estilo ou no conteúdo? É ou não é de fechar escolas? - certas escolas em certas condições de funcionamento? E já agora, só agora é que se está a dar conta de que é mais uma aldeia que fecha, só porque se fecha uma escola? Então quando outro tipo de recursos / ofertas há muito começaram a faltar o que é que se fez / disse? Deixemo-nos de hipocrisias e sentimentos balofos - não que concorde com fechos de escolas a granel, mas não somos um país rico para andar manter o insustentável. Além de que se jogam aqui outro tipo de interesses não directamente relacionados com as crianças: políticos, economicistas, corporativistas/classistas, etc.
Só agora existe a preocupação com a deslocação das crianças, antes também faltavam outros recursos nessas "escolinhas" e ninguém sequer sabia que essas escolas existiam... afinal. Só porque um PM com o qual "não vamos à bola" teve a coragem de fazer o que outros há muito desejaram e vieram a adiar não concordamos?!... a pressa que uns referem neste acto apenas deriva, precisamente, do pragmatismo (?) com que a medida agora foi tomada quando há muito vinha a ser prometida.
josé costa
PARABÉNS PELO BLOG. EXCELENTE CONTEÚDO!!!!!!!!!!!!!!!
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