O dia 24 de Setembro é um dia que ficará para sempre na minha memória como o dia do aniversário do «chefe», que em Julho nos deixou precocemente mais pobres. Um dos maiores nomes da Química nacional, o professor Alberto Romão Dias será certamente alvo de merecidas homenagens por parte da comunidade científica. Uma dessas homenagens estará patente no próximo número do Boletim da Sociedade Portuguesa de Química, que contará com uma contribuição póstuma do grande comunicador de química.
Por coincidência, no dia do seu aniversário inicia-se o ano lectivo para os caloiros do Técnico, nomeadamente para os caloiros do DEQB que pela primeira vez nos últimos 32 anos não contarão com aquele que neles deixou a marca indelével de que as muitas homenagens na blogosfera são testemunho. De facto, o chefe foi uma figura de destaque no Departamento de Engenharia Química e Biológica do Instituto Superior Técnico, não apenas como cientista mas sobretudo como (grande) educador, um professor que nos empolgou, nos surpreendeu, nos fez pensar e nos envolveu activamente no ensino e investigação em Química.
Vi o chefe pela primeira vez em diferido e a preto e branco, na televisão em que assistia às aulas do ano propedêutico, que antecedeu o 12º ano e substituiu o serviço cívico dos anos da Revolução. O seu génio como educador era evidente mesmo no pequeno écran em que eu e mais três colegas tentávamos aprender a muita matéria das cinco disciplinas, matemática, física e química, ciências da natureza, português e inglês, que constavam dos exames que em Julho realizei no Pedro Nunes. Aliás, devo confessar que muito rapidamente as aulas de química passaram a ser as únicas que não perdíamos.
Quando mais tarde pude assistir ao vivo e a cores às aulas do chefe, fiquei fascinada com a facilidade como descascava e apresentava os aspectos mais complexos da química, com a forma brilhante como usava a voz, o corpo, o giz ou o ponteiro (de madeira nesses tempos) para transmitir os seus vastos conhecimentos de química a uma plateia completamente rendida.
Muitos foram aqueles que já como jovens assistentes ou assistentes estagiários assistiam às lendárias aulas no QA para se inspirarem para as respectivas. O amor pela Química - uma ciência que nos dia de hoje é muitas vezes totalmente incompreendida ou reduzida a estereótipos a milhas da realidade -, que todas as suas aulas transpiravam reflectia uma das suas grandes causas, o ensino da (boa) Química em Portugal.
Embora sinta que escrever (e ensinar) sobre a ciência à qual devotou a sua vida constitui a melhor homenagem que posso prestar ao chefe, neste dia que em anos anteriores significaria um almoço quasi ritual no Retiro do Quebra-Bilhas ou no Amazonas, não posso deixar de assinalar a data. Obrigado chefe, nunca o esqueceremos.
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1 comentário:
Palmira,
aprecio com veemência a apologia que fazes do teu mestre. Vejo que o fazes com cabeça e com coração. Nunca fui aluna do professor Alberto Romão Dias mas acreditamos, tal como tu, que nunca o esqueceremos.
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