terça-feira, 18 de setembro de 2007

Lapidar

Recebemos muitos comentários interessantes e que é algo injusto ficarem por vezes esquecidos em entradas antigas.

Vamos por isso passar a destacar alguns dos comentários que recebemos. Podem ser destacados pelas mais diversas razões, sob o critério vago e idiossincrático do "interessante".

E eis o primeiro:

"Grande parte das coisas que fazemos na vida (e que dão sentido à vida) não serve para nada, se o verbo «servir» significar «ter uma utilidade que todas as pessoas podem compreender»." (Ana Sofia)

14 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

A propósito da ideia materialista de que as coisas só interessam se "servirem" para alguma coisa, aqui ficam duas notas:

1.ª - Conta-se que, um dia, um aluno de Euclides lhe perguntou para que servia a Geometria.
O Mestre mandou dar-lhe uma moeda e expulsou-o.

2.ª - Mais recentemente, perante uma questão semelhante, um filósofo limitou-se a responder com outra pergunta:

- E para que serve um recém-nascido?
.

Anónimo disse...

A noção de utilidade, não é necessariamente materialista. Mas também parece que o materialismo é alguma doença grave e perigosa. Qual é o mal em se ser ou pensar, ou defender uma corrente materialista? Acaso não é o materialismo que permite o sustento de quem se diz materialista?
O "Comentário Comentado" falava antes em utilidade que todas as pessoas possam compreender e efectivamente, segundo o principio do murcho, 90% de tudo serve para muito ou pouco ou tem muito pouco "valor" - objectivo ou não -, mas quantas coisas boas resultaram dos restantes 10%?
Mas não retiremos valor assim levianamente aos outros 90%, eles são muito necessários. Vejamos as nossas casas, as janelas são menos de 10% da área da casa, mas sem elas, nem a casa nos abrigava, nem disfrutávamos das vistas, se só tivéssemos paredes....

Anónimo disse...

Seguindo a mesma linha de inspiração seria tb interessante destacar as citações mais "ignobeis" :)

Anónimo disse...

é verdade, não é a matematica e a fisica que dão sentido a vida e sim coisas simples que a partida só dão trabalho, coisas inuteis, que fazemos aos outros.

António Viriato disse...

O pensamento lapidar é uma arte antiga e muito bela que ganharia em ser recuperada.

No caso vertente, acho que a sentença foi muito bem distinguida, porque, sobre ser bela, é também verdadeira.

Parabéns, pela iniciativa e pelo resto, que é imenso : acender velas para dissipar a escuridão do moderno obscurantismo.

Anónimo disse...

O Filósofo do segundo ponto do comentário do Carlos Medina deve ter sido lapidado. Para que serve um recém-nascido? Ora, para torna-se homem; tornar-se mão-de-obra.

Carlos Medina Ribeiro disse...

«O Filósofo do segundo ponto do comentário do Carlos Medina deve ter sido lapidado».

Não, meu caro.
O filósofo disse essa frase, precisamente para evidenciar o ridículo dos que defendem o oposto.

Desidério Murcho disse...

Caros leitores:

Muito obrigado pelos vossos comentários.

Um obrigado especial para o Viriato pelas suas palavras acolhedoras. Acendemos uma vela de vez em quando para iluminar o obscurantismo, venha ele de onde vier.

Anónimo disse...

Carlos Medina:
Jura!? Era para ridicularizar?! É pá, se fosse voçê...
Mas, tá certo. Um homem nasceu para trabalhar, não é?

Ridículo, quem se toma por ser mais do que é.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Benjamin Franklin observes the first balloon ascension in 1783 while he was Ambassador at the Court of France. Someone asks "What possible use are balloons?" Franklin answers "What use is a newborn baby?"

-
Esta rábula é também atribuída a Faraday (a propósito de estudos seus).

Palmira F. da Silva disse...

Olá Carlos:

Do Michael Faraday só conhecia a resposta ao Chancellor of the Exchequer Gladstone que o interrompeu uma palestra de Faraday sobre electricidade para perguntar para que servia a electricidade.

Faraday respondeu:

"Why, sir, there is every probability that you will soon be able to tax it!"

Anónimo disse...

Apreciaria uma exemplificação da autora da frase.
Entretanto, tentei experimentar o conceito:
1 - Dá sentido à (minha) vida ler isto, agora?;
2 - Tem dado sentido ler artigos deste blog e seus comentários?;
3 - Duvido, porque não alcanço, segura e claramente, o significado de 'dar sentido';
4 - Isto porque apenas julgo perceber que entendo o que leio e que esse entendimento me apraz;
5 - E, como me contento em acreditar nesta pouca 'coisa', poderei que isto faz sentido para mim?;
6 - Se nem consigo responder à pergunta anterior, qual a utilidade para mim ou para outrém do que quer que eu diga, ou sinta?;
7 - De onde grande parte das coisas que fazemos (na vida?) não pretende sequer servir qualquer intuito;
8 - Serve a vida, cujo significado é viver.

Anónimo disse...

5 - E, como me contento em acreditar nesta pouca 'coisa', poderei dizer que isto faz sentido para mim?;

Anónimo disse...

Qual o valor de verdade da seguinte frase:

«A frase que estou agora a escrever (até chegar ao ponto final) é inútil.»


Adelaide Chichorro Ferreira