sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Mulheres em ciência

A fundação Nobel revelou há uns dias as datas em que serão anunciados os prémios respectivos e, se nos reportarmos apenas às ciências, conheceremos os laureados em Medicina, Física e Química nos dias 8, 9 e 10 de Outubro, respectivamente.

Inspirada por um post no Pharyngula, resolvi investigar quantas mulheres foram galardoadas com o Nobel. Desde 1901, data em que este prémio foi atribuído pela primeira vez, 33 mulheres no total e 12 em ciência mereceram tal distinção das várias comissões Nobel - em 2007, as comissões de ciência são constituídas quasi exclusivamente por homens, com a honrosa excepção de Astrid Gräslund, que integra desde 1996 o grupo que escolhe os laureados em Química.

A percentagem de mulheres que integram estas comissões é muito superior - mais do dobro - à percentagem de mulheres laureadas, 2.3% do total de medalhados. Discriminando por disciplinas verificamos que a Medicina ocupa a «pole position» com 7 mulheres (3.8%), seguida da Química, 3 premiadas ou 2% do total, enquanto em Física há duas Maria's nobelizadas (1.1%), Maria Goeppert-Mayer e Marie Curie.

É ainda curioso analisar a distribuição temporal destes prémios que, estranhamente, indicam que pessoalmente ficaria mais animada se realizasse esta análise há 42 anos. De facto, metade destes prémios foram atríbuídos até 1964, o que inclui todos os de Física e Química, sendo que apenas dois foram atribuídos nos últimos 10 anos e 4 nos últimos 20 anos. Isto é, a percentagem de prémios Nobel no feminino «sobe» para 2.9% nos últimos 20 anos mas todos os prémios são em Medicina. Embora existam cada vez mais mulheres a trabalhar em Química e Física, há mais de 40 anos que não há um laureado feminino nestas áreas.

Ben Barres, professor de neurociências em Stanford, iniciou a sua carreira científica como Barbara Barres. A sua experiência pessoal completamente única, relatada ao ScienceDaily, ajuda a perceber estes números. Vale a pena ler o depoimento de Barres na íntegra.

8 comentários:

no name disse...

não será um pouco "extremo" não classificar a economia como uma ciência?...

Palmira F. da Silva disse...

Olá Ricardo:

Não tem nada a ver com classificação da economia. O Nobel da economia não o é de facto, é o Bank of Sweden Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel :-)

De qualquer forma, a %de mulheres que ganharam este prémio com Nobel no nome é ainda mais assombrosa: 0%.

Não há uma única mulher entre os 58 laureados até 2006. Se incluir Economia nas contas as percentagens baixam, claro...

no name disse...

sim, é verdade, tens razão! tinha-me esquecido desse nome pomposo :-) mas assim sendo acrescento os resultados relativos à medalha fields: 0%. sorry!

Anónimo disse...

Muito interessante, de facto!
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

Eu acho que não há nada de muito estranho nisso. A educação sempre esteve vedada às mulheres. Só há poucos anos é que se fizeram alguns progressos neste campo. Até hoje os preconceitos subsistem. Uma rapariga que queira estudar física ou matemática faz impressão. Se quiser estudar direito ou línguas não faz impressão nenhuma. Aliás hoje em dia é raro alguém querer estudar física ou matemática, mas isso já é outra conversa.

Depois há outra coisa que está ligada com a anterior mas é preciso ter cuidado com o modo como fazemos esta ligação. É que as mulheres são mães e os homens não. A entrega de uma mãe à investigação não pode ser comparável à entrega de um pai. É um facto. Por mais "progressistas" que sejamos. A maternidade afecta emocionalmente as mulheres de uma maneira mais forte.

António Viriato disse...

Apesar de ser minoritária a presença feminina na consagração mundial obtida com os prémios Nobel, ela é hoje já muito forte na investigação e na produção científica, nas Universidades, nas Empresas e nas Instituições

Algumas mulheres, como Lise Meitner, p.ex., só não receberam o Nobel, pelo adverso jogo das influências e dos preconceitos. Aqui também, o caminho é penoso, mas, creio, inelutável, pese a nova tendência que pretende confinar as mulheres em certas áreas, afastando-as da Ciência, com excepção da Medicina, onde são cada vez mais maioritárias.

Cabe às mulheres, em primeiro lugar, lutar contra essa tentativa de discriminação, assim como lhes compete denunciar e rejeitar o uso abusivo da sua imagem para efeitos comerciais ou publicitários, que, note-se, não as degrada só a elas, mas a toda a sociedade, que, se não reagir a isto, ver-se-á, a prazo, toda ela completamente manipulada e moralmente prostituída.

Anónimo disse...

É claro que a maternidade «afecta» as mulheres (a palavra não foi minha!) diferentemente dos homens. Mas não estritamente por causa da biologia (a biologia é uma ínfima parte de todo um contexto mais vasto). E as consequências do modo como as mulheres vêem e sentem a ciência não devem ser encaradas como negativas, necessariamente.
As mulheres precisam de mudar a sua atitude, no sentido de não encaixarem apenas na ciência «deles» e de assumirem frontalmente atitudes críticas. Não é possível a uma mulher sensível e inteligente viver fechada num curral só a parir, parir, parir.
Os homens deste país que tirem daí a ideia, sobretudo os que são padres. :-)
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

Já agora, só mais uma achega: é preciso olhar para a questão de saber se o actual paradigma da ciência não será também prejudicial para os homens. O abandono escolar nos rapazes é bastante elevado (mais elevado que nas raparigas, creio), e isso não é aceitável.
Adelaide Chichorro ferreira

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