sexta-feira, 10 de abril de 2020

"O Cisne Negro"

Em mais uma das suas crónicas semanais na rádio belga, que pode ser ouvida aqui, Pascale Seys, partindo do bailado de Tchaikovsky e da história que O Lago dos Cisnes nos conta, fala-nos da expressão "cisne negro" que, desde o poeta latino Juvenal, é associada a algo que não existe e que deu origem à "teoria do cisne negro": 
A “teoria do cisne negro” ou “teoria dos acontecimentos cisne negro”, examina o princípio segundo o qual se chama “cisne negro” ao aparecimento de um acontecimento raro e imprevisível, que tem uma probabilidade muito fraca de se desenrolar, mas que, apesar disso, se realiza, com consequências totalmente inéditas e com uma amplidão fenomenal.  A “teoria do cisne negro” chama, pois, a atenção para o “poder do imprevisível”, quer dizer, para um fenómeno aberrante que surge fora de qualquer previsão e que apanha o mundo de surpresa." "O cisne negro é pois uma metáfora que testemunha a extrema fragilidade das nossas formas de apreender a história e os seus conflitos." 
É também este o momento que atravessamos. Este vírus que atacou a Humanidade é o "cisne negro" que julgávamos não existir e que apareceu de repente e deixou o mundo estupefacto. 
"É um “viés cognitivo” em forma de cisne e um sinal com o qual somos todos e todas confrontados hoje, à escala mundial. Porque todos, receosos perante os outros e confinados nas nossas casas, estamos siderados como diante de um cisne negro." 
É hora, então, de pensarmos nas coisas que dão sentido à nossa vida, de darmos o verdadeiro valor à arte, à cultura, à partilha, à solidariedade.
"Em Itália, os filhos de Verdi e de Rossini foram os primeiros a cantar às varandas para habitar as ruas desertas das suas mais belas músicas e para agradecer a todos os que se põem em risco de vida para prestar cuidados e, por vezes, acompanhar na morte. 
O que os homens e as mulheres, constrangidos ao isolamento, compreenderam cantando e aplaudindo, é que nós somos seres de arte, de cultura, de laços e de partilha e que sofremos na nossa carne se estamos privados deste bem essencial. 
Esperando dias melhores, retirados nas nossas casas, nos nossos lares, a hora é de cultura da interioridade e de reinvenção do quotidiano. É talvez um bom momento para nos interrogarmos, no momento em que vidas e mortos são contados, o que conta verdadeiramente para nós, o que tem valor, o que nos eleva e aquilo a que nos agarramos mais."

3 comentários:

Cisne negro disse...

https://www.youtube.com/watch?v=OJwd54SAtjo

"A forma é o fundo trazido à superfície".
Vitor Hugo

João Alves disse...

E no entanto o cisne negro existe, embora só 16 séculos depois de Juvenal se viesse a saber. Este não surgiu fora das previsões. Foi previsto mas ignorado devido à arrogância dos políticos crentes no poder do homo scientificus

Carlos Ricardo Soares disse...

A forma como vivemos, pensamos, sentimos, sofremos ou nos alegramos é do mais bizarro que há, assim como o modo (deliberado, engenhoso e pedagógico) de investimento e de sacrifício e a forma (de ingénuo e ignorante sujeito) como aprendemos tanta coisa errada, quantas vezes, com muito trabalho e esforço, de que jamais conseguiremos desembaraçar-nos, ou desfazer-nos. Algo que faz lembrar a liberdade de construir a própria prisão, como desiderato ao alcance de uns poucos privilegiados que, no entanto, não vivem o suficiente para fecharem a porta...

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