domingo, 26 de abril de 2020

CINEMA E CIÊNCIA



Meu artigo que saiu na revista BICA, que acaba de sair: versão digital aqui  (na revista tem mais figuras, para além do design):

A fotografia e o cinema são tecnologias de base científica que datam do século XIX. A fotografia assenta na física (óptica) e na química, ao passo que o cinema se serve da capacidade do olho humano ligar imagens fotográficas sucessivas de modo a originar a impressão de movimento. As duas tecnologias deram origem a novas formas de arte: o cinema é conhecido como a “sétima arte”.

A fotografia foi uma inovação francesa. A primeira fotografia em todo o mundo, Point de vue du Gras, que ainda hoje se preserva, foi tirada no verão de 1826, da janela da casa do inventor Joseph-Nicéphore Niépce, que mais não pretendia do que copiar desenhos de uma litografia. Mostra partes dos edifícios e paisagem vizinhos de sua propriedade, Le Gras, em Saint-Loup-de-Varennes, na Borgonha, França. O trabalho de Nièpce foi continuado pelo seu sócio Louis Daguerre. Ao longo de todo o século XIX a fotografia conheceu um extraordinário processo de evolução tecnológica, que haveria de se prolongar pelo século XX.

O cinema, tal como o conhecemos hoje, é também uma invenção francesa. A primeira exibição de um filme teve lugar no salão Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris, a 28 de Dezembro de 1895. O instrumento utilizado chamava-se cinematógrafo, sendo os seus autores os Irmãos Lumière, Auguste e Louis, filhos de um fotógrafo e fabricante de películas fotográficas (o cinema filia-se na fotografia!). O filme, intitulado L'Arrivée d'un Train en gare de  La Ciotat (Chegada de um comboio à estação de La ciotat), não durou mais do que um minuto. Os cerca de três dezenas de espectadores presentes, que se assustaram perante a chegada virtual do comboio, não podiam imaginar que estava a emergir uma não só nova, mas também poderosa indústria. Para os Lumière o cinema não passava de uma “curiosidade científica”, sem nenhuma possibilidade de um futuro comercial. Enganaram-se redondamente.

Se o cinema entrou na história em França a pré-história do cinema situa-se nos estados Unidos. Quatro anos antes dos irmãos Lumière o inventor americano Thomas Alva Edison tinha inventado o cinetrógrafo, que já apresentava imagens em movimento, mas que não permitia projecção: era simplesmente uma máquina para espreitar. Metia-se um níquel para visualizar individualmente um filme numa caixa, em vez de se pagar um bilhete para entrar numa sala de muitos lugares com um grande ecrã, como ocorreu mais tarde. Foi, como se sabe, a segunda tecnologia que ganhou.

 Radicando tanto a fotografia como o cinema na ciência, a ciência logo aproveitou essas duas tecnologias para seu próprio benefício. Este é aliás um fenómeno recorrente: a ciência proporciona instrumentos, que têm, para além de outras, utilidades na própria ciência. Foi, no tempo da Revolução Científica, o caso do telescópio, do microscópio, do termómetro, do barómetro e de outros instrumentos que ampliaram o poder do olho humano ou permitiram medidas de grandezas físicas com maior precisão. Daguerre usou a fotografia para fixar eventos astronómicos, como eclipses, ou espécies vegetais ou animais. Ligadas a telescópios e a microscópios as câmaras fotográficas logo permitiram novos avanços na ciência concretizando os seus anseios de uma objectividade cada vez maior. Uma prova podia agora basear-se num registo fotográfico, um documento partilhado que era difícil de contrariar. Desenvolveram-se também fotografias com luz invisível, isto é, luz não visível pelo olho humano, mas que conseguia impressionar chapas fotográficas Por exemplo, os raios X, descobertos pelo alemão Wilhelm Roentgen em 1895, praticamente ao mesmo tempo que o cinema, permitiram a “fotografia através dos corpos opacos”, revelando-se o que pode ser considerado o maior contributo que a física jamais deu à medicina. O cinema conheceu um rápido aproveitamento na ciência, de resto semelhante ao que se passou na fotografia nos tempos posteriores à imagem pioneira de Niépce. Em 1896, o fotógrafo polaco Bolesław Matuszewski filmou algumas cirurgias em hospitais de Varsóvia e São Petersburgo, tendo depois sido convidado a filmar em hospitais de Paris. Ainda no século XIX, o neurologista romeno Gheorghe Marinescu realizou alguns filmes na sua área de especialidade. O autor chamou a esses trabalhos “estudos com a ajuda do cinematógrafo”, isto é, investigação científica baseada no cinema. Tal como a fotografia, o cinema revelava a sua utilidade na ciência. Há quem considere Os problemas de caminhar na hemiplegia orgânica (1898) o primeiro filme científico em todo o mundo, já que o autor era médico ao contrário de Matuszewski. Como Auguste Lumière tomou conhecimento desses documentários através de notícias, com algumas imagens, publicadas na revista La Semaine Médicale, ele afirmou numa carta numa carta de 1924: “Vi seus relatórios científicos sobre o uso do cinematógrafo em estudos de doenças nervosas, quando ainda recebia o La Semaine Médicale, mas naquela época eu tinha outras preocupações, o que não me dava tempo livre para iniciar estudos biológicos. Devo dizer que esqueci esses trabalhos e agradeço-lhe ter-me lembrado deles. Infelizmente, não foram muitos os cientistas que seguiram o seu caminho." 


O cinema tornou-se rapidamente uma arte que ganhou o interesse das massas, muito para além dos círculos restritos da ciência e da técnica. Ele passou a ser principalmente usado como veículo de ficção, consumido por um público ansioso de desfrutar dessa nova forma de passatempo. Um francês que tinha tentado sem êxito comprar o animatógrafo aos irmãos Lumière foi o autor de um dos primeiros filmes de ficção científica. Em 1 de Setembro de 1902, Georges Méliès apresentou  Le Voyage dans la Lune (A Viagem à Lua), um filme mudo e a preto e branco (embora haja uma versão colorida à mão) de 14 minutos que usava o que hoje chamamos efeitos especiais para mostrar uma viagem à Lua originada por um disparo de um gigantesco canhão. A história inspirava-se em dois romances clássicos de ficção científica: Da Terra à Lua,  do francês Jules Verne, e Os Primeiros Homens na Lua, do inglês Herbert George Wells. Um exemplo de cinema de ficção científica no início do século XX foi o filme americano Frankenstein (1910),  de James Searle Dawley, também um filme mudo também de 14 minutos, a preto e branco embora com partes coloridas em sépia, que era uma adaptação cinematográfica do famoso romance da inglesa Mary Shelley de 1818, sobre uma criatura que escapava ao criador. Este filme, produzido pela companhia de Thomas Edison, foi apenas o início de um grande número de filmes que versam o mesmo tema, ilustrando os perigos de uma ciência de ambição desmedida. Deve também ser referido o filme Metrópolis (1927) do alemão Fritz Lang, uma distopia urbana colocada no ano de 2026 que reflecte sobre problemas laborais e sociais. O filme era mudo, com legendas em alemão, mas, em contraste com os atrás referidos, já durava 153 minutos (versões posteriores têm as mais variadas durações).

Dado o apreço de multidões, o cinema conheceu um crescimento explosivo no seculo XX, passando primeiro do preto e branco ao sonoro (as primeiras experiências, recentemente descobertas, datam de 1902, sendo da autoria do inglês Edward Raymond Turner) e depois do mudo ao sonoro (um marco foi o filme O cantor de jazz, 1927, do americano Alan Crosland). A televisão, com um longo percurso tecnológico onde avulta a primeira transmissão electrónica protagonizada pelo americano Philo Farnsworth em  1927, veio dar uma novo e alargado palco ao cinema, ao entrar por nossa casa dentro.

A relação mais conhecida entre cinema e ciência encontra-se, sem dúvida, nos filmes de ficção. Falamos de ficção científica quando uma história inventada, pelo menos em parte, assenta de algum modo na ciência e na tecnologia, na linha da Viagem à Lua de Méliès. Convém lembrar que a ficção científica é tão antiga como a própria ciência: no dealbar do século XVII. em plena Revolução Científica duas obras pioneiras do género foram Sonho (escrito em 1608, publicado em 1634), uma viagem à Lua imaginada pelo astrónomo alemão Johannes Kepler, e Nova Atlântida (escrita em 1623 e publicada em 1626), uma utopia de base científico-técnica localizada numa ilha do Pacífico pela  imaginação de  Francis Bacon, jurista e filósofo de ciências inglês. É possível distinguir vários temas de filmes de ficção científica que se sucederam a essa obras iniciais: o espaço, onde releva o hipotético tema do contacto com outras civilizações; os computadores, onde sobressai o receio da eventual omnipotência das máquinas através da inteligência artificial; e a biomedicina, onde se destacam os temas dos perigos da genética e das epidemias. Eis uma escolha necessariamente pessoal de filmes  de ficção científica, ordenados dentro dos três quadros temáticos apresentados, por ordem cronológica da sua estreia:

1- Espaço: 2001 Odisseia no Espaço (1968), dirigido pelo americano Stanley Kubrick, um clássico do cinema cujo guião foi escrito pelo realizador em conjunto com o escritor inglês Arthur C. Clarke  que mescla evolução humana, tecnologia espacial, inteligência espacial e vida extraterrestre; Solaris (1972), filme soviético dirigido pelo russo Andrei Tarkowski, baseado no romance homónimo do escritor polaco Stanislaw Lem, que junta o espaço e a psicologia;  Encontros Imediatos de Terceiro Grau (1977), dirigido pelo americano Steven Spielberg, sobre o contacto dos seres humanos com uma civilização extraterrestre; Star Wars (1977-2019), uma criação do americano George Lucas, que se transformou, com oito filmes adicionais de vários autores, num impressionante fenómeno de cultura popular; Star Trek (1979), dirigido pelo americano Robert Wise, com base numa criação do seu compatriota Gene Roddenberry, que começou com uma série de televisão (1966), e que conheceu múltiplas sequelas tanto no cinema como na televisão; ET: o Extraterrestre (1982), dirigido pelo já referido Steven Spielberg, que assim voltou ao tema do contacto humano com alienígenas; Desafio Total (1990), um filme de acção americano passado em Marte dirigido pelo holandês Paul Verhoeven (curiosamente formado em Física e Matemática); Contacto (1997), dirigido pelo americano Robert Zemeckis, com base no romance homónimo do seu compatriota Carl Sagan (foi  a única obra ficcional do cientista e divulgador científico); Gravidade (2003), um filme britânico e norte-americano dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón, que conta o drama de dois astronautas que sofrem uma acidente; A Guerra dos Mundos (2005), outro filme de Steven Spielberg inspirado no romance de Herbert George Wells (há um filme de 1953 que tem precisamente o mesmo título); O Dia em que a Terra Parou (2008), do realizador americano Scott Derrickson, nova versão do filme homónimo de Robert Wise de 1951, no tempo da guerra fria (na nova versão o perigo maior para a Terra já não é o armamento maciço, mas sim as alterações climáticas); Avatar (2009), dirigido pelo americano James Cameron (tal como o realizador de Desafio Total, também Cameron estudou Física), que aborda a colonização do espaço em luas de planetas extrassolares; Perdido em Marte (2015),  do americano Ridley Scott, sobre a sobrevivência de um astronauta em solo marciano; e Interstellar (2014), filme anglo-americano dirigido pelo inglês Christopher Nolan, que relata a viagem de astronautas que passam num “buraco de minhoca”, um túnel do espaço-tempo, chegando a um buraco negro (o físico teórico americano Kip Thorne, especialista na teoria da relatividade e laureado com o Nobel das Física de 2017, foi um dos principais conselheiros do realizador).

2- Computadores: Blade Runner (1982), dirigido pelo americano Ridley Scott, baseado no romance do escritor americano Philip K. Dick, Os Androides sonham com carneiros eléctricos?, que o tempo tornou um clássico; Matrix (1999), filme australiano e americano dirigido pelas irmãs lana e Lilli Wachowsky que imagina o mundo como uma grande simulação (conheceu duas sequelas, completando uma trilogia); A.I. – Inteligência Artificial (2001), outro filme de Steven Spielberg, baseado num conto do escritor inglês Brian Aldiss, sobre a possibilidade de uma máquina ganhar características humanas; e Eu Robô (2004), filme americano dirigido pelo australiano Alex Proyas, baseado em histórias de robôs do bioquímico, divulgador e escritor americano Isaac Asimov.

3- Biomedicina: Gattaca (1977), filme americano do neozelandês Andrew Nicol, sobre produção genética de seres humanos; Despertares (1990), dirigido pela americana Penny Marshall, baseado numa história clínica real que consta do livro com o mesmo título do neurologista americano Oliver Sacks; Parque Jurássico (1993), de Steven Spielberg (um mestre da ficção científica!), baseado no livro com o mesmo título do americano Michael Crichton, que conta a história de uma ilha povoada por dinossauros, que foram engendrados por experiências de genética permitem criar dinossauros (o filme teve várias sequelas); Contágio (2011), filme do americano Steven Soderbergh sobre o pânico originado por uma pandemia viral.

A maior parte destes filmes foram grandes êxitos de bilheteira, tendo moldado o nosso imaginário colectivo. Avatar é o segundo filme mais visto de sempre, tendo rendido quase três mil milhões de dólares nas bilheteiras só nos Estados Unidos. O episódio da saga Star Wars de 2015 é o quarto nessa lista enquanto o Mundo Jurássico – o quarto filme da série iniciada com Parque Jurássico é o sexto,

Os documentários – os filmes de não ficção que surgiram no cinema desde o início - foram um género que chegou aos nossos dias, embora, ao contrário dos filmes de ficção, nunca tenham conseguido ganhar a atenção de multidões nas salas de cinema. Exemplos de documentários científicos recentes são a película americana Potências de Dez (1977), uma curta-metragem dirigida pelo casal de designers Ray and Charles Eames, que mostra a  enorme variedade de escalas no Universo, desde as partículas subnucleares às galáxias distantes; Cosmos (1982), uma série de televisão americana de grande êxito criada por Carl Sagan e pela sua esposa Ann Druyan e dirigida por Adrian Malone (foram feitas duas sequelas dessa série, ambas narradas pelo astrofísico americano e divulgador de ciência Neil de Grasse Tyson); Uma Breve História do Tempo (1992) de Errol Morris, que, apesar de partilhar o titulo do best-seller de Stephen Hawking, é uma biografia cinematográfica do célebre astrofísico inglês tolhido pela esclerose lateral amiotrófica; Microcosmos (1996), uma produção de um consórcio de países europeus dirigido pelos franceses Claude Nuridsany e Marie Pérennou sobre a vida dos insectos; Planeta Terra (2006), uma série de documentários da BBC (11 episódios) que mostra a passagem da Terra e a biodiversidade, narrados pelo naturalista inglês David Attenborough; e Uma Verdade Inconveniente (2006), dirigido pelo americano Davis Guggenheim, sobre alterações climáticas, baseada no livro de Al Gore, ex vice-presidente dos Estados Unidos, com o mesmo título (o filme teve uma sequela em 2017).

Há filmes baseados na vida e obra de cientistas que são quase documentários, mas não o são verdadeiramente por incluírem alguns elementos de fantasia, que fazem naturalmente aumentar a sua audiência. O lado humano – patente em particular na exploração de aspectos sentimentais – é enfatizado. O dramatismo é um elemento de alguns desses filmes, em especial quando eles abordam temas de saúde ou temas de guerra. Eis alguns exemplos de filmes desse tipo, de novo uma escolha pessoal: A Vida de Louis Pasteur (1935), filme do americano William Diaterle sobre a descoberta de certas vacinas pelo grande químico e microbiólogo francês e a sua campanha em prol da saúde pública;  Edison the Man (1940), um filme dirigido pelo americano Clarence Brown  que é um relato ficcional do processos criativos de Edison, com ênfase na invenção do  fonógrafo e da lâmpada eléctrica (o filme não refere o seu papel na invenção do cinema); Madame Curie (1943), dirigido pelo americano Mervyn LeRoy, sobre a vida e obra da física e química francesa de origem polaca que ganhou dois prémios Nobel e do seu marido Pierre Curie, também ele distinguido com o Nobel (o guião partiu da biografia de Madame Curie, escrita por sua filha, Ève Curie);  Infinity (1996) um filme do americano Mathew Broderick, que é também o principal actor, sobre a primeira parte da vida do físico americano Richard Feynman, um dos autores da electrodinâmica quântica, que se baseia no livro autobiográfico Está a brincar Mr. Feynman? e que mostra a sua participação no projeto Manhattan que, nos anos 40 do século XX, conduziu às primeiras bombas atómicas; Uma Mente Brilhante (2001), do americano Ron Howard, sobre a vida do matemático também americano John Nash, o especialista em teoria dos jogos e laureado com o Nobel da Economia que padecia de esquizofrenia;  Teoria de Tudo (2014), do inglês James Marsh, sobre a vida de Stephen Hawking, com acento no lado amoroso (o roteiro partiu da Viagem ao Infinito, livro biográfico de Jane Hawking, a primeira mulher do físico); e O Jogo da Imitação  (2014), dirigido pelo americano Morten Tyldum, sobre a vida e obra do matemático inglês Alan Turing, especialista em criptografia e inteligência artificial que teve um papel decisivo na decifração de mensagens nazis durante a Segunda Guerra Mundial (o roteiro baseia-se no livro Alan Turing: the Enigma, de Andrew Hodges).

A epopeia espacial iniciada em 1957 com o lançamento do Sputnik e que de certo modo culminou com a chegada do homem à Lua com a missão Apollo 11 em 1969 é um tema científico-tecnológico particularmente aliciante para o cinema, em especial para a indústria cinematográfica norte-americana. Eis alguns filmes que se enquadram nesse tema e que se baseiam largamente em acontecimentos e personagens reais: Os Eleitos (1983), dirigido pelo americano Philip Kaufman sobre os pilotos de teste que foram escolhidos para o projecto Mercury de voos tripulados; Apollo 13 (1995), do americano Ron Howard, sobre o drama vivido pelos astronautas que tiveram de lidar com uma avaria na sua nave durante uma viagem à Lua; Elementos Secretos (2016), do americano Theodore Melfi, sobre a história de três matemáticas da NASA; e O Primeiro Homem (2018), filme do americano Damien Gazelle sobre a vida de Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar o solo lunar.

Na era digital, o cinema passou progressivamente a tornar-se digital, primeiro o áudio e depois a imagem. Algumas das primeiras projecções digitais foram efectuadas em  1999 em Nova Iorque e Los Angeles para oferecer ao público o primeiro filme da série Star Wars. No século XX o cinema digital conheceu um crescimento enorme. Uma das consequências do desenvolvimento de tecnologias de vídeo digital foi a sua democratização em câmaras fotográficas ou, mais recentemente, nos telemóveis que toda a gente usa. A Internet passou a ser, com o YouTube  (2005, comprado em 2006 pela Google) e outras plataformas, o lugar maioritariamente ocupado por conteúdos em vídeo.

Modernamente, grandes empresas de distribuição global de filmes em streaming (uma técnica que pôs progressivamente de lado os CD e Blu-rays) usando a Internet como a HBO (criada em 1972 como canal de TV pago) e a Netflix (fundada em 1997) têm surgido como fortes concorrentes do cinema tradicional, ao proporcionarem a visão do cinema em casa. Vários documentários e filmes de ficção científica encontram aí uma plataforma privilegiada para encontrarem larga audiência. Embora o meio de transmissão seja diferente, os temas são os mesmos do formato tradicional: representações da criação ou da aplicação da ciência, no caso dos documentários, e representações imaginárias inspiradas pela ciência, onde não podem deixar de aparecer os receios que ela suscita. 

Ninguém previu, quando o cinema surgiu há pouco mais de um século – os Lumière não o previram –,  o espectacular caminho que ele ia trilhar. A ciência originou uma criatura que fugiu ao criador, embora os dois continuam por vezes, para nosso prazer, a encontrar-se.

2 comentários:

pouca terra, pouca terra, pouca terra disse...

Fotografia

Ao longe, o comboio... a branco e preto
Cadente se aproxima num quase parar
Pelo trilho rola, metálico e correto
Avança no tempo do tempo a recuar

Era uma vez... e alguém abre a janela
Espreita de rosto para fora do olhar
Reconheço o uniforme perfil e a estrela
Acelero a passada e invoco o lugar

Deixo-me para trás e fecho a janela
Translúcido, volátil, o comboio sela
O meu destino e nega a paragem

Repito o trilho do percurso incerto
Sem bilhete, mapa, nem longe, nem perto
A preto e branco, em mim, sigo viagem

F.C.


armandopereira disse...

Muito bom! Só faltou referir, no campo das séries, Westworld :)

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