Meu artigo que saiu na revista BICA, que acaba de sair: versão digital aqui (na revista tem mais figuras, para além do design):
A fotografia e o cinema
são tecnologias de base científica que datam do século XIX. A fotografia
assenta na física (óptica) e na química, ao passo que o cinema se serve da
capacidade do olho humano ligar imagens fotográficas sucessivas de modo a
originar a impressão de movimento. As duas tecnologias deram origem a novas
formas de arte: o cinema é conhecido como a “sétima arte”.
A fotografia foi uma inovação francesa. A primeira fotografia em todo o mundo, Point de vue du Gras, que ainda hoje se preserva, foi tirada no verão de 1826, da janela da casa do inventor Joseph-Nicéphore Niépce, que mais não pretendia do que copiar desenhos de uma litografia. Mostra partes dos edifícios e paisagem vizinhos de sua propriedade, Le Gras, em Saint-Loup-de-Varennes, na Borgonha, França. O trabalho de Nièpce foi continuado pelo seu sócio Louis Daguerre. Ao longo de todo o século XIX a fotografia conheceu um extraordinário processo de evolução tecnológica, que haveria de se prolongar pelo século XX.
O cinema, tal como o
conhecemos hoje, é também uma invenção francesa. A primeira exibição de um
filme teve lugar no salão Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris, a
28 de Dezembro de 1895. O instrumento utilizado chamava-se cinematógrafo, sendo
os seus autores os Irmãos Lumière, Auguste e Louis, filhos de um fotógrafo e
fabricante de películas fotográficas (o cinema filia-se na fotografia!). O
filme, intitulado L'Arrivée d'un Train en gare de La Ciotat (Chegada de um comboio à estação de
La ciotat), não durou mais do que um minuto. Os cerca de três dezenas de
espectadores presentes, que se assustaram perante a chegada virtual do comboio,
não podiam imaginar que estava a emergir uma não só nova, mas também poderosa
indústria. Para os Lumière o cinema não passava de uma “curiosidade
científica”, sem nenhuma possibilidade de um futuro comercial. Enganaram-se
redondamente.
Se o cinema entrou na
história em França a pré-história do cinema situa-se nos estados Unidos. Quatro
anos antes dos irmãos Lumière o inventor americano Thomas Alva Edison tinha
inventado o cinetrógrafo, que já apresentava imagens em movimento, mas que não
permitia projecção: era simplesmente uma máquina para espreitar. Metia-se um
níquel para visualizar individualmente um filme numa caixa, em vez de se pagar
um bilhete para entrar numa sala de muitos lugares com um grande ecrã, como
ocorreu mais tarde. Foi, como se sabe, a segunda tecnologia que ganhou.
Radicando tanto a fotografia como o cinema na ciência, a ciência logo aproveitou essas duas tecnologias para seu próprio benefício. Este é aliás um fenómeno recorrente: a ciência proporciona instrumentos, que têm, para além de outras, utilidades na própria ciência. Foi, no tempo da Revolução Científica, o caso do telescópio, do microscópio, do termómetro, do barómetro e de outros instrumentos que ampliaram o poder do olho humano ou permitiram medidas de grandezas físicas com maior precisão. Daguerre usou a fotografia para fixar eventos astronómicos, como eclipses, ou espécies vegetais ou animais. Ligadas a telescópios e a microscópios as câmaras fotográficas logo permitiram novos avanços na ciência concretizando os seus anseios de uma objectividade cada vez maior. Uma prova podia agora basear-se num registo fotográfico, um documento partilhado que era difícil de contrariar. Desenvolveram-se também fotografias com luz invisível, isto é, luz não visível pelo olho humano, mas que conseguia impressionar chapas fotográficas Por exemplo, os raios X, descobertos pelo alemão Wilhelm Roentgen em 1895, praticamente ao mesmo tempo que o cinema, permitiram a “fotografia através dos corpos opacos”, revelando-se o que pode ser considerado o maior contributo que a física jamais deu à medicina. O cinema conheceu um rápido aproveitamento na ciência, de resto semelhante ao que se passou na fotografia nos tempos posteriores à imagem pioneira de Niépce. Em 1896, o fotógrafo polaco Bolesław Matuszewski filmou algumas cirurgias em hospitais de Varsóvia e São Petersburgo, tendo depois sido convidado a filmar em hospitais de Paris. Ainda no século XIX, o neurologista romeno Gheorghe Marinescu realizou alguns filmes na sua área de especialidade. O autor chamou a esses trabalhos “estudos com a ajuda do cinematógrafo”, isto é, investigação científica baseada no cinema. Tal como a fotografia, o cinema revelava a sua utilidade na ciência. Há quem considere Os problemas de caminhar na hemiplegia orgânica (1898) o primeiro filme científico em todo o mundo, já que o autor era médico ao contrário de Matuszewski. Como Auguste Lumière tomou conhecimento desses documentários através de notícias, com algumas imagens, publicadas na revista La Semaine Médicale, ele afirmou numa carta numa carta de 1924: “Vi seus relatórios científicos sobre o uso do cinematógrafo em estudos de doenças nervosas, quando ainda recebia o La Semaine Médicale, mas naquela época eu tinha outras preocupações, o que não me dava tempo livre para iniciar estudos biológicos. Devo dizer que esqueci esses trabalhos e agradeço-lhe ter-me lembrado deles. Infelizmente, não foram muitos os cientistas que seguiram o seu caminho."
Radicando tanto a fotografia como o cinema na ciência, a ciência logo aproveitou essas duas tecnologias para seu próprio benefício. Este é aliás um fenómeno recorrente: a ciência proporciona instrumentos, que têm, para além de outras, utilidades na própria ciência. Foi, no tempo da Revolução Científica, o caso do telescópio, do microscópio, do termómetro, do barómetro e de outros instrumentos que ampliaram o poder do olho humano ou permitiram medidas de grandezas físicas com maior precisão. Daguerre usou a fotografia para fixar eventos astronómicos, como eclipses, ou espécies vegetais ou animais. Ligadas a telescópios e a microscópios as câmaras fotográficas logo permitiram novos avanços na ciência concretizando os seus anseios de uma objectividade cada vez maior. Uma prova podia agora basear-se num registo fotográfico, um documento partilhado que era difícil de contrariar. Desenvolveram-se também fotografias com luz invisível, isto é, luz não visível pelo olho humano, mas que conseguia impressionar chapas fotográficas Por exemplo, os raios X, descobertos pelo alemão Wilhelm Roentgen em 1895, praticamente ao mesmo tempo que o cinema, permitiram a “fotografia através dos corpos opacos”, revelando-se o que pode ser considerado o maior contributo que a física jamais deu à medicina. O cinema conheceu um rápido aproveitamento na ciência, de resto semelhante ao que se passou na fotografia nos tempos posteriores à imagem pioneira de Niépce. Em 1896, o fotógrafo polaco Bolesław Matuszewski filmou algumas cirurgias em hospitais de Varsóvia e São Petersburgo, tendo depois sido convidado a filmar em hospitais de Paris. Ainda no século XIX, o neurologista romeno Gheorghe Marinescu realizou alguns filmes na sua área de especialidade. O autor chamou a esses trabalhos “estudos com a ajuda do cinematógrafo”, isto é, investigação científica baseada no cinema. Tal como a fotografia, o cinema revelava a sua utilidade na ciência. Há quem considere Os problemas de caminhar na hemiplegia orgânica (1898) o primeiro filme científico em todo o mundo, já que o autor era médico ao contrário de Matuszewski. Como Auguste Lumière tomou conhecimento desses documentários através de notícias, com algumas imagens, publicadas na revista La Semaine Médicale, ele afirmou numa carta numa carta de 1924: “Vi seus relatórios científicos sobre o uso do cinematógrafo em estudos de doenças nervosas, quando ainda recebia o La Semaine Médicale, mas naquela época eu tinha outras preocupações, o que não me dava tempo livre para iniciar estudos biológicos. Devo dizer que esqueci esses trabalhos e agradeço-lhe ter-me lembrado deles. Infelizmente, não foram muitos os cientistas que seguiram o seu caminho."
O cinema tornou-se rapidamente
uma arte que ganhou o interesse das massas, muito para além dos círculos
restritos da ciência e da técnica. Ele passou a ser principalmente usado como
veículo de ficção, consumido por um público ansioso de desfrutar dessa nova
forma de passatempo. Um francês que tinha tentado sem êxito comprar o
animatógrafo aos irmãos Lumière foi o autor de um dos primeiros filmes de
ficção científica. Em 1 de Setembro de 1902, Georges Méliès apresentou Le Voyage dans la Lune (A Viagem à
Lua), um filme mudo e a preto e branco (embora haja uma versão colorida à
mão) de 14 minutos que usava o que hoje chamamos efeitos especiais para mostrar
uma viagem à Lua originada por um disparo de um gigantesco canhão. A história
inspirava-se em dois romances clássicos de ficção científica: Da Terra à Lua,
do francês Jules Verne, e Os Primeiros
Homens na Lua, do inglês Herbert George Wells. Um exemplo de cinema de ficção
científica no início do século XX foi o filme americano Frankenstein
(1910), de James Searle Dawley, também
um filme mudo também de 14 minutos, a preto e branco embora com partes
coloridas em sépia, que era uma adaptação cinematográfica do famoso romance da
inglesa Mary Shelley de 1818, sobre uma criatura que escapava ao criador. Este
filme, produzido pela companhia de Thomas Edison, foi apenas o início de um
grande número de filmes que versam o mesmo tema, ilustrando os perigos de uma
ciência de ambição desmedida. Deve também ser referido o filme Metrópolis
(1927) do alemão Fritz Lang, uma distopia urbana colocada no ano de 2026 que
reflecte sobre problemas laborais e sociais. O filme era mudo, com legendas em
alemão, mas, em contraste com os atrás referidos, já durava 153 minutos
(versões posteriores têm as mais variadas durações).
Dado o apreço de multidões,
o cinema conheceu um crescimento explosivo no seculo XX, passando primeiro do
preto e branco ao sonoro (as primeiras experiências, recentemente descobertas,
datam de 1902, sendo da autoria do inglês Edward Raymond Turner) e depois do mudo
ao sonoro (um marco foi o filme O cantor de jazz, 1927, do americano
Alan Crosland). A televisão, com um longo percurso tecnológico onde avulta a
primeira transmissão electrónica protagonizada pelo americano Philo Farnsworth
em 1927, veio dar uma novo e alargado
palco ao cinema, ao entrar por nossa casa dentro.
A relação mais
conhecida entre cinema e ciência encontra-se, sem dúvida, nos filmes de ficção.
Falamos de ficção científica quando uma história inventada, pelo menos em
parte, assenta de algum modo na ciência e na tecnologia, na linha da Viagem
à Lua de Méliès. Convém lembrar que a ficção científica é tão antiga como a
própria ciência: no dealbar do século XVII. em plena Revolução Científica duas
obras pioneiras do género foram Sonho (escrito em 1608, publicado em
1634), uma viagem à Lua imaginada pelo astrónomo alemão Johannes Kepler, e
Nova Atlântida (escrita em 1623 e publicada em 1626), uma utopia de base
científico-técnica localizada numa ilha do Pacífico pela imaginação de Francis Bacon, jurista e filósofo de ciências
inglês. É possível distinguir vários temas de filmes de ficção científica que
se sucederam a essa obras iniciais: o espaço, onde releva o hipotético tema do
contacto com outras civilizações; os computadores, onde sobressai o receio da eventual
omnipotência das máquinas através da inteligência artificial; e a biomedicina,
onde se destacam os temas dos perigos da genética e das epidemias. Eis uma
escolha necessariamente pessoal de filmes de ficção científica, ordenados dentro dos
três quadros temáticos apresentados, por ordem cronológica da sua estreia:
1- Espaço: 2001
Odisseia no Espaço (1968), dirigido pelo americano Stanley Kubrick, um
clássico do cinema cujo guião foi escrito pelo realizador em conjunto com o
escritor inglês Arthur C. Clarke que mescla
evolução humana, tecnologia espacial, inteligência espacial e vida
extraterrestre; Solaris (1972), filme soviético dirigido pelo russo Andrei
Tarkowski, baseado no romance homónimo do escritor polaco Stanislaw Lem, que
junta o espaço e a psicologia; Encontros
Imediatos de Terceiro Grau (1977), dirigido pelo americano Steven
Spielberg, sobre o contacto dos seres humanos com uma civilização
extraterrestre; Star Wars (1977-2019), uma criação do americano George
Lucas, que se transformou, com oito filmes adicionais de vários autores, num
impressionante fenómeno de cultura popular; Star Trek (1979), dirigido
pelo americano Robert Wise, com base numa criação do seu compatriota Gene
Roddenberry, que começou com uma série de televisão (1966), e que conheceu
múltiplas sequelas tanto no cinema como na televisão; ET: o Extraterrestre (1982),
dirigido pelo já referido Steven Spielberg, que assim voltou ao tema do
contacto humano com alienígenas; Desafio Total (1990), um filme de acção
americano passado em Marte dirigido pelo holandês Paul Verhoeven (curiosamente
formado em Física e Matemática); Contacto (1997), dirigido pelo
americano Robert Zemeckis, com base no romance homónimo do seu compatriota Carl
Sagan (foi a única obra ficcional do
cientista e divulgador científico); Gravidade (2003), um filme britânico
e norte-americano dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón, que conta o drama de
dois astronautas que sofrem uma acidente; A Guerra dos Mundos (2005), outro
filme de Steven Spielberg inspirado no romance de Herbert George Wells (há um
filme de 1953 que tem precisamente o mesmo título); O Dia em que a Terra Parou
(2008), do realizador americano Scott Derrickson, nova versão do filme homónimo
de Robert Wise de 1951, no tempo da guerra fria (na nova versão o perigo maior para
a Terra já não é o armamento maciço, mas sim as alterações climáticas); Avatar
(2009), dirigido pelo americano James Cameron (tal como o realizador de Desafio
Total, também Cameron estudou Física), que aborda a colonização do espaço
em luas de planetas extrassolares; Perdido em Marte (2015), do americano Ridley Scott, sobre a
sobrevivência de um astronauta em solo marciano; e Interstellar (2014),
filme anglo-americano dirigido pelo inglês Christopher Nolan, que
relata a viagem de astronautas que passam num “buraco de minhoca”, um túnel do
espaço-tempo, chegando a um buraco negro (o físico teórico americano Kip Thorne,
especialista na teoria da relatividade e laureado com o Nobel das Física de
2017, foi um dos principais conselheiros do realizador).
2- Computadores: Blade
Runner (1982), dirigido pelo americano Ridley Scott, baseado no romance do
escritor americano Philip K. Dick, Os Androides sonham com carneiros
eléctricos?, que o tempo tornou um clássico; Matrix (1999), filme
australiano e americano dirigido pelas irmãs lana e Lilli Wachowsky que imagina
o mundo como uma grande simulação (conheceu duas sequelas, completando uma
trilogia); A.I. – Inteligência Artificial (2001), outro filme de Steven
Spielberg, baseado num conto do escritor inglês Brian Aldiss, sobre a
possibilidade de uma máquina ganhar características humanas; e Eu Robô (2004),
filme americano dirigido pelo australiano Alex Proyas, baseado em histórias de
robôs do bioquímico, divulgador e escritor americano Isaac Asimov.
3- Biomedicina: Gattaca
(1977), filme americano do neozelandês Andrew Nicol, sobre produção
genética de seres humanos; Despertares (1990), dirigido pela americana
Penny Marshall, baseado numa história clínica real que consta do livro com o
mesmo título do neurologista americano Oliver Sacks; Parque Jurássico
(1993), de Steven Spielberg (um mestre da ficção científica!), baseado no livro
com o mesmo título do americano Michael Crichton, que conta a história de uma
ilha povoada por dinossauros, que foram engendrados por experiências de
genética permitem criar dinossauros (o filme teve várias sequelas); Contágio
(2011), filme do americano Steven Soderbergh sobre o pânico originado por uma
pandemia viral.
A maior parte destes filmes foram grandes êxitos de bilheteira, tendo
moldado o nosso imaginário colectivo. Avatar é o segundo filme mais
visto de sempre, tendo rendido quase três mil milhões de dólares nas
bilheteiras só nos Estados Unidos. O episódio da saga Star Wars de 2015
é o quarto nessa lista enquanto o Mundo Jurássico – o quarto filme da
série iniciada com Parque Jurássico – é o sexto,
Os documentários – os
filmes de não ficção que surgiram no cinema desde o início - foram um género
que chegou aos nossos dias, embora, ao contrário dos filmes de ficção, nunca
tenham conseguido ganhar a atenção de multidões nas salas de cinema. Exemplos
de documentários científicos recentes são a película americana Potências de
Dez (1977), uma curta-metragem dirigida pelo casal de designers Ray
and Charles Eames, que mostra a enorme variedade
de escalas no Universo, desde as partículas subnucleares às galáxias distantes;
Cosmos (1982), uma série de televisão americana de grande êxito criada
por Carl Sagan e pela sua esposa Ann Druyan e dirigida por Adrian Malone (foram
feitas duas sequelas dessa série, ambas narradas pelo astrofísico americano e
divulgador de ciência Neil de Grasse Tyson); Uma Breve História do Tempo
(1992) de Errol Morris, que, apesar de partilhar o titulo do best-seller
de Stephen Hawking, é uma biografia cinematográfica do célebre astrofísico
inglês tolhido pela esclerose lateral amiotrófica; Microcosmos (1996), uma
produção de um consórcio de países europeus dirigido pelos franceses Claude
Nuridsany e Marie Pérennou sobre a vida dos insectos; Planeta Terra (2006),
uma série de documentários da BBC (11 episódios) que mostra a passagem da Terra
e a biodiversidade, narrados pelo naturalista inglês David Attenborough; e Uma
Verdade Inconveniente (2006), dirigido pelo americano Davis Guggenheim, sobre
alterações climáticas, baseada no livro de Al Gore, ex vice-presidente dos Estados
Unidos, com o mesmo título (o filme teve uma sequela em 2017).
Há filmes baseados na
vida e obra de cientistas que são quase documentários, mas não o são
verdadeiramente por incluírem alguns elementos de fantasia, que fazem naturalmente
aumentar a sua audiência. O lado humano – patente em particular na exploração
de aspectos sentimentais – é enfatizado. O dramatismo é um elemento de alguns desses
filmes, em especial quando eles abordam temas de saúde ou temas de guerra. Eis
alguns exemplos de filmes desse tipo, de novo uma escolha pessoal: A Vida de
Louis Pasteur (1935), filme do americano William Diaterle sobre a
descoberta de certas vacinas pelo grande químico e microbiólogo francês e a sua
campanha em prol da saúde pública; Edison
the Man (1940), um filme dirigido pelo americano Clarence Brown que é um relato ficcional do processos criativos
de Edison, com ênfase na invenção do
fonógrafo e da lâmpada eléctrica (o filme não refere o seu papel na
invenção do cinema); Madame Curie (1943), dirigido pelo americano Mervyn
LeRoy, sobre a vida e obra da física e química francesa de origem polaca que
ganhou dois prémios Nobel e do seu marido Pierre Curie, também ele distinguido
com o Nobel (o guião partiu da biografia de Madame Curie, escrita por sua
filha, Ève Curie); Infinity
(1996) um filme do americano Mathew Broderick, que é também o
principal actor, sobre a primeira
parte da vida do físico americano Richard Feynman, um dos autores da
electrodinâmica quântica, que se baseia no livro autobiográfico Está a
brincar Mr. Feynman? e que mostra a sua participação no projeto Manhattan
que, nos anos 40 do século XX, conduziu às primeiras bombas atómicas; Uma
Mente Brilhante (2001), do americano Ron Howard, sobre a vida do
matemático também americano John Nash, o especialista em teoria dos jogos e
laureado com o Nobel da Economia que padecia de esquizofrenia; Teoria de Tudo (2014), do inglês James
Marsh, sobre a vida de Stephen Hawking, com acento no lado amoroso (o roteiro
partiu da Viagem ao Infinito, livro biográfico de Jane Hawking, a
primeira mulher do físico); e O Jogo da Imitação (2014), dirigido pelo americano Morten Tyldum,
sobre a vida e obra do matemático inglês Alan Turing, especialista em
criptografia e inteligência artificial que teve um papel decisivo na decifração
de mensagens nazis durante a Segunda Guerra Mundial (o roteiro baseia-se no
livro Alan Turing: the Enigma, de Andrew Hodges).
A epopeia espacial
iniciada em 1957 com o lançamento do Sputnik e que de certo modo
culminou com a chegada do homem à Lua com a missão Apollo 11 em 1969 é
um tema científico-tecnológico particularmente aliciante para o cinema, em
especial para a indústria cinematográfica norte-americana. Eis alguns filmes que
se enquadram nesse tema e que se baseiam largamente em acontecimentos e
personagens reais: Os Eleitos (1983), dirigido pelo americano Philip Kaufman
sobre os pilotos de teste que foram escolhidos para o projecto Mercury
de voos tripulados; Apollo 13 (1995), do americano Ron Howard, sobre o
drama vivido pelos astronautas que tiveram de lidar com uma avaria na sua nave
durante uma viagem à Lua; Elementos Secretos (2016), do americano
Theodore Melfi, sobre a história de três matemáticas da NASA; e O Primeiro
Homem (2018), filme do americano Damien Gazelle sobre a vida de Neil
Armstrong, o primeiro astronauta a pisar o solo lunar.
Na era digital, o
cinema passou progressivamente a tornar-se digital, primeiro o áudio e depois a
imagem. Algumas das primeiras projecções digitais foram efectuadas em 1999 em Nova Iorque e Los Angeles para
oferecer ao público o primeiro filme da série Star Wars. No século XX o
cinema digital conheceu um crescimento enorme. Uma das consequências do
desenvolvimento de tecnologias de vídeo digital foi a sua democratização em câmaras fotográficas ou, mais recentemente, nos
telemóveis que toda a gente usa. A Internet passou a ser, com o YouTube (2005, comprado em 2006 pela Google) e outras
plataformas, o lugar maioritariamente ocupado por conteúdos em vídeo.
Modernamente, grandes empresas
de distribuição global de filmes em streaming (uma técnica que pôs
progressivamente de lado os CD e Blu-rays) usando a Internet como a HBO
(criada em 1972 como canal de TV pago) e a Netflix (fundada em 1997) têm
surgido como fortes concorrentes do cinema tradicional, ao proporcionarem a
visão do cinema em casa. Vários documentários e filmes de ficção científica encontram
aí uma plataforma privilegiada para encontrarem larga audiência. Embora o meio
de transmissão seja diferente, os temas são os mesmos do formato tradicional:
representações da criação ou da aplicação da ciência, no caso dos documentários,
e representações imaginárias inspiradas pela ciência, onde não podem deixar de aparecer
os receios que ela suscita.
Ninguém previu, quando o cinema surgiu há pouco mais de um século – os Lumière não o previram –, o espectacular caminho que ele ia trilhar. A ciência originou uma criatura que fugiu ao criador, embora os dois continuam por vezes, para nosso prazer, a encontrar-se.
Ninguém previu, quando o cinema surgiu há pouco mais de um século – os Lumière não o previram –, o espectacular caminho que ele ia trilhar. A ciência originou uma criatura que fugiu ao criador, embora os dois continuam por vezes, para nosso prazer, a encontrar-se.
2 comentários:
Fotografia
Ao longe, o comboio... a branco e preto
Cadente se aproxima num quase parar
Pelo trilho rola, metálico e correto
Avança no tempo do tempo a recuar
Era uma vez... e alguém abre a janela
Espreita de rosto para fora do olhar
Reconheço o uniforme perfil e a estrela
Acelero a passada e invoco o lugar
Deixo-me para trás e fecho a janela
Translúcido, volátil, o comboio sela
O meu destino e nega a paragem
Repito o trilho do percurso incerto
Sem bilhete, mapa, nem longe, nem perto
A preto e branco, em mim, sigo viagem
F.C.
Muito bom! Só faltou referir, no campo das séries, Westworld :)
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