domingo, 26 de abril de 2015

MENSAGEM DE PAULO GAMA MOTA


Mensagem recebida de Paulo Gama Mota, um dos fundadores deste blogue, a quem é devida publicamente uma palavra de reconhecimento por tudo aquilo que conseguiu fazer no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra. Obrigado, Paulo!

Após 8 anos a dirigir o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e outros 7 a preparar o projecto, deixo o Museu da Ciência, por iniciativa do Reitor, que procurará alguma mudança. Foram anos de trabalho intenso para construir um projecto de elevada qualidade, com forte impacto na sociedade e capaz de criar um grande museu e centro de comunicação de ciência em Portugal.

Este foi um dos mais gratificantes e bem sucedidos projectos em que estive envolvido e que me deu um imenso prazer desenvolver. Um projecto destes deve-se sobretudo às pessoas; deve-se à equipa de pessoas com que tive o prazer de partilhar as ideias e o dia-a-dia de um projecto tão absorvente quanto recompensador e deve-se à extraordinária colaboração de um imenso número de cientistas e não-cientistas que, com grande generosidade e muita motivação e entusiasmo, contribuíram com ideias, actividades e iniciativas que foram determinantes para construirmos um projecto verdadeiramente singular no panorama dos museus universitários.

A todos quero expressar o meu profundo agradecimento.


Não poderei enumerar aqui tantas pessoas que participaram em comissões, projectos, iniciativas, organizaram e proferiram conferências ou realizaram ateliers e demonstrações de ciência, pelo que o agradecimento terá que ter esta forma genérica.

O Museu da Ciência ultrapassou largamente as melhores expectativas quanto ao que se pensava ser possível fazer do fantástico acervo científico da Universidade de Coimbra, que se encontrava em larga medida por explorar, por divulgar e por estudar. Contribuir para criar cultura científica numa sociedade tão necessitada dela, tirando proveito destas excepcionais colecções e das possibilidades que têm, através da criação de uma ligação emocional, para a compreensão dos fenómenos que a ciência nos possibilita, foi uma missão que fazia e continua a fazer todo o sentido. E tenho que agradecer aos vários Reitores da Universidade de Coimbra o apoio que nos permitiu concretizá-lo.

O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra é, de facto, um projecto singular, que teve um forte impacto a nível nacional e internacional. A atestá-lo estão os inúmeros prémios conseguidos ao longo dos anos: Prémio Micheletti 2008 para melhor museu de ciência técnica e indústria da Europa (em 19 edições só uma vez foi atribuído a um museu universitário), prémios nacionais da Associação Portuguesa de Museologia para o melhor serviço educativo dos museus portugueses, em 2010 e 2013, para o melhor software de gestão de colecções, em 2010, para o melhor website de museus, em 2014. A estes juntam-se dois prémios de arquitectura para a equipa de arquitectos.

Em números, foram 200 mil visitantes, envolvidos em 1300 iniciativas, numa média superior a 150/ano, envolvendo mais de 200 cientistas por ano ( estes considerando os últimos 5 anos).

Do ponto de vista financeiro, também se conseguiram resultados invulgares. Por exemplo, em 2013, a receita total  do Museu correspondeu a 28% de toda a despesa, incluindo todos os encargos com salários. Um valor que apenas um número muito reduzido de museus consegue atingir.

Os últimos anos foram particularmente difíceis para os portugueses e, por arrasto, também para os museus.
Apesar do contexto particularmente difícil, foi possível resistir e manter níveis elevados de actividade no Museu da Ciência, encontrando-se esta, actualmente, já em franca recuperação.

Entre 2012 e 2014, o Museu da Ciência esteve envolvido em vários projectos internacionais, como o projecto de ciência cidadã, SOCIENTIZE, financiado pela UE, que teve um enorme impacto nas comunidades escolares e seniores e serviu de base para o estabelecimento de linhas de orientação para a promoção da ciência cidadã na Europa.

O Museu da Ciência integra ainda dois consórcios vencedores do concurso (2014) para grandes infra-estruturas de investigação científica, a serem financiados pela FCT: o PORBIOTA para a monitorização da biodiversidade em Portugal e o PRISC que visa criar uma infraestrutura de investigação e recursos sobre as colecções dos principais museus das universidades portuguesas. Integra também o consórcio NATCOL visando o acesso dos cientistas às colecções dos principais museus com colecções de história natural.

Foi ainda criado um programa doutoral em história da ciência, partilhado entre a UC e a UA, em larga medida pela dinâmica criada em torno do projecto do Museu da Ciência.

Foram muitas as ligações e sinergias criadas ao longo deste anos. Assim, creio estarem criadas as condições para que o projecto do Museu da Ciência se mantenha no futuro, assim se saiba manter manter os elevados padrões de qualidade estabelecidos. Obrigado.


Paulo Gama Mota

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